domingo, 25 de agosto de 2013

Temporada de caça aos famosos bons de voto

O comprovado desgaste da classe política perante o eleitorado, potencializado após as manifestações que sacudiram o país em junho, levou os partidos a procurarem candidatos alternativos para as eleições de 2014. Apesar de não ser um fenômeno recente, a busca por nomes "mais arejados" visa a atrair a simpatia dos brasileiros. Vale convidar atletas, ex-jogadores, cantores e empresários de sucesso — esses últimos, bons para ajudar no financiamento das campanhas.

Em alguns casos, o movimento serve também para suprir a total incompetência dos partidos de criar candidatos competitivos. É o caso do PSDB do Rio de Janeiro, por exemplo. Sem um nome forte para disputar o governo estadual e dar um palanque para o presidenciável Aécio Neves (MG), o partido tentou, em um primeiro momento, filiar o apresentador de televisão Luciano Huck. Não deu certo. Ele agradeceu, mas respondeu que preferia seguir contribuindo para melhorar o país em seu programa semanal. A aposta mais recente é a filiação do treinador da Seleção Brasileira de vôlei masculino, Bernardinho.

O técnico já é famoso como palestrante motivacional, contratado por grandes empresas. Agora, pode ser a alternativa para os tucanos disputarem com um nome palatável o governo fluminense. O problema é que, até o momento, o treinador apenas filiou-se. Ele não deu qualquer garantia se será candidato, mesmo porque as Olimpíadas de 2016 serão disputadas no Rio de Janeiro.

Em Minas, os tucanos também sondaram o ex-jogador de vôlei Geovane Gávio. Técnico desempregado — ele dirigiu o time do Sesi nas últimas edições da Liga Nacional —, Geovane também poderia ser uma alternativa à Câmara ou, até, ao governo mineiro, já que o atual governador, Antonio Anastasia, não poderá concorrer, pois já foi reeleito para o cargo.

No Rio, o PR também está montando uma chapa que considera promissora. A primeira filiação foi a do eterno puxador de samba Neguinho da Beija-Flor. A aposta é que ele terá uma excelente votação em Nilópolis e em outras cidades da baixada fluminense. O partido também, na surdina, tirou Romário do PSB. O deputado fez 180 mil votos nas últimas eleições. A expectativa é que, após quatro anos na Câmara e com uma atuação de destaque na Comissão de Esportes da Casa, ele possa chegar aos 300 mil votos.

Os socialistas, que tiveram uma relação conturbada com o Baixinho — ele sempre ressaltou a ausência de diálogo com o presidente nacional da legenda, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos — ainda não decidiram se pedirão ou não o mandato de Romário por abandono de partido. Animado com a nova casa, Romário tem até pensado em voos mais altos para 2014. Uma liderança do PR confidenciou que a péssima fase do governador do Rio, Sérgio Cabral, tem feito o ex-centroavante da seleção cogitar a hipótese de candidatar-se ao Senado. A única certeza é a disposição para disputar a prefeitura do Rio em 2016.

O PR já havia adotado essa tática na eleição anterior, quando filiou o palhaço Tiririca em 2010 e este foi eleito com mais de 1 milhão de votos, ajudando a eleger outros parlamentares graças ao sistema de coligação. Com atuação discreta no Congresso, alternando momentos de depressão com os rumos da política e outros de elaboração de planos futuros, Tiririca foi blindado recentemente pela direção nacional do PR para alçar voos mais ambiciosos no ano que vem.

Ídolos do futebol
Esse movimento não é restrito apenas ao Rio de Janeiro. Em São Paulo, o ex-prefeito e presidente de honra do PSD, Gilberto Kassab, mergulhou no universo futebolístico no primeiro semestre. Antes mesmo das manifestações de junho, ele já havia sondado o ex-goleiro do Palmeiras Marcos — que se aposentou no início do ano passado — e até o goleiro do São Paulo, Rogério Ceni. Nenhuma das duas conversas evoluiu, embora sejam apostas de candidaturas com força suficiente para atrair votos de duas grandes torcidas. Nem sempre dá certo. Ídolo do Corinthians, o ex-jogador Marcelinho, por exemplo, jamais foi um fenômeno de votos.

O PMDB, partido que se gaba da capilaridade em todo o país, tem buscado privilegiar empresários de destaque ou presidentes de associações para atrair votos e, mais importante, dinheiro para financiar as campanhas. Em Goiás, o partido filiou José Batista Júnior, o Júnior da Friboi — maior empresa de carne bovina do mundo, mais conhecida pela propaganda da tevê com o ator Tony Ramos. Em São Paulo, o partido deve lançar o presidente da Federação das Indústrias do estado (Fiesp), Paulo Skaf, embora ainda não haja garantias de que ele tenha votos suficientes para se eleger.

O PTB ainda está procurando alternativas no mercado. O partido já filiou o cantor sertanejo Frank Aguiar, atual vice-prefeito de São Bernardo na chapa do petista Luiz Marinho. O Solidariedade, partido que está sendo organizado pelo deputado e sindicalista Paulo Pereira da Silva (PDT) — que pode começar a atuação política com pelo menos 18 deputados —, desdenha dessa estratégia dos adversários. "Política se faz com políticos", afirmou o presidente interino da Solidariedade, Marcílio Duarte.

Caça aos famosos
Quem são as celebridades na alça de mira dos partidos para puxar votos em 2014
PSDB
» Bernardinho no Rio de Janeiro
» Geovane Gávio em Minas Gerais
PR
» Romário no Rio de Janeiro
» Neguinho da Beija-Flor no Rio de Janeiro
» Tiririca em São Paulo
PSD
» Rogério Ceni em São Paulo
» Marcos em São Paulo
PMDB
» Júnior da Friboi em Goiás
» Paulo Skaff em São Paulo

A arriscada carona nos protestos

Buscam-se alternativas de candidatos mais simpáticos à população, os partidos também têm aproveitado a propaganda de rádio e televisão para tentar uma aproximação com as manifestações de junho. A tática é arriscada, já que as agremiações políticas foram rechaçadas durante os atos que sacudiram as ruas há dois meses. PDT, PV e outras legendas menores fizeram alusões às passeatas e garantiram "estar irmanados com os protestos".

O PMDB fez o caminho inverso. Acuado por manifestantes que mantêm há dias um acampamento em frente ao edifício em que mora o governador do Rio, Sérgio Cabral, o partido tirou o governante e o vice, Luiz Fernando Pezão, da propaganda partidária. A justificativa oficial é evitar a imagem de campanha antecipada — Pezão deve ser o candidato do partido ao governo fluminense em 2014. Mas a estratégia serve para blindar os dois peemedebistas — e o próprio partido — das críticas dos brasileiros.

Para o cientista político da Tendências Consultoria Rafael Cortez, é cedo para saber se a tática dos partidos surtirá ou não efeito. "Eles querem politizar um debate que não envolvia questões partidárias", lembra ele. Rafael acrescenta que não foi apenas a pressão pela ausência de bandeiras de partidos nas manifestações que ficou na memória dos brasileiros. A reação dos governos às passeatas também ajuda a diminuir a simpatia das pessoas com as instituições políticas. "No momento em que foram confrontados diretamente, os governos de PT, PSDB e PMDB agiram com violência. A cartilha adotada foi a mesma", ponderou Cortez. (PTL)

Fonte: Correio Braziliense

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