domingo, 29 de setembro de 2013

PT crê que votar contra foi correto

Vinte e cinco anos depois de aprovada a Constituição de 1988, o PT continua acreditando que foi correta a decisão dos 15 parlamentares de sua bancada que votaram contra o texto final da Carta Magna. Seis ex-constituintes petistas ouvidos pelo GLOBO dizem que o partido votou contra porque queria avançar nas conquistas sociais, além das que foram obtidas na Constituição de 1988; os petistas, porém, assinaram a promulgação da Constituição.

O PT achava que a Carta representava uma vitória da direita. A bancada do partido era composta por 16 pessoas, mas João Paulo Pires (PT-MG) votou a favor do texto final. Os demais seguiram a orientação do Diretório Nacional. Segundo os petistas, o partido votou contra porque queria uma reforma agrária mais ampla e conquistas trabalhistas mais avançadas, como a jornada de trabalho de 40 horas, algo que não mudou até hoje, apesar de estar no poder há dez anos.

O ex-deputado constituinte José Genoino disse que não se trata de fazer um mea-culpa sobre o fato de não ter votado a favor do texto final da Constituição, porque a posição da bancada era mesmo a de que a direita não ajudou em avanços maiores .

- O PT agiu certo ao votar contra o texto da Carta. O voto contra foi porque queríamos uma reforma agrária mais efetiva, queríamos discutir melhor o papel das Forças Armadas e não concordávamos com o texto da Anistia na Constituição. Queríamos que a tortura fosse crime imprescritível, e a direita nos derrotou. Votamos contra, mas depois assinamos a Carta - lembrou Genoino, hoje um dos condenados do mensalão.

Lula: Carta garante democracia

Petistas relembram Constituinte e dizem que agiriam da mesma forma

Ex-presidente petista, José Genoíno diz que hoje o partido agiria da mesma forma e votaria contra a Constituição:

- A Constituição deu uma grande contribuição para consolidar a democracia no Brasil, mas queríamos ir além, o que não foi possível graças à correlação de forças no Congresso na época.

Para ele, a Constituição foi o fechamento de um processo democrático que começou com a Anistia, com as Diretas Já e o fim do colégio eleitoral, resultando num marco para a luta pela democracia:

- Instrumentalizou direitos individuais e coletivos, e garantiu conquistas sociais sem precedentes. Todos participaram desde a esquerda e extrema-esquerda à direita e extrema-direita.

Genoino lembra que a esquerda petista precisou se aliar ao PMDB:

- Fizemos a proposta de uma Constituição petista, mas não havia chance mínima de passar, por isso fizemos uma correta aliança com o PMDB de Mário Covas e do Fernando Henrique Cardoso, para ter um regimento interno o mais democrático possível.

Ex-constituinte petista, Plínio de Arruda Sampaio (hoje no PSOL) disse que até gostaria de ter votado a favor do texto final, mas foi obrigado a votar contra pelo comando da bancada:

- A bancada era comandada por um grupo muito radical. Eu entendia que a Constituição era uma das mais avançadas. Mas, ao final, o PT assinou a Constituição.

Procurado, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, constituinte em 88, não quis falar ao GLOBO; porém, em 2008, na Presidência, fez um mea-culpa por ter votado contra a Constituição:

- Uma parte da bancada, radicalizada, achava que não deveríamos assinar e eu disse: Não tem sentido. A gente participou dois anos, ganhamos salário, ganhamos assistentes, como é que pode um filho nascer e a gente não registrar? Vamos assinar.

Lula disse ainda que nos seis anos de Presidência (ele ficou mais dois) compreendeu, como ninguém, que a Constituição, com todos os defeitos que tem, "é uma garantia da democracia, esta é a verdade nua e crua".

Fonte: O Globo

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