quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Pizzolato revelou mágoa com PT a amigos

Grupo divulga dossiê na internet para limpar a imagem de único mensaleiro foragido

Chico Otavio, Juliana Castro

Um grupo de amigos fiéis, montado em abril do ano passado, trabalha intensamente na casa de Henrique Pizzolato, uma cobertura na Rua Domingos Ferreira, em Copacabana, para limpar a imagem do ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil, o único mensaleiro que encontra-se foragido.

O desaparecimento de Pizzolato, que teria ido para a Itália, aproveitando-se da dupla cidadania para escapar da condenação a 12 anos e sete meses de prisão em regime fechado, não desativou esse núcleo duro, que, munido de dois computadores instalados na sala do apartamento, divulga dados de um dossiê, principalmente na blogosfera, destinado a contestar o papel atribuído a Pizzolato no esquema de desvio de recursos públicos para o pagamento de propinas.

O ex-dirigente do BB teria tomado a decisão de deixar o Brasil no início de setembro, logo depois que o Supremo Tribunal Federal (STF) rejeitou os seus embargos de declaração, encerrando assim as esperanças de redução da pena. Para chegar a Europa, onde teria entrado pela Espanha, ele saiu do Rio de madrugada, com um amigo na direção de um carro de passeio, e viajado cerca de um dia até um ponto no Sul do país onde cruzou a pé a fronteira com o Paraguai.

Antes de sair, teria passado por Concórdia, cidade onde nasceu no Oeste catarinense, mas o amigo que o acompanhava o impediu de ver o pai, Pedro Pizzolato, por questão de segurança.

Processo na Itália
No STF, o ex-diretor de marketing do BB foi condenado por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e peculato, em decorrência da liberação de R$ 73 milhões do fundo Visanet para a DNA Propaganda, empresa de Marcos Valério, sem garantias dos serviços contratados. A estratégia de Pizzolato, se confirmada a fuga para a Itália, país onde tem parentes, é pedir à Justiça local a abertura de um processo judicial sobre o mensalão, amparado por uma convenção da ONU, antes que o governo brasileiro tome a iniciativa.

Neste caso, a peça mais valiosa de sua defesa seria um regulamento da Visanet, arrecadado pelo núcleo de amigos, para sustentar que o responsável pela gestão do fundo não era Pizzolato, mas um gestor indicado pelo diretor de Varejo do BB junto ao Fundo de Incentivo Visanet. O núcleo duro é composto pela mulher de Pizzolato, a arquiteta Andréa Eunice Haas, que recentemente desfalcou o grupo para se encontrar com o marido, o ex-funcionário do BB e ex-dirigente sindical Alexandre Teixeira, e o blogueiro e jornalista Miguel do Rosário.

O jornalista Raimundo Pereira, da revista “Retrato do Brasil”, participa eventualmente das reuniões. — Tudo que afirmamos está devidamente sustentado por documentos — diz Alexandre, cuja eloquência rendeu o apelido de “Terremoto”. Pizzolato guarda mágoa do PT porque, ao longo do processo, esperou um apoio que não veio. A solidariedade petista chegou só depois da condenação, quando não restava esperança. Aos amigos, lembrava o que fizera pela sigla. Em 1989, o vice de Lula na campanha para a Presidência era José Paulo Bisol.

Os amigos contam que Bisol não poderia ser candidato porque teria uma dívida com o BB e isso era um impedimento legal. Pizzolato disse aos mais próximos que pagou o valor devido com um cheque e que nunca recebera o dinheiro de volta. Mágoa maior é a que a mulher de Pizzolato, Andréa, guarda do revisor da Ação Penal 470, ministro Ricardo Lewandowski.

O rancor supera o descontentamento do casal com o relator, ministro Joaquim Barbosa. Lewandowski é quem teria dado o golpe fatal para a condenação de Pizzolato, despertando a ira de Andréa. A decepção era tanta que, a partir do voto do revisor, o então réu nunca mais ligara a TV para ver o julgamento. Passou a receber notícias somente via advogado. Além de mulher, Andréa era a companheira de hobby de Pizzolato. Arquitetos formados pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), em São Leopoldo (RS), os dois se preocupavam em dar um toque pessoal ao apartamento, pintando detalhes de flores nas paredes.

No ápice do escândalo, eles se separaram e se reconciliaram. Foi por incentivo dela que o núcleo se formou. Embora vivam hoje juntos, o registro em cartório do imóvel declarado por Pizzolato no processo do mensalão, um duplex na Rua República do Peru, 72, em Copacabana, informa que o ex-dirigente do BB e Andréa teriam se separado oficialmente em 2006, um ano após o escândalo. Na partilha de bens, averbada em cartório, este apartamento de 150 metros quadrados teria ficado para a mulher.

Católico, Pizzolato chegou a estudar para ser padre. Foi seminarista junto com o atual ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho. Desde o começo do julgamento, o ex-diretor de marketing do BB começou a frequentar diariamente a Igreja Nossa Senhora de Copacabana.

Em casa, guarda uma coleção de imagens de São Francisco. No escritório onde passava os dias navegando na internet, há duas imagens do Sagrado Coração de Maria, uma do Anjo Gabriel e seis terços pendurados na parede — o gancho do sétimo terço estava vazio. Quanto tinha passaporte, ele visitou Fátima e Lourdes, em Portugal, e Assis, na Itália. Fez ainda o caminho de Santiago de Compostela. Recentemente, Pizzolato procurou conforto no Kardecismo.

Ele ia a um centro espírita no Engenho Novo, na Zona Norte do Rio, e ainda tinha tempo para frequentar sessões de terapia. A mochila que ele carregou nas costas, levada discretamente para o carro horas antes da fuga, tinha, entre outros itens, três pares de meia, três cuecas e uma pequena bolsa com objetos de higiene pessoal.

Antes de seguir a pé pela estrada, para se encontrar com outro motorista no Paraguai, ele teria pedido ao amigo: “Cuide da minha baixinha”. Era assim que ele chamava a mulher, com quem não teve filhos. A saudade durou menos de 40 dias. Há duas semanas, ela foi ao encontro dele.

Fonte: O Globo

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