quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Sob os fogos - Tereza Cruvinel

É preciso relativizar conclusões iniciais sobre os riscos para a candidatura de Dilma Rousseff e a perda de consistência da candidatura tucana de Aécio Neves diante

Desde domingo, estamos sob o estrépito dos fogos detonados pela surpreendente aliança entre Eduardo Campos e Marina Silva, sejam eles de contentamento, despeito ou estranhamento. Todo foguetório levanta e espalha uma fumaça impressionista, que turva a visão de todos, tirando a nitidez das formas e dos conteúdos. Evidência disso são as avaliações e leituras para todo gosto e para todas as conveniências que circulam no meio político. Muito falta ainda para ser visto, dito e compreendido, especialmente no que diz respeito ao destino dos votos de Marina. Mas, abstraindo o brilho da novidade, algumas leituras iniciais já podem ser relativizadas, especialmente quanto aos riscos para a candidatura de Dilma Rousseff e à perda de consistência da candidatura tucana de Aécio Neves.

Comecemos por este segundo aspecto. É verdade que o novo polo da disputa representará para os eleitores uma alternativa à polaridade PT-PSDB. Uma nova força agregará novas ideias e enriquecerá o debate sucessório. Já a conclusão de que Aécio será fortemente prejudicado pela emergência da nova chapa, antes de qualquer indicação das pesquisas é, no mínimo, precipitada. Os tucanos estão naturalmente cuidadosos, saudando a nova aliança como sinal de que os tempos do PT no poder estão chegando ao fim. Mas o que garante, hoje, que a chapa Campos-Marina será mais forte do que a do candidato tucano? O senador Aloisio Nunes Ferreira, que é um tucano imune a estridências e um analista racional, recorda as bases concretas de que disporá seu partido na disputa: “O campo da oposição se alargou e isso é bom. Mas o PSDB continua sendo o partido de oposição com maior capilaridade, organizado em todo o país. Governa mais de 700 municípios e dois estados de alta relevância política e econômica, como São Paulo e Minas Gerais. Tem um programa histórico e terá uma plataforma consistente de mudanças para o Brasil. Terá candidatos fortes em boa parte dos estados. Acreditamos que haverá segundo turno e que estaremos nele, unificando a oposição em torno de nosso candidato. Mas discutir isso hoje não tem sentido. O processo trará todas as respostas”, diz ele, evitando comparações negativas com o PSB e a Rede, em todos esses aspectos. Ele não afasta a hipótese de que haja troca de candidato, lembrando que o acordo entre Aécio e José Serra que levou à permanência deste último no PSDB previu uma avaliação do potencial de cada um em março do ano que vem. Isso, porém, não afetaria os pilares tucanos na disputa.

Três na raia
A própria presidente Dilma Rousseff, em ligeira abordagem do assunto com líderes aliados, evitou subestimar o feito e o prestígio político de Marina Silva. É claro que o PT está incomodado com a união entre dois ex-aliados que não escondem mais o ímpeto oposicionista e mesmo o ressentimento, embora insistam: Marina perdeu a Rede porque foi imprevidente, não colheu assinaturas de sobra como o Pros e o PSD, que sofreram impugnações em escala. Mais frios, os senadores Welligton Dias e Humberto Costa faziam ontem uma avaliação mais positiva do novo quadro eleitoral: a estratégia da oposição sempre foi levar a disputa para o segundo turno por meio da dispersão dos votos no primeiro. E, para isso, contava com a apresentação de três ou quatro candidatos anti-Dilma. Com a decisão de Serra, de ficar no PSDB, desistindo de concorrer pelo PPS, acabou-se a quarta candidatura. E, com o fracasso da Rede e a união Marina-Campos, duas candidaturas resultaram em uma só. Dilma enfrentaria então, segundo o quadro de hoje, apenas dois adversários competitivos. Ainda que ocorra o segundo turno, suas chances de vitórias não teriam diminuído, muito pelo contrário, dizem eles. Num jogo convencional, Dilma terá um tempo de televisão muito maior, a força da máquina federal, um grande cabo eleitoral, que é Lula, entre outras vantagens, que ela só perderá se um dos concorrentes adquirir a força dos fenômenos eleitorais, ancorada na percepção de que mudarão o país par melhor. A ver.

As cólicas
Em algum momento, passada a reverência ao novo, algumas explicações serão cobradas da nova força política que se levanta. Por exemplo, o que vem a ser o chavismo que precisa ser derrotado no Brasil, segundo Marina Silva? “Não entendi esse libelo direitista”, disse o deputado Chico Alencar (PSol-RJ). O PSol, aliás, vem dando sinais de que não entrará nesse barco. Campos poderia nominar as “raposas” da política que precisam ir para casa. Entre elas, estaria aquele que o fez ministro e o apoiou para governador? Por falar em raposices, ele está comandando uma fina ação felina em Pernambuco: tirou deputados do PTB, do senador Armando Monteiro, e do PT. Agora, trabalha para influir na eleição direta da nova direção estadual do PT, de modo a garantir o apoio do partido a seu candidato a governador. Já seria significativo o campo minado por ele no PT estadual.

Reencontro
O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, retirou do armário as medalhas que Ulysses Guimarães mandou cunhar em 1988, para agraciar os que contribuíram com a Constituinte. Além dos ex-constituintes, Alves distinguiu ontem funcionários e jornalistas, honrando-me com a inclusão. Evocando ainda os 25 anos da nova Carta, a solenidade reuniu pessoas que há anos não se viam, e propiciou, sem desmerecer ninguém, reparos sobre a qualidade perdida na política. Não podendo citar tantos que ali ressurgiram, faço-o na pessoa do relator geral, Bernardo Cabral.

Fonte: Correio Braziliense

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