domingo, 6 de outubro de 2013

Coligação democrática - Merval Pereira

O acordo a ser firmado entre o PSB, do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e a Rede Sustentabilidade, da ex-senadora Marina Silva, tem um objetivo claro: oferecer aos eleitores, com o que chamam de "coligação democrática" uma opção ao que Marina definiu como "oposição pela oposição e situação pela situação" que é nada mais que a polarização entre PT e PSDB que prevalece nas eleições presidenciais desde 1994.

Como ao ficar no PSDB, desistindo do sonho de disputar mais uma eleição presidencial, o ex-governador José Serra disse que seu objetivo era ajudar a derrotar o PT, temos uma corrida presidencial em que o partido do govemo estará desafiado tanto pela "oposição à esquerda" de dentro da base governista, quanto pela oposição oficial.

Os analistas políticos do governo sempre consideraram que a oposição mais perigosa era a de dentro da base governista, o que confere à nova "coligação democrática" um caráter de principal obstáculo à reeleição da presidente Dilma.

O clima do acordo entre Marina e Eduardo Campos é de rejeição à maneira de fazer política do PT. A ex-senadora saiu do embate pela formação do seu partido, Rede, com o ânimo de denunciar as manobras governamentais para barrar sua pretensão no TSE, e esse estado de espírito coincide com o de Eduardo Campos, que acusa o PT de ter tentado com golpes baixos tirá-lo da corrida presidencial.

O governador de Pernambuco viajou para Brasília na manhã de ontem, em companhia do vice-presidente do partido, ex-ministro Roberto Amaral, para um encontro com a ex-senadora Marina Silva para fechar o acordo político, destinado a ter grande impacto na corrida presidencial. O PSB assinará um protocolo de intenções com a Rede Sustentabilidade para a formação do que chamam de "coligação democrática" reconhecendo a existência política da Rede e dará legenda a Marina e a todos os membros da Executiva Nacional do futuro partido.

Na noite de sexta-feira, Marina e Eduardo Campos conversaram por telefone e acertaram os detalhes desse acordo, que, no primeiro momento, não falará sobre a candidatura à presidência da República, permanecendo os dois na condição de pré-candidatos. A definição será dada mais adiante, provavelmente de acordo com a posição de cada um nas pesquisas de opinião.
 
No momento, Marina Silva está em segundo em todas elas, com índices que variam de 16% a 25%, e o governador de Pernambuco está em quarto lugar, com cerca de 5% dos votos.

Ao mesmo tempo, ocorreu em Brasília uma reunião da cúpula do Rede Sustentabilidade com o deputado federal Roberto Freire, presidente do PPS, com a presença da própria Marina e de políticos como o vereador paulistano Ricardo Young. Havia uma conversa anterior em que Marina havia exigido ocupar a vice-presidência do partido e ter total independência na campanha presidencial. A reunião definiria a disposição do PPS de aceitar receber Marina Silva e seus seguidores.

Como o PPS, depois de o ex-governador José Serra ter desistido de se filiar ao partido para disputar a presidência, estava aberto a apoiar tanto Marina quanto Campos, a recusa dela a ir para a legenda não deve encerrar as negociações, pois provavelmente o PPS deve se juntar ao PSB numa coligação formal.

A candidatura que sair desse grupo terá então o apoio inicial de PSB, PPS e Rede Sustentabilidade, formando uma nova coligação com força para disputar a eleição presidencial. A união entre Marina e Eduardo Campos, com provável apoio do PPS, pode levar a um passo mais avançado das oposições, a exemplo do que aconteceu na Venezuela.

Lá, os partidos de oposição fizeram um amplo acordo e escolheram um candidato único através de uma consulta popular. O senador Aécio Neves, do PSDB, recebeu a notícia da formação da "coligação democrática" na chegada a Nova York, onde fará uma palestra para investidores internacionais.

Fonte: O Globo

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