sexta-feira, 25 de outubro de 2013

As mosqueteiras do Planalto - Luiz Carlos Azedo

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, que já foi articulador político do governo Lula, foi um dos principais artífices da aprovação do programa Mais Médicos pelo Congresso, sancionado na terça-feira, mas acabou desautorizado pela presidente Dilma Rousseff. Fez um acordo para a aprovação do programa e o dispositivo acabou vetado. “A Ideli e a Gleisi é que fecham os acordos, elas não aprovam nada sem antes consultar diretamente a presidente Dilma Rousseff”, explica o líder do PSD na Câmara, Eduardo Francisco Sciarra (PR), que hoje comanda uma bancada de 42 deputados. Segundo ele, não adianta nenhum ministro forçar a barra, “elas só batem o martelo depois de consultar a presidente da República.”

Além de desautorizado por Dilma, Padilha apanha da oposição no Congresso. Foi para o pelourinho porque não pode sequer assumir que fez o acordo e levou um puxão de orelhas. Pelo contrário, é obrigado a tergiversar sobre o assunto. A emenda da oposição condicionava a permanência dos médicos contratados na segunda fase do Mais Médicos à criação de uma carreira específica, como reivindicam as entidades da categoria. O líder do PSDB, Carlos Sampaio (SP), apoiou a aprovação do programa por causa da emenda. Agora, acusa Padilha de romper o acordo. A situação de Padilha não é nova na Esplanada, praticamente todos o ministério já passou pela mesma situação.

A ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, e a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, são tratadas pela maioria dos políticos do Congresso como duas Genis. O mínimo que dizem a respeito delas — inclusive parcela da bancada do PT — é que não têm competência para os cargos que ocupam. As duas, porém, são uma espécie de mosqueteiras da rainha, sobrevivem nos respectivos cargos desde a posse de Dilma, apesar da forte oposição instalada na própria base do governo. Quem tromba com elas acaba se dando mal, como aconteceu com o ex-líder do governo na Câmara Cândido Vaccarezza (PT-SP). Na verdade, o nome da muralha é Dilma Rousseff.

Outra mosqueteira é a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, que monitora a execução do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e negocia a aprovação do Orçamento da União com o Congresso. O relator da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), deputado Danilo Forte (PMDB-CE), aprovou ontem seu relatório na comissão mista do Congresso, já prevendo a nova redação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do Orçamento Impositivo, que torna as emendas parlamentares de execução obrigatória. Só fechou o texto depois de semanas de negociação com a ministra. Acabou limitando as emendas dos deputados e senadores a irrisórios 1,2% da receita corrente líquida (RCL) do ano prevista na proposta orçamentária, sendo que metade será destinada obrigatoriamente para “ações e serviços públicos de saúde”, conceito que abrange o Sistema Único de Saúde (SUS). Foram derrubados 1.081 destaques, sendo 82 do senador Walter Pinheiro (BA), estrela petista na Casa, que recebeu orientação da ministra para retirá-los. Para alegria dos desafetos, Gleisi e Ideli devem deixar a Esplanada para concorrer às eleições, mas ninguém se surpreendará se Miriam Belchior acabar deslocada para a Casa Civil, cujo funcionamento conhece muito bem.

Miscelânea
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chamou o ex-governador do Espírito Santo Paulo Hartung (PMDB) para uma conversa em São Paulo, na semana passada, e disse-lhe que, segundo as pesquisas internas do PT, ele seria o favorito ao governo capixaba — do qual o PMDB acaba de desembarcar. A proposta de Lula é que Hartung seja candidato ao Palácio Anchieta contra o governador Renato Casagrande (PSB), abrindo a vaga do Senado para o ex-prefeito de Vitória João Coser (PT). O vice-presidente da República, Michel Temer, que tratou do assunto no seu encontro com Lula, já trabalha para remover da disputa o senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES).

Em tempo: o Ibope divulgado ontem foi de tirar a oposição do rumo: quem apostou no desgaste de Dilma com o leilão do poço de petróleo de Libra(pré-sal), perdeu. Resumo da ópera: Dilma tem 41%; Aécio, 14%; e Campos, 10%. Marina, no lugar de Campos, teria 21%; Dilma, 39% e Aécio, 13%. Com Serra no lugar do Aécio, Dilma teria 40%; o tucano, 18%; e Campos, 10%. Conclusão: risco de segundo turno somente com Marina Silva (21%) e José Serra (16%). O Ibope esteve uma semana na rua, em 143 cidades, até ontem.

Fonte: Correio Braziliense


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