quarta-feira, 4 de setembro de 2013

PF prende assessor do Ministério do Trabalho e presidente de ONG

Ceat recebeu R$ 47 milhões para centros de qualificação profissional

Mariana Timóteo da Costa, Jailton de Carvalho

SÃO PAULO e BRASÍLIA - A Polícia Federal prendeu ontem oito pessoas, incluindo o assessor do Ministério do Trabalho Gleide Santos Costa, em operação que apura irregularidades no repasse de até R$ 47,5 milhões da pasta para a ONG Centro de Atendimento ao Trabalhador (Ceat). A ONG possui 12 unidades em São Paulo e no Rio.

Na operação batizada de Pronto Emprego, Costa — afastado ontem à noite do cargo de assessor da Secretaria de Políticas Públicas e Emprego — foi preso num hotel de São Paulo com cerca de R$ 30 mil. A PF suspeita tratar-se de propina. Segundo o delegado Rodrigo Sanfurgo, o assessor chegou à capital paulista segunda-feira. À tarde, visitou uma unidade da ONG, onde teria recebido o dinheiro, e foi para o hotel.

Costa, segundo delegados da PF, foi responsável por assinar convênios entre o Ceat e o Ministério do Trabalho. A ONG já estava no centro das investigações sobre irregularidades em convênios do Trabalho durante a gestão do pedetista Carlos Lupi. Até hoje, o Ceat é a ONG que mais recebe verba do ministério para manter centros de qualificação profissional — desde 2009, obteve cerca de R$ 47,5 milhões. A PF não sabe o valor exato da quantia desviada.

A presidente do Ceat, Jorgette Maria de Oliveira, também foi presa. A PF realizou buscas na casa dela, em São Paulo, onde encontrou carros de luxo das marcas Audi e Land Rover, que foram apreendidos. A diretoria da Ceat estava comprando mercadorias da China, que seriam revendidas numa loja da Rua 25 de Março, para, segundo a PF, lavar o dinheiro desviado dos convênios.

Segundo o delegado da Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros (Delefin-PF), a investigação não é um desdobramento das irregularidades que derrubaram Lupi do comando do ministério, em 2011. A PF não encontrou vínculos entre partidos, embora Jorgette tenha sido filiada ao PDT (foi uma das fundadoras da sigla no Rio). O PDT controla a pasta.

Além da unidade da ONG em São Paulo, a PF fez buscas no Ministério do Trabalho, em Brasília. A PF constatou o desvio dos recursos públicos e lavagem de dinheiro, desde a concessão de verbas, passando pelo direcionamento das contratações, inexecução de contratos, doações fictícias em proveito da ONG e simulações de prestações de serviço até a reinserção do dinheiro no sistema econômico-financeiro.

Foram cumpridos 38 mandados de busca e apreensão em São Paulo, Rio e Brasília, expedidos pela Justiça Federal de São Paulo. A operação contou com 150 policiais federais e dois auditores do Tribunal de Contas da União, que teria constatado irregularidades na prestação de contas do Ceat. Os presos responderão por corrupção, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e peculato. Somadas, as penas podem chegar a 37 anos.

Fundado em 2002, o Ceat se define como uma organização da sociedade civil de interesse público (Oscip) "que se tornou uma referência na inclusão socioprodutiva e no resgate da autoestima do trabalhador" O Ceat não se manifestou sobre a operação; os advogados de Jorgette disseram que não se pronunciariam antes de ter acesso ao processo.

Fonte: O Globo

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