sábado, 16 de novembro de 2013

Venezuela em apuros - Míriam Leitão

Na Venezuela , a inflação em 12 meses é quase dez vezes a do Brasil. Há tabelamento de preços e faltam produtos da cesta básica e dólares . As filas para compra de alimentos racionados , como açúcar e leite em pó , são de até duas horas . Muitos estão endividados . Diante de tudo isso , o governo Maduro tirou da cartola medidas que não resolvem o problema. Baixou por decreto os preços dos eletrodomésticos . Não vai adiantar .

A inflação está em 54% pela taxa anualizada, mas como a de alimentos é ainda maior , de 72,2%, os mais pobres são os mais prejudicados. Segundo o economista venezuelano Pedro Palma, que conversou com a coluna, o poder de compra das remunerações dos trabalhadores é hoje quase 20% menor do que há 15 anos .

Os venezuelanos não tinham visto os preços dos produtos subir em tão rápido nesse período como agora, de acordo com a imprensa local. O site do jornal “El Nacional” informava que, enquanto os preços de alguns eletrodomésticos tinham sido reduzidos, o racionamento de alimentos continuava. E que dois tipos de filas eram vistas pelas ruas de Caracas: uma para a compra de TV s, por exemplo; nas outras , diante dos supermercados, donas de casa aguar davam para comprar dois quilos de leite em pó , dois de açúcar e quatro quilos de farinha.

Produtos racionados . Em meio a essa crise na economia e a proximidade das eleições municipais, que serão uma prova de fogo para o governo , o que Maduro quer mesmo é poder governar por decreto, ter superpoderes. E continua lançando mão de medidas que podem até aliviar um pouco a situação no curto prazo, mas não corrigem de forma efetiva os desequilíbrios da economia.

Nesses últimos dias, além da redução de preços, Maduro fez novos anúncios, como a criação de um órgão para ad-ministrar as divisas para as importações e fomentar as exportações . É o terceiro desse tipo desde fevereiro. —As medidas absurdas que o governo está implementando , que ordena redução dos preços e fixação de margens de lucro “justas ”, podem gerar um efeito transitório de redução da inflação , mas não vão se traduzir em um abatimento exitoso das pressões inflacionárias .

Pelo contrário , com o controle, o que vai acontecer é um represamento da inflação , que depois voltará com mais força. É pão para hoje e fome para amanhã. As perspectivas não são boas — disse Palma.

Siderúrgicas surpreendem
O balanço das siderúrgicas no terceiro trimestre tem surpreendido analistas que acompanham o setor . A rentabilidade das empresas voltou a crescer , impulsionadas pelo real mais fraco , que desestimulou as importações de aço . Segundo Celson Placido , da XP Investimentos , as ações na bolsa estão em forte alta desde meados de julho . A CSN teve expansão de 133%, enquanto Usiminas valorizou 93% nesse período . A Gerdau teve alta menor , porque depende das vendas nos EU A, que foram fracas . Ainda assim, tem um ganho de 36% na Bolsa.

Cenário difícil para construtoras
Já as empresas ligadas à construção civil continuam reportando resultados fracos, segundo Celson Placido, da XP . O cenário é de menos lançamentos , menos vendas e estoques elevados. As construtoras estão tendo aumento de custos, de um lado , pelas restrições de mão de obra e pouca oferta de terrenos, e encontram também consumidores mais cautelosos e endividados. A alta da Selic e a inflação elevada não ajudam. Tudo isso tem se refletido no desempenho na bolsa das principais companhias do setor . A Brookfield cai 66% este ano; a Rossi, 47%; enquanto a PDG sofreu queda de 42% nas ações; e a Gafisa, 33%.

SOBE E DESCE. A volatilidade do dólar tem novo capítulo agendado. O BC americano divulga na quarta-feira a ata de sua última reunião.

MENOS CONSUMO. A consultoria Go Associados reduziu de 4,5% para 4,3% a projeção de crescimento das vendas do varejo este ano.

Alvaro Gribel e Valéria Maniero (interinos)

Fonte: O Globo

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