quinta-feira, 17 de outubro de 2013

A preferida - Tereza Cruvinel

Não é preciso ser raposa: até uma inofensiva pulga política compreende que, lançando farpas contra Marina Silva, chamando-a para a briga, colocando-a em evidência, a presidente Dilma Rousseff externa a preferência pela ex-petista como adversária em 2014, na certeza de que seria mais fácil derrotá-la no segundo turno. O senador e vice-líder tucano Cássio Cunha Lima arrisca dizer que Dilma só ganharia de Marina, perdendo tanto para Aécio Neves como para Eduardo Campos. Desconte-se, pela condição de candidato, a afirmação de Aécio, feita ontem após reunião com a bancada tucana, de que Dilma perderá para qualquer adversário no segundo turno, pois 60% dos brasileiros seriam contra sua reeleição, dedução que faz a partir dos 42% de preferência que ela teria hoje, segundo o Datafolha. A disputa eleitoral, entretanto, não será uma operação artitmética.

Enquanto se deliciava com o sorvete de bacuri oferecido a todos, no café dos senadores, pelo líder petista Wellington Dias, pela passagem da data cívica do Piauí, o senador Rodrigo Rollemberg, um dos arqueiros de Campos no Congresso, ouvia as advertências do colega tucano Cunha Lima: "Diga ao Eduardo para se acautelar. Dilma quer a Marina como adversária, pois seria fácil derrotá-la no segundo turno. E, para fazer Marina candidata, PT e governo farão o diabo contra Eduardo, para tirá-lo do páreo. Da canelada à degola, ele está sujeito a tudo". "Chegarão a tanto?", desconversou Rollemberg.

No PT, muita gente não gostou das farpas, embora evitando verbalizar tal censura a Dilma. O ex-presidente Lula também não teria gostado. Nesse grupo, há quem diga que Dilma foi apenas impulsiva ou tinhosa com as duas estocadas que teriam Marina como alvo: quando disse que todos podem postular a Presidência, mas que precisam estudar os problemas do país, e quando respondeu diretamente às críticas de Marina, de que seu governo estaria "extrapolando o teto da meta" da inflação (6%), o que é sabidamente incorreto, pois o índice está acima do centro da meta (4,5%). Marina acusou Dilma também de colocar em risco o tripé tucano-petista na economia, composto por inflação controlada, câmbio flutuante e superavit fiscal rigoroso. Dilma rebateu ponto por ponto. Hoje, ainda com Marina na cabeça, a petista lança um importante programa de agricultura ambiental.

Nas proximidades de Lula, garante-se que Dilma não foi aconselhada a "farpear". Pelo contrário, ali se ouve que, por ora, ela devia evitar referências aos adversários, seguindo o que disse Lula ao Correio, na entrevista do dia 30 passado: "O PT não escolhe adversários. Deve estar preparado para enfrentar e ganhar de qualquer um".

Mas é incontroverso que seria mais fácil, para Dilma, derrotar Marina no segundo turno, por uma série de razões bastante conhecidas. "Pela baixa institucionalidade dela", diz Cunha Lima. Traduzindo isso do politiquez para a vida real: porque Marina não tem sequer um partido para lhe dar sustentação parlamentar, não teria uma coalizão de apoio, já que considera todos os partidos carcomidos (agora reabilitou o PSB, ao ingressar nele), porque enfrentaria resistências do capital e, sobretudo, a insegurança do eleitorado num segundo turno, na hora de escolher entre quem está de fato governando, goste-se dela ou não, e quem se propõe a governar em bases tão idealistas. Quando Marina diz que Dilma está sendo chantageada pelo Congresso e que é possível montar coalizões baseadas só em programas, sem lotear o governo, de duas uma: ou ela não sabe do que está falando, ou conhece a realidade, mas prefere verbalizar o sonho. No sistema que temos, hoje, não se governa sem coalizões, com base apenas em fundamentos políticos e morais.

Cunha Lima compara Marina ao Lula de 1989. "Collor perderia de Covas, de Brizola e até de Maluf no segundo turno. Só ganharia de Lula. Por isso os que torciam por ele tudo fizeram para que o candidato do PT chegasse lá. Chegou, foi massacrado e perdeu, como previsto."

Mas, ainda que Dilma queira, que os marinistas insistam, que os institutos continuem pesquisando as intenções de votos em Marina e que elas superem as de Eduardo, os caciques do PSB garantem que será ele o candidato. Apostam agora no aumento da migração dos votos de Marina para Campos, a ser confirmado por novas pesquisas.

Faltando ele
O PSC tem feito pesquisas, com institutos menores, sobre o potencial eleitoral de seu candidato a presidente, Pastor Everaldo. Os resultados são mantidos a sete chaves, com o argumento de que ele prefere crescer em silêncio. É óbvia, porém, a dedução de que ele não pode ter mais de 1% dos votos, considerados os resultados dos grandes institutos, que não incluem seu nome na cartela, devendo habitar a faixa dos "nanicos", em que o marqueteiro de Dilma, João Santana, tentou jogar todos os postulantes. Mesmo assim, numa eleição apertada, até 0,5% dos votos faz muita diferença, podendo forçar o segundo turno. Na hora certa, o PSC pode valer-se dos índices de Everaldo para negociar com algum dos três candidatos sólidos.

Salada sonhática
A excitação com os rumos da sucessão continua alta nas rodas políticas. Os dilmistas achando que agora ela pode até ganhar no primeiro turno, os da oposição fazendo contas sobre o melhor caminho para destronar o PT. Numa delas, alguém até sugeriu ontem a chapa da oposição que seria imbatível. Eduardo disputaria a Presidência, tendo o governador tucano de Minas, Antonio Anastasia, como vice. Para não perder Minas para o PT, onde o ministro Fernando Pimentel lidera, Aécio disputaria o governo do estado. Seria consagrado. Marina disputaria o Senado pelo Acre e Serra o Senado por São Paulo, para ser ministro da Fazenda. Como salada, colorida. Como articulação, impossível. Esbarra nas ambições de cada um.

Fonte: Correio Braziliense

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