sábado, 14 de setembro de 2013

PIB em queda frustra o governo

Prévia do BC indica que o Brasil começou o terceiro trimestre no vermelho: PIB caiu 0,3% em julho.

Depois da euforia, a decepção com o PIB

O Brasil começou o terceiro trimestre do ano no vermelho. Cálculos do Banco Central que tentam prever o comportamento do Produto Interno Bruto (PIB) mostram que o país encolheu 0,3% em julho. Com o estoque da indústria encalhado, o mercado de trabalho morno e a expansão da renda em ritmo moderado, é dado como certo um resultado minguado também para agosto e setembro. As expectativas, antes positivas para a última etapa de 2013, agora começam a se frustrar.

O terceiro trimestre do ano foi aberto por um mês de resultados contraditórios. Enquanto o comércio surpreendeu, ao crescer 1,9% em julho, a produção industrial manteve o comportamento errático e recuou 2%. O receio dos especialistas é de que a fragilidade da economia contamine também os últimos três meses do ano, que, historicamente, são muito bons, por causa das festas natalinas. "Há chances de não haver retomada nem no terceiro nem no quarto trimestres", disse Jankiel Santos, economista-chefe do Espírito Santo Investment Bank. "Será que essa expansão do varejo tem condições de se manter? Parece-me que não. O PIB do segundo trimestre, com avanço de 1,5% foi apenas um suspiro", ponderou.

Frente à queda do PIB em julho calculada pelo Banco Central, o IBC-Br, o governo tentou contemporizar. Em viagem a Uberlândia (MG), para acompanhar a cerimônia de formatura de alunos do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), a presidente Dilma Rousseff minimizou o número da autoridade monetária. "Não basta o PIB crescer, tem que crescer para vocês. Não basta o PIB melhorar, a saúde tem que melhorar. Nós temos de trazer mais médicos para atender a população desse país", disse. "Não basta o PIB crescer, se não houver cada vez (mais) empregos de melhor qualidade. Agora, é muito importante que, com tudo isso, o PIB cresça", acrescentou.

Bem-estar
Apesar da avaliação da presidente, dados do Itaú Unibanco mostram que, além da economia, a sensação de bem-estar entre os brasileiros começa a esfriar. Segundo uma pesquisa da instituição, as condições de saúde, segurança e educação avançaram pouco nos últimos dois anos. "A desaceleração em nível tão elevado, tanto econômica quanto social, levou às manifestações deste ano", observou Caio Megale, economista do maior banco privado brasileiro. "A inflação também está se consolidando em um patamar mais alto e pune o bem-estar recente. As condições econômicas evoluíram a taxas mais baixas", argumentou.

No ano, o principal entrave para o crescimento tem vindo da indústria. Pouco eficiente e com dificuldades de competir com os importados, mesmo com a disparada de 11% do dólar frente o real em 2013, o setor oscila entre meses de expansão e outros de queda. Toda essa limitação levou os industriais a computarem estoques elevados e, agora, o desafio para o restante do ano é desaguar esse produtos, o que adia os tão esperados investimentos no aumento das fábricas e dos empregos. "A indústria deve mostrar um desempenho mais fraco. Há muito estoque em alguns segmentos diante de uma demanda fraca. Isso desestimulará o crescimento no segundo semestre", projetou Rafael Bacciotti, economista da Tendências Consultoria. "Os fatores que puxam a economia para trás ainda estão muito presentes", pontuou Pedro Paulo Silveira, diretor de gestão da Vetorial Asset Management.

O quarto trimestre do ano será afetado, na visão de Eduardo Velho, economista-chefe da INVX Global Partners, pelo efeito estatístico. Em igual período de 2012, havia uma corrida às concessionárias para a compra do carro novo. O governo ameaçava retirar, a qualquer momento, o desconto de Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) e os consumidores queriam aproveitar a oportunidade. A indústria bateu recordes na fabricação e de venda de automóveis.

"Quando o quarto trimestre for comparado com 2012, veremos um resultado muito ruim", explicou Velho. Como, no ano passado, havia o benefício tributário, o brasileiro antecipou compras e, agora, está com o orçamento apertado pelo excesso de dívidas — o freio nas compras, segundo especialistas, derrubará a produção da indústria e afetará as vendas no varejo.

Pressão
Nas próximas terça e quarta-feiras, mais ingredientes de risco deverão ser adicionados à economia. O Federal Reserve, (Fed), o Banco Central dos Estados Unidos, decidirá se dará início ao cronograma que colocará fim aos estímulos mensais de US$ 85 bilhões a maior economia do planeta. O mercado antecipou parte dessa medida desde maio. Por isso, a disparada do dólar ante o real. Economistas alertam, porém, que o pior ainda está por vir. "Vai respingar no Brasil, pode ter nova disparada do dólar e até mesmo limitar o crescimento de alguma forma", avaliou Silveira.

No mercado, diante de todo esse quadro, os analistas se dividem em relação às previsões para o PIB do terceiro trimestre. As projeções que vão de uma queda de 0,5% à estabilidade. Para o ano, as apostas se concentram entre 2,3% e 2,5%. O Banco Central, pelo menos até a divulgação do Relatório Trimestral de Inflação, ainda neste mês, permanece com a aposta de crescimento de 2,7%. Já o Ministério da Fazenda fala em 2,5%. Os especialistas avaliam que a situação dos próximos meses não deve mudar a estimativa da autoridade monetária. "Se houver mudança, será pequena", afirmou Jankiel Santos.

Fonte: Correio Braziliense

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