segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Oposição derrota kirchnerismo em eleição legislativa argentina

Exatamente três anos após a morte do ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007), o governo de sua viúva e sucessora, a presidente Cristina Kirchner, sofreu mais um revés nas umas, em meio a um clima de apreensão pela saúde da chefe de Estado argentina, que continua de licença e ainda sem data para retomar à Casa Rosada. De acordo com pesquisas de boca de uma divulgadas por canais de TV locais, nas eleições legislativas realizadas ontem para renovar metade da Câmara e um terço do Senado, o desempenho dos candidatos kirchneristas foi, em alguns casos, pior do que nas Primárias Abertas Simultâneas e Obrigatórias (PASO), realizadas em 11 de agosto passado — que até então tinham marcado o pior desempenho nas umas do kirchnerismo. Os aliados de Cristina foram derrotados nos principais distritos eleitorais, entre eles a província de Buenos Aires, onde o grande vencedor foi o peronista Sergio Massa, um ex-kirchnerista que este ano lançou seu próprio partido e surgiu como uma das grandes promessas para a eleição presidencial de 2015. Massa, que é prefeito do município de Tigre, na Grande Buenos Aires, foi eleito deputado pela Frente Renovadora (sublegenda do Partido Justicialista) com mais de dez pontos percentuais em relação ao candidato kirchnerista, Martin Insaurralde.

— Estamos muito satisfeitos, em apenas 120 dias fizemos a melhor campanha desde a redemocratização do país (em 1983) — disse Dario Giustozzi, candidato a deputado da lista liderada por Massa.

Dúvidas sobre a saúde de Cristina

Ontem foram eleitos 127 deputados (de um total de 257) e 24 senadores (de 72), que serão empossados no próximo dia 10 de dezembro. Atualmente, o governo controla 112 cadeiras na Câmara e tem 23 aliados que o ajudaram a aprovar projetos enviados pelo Executivo sem grandes dificuldades. No Senado, os kirchneristas tem 33 representantes e sete aliados. Segundo a maioria dos analistas, a Casa Rosada continuará tendo as maiores bancadas em ambas as casas, mas perderá alguns congressistas e com isso margem de manobra para transformar em lei iniciativas oficia-listas. Um projeto de reformar a Constituição para permitir que Cristina concorra a um terceiro mandato, já defendido por alguns dos aliados da presidente, seda definitivamente enterrado.

Tudo parecia indicar, segundo pesquisas de boca de uma, que nesta eleição 70% dos argentinos votaram pela oposição. Há dois anos, Cristina foi reeleita com 54% dos votos.

— Com esta proporção de 70 contra e apenas 30 a favoi; está claro que a sociedade argentina está demandando uma mudança e estão surgindo novas lideranças

— disse o analista Hugo Haime.

Pela primeira vez desde que os Kirchner chegaram ao poder, em 2003, a Frente para a Vitória (sublegenda do Partido Justicialista fundada por Kirchner) participou de uma eleição sem a presença de seu líder. Cristina está há três semanas afastada do governo e de qualquer tipo de atividade política. A presidente está de repouso na residência oficial de Olivos, onde recebe apenas a visita de seus familiares e colaboradores mais próximos. Ontem, o filho mais velho da chefe de Estado, Máximo Kirchner, falou pela primeira vez com a imprensa, no momento em que votou na província de Santa Cruz. Perguntado pela saúde de Cristina, seu filho limitou-se a dizer que "ela está bem, de bom humor" No entanto, Máximo não soube informar quando terminará a licença da presidente.

— Não sei, não sou seu médico — respondeu Máximo, braço-direito da presidente desde a morte do pai.

Nos últimos dias, os rumores sobre a saúde presidencial se intensificaram. Quarta-feira passada, a Casa Rosada divulgou um comunicado no qual confirmou que em recentes exames realizados na Fundação Favaloro, onde está sendo tratada Cristina, foi detectado "de forma intermitente um bloqueio do ramo de condução esquerda" do coração. Este seria um novo problema cardíaco, que se soma à arritmia que o governo confirmara nos primeiros dias de outubro, quando Cristina foi internada de urgência para retirar um hematoma craniano. Não se sabe que tipo de tratamento fará a presidente e meios de comunicação especularam sobre a possibilidade da colocação de um marca-passo ou algo similar.

Com um kirchnerismo enfraquecido, as eleições de ontem se transformaram numa espécie de ensaio para as presidenciais de 2015. Além de Massa, cujos colaboradores admitem que pensa numa candidatura presidencial daqui a dois anos, o governador da província de Córdoba, o peronista José Manuel de la Sota, que teria obtido um ótimo resultado em seu distrito, também está cotado para as futuras presidenciais. Outro potencial candidato é o ex-vice presidente Julio Cobos, eleito deputado pela província de Mendoza, onde teria sido o candidato mais votado. Dentro do kirchnerismo e com a possibilidade cada vez mais remota de que Cristina possa reformar a Constituição e ser novamente candidata, o nome mais forte é o do governador da província de Buenos Aires, Daniel Scioli, um dos derrotados ontem. Porém, Scioli não teria o respaldo da ala mais dura do kirchnerismo, que apostaria no governador de Entre Rios, Sergio Urribarri.

— Começa uma nova etapa, precisamos recuperar o Congresso e dar respostas às demandas do povo — declarou Cobos.

"Estamos vivendo um final de ciclo” Já o chefe de governo da cidade de Buenos Aires, Mauricio Macri, outro dos vencedores de ontem, admitiu publicamente suas aspirações presidenciais.

— Trabalhamos para 2015 — disse.

Na província de Santa Fe, onde o kirchnerismo também foi derrotado, o governador Antonio Bonfatti, que sofreu um atentado durante a campanha, afirmou que "se alguém pensa numa eleição presidencial e perde esta eleição (legislativa), terá poucas chances"

O kirchnerismo teria sido derrotado até mesmo na província de Santa Cruz, governada durante 11 anos por Néstor Kirchner.

— Estamos vivendo um final de ciclo — opinou o governador Daniel Peralta, ex-aliado da família presidencial, 

Fonte: O Globo

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