quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Da controvérsia sobre o leilão do pré-sal à montagem de alianças e palanques - Jarbas de Holanda

O paradoxo entre a grandeza da oferta de exploração dos campos de Libra e a presença de apenas um consórcio no leilão, realizado anteontem, teve seus efeitos negativos reduzidos e em boa parte compensados pela surpresa da participação das petroleiras europeias Shell, anglo-holandesa, e da Total, francesa. Surpresa responsável pela controvérsia da avaliação, que se seguiu ao evento. Expressa em dois tipos de análises, bem distintas, dos resultados. De que são exemplares as feitas no Estadão, pelo colunista Celso Ming, e em editorial da Folha. A primeira, favorável, afirma em seu terceiro parágrafo: “A participação das megaempresas privadas Shell e Total desarma dois argumentos dos que cobram maior eficiência na produção de Libra: o de que a licitação fora um arranjo entre estatais (brasileira e chinesas) e o de que não haverá suficiente fiscalização sobre os custos de produção a serem descontados do óleo excedente a ser entregue à União. Na condição de empresas de capital aberto, Shell e Total terão de dar satisfação aos seus acionistas, normalmente fortes cobradores de transparência e resultados”. Enquanto a segunda avaliação, contida no referido editorial, começa destacando “Resultado do primeiro leilão do pré-sal ficou sem competição e sem ágio; governo só pode festejar os R$ 15 bilhões de reforço fiscal”. E, mais adiante, assinala: “Caiu por terra, com o desenlace modesto, as expectativas desmedidas que o pré-sal suscitou de início. Uma mescla tóxica de ufanismo e índole estatizante impregnou o modelo de partilha adotado e impôs a Petrobras como operadora única dos campos, uma das razões que afugentou outros concorrentes”.

Quanto à presidente Dilma, ignorando essa controvérsia, bem como a ampla crítica, quase consensual, ao modelo de partilha (inclusive pela impossibilidade de financiamento de grande parte da exploração por uma Petrobras sufocada por alto grau de endividamento), ignorando tudo isso ela usou de pronto uma cadeia de rádio e televisão para proclamar o “pleno sucesso” do leilão e qualificá-lo como “um marco na história do Brasil”, ao que juntou a retórica especificamente eleitoral de contrapô-lo às privatizações tucanas. Antecipando o emprego que fará na campanha para a reeleição – já iniciada e a ser intensificada – desse leilão e daqueles para as concessões dos modais de transporte (que sofrem sucessivos adiamentos por causa de critérios voluntaristas e anti-mercado). Com uma ênfase voltada para os seguintes objetivos: reverter a imagem negativa da gestão do seu governo, inclusive diante dos gargalos da área de infraestrutura; reforçar a aposta na atração de investimentos privados nessa área como fator de reativação da economia ao longo de 2014; e facilitar o financiamento da campanha reeleitoral.

Simultaneamente ao leilão do pré-sal e às contraditórias avaliações sobre ele, as forças políticas do campo governista e as do campo da oposição e da dissidência passam a centrar seus esforços – num cenário de retomada da perspectiva do 2º turno presidencial – para o preparo de alianças e a montagem de palanques estaduais. No primeiro, a dissidência Campos/Marina reforçou a dependência da campanha de Dilma à federação peemedebista e aumentou o custo da construção de ampla base de apoio a ela, recomendada pelo ex-presidente Lula. O que poderá implicar o sacrifício do desejo de Dilma de substituir por técnicos (evidentemente petistas) os ministros que se afastarão para disputar eleições. E quanto à montagem dos palanques estaduais, o cenário de três candidaturas presidenciais competitivas amplia o custo e as complicações para os dois campos. De que são exemplos, no governista, as agudas contradições existentes no Rio, na Bahia, no Rio Grande do Sul, no Maranhão. Complicações igualmente presentes no campo das candidaturas de Aécio Neves e Eduardo Campos. A um só tempo submetidas a fortes pressões contrárias do Palácio do Planalto e do lulismo e tendo que tentar administrar, com sucesso ou não, as tensões da disputa de espaço entre elas, que envolve a articulação dos chamados palanques duplos.

Jarbas de Holanda é jornalista

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