domingo, 1 de dezembro de 2013

Historiador lança livro crítico aos dez anos de governo do PT

Marco Antonio Vílla fala de poder e diz que redução da pobreza é lenta

"São anos marcados pela hipocrisia. Não há mais ideologia. Longe disso. A disputa política é pelo poder, que tudo pode e no qual nada é proibido. O Brasil de hoje é uma sociedade invertebrada"

O trecho, do livro "Década perdida - Dez anos de PT no poder" (Record; R$ 45), resume o ponto de vista do historiador Marco Antonio Villa sobre a administração petista à frente do governo federal. Em tom crítico, ele faz um resgate ano a ano dos principais acontecimentos e denúncias que marcaram os dez primeiros anos do PT no Palácio do Planalto.

Na tentativa de reconstruir a imagem do principal personagem do período histórico, o ex-presidente Lula, Villa se debruçou sobre declarações, discursos e realizações do líder do PT em oito anos de mandato. A conclusão é de que Lula voltou a São Bernardo (SP), em 2011, diferente de quando despontou como uma das lideranças políticas da cidade do Grande ABC.

— O Lula de 1979 e de 1980, que se posicionava contra o regime arbitrário, era um. O Lula de dez anos de PT no poder 2011, quando retomou ao Grande ABC, era outro. Era o que se converteu à oligarquia, era o do coronelismo e o da ordem patrimonialista — disse.

No livro, o historiador recorre a personagens históricos para traçar paralelos sobre o significado do govemo petista na República Brasileira. Um deles é feito em relação ao período em que governou o ex-presidente Moriano Peixoto (1891-1894), que, segundo o escritor Euclides da Cunha, no ensaio "O marechal de ferro" cresceu à medida que "diminuiu a energia nacional"

— Não foi Floriano Peixoto quem ascendeu, mas o entorno político que caiu, isso fez com que ele tivesse uma importância maior do que ele deveria ter, pela conjuntura do início da República Brasileira. Então, não é que Luiz Inácio Lula da Silva seja "o cara" mas ele está inserido em um dos piores momentos da História republicaria — afirmou.

Villa identifica também semelhanças na estrutura do discurso do petista com a do ex-presidente Emílio Médici (1969-1974) em relação ao tom ufanista. Segundo ele, ainda se pode criar paralelos na área econômica entre o governo petista e o do ex-presidente Ernesto Geisel (1974-1979).

— Um exemplo é o uso do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em massa para fortalecer uma burguesia. O Ernesto Geisel fez isso com relação à petroquímica e o govemo petista faz até agora para criar os campeões (nacionais) — disse.

Em entrevista ao GLOBO, o historiador reconheceu que houve diminuição da pobreza no governo petista, mas considerou que ocorreu em "ritmo lento" Perguntado sobre o tom apocalíptico do título, ele explicou que refere-se à perda do país, no período petista, de uma "conjuntura econômica favorável"

— É difícil se repetir a curto prazo uma conjuntura tão favorável econômica como nós tivemos até o final de 2008. E depois, já a partir de 2010, o país começou a se recuperar. Nós tínhamos todas as condições de crescer 8% ou 10% ao ano e de enfrentar os graves problemas sociais.

Fonte: O Globo

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