terça-feira, 22 de outubro de 2013

Devolução de cargos no Recife amplia crise do PT

João Valadares, Tércio Amaral

BRASÍLIA e RECIFE — A lentidão do PT em Pernambuco para efetivar o desembarque do governo Eduardo Campos (PSB), virtual candidato a presidente da República em 2014, acentuou ainda mais o racha na sigla. Só no domingo, após um mês do rompimento de Eduardo Campos com a presidente Dilma Rousseff, o partido decidiu entregar todos os cargos que ocupava nas gestões pessebistas, incluindo as prefeituras do Recife e de Paulista. Há uma semana, uma ala do partido, liderada pelo senador Humberto Costa (PT-PE) e pelo deputado federal João Paulo (PT-PE), se antecipou e anunciou a devolução dos cargos.

O presidente do PT no Recife, Oscar Barreto, secretário executivo de Agricultura, era o mais resistente a deixar o governo. Em entrevista a uma rádio local, chegou a dizer que ninguém deveria entregar os cargos e fez várias críticas ao grupo liderado por Humberto Costa. "Eu fui chamado pelo governador. Meu cargo não pertence ao PT", afirmou. O diretório decidiu expulsar aqueles que não cumprirem a decisão.

A disputa interna esquentou ontem à tarde. Um grupo liderado pela deputada estadual Teresa Leitão, ligada ao ex-prefeito do Recife João da Costa, promete encaminhar denúncia à Direção Nacional do PT contra a tendência majoritária da legenda, Construindo Um Novo Brasil (CNB).

Candidata a presidente estadual do partido, ela alega que a CNB não cumpriu o acordo de formar uma comissão para debater o desembarque da gestão Eduardo Campos. Durante a reunião ocorrida no domingo, que oficializou a saída, a temperatura foi elevada. O grupo de Leitão se retirou do local e houve bate-boca entre alguns militantes.

Mesmo diante de toda a confusão, o presidente estadual do PT em Pernambuco e deputado federal, Pedro Eugênio, se reuniu com Eduardo Campos, na tarde de ontem, e oficializou a devolução. O parlamentar entregou uma carta ao governador para explicar a decisão. "Temos assistido a vários posicionamentos por parte do partido presidido por vossa excelência que se colocam, claramente, em posição crítica ou até mesmo em clara oposição àqueles seguidos pelo governo federal, conduzido pela presidenta Dilma Rousseff. Nesse sentido, a direção do Partido dos Trabalhadores em Pernambuco deliberou que os filiados que ocupam, a qualquer título, cargos de confiança na administração pernambucana devem deles se afastar", diz.

A guerra do PT em Pernambuco, alimentada por Eduardo Campos com o objetivo de enfraquecer o palanque da presidente Dilma no estado, teve início nas eleições municipais do Recife do ano passado. O então prefeito da capital pernambucana, João da Costa (PT), que seria o candidato natural à reeleição, foi retirado da disputa. Após muita lavagem de roupa suja em público, o PT, enfraquecido, lançou, de última hora, a chapa formada por Humberto Costa e João Paulo. Resultado: Geraldo Julio, candidato do PSB, venceu a disputa no primeiro turno. A vitória potencializou Eduardo Campos e serviu de combustível ao voo nacional.
Nos últimos dias, alguns petistas migraram para o PSB. O caso mais simbólico é de Isaltino Nascimento, secretário de Transportes. Após resistir a deixar o governo, resolveu trocar de partido. Em Pernambuco, uma ala do PT é chamada de "queijo do reino": vermelho por fora e amarelo por dentro, numa referência às cores do PT e do PSB.

Renovação
Eduardo Campos defendeu ontem a alternância do poder como a única forma de o Brasil avançar. A entrevista do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao jornal espanhol El País, publicada no fim de semana, serviu de pano de fundo para que o governador de Pernambuco reforçasse as críticas ao PT. Na entrevista, Lula fala sobre os efeitos negativos do crescimento petista com a chegada ao poder, refletidas em denúncias de corrupção e fisiologismo. Campos analisou o caso dizendo que tem a obrigação de "aprender com os erros do outros" para não repeti-los, e apresentou como remédio para esses problemas "a renovação política", possível apenas com a alternância de poder.

Fonte: Correio Braziliense

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