sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

O conciliador: Nelson Mandela (1918-2013)

Primeiro presidente negro da África do Sul, ele se tornou símbolo da luta contra a apartheid e liderou a transformação de seu país numa democracia "multirracial, após amargar 27 anos na prisão.

O mundo perde seu guerreiro da liberdade

Icone da luta contra o apartheid, Nelson Mandela deixa ao mundo legado de paz e diálogo

Bernardo Barbosa

O tempo venceu Nelson Mandela ontem, porque só o tempo poderia vencê-lo. O preconceito não o derrotou; a perseguição de um governo racista, também não; nem os quase 30 anos na prisão e o surgimento de problemas de saúde ainda em idade precoce. Sua força, sua inteligência e sua paciência o levaram a se tornar um dos maiores nomes do século XX, quando foi ativista, pacifista e estadista. Mandela morreu aos 95 anos apenas porque, ao contrário do legado de paz, firmeza e diálogo que deixa para o mundo, o ser humano não é imortal.

A morte do primeiro chefe de Estado negro da África do Sul, em sua casa em Johannesburgo, foi anunciada pelo atual presidente, Jacob Zuma. Dois dias antes, Makaziwe, filha de Mandela, havia declarado que o pai estava em seu leito de morte. Seguindo seu desejo, seu corpo será sepultado no vilarejo de Qunu, onde cresceu. Já de madrugada, muitos sul-africanos foram às ruas chorar a morte do líder e celebrar sua história.

Como poucos, Mandela soube conciliar a combatividade de seu discurso com os apelos a uma resistência pacífica.Sua luta amplia a trajetória de nomes como Martin Luther King (1929-1968), assassinado por sua defesa da igualdade de direitos nos Estados Unidos e lembrado por Mandela ao receber o Nobel da Paz em 1993 ao lado de Frederik Wiilem de Klerk, com quem dividiu a tarefa de dar fim ao apartheid e levar a África do Sul a ser uma democracia multirracial.

— Fui transformado, pela lei, em um criminoso, não por causa do que eu havia feito, mas por causa do que eu representava, por causa do que eu pensava, por causa da minha consciência. (...) Não tenho dúvida de que a posteridade vai declarar que eu era inocente e que os criminosos que deveriam ter sido trazidos diante desta corte são os membros do governo — disse Mandela em sua histórica defesa no julgamento de 1964.

Presidente da África do Sul entre 1994 e 1999, Mandela se engajou na reconciliação entre a maioria negra e a minoria branca na África do Sul, além de se dedicar a melhorar a imagem de seu país após a era de segregação. Foi eleito presidente já com 75 anos após uma disputa justamente contra de Klerk, seu antecessor no cargo e impulsor de várias medidas para acabar com o apartheid.

Mandela só deixou a cadeia aos 71 anos, após quase três décadas atrás das grades por jamais abrir mão da batalha pela igualdade racial em seu país. Foi durante o tempo na prisão de Robben Island que tiveram origem os problemas pulmonares que o afetaram até o fim da vida. Os anos de detenção em uma cela úmida culminaram em um diagnóstico de tuberculose em 1988.

À medida que sua idade avançava, Mandela passou a se retirar de forma gradativa da vida pública, da qual abriu mão formalmente em junho de 2004, um mês antes de completar 86 anos. No último ano, enfrentou quatro internações devido a uma infecção pulmonar.

— Ele faleceu em paz. Nossa nação perdeu seu maior filho. Nosso povo perdeu um pai — disse Zuma. — Este momento é de grande dor, mas deve ser de nossa maior determinação. Viver como Madiba viveu, batalhar como Madiba batalhou.

"Seu combate transformou-se em um paradigma, não só para o continente africano, como para todos aqueles que lutam pela justiça, pela liberdade e pela igualdade. 0 exemplo deste grande líder guiará todos aqueles que lutam pela justiça social e pela paz no mundo." Dilma Rousseff - Presidente do Brasil

"A morte de Nelson Mandela torna o mundo mais pobre de referências de coragem, dignidade e obstinação na defesa das causas justas. Sua vida altiva traduziu o sentido maior da existência humana" Joaquim Barbosa - Presidente do Supremo Tribunal Federal

"O grande legado do Nelson Mandela foi fazer com que o povo negro da África do Sul descobrisse uma coisa que parece simples, mas não é simples, de que, se a maioria do povo era negra, não tinha nenhum sentido a minoria branca continuar governando aquele país. As pessoas se descobriram por uma força motora capaz de mover a sociedade." Luiz Inácio Lula da Silva - Ex-presidente brasileiro

Fonte: O Globo

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