terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

OPINIÃO DO DIA - Giuseppe Vacca: Dimensões europeias do novo reformismo

"Para Pasquino, a passagem do velho ao novo “reformismo”consistiria em promover, mais do que coalizões segundo interesses, coalizões segundo valores. Entre estes, como vimos, indica o ambiente, o direito à informação, a paz, associando-os à complementação da democracia política com a democracia social e à penetração da “cultura dos serviços” nos aparelhos da administração pública. São os novos “desafios” que a esquerda tem diante de si. Mas todos – uns mais, outros menos – pressupõem a possibilidade de desenvolver uma eficaz ação política supranacional. Não só as políticas de ambiente, paz e informação (que não poderiam ser implementadas sem a iniciativa pactuada dos países europeus e sem a ação que a Europa unida poderia desenvolver no cenário mundial), mas também o desenvolvimento da democracia econômica e da democracia social (que implicam o controle sobre a acumulação e a inovação, decididas de modo cada vez mais direto por “potências” econômicas supranacionais) e a reorientação dos aparelhos da administração pública e dos serviços requerem a unificação dos mecanismos de regulação em escala europeia e a superação dos modelos burocráticos herdados do Estado nacional."

In. Giuseppe Vacca, ‘Por um novo reformismo”. Pág. 92. Fundação Astrojildo Pereira/Contraponto, 2009.

Manchetes de alguns dos principais jornais do país

O GLOBO
O sagrado: Trono vazio no Vaticano

FOLHA DE S. PAULO
Bento 16 renuncia; novo papa deve ser escolhido até a Páscoa
Igreja precisa se rejuvenescer, diz arcebispo do Rio
Grande teólogo, Ratzinger vê seu papado fracassar
O futuro ex-papa terá papel central na sua sucessão
Ataques atingem a sede do governo de Santa Catarina

O ESTADO DE S. PAULO
Fragilizado, Bento XVI surpreende e renuncia
Novo papa virá ao Rio em julho para fórum de jovens
Fundos querem mudar leilão de aeroportos
Economia dominará discurso de Obama

CORREIO BRAZILIENSE
Renúncia do Papa expõe dilema da Igreja Católica
Carne do Brasil está liberada
Nota Legal só até sexta-feira

ESTADO DE MINAS
11 de fevereiro, dia de Nossa Senhora de Lourdes – Padroeira do enfermos Papa Bento XVI renuncia
Banco de DNA vai ajudar no combate ao crime em Minas

O TEMPO (MG)
Bento XVI renuncia ao papado e deixa católicos perplexos
Mobilização pela internet é arma de combate à corrupção
Poupança deve perder para a inflação

GAZETA DO POVO (PR)
A sucessão precoce do Papa Bento XVI
Investimento livre de IR ganha força
Preço do aluguel corporativo sobe 61% em Curitiba
Capital pretende expandir Saúde da Família
Sem orçamento, país aguarda pelo Congresso

ZERO HORA (RS)
“Já não tenho forças”
Onda de insegurança: Facções desafiam o governo de SC

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Papa renuncia
Tragédia indiana
Lei seca

O bloco das eleições está na rua

Os prováveis candidatos à Presidência em 2014 iniciam seu esquenta em pleno Carnaval. Qual deles conseguirá empolgar o setor 1?

Alberto Bombig e Leopoldo Mateus

A presidente Dilma Rousseff convocou uma rede nacional de televisão no dia 23 de janeiro para anunciar a redução da conta de luz. Seu pronunciamento teve um efeito colateral similar aos fogos que espoucam antes da entrada das escolas no Sambódromo: desencadeou o desfile de candidatos à Presidência da República em 2014. O tom do discurso de Dilma, dividindo os brasileiros entre "nós" e "eles" - situação e oposição - foi considerado um gesto de campanha. Para seus adversários, havia intenções eleitoreiras até na fantasia - ops, figurino - que a presidente usava. "Dilma usou roupas vermelhas no pronunciamento oficial numa clara referência às roupas vermelhas utilizadas na campanha de 2010, fazendo alusão à cor do seu partido", escreveram os caciques do PSDB, em representação enviada ao Ministério Público. Do pronunciamento de Dilma para cá, os potenciais candidatos à sucessão presidencial empreenderam várias manobras de bastidores com o intuito de fazer alianças e fortalecer seus nomes. Não descansaram nem na semana que antecedeu o Carnaval, tradicionalmente esvaziada por causa da preparação para a folia. Ao contrário: foi exatamente na semana passada que eles puseram o bloco na rua.

No carro abre-alas está o governador de Pernambuco, Eduardo Campos. No final do ano passado, em entrevista a ÉPOCA, ele negou peremptoriamente ser candidato à sucessão de Dilma. Nas primeiras semanas do ano, agiu como candidato. Fez inaugurações, posou para fotos e liberou seus correligionários para que lançassem "à revelia" sua candidatura. Cinco políticos da base de Campos ouvidos por ÉPOCA afirmaram que ele será candidato. No início de fevereiro, pela primeira vez ele marcou posição contra o governo de forma veemente. Na eleição para a presidência do Senado, Campos deixou de apoiar o peemedebista Renan Calheiros - o favorito do Planalto. Na Câmara, resolveu lançar um candidato próprio, Julio Delgado (MG). Por pouco não levou a eleição para um segundo turno. Com o gesto, deu uma inequívoca demonstração de força e independência.

A manobra de bastidores mais mirabolante da semana passada tevE como objetivo justamente “neutralizar” Campos. O autor do ousado passo de dança foi o veterano mestre-sala Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo seus correligionários, ele cogitou sacrificar a candidatura do PT ao governo do Estado de São Paulo para apoiar o vice-presidente Michel Temer ou alguém indicado por ele. Seria uma troca simples: o PMDB ganharia a cabeça de chapa no governo de Sâo Paulo, com o apoio de Lula e do PT, e cederia a Vice-Presidência a Eduardo Campos, que concorreria ao lado de Dilma no ano que vem. Segundo apurou ÉPOCA na semana passada, o volteio de Lula não deve ter nota alta dos jurados. Por uma razão simples: fortalecido, o PMDB não aceitaria entregar o cargo de vice-presidente. No Congresso, o partido de Temer atingiu seu objetivo de presidir a Câmara dos Deputados, com Henrique Eduardo Alves (RN), e o Senado, com Renan Calheiros (AL). Os mandatos são de dois anos. Portanto, terminarão no início de 2015. Dessa forma, os peemedebistas estarão no comando do Legislativo federal em todo o período eleitoral. Isso aumenta ainda mais o poder de barganha do partido, principal vencedor das disputas no Congresso.

As evoluções de Lula mostram quanto o PT está preocupado com uma possível candidatura de Campos, forte numa das regiões em que o partido do governo tem mais votos: o Nordeste. “Lula é um animal político e sabe com quem tem de se preocupar. E, neste momento, esse alguém é Eduardo”, diz um dos líderes do PSB. Para os correligionários de Campos, uma eventual Vice-Presidência - com a promessa de apoio em 2018 - não o comoveria. “Se Haddad for bem na prefeitura de São Paulo, ele não se credencia à Presidência em 2018?”, diz um dos correligionários de Campos. Ele acha - e seus companheiros do PSB concordam - que a melhor garantia que Campos pode ter para 2018 é uma bela votação em 2014. Eles dizem que Campos só não sai se perder no quesito cronometragem - se não conseguir formar alianças que lhe garantam um tempo mínimo na TV.

A oposição formal a Dilma, além da representação contra o uso dos blazers em tons de vermelho, vem realizando uma série de reuniões desde o fim do ano passado. Desde o início do ano, o senador Aécio Neves, pré-candidato do PSDB à Presidência, vem se reunindo no apartamento que mantém no Rio de Janeiro com tucanos próximos a Fernando Henrique Cardoso, como Gustavo Franco e Arminio Fraga. Fernando Henrique é um dos principais defensores da candidatura de Aécio. No final de janeiro, Aécio se encontrou com o governador paulista, Geraldo Alckmin, e com o ex-governador José Serra para negociar a composição da nova direção do partido, que assumirá em maio. Para ganhar tempo, Serra e Alckmin dizem que o PSDB não deverá lançar candidato antes de definida a nova direção do partido. O grupo de Aécio gostaria de vê-lo vitorioso em maio e já em campanha a partir dessa data. Para o cientista político Carlos Melo, do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), os tucanos têm de resolver o impasse entre o grupo de Aécio e os paulistas para avançar rumo a 2014. “Tem gente que quer Aécio presidente do partido, mas há outro grupo que se arrepia ao ouvir isso”, diz. Até agora, tem sido difícil ver os três principais caciques do PSDB - Aécio, Serra e Alckmin - cantar o mesmo enredo sem atravessar o samba.

Enquanto o PSDB não se define, correligionários de Campos dizem que ele faria de bom grado uma aliança com os tucanos, desde que ficasse na cabeça da chapa. Campos corteja também a ex-senadora Marina Silva, a terceira colocada na eleição presidencial de 2010, ela ainda trabalha pela candidatura própria. Para isso, terá de criar um novo partido ou de se filiar a um já existente que abrace seu projeto, pois deixou o PV em 2011. Por enquanto, seus correligionários, sem partido, se agrupam em torno de um movimento que já foi apelidado de “marinismo”. Marina tenta angariar quadros que já foram do PV ou que simpatizam com a causa verde, como Sérgio Xavier, atual secretário do Meio Ambiente de Pernambuco. Em São Paulo, a principal aposta de Marina, conforme revelou a coluna de Felipe Patury em ÉPOCA, é convencer o senador petista Eduardo Suplicy a integrar seu novo partido. Ainda na ala verde, o PV ensaia lançar o ex-deputado Fernando Gabeira ao Planalto. Mas a sigla ainda está dividida. Na semana passada, Dilma teve um encontro com Sarney Filho (PV-MA) para iniciar uma aproximação com o partido. Ela gostaria de contar com o apoio formal da cúpula do PV na campanha pela reeleição. Isso ajudaria Dilma a neutralizar um novo “efeito Marina”. Nunca antes neste país - pelo menos desde a redemocratização - as eleições presidenciais foram tão antecipadas. No mundo do Carnaval, a escola que consegue levantar o setor 1 - a primeira arquibancada do Sambódromo - é logo considerada favorita. É isso que pretendem os candidatos que, desde este Carnaval, iniciam o esquenta na passarela da política.

Fonte: Revista Época

Número de partidos políticos pode dobrar

Pelo menos 31 novas siglas estão em gestação, de Marina a monarquistas

Na esteira do PSD de Kassab, alguns tentam atrair políticos insatisfeitos com as legendas tradicionais

Daniel Roncaglia

SÃO PAULO - O número de partidos políticos que podem disputar as eleições no Brasil poderá dobrar nos próximos anos se todos os grupos que estão mobilizados para criar novas siglas tiverem sucesso.

Existem hoje 30 partidos no país e pelo menos outros 31 em gestação, incluindo o novo partido da ex-senadora Marina Silva, agrupamentos de extrema esquerda e até uma sigla monarquista.

A maioria desses grupos começou a se organizar depois de 2007, quando uma resolução do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) passou a ameaçar os políticos que mudam de partido com a perda de seus mandatos.

Mas a legislação permite que políticos troquem de camisa se for para criar um novo partido, e desde então três siglas foram criadas -o PSD do ex-prefeito Gilberto Kassab e os nanicos PPL e PEN.

Como o partido de Kassab, que nasceu de uma costela do DEM, alguns dos novos partidos tentam atrair políticos insatisfeitos que temem ficar sem espaço nas legendas tradicionais nas próximas eleições, em 2014.

"Já almocei com mais de 20 deputados que mostraram interesse em se filiar ao nosso partido", afirmou o presidente do PROS (Partido Republicano da Ordem Social), Eurípedes Junior.

Ele diz ter como bandeira a redução dos impostos e afirma contar com 400 mil das 500 mil assinaturas exigidas para registro de novas siglas.

Eurípedes espera obter até junho deste ano o registro definitivo do TSE.

O presidente do PEC (Partido da Educação e Cidadania), Ricardo Holz, também diz que foi procurado por deputados federais. "Disseram claramente que queriam uma legenda para facilitar a eleição em 2014", afirmou.

O prazo para registro dos partidos que poderão participar das eleições de 2014 termina em outubro. Mesmo sem representação no Congresso, as novas legendas ganham acesso aos recursos do Fundo Partidário.

Formado por verbas do Orçamento da União, o fundo distribuiu R$ 350 milhões no ano passado. A sigla que menor fatia recebeu foi o recém-criado PPL (Partido Pátria Livre), que teve R$ 605 mil.

Alguns dirigentes reclamam da competição. O presidente do PF (Partido Federalista), Thomas Korontai, disse ter perdido militantes que já tinham conseguido um número razoável de assinaturas.

"Tinham uma liderança, colheram assinaturas e foram cooptados por outros políticos locais", disse. Ele já tem registro em dois Estados, mas faltam sete para ir ao TSE.

Das 31 legendas hoje em gestação, oito começaram a se organizar após a criação do partido de Kassab, único dos agrupamentos nascidos nos últimos anos com força para influir no jogo político.

O PSD, cujo registro foi aprovado em 2011, controla a quarta maior bancada da Câmara dos Deputados e absorveu recursos do Fundo Partidário e tempo de propaganda na televisão que pertenciam ao DEM e a outra siglas.

Rouco

O presidente do PEN (Partido Ecológico Nacional), Adilson Barroso, diz que seu telefone não para de tocar, com políticos interessados em se filiar antes das próximas eleições. "Estou até rouco", afirmou o dirigente.

A sigla tem atualmente apenas um deputado federal, e Barroso diz que gostaria de convencer Marina Silva a disputar a eleição presidencial pelo partido. "O nosso foco é sustentabilidade", disse.

Marina deve iniciar no próximo dia 16 o processo de formação de sua nova sigla. Para o presidente do PEN, ela não terá como atingir seu objetivo a tempo de participar das eleições de 2014.

Fonte: Folha de S. Paulo

Partido destinado a abrigar “sonháticos

Grupo comandado pela ex-senadora Marina SiLva fundará sigla durante encontro marcado para o dia 16, na UnB

Karla Correia,  Iracema Amaral

A proximidade das eleições de 2014 e o sucesso obtido pelo PSD aqueceu o mercado dos par¬tidos no país. Seguindo essa onda, mais uma legenda se lança, no próximo sábado, dia 16, na Universidade de Brasília (UnB), em busca do cobiçado registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O nome mais provável é Semear, mas cogita-se também Rede, Brasil Vivo e Lista Independente. Mas o objetivo da sigla está bastante definido: abrigar a candidatura da ex-senadora Marina Silva à Presidência da República e tentar recuperar o capital político da votação obtida por ela na corrida presidencial de 2010, quando obteve quase 20 milhões de votos e foi fator decisivo para o segundo turno entre Dilma Rousseff (PT) e o tucano José Serra.

Às vésperas de se lançar em mais uma empreitada política, Marina evita ao máximo ligar a criação do novo partido à corrida presidencial de 2014. Seu coordenador em Minas Gerais — o ex-deputado federal e ex-prefeito de Conceição do Mato Dentro —, José Fernando de Oliveira, diz que não se deve comparar as intenções da ex-senadora e de seus apoiadores com os propósitos dos demais criadores de legendas: "Não é um partido apenas para disputar as eleições", garante.

José Fernando lembra que a futuro sigla é resultado de um movimento, batizado de "Nova Política", que defende a ética como princípio primordial para o exercício do poder em qualquer umas das três esferas de governo — federal, estadual e municipal. "Não vamos aceitar filiados que estejam com qualquer tipo de processo judicial", avisa.

Os criadores do Partido Republicano da Ordem Social (PROS) decidiram por uma estratégia bem diferente. Mais uma legenda em fase de formação, ainda sem registro no TSE,o partido não exige dos interessados em se filiar a apresentação de certidão criminal ou um histórico da vida política. Aparentemente, ter ficha limpa é o que menos importa aos idealizadores. O chamariz do partido é outro. No panfleto distribuído durante o encontro da presidente Dilma Rousseff com prefeitos de todo o país, no mês passado, o slogan para atrair adeptos à futura sigla era "nem de esquerda nem de direita. Apenas uma forma tranquila de mudar de legenda, sem perder o mandato". O material de divulgação ainda estampava outra pérola do pragmatismo político. "Insatisfeito com seu partido? Quer sair dele sem perder o mandato? O PROS é a mais nova opção", prometia o panfleto.

Siglas em gestação

A criação de um novo partido depende de um processo com¬plicado, que inclui a coleta de 500 mil assinaturas em todo o país e a criação de diretórios em todas as unidades da Federação. Ainda assim, a febre das novas legendas tem atraído cada vez mais projetos, como o Solidariedade, inspirado no sindicato polonês de mesmo nome que alçou Lech Walesa à presidência daquele país, e o Partido Pirata, que tenta criar um braço brasileiro da rede Internacional de Partidos Piratas, organização ligada a ativistas da tecnologia que levanta bandeiras como a inclusão digital e a disseminação do uso de softwares livres. Na semana passada, foi a vez de os indígenas darem o passo inicial para a sua legenda, o Partido Democrático Indígena Brasileiro (PDIB).

"Precisamos ter mais poder de pressão nas decisões do governo que nos afetam. Um partido nos daria força para negociar coligações e influenciar na tomada de decisões", diz o índio guarani Araju Sepeti, um dos articuladores do processo de criação da nova sigla. Segundo ele, a legenda tentará aglutinar políticos de origem indígena em atividade, como o senador Wellington Dias (PT-PI), que é descendente de índios, e pretende lançar inclusive um candidato à presidência da República. "Vamos convidar o senador Wellington para concorrer à presidência. Quem sabe ele não se anima?", diz Sepeti.

Fonte: Correio Braziliense

Petistas divididos entre Dilma e o "volta, Lula"

Brigas por espaço na máquina fazem integrantes do partido e da base aliada do governo adotarem posições distintas sobre 2014

Paulo de Tarso Lyra

A vantagem petista de ter dois nomes em plenas condições de disputar a Presidência da República em 2014 — a atual presidente Dilma Rousseff e o antecessor Luiz Inácio Lula da Silva — acaba transformando-se em uma briga de torcidas difícil de controlar internamente. Embora alguns ministros tenham inegável ligação com o ex-presidente, na Esplanada, todo o esforço é para que Dilma se reeleja em 2014. Mas, no partido, especialmente nas bancadas parlamentares, nos movimentos sociais e em parte do empresariado, o "volta Lula" é amplamente majoritário.

Interlocutores ouvidos pelo Correio, no entanto, asseguram que mesmo os mais ferrenhos defensores de Lula reconhecem que, politicamente, a presidente Dilma tem todo o direito a disputar a reeleição no ano que vem. Por isso, nas últimas semanas, para evitar confusões institucionais, o discurso ensaiado é de que Dilma será candidata a mais quatro anos no Palácio do Planalto.

Entre os partidos aliados, as opiniões são divergentes. Lula mandou avisar que vai se empenhar para manter a aliança com o PMDB e o PSB e garantir a reeleição de sua pupila. Apesar do bom relacionamento com Dilma, a ligação de Eduardo Campos com Lula é quase consanguínea. Remete aos tempos de Miguel Arraes. O governador pernambucano deve muito do crescimento de Pernambuco à ajuda de Lula durante os oito anos de governo do petista.

No caso do PMDB, o grupo que comanda o partido, especialmente o vice-presidente Michel Temer, é mais aliado de Dilma. Ele teve que vencer as resistências do ex-presidente para emplacar como candidato a vice de Dilma. Lula preferia o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral. O chefe do Executivo fluminense já confidenciou a aliados que, se Lula voltar em 2014, ele seria o favorito para ocupar o Palácio do Jaburu.

Por isso, cresceram as especulações de que Lula poderia propor que Temer se transformasse no candidato ao governo de São Paulo, com apoio do PT, para que Eduardo Campos emplacasse na vice de Dilma. O PSB não demonstrou muito interesse, diante das possibilidades mais do que viáveis de uma candidatura própria em 2014. Temer está pouco disposto a abrir mão de uma reeleição praticamente garantida para embarcar em uma aventura contra um candidato à reeleição — Geraldo Alckmin (PSDB), que tem a chave do cofre e a caneta estadual nas mãos —, mesmo com o risco de um "desgaste de material" após 18 anos de PSDB no comando de São Paulo.

O PR também tem saudades dos tempos de Lula. Com sete meses de governo Dilma, o senador Alfredo Nascimento (PR-AM) foi defenestrado do Ministério dos Transportes, sob a acusação de que a legenda superfaturava contratos e incluía aditivos aos projetos para rechear os cofres partidários. Dilma efetivou Paulo Sérgio Passos — que chegou a ser ministro interino ao longo do governo Lula —, levando o PR a declarar-se independente. Para diminuir essa desconfiança, Dilma convocou as principais lideranças do partido para conversas na semana passada e a recomposição pode estar próxima, inclusive garantindo a realocação em um ministério.

Os petistas andam na corda bomba. Mesmo os lulistas autênticos temem a repetição, no plano federal, da trapalhadas nas esferas estadual e municipal, cometidas em tempos passados, e que nunca deram certo. Olívio Dutra tinha direito à reeleição para governador do Rio Grande do Sul, mas foi derrotado por Tarso Genro nas prévias. A disputa pelo governo estadual acabou sendo vencida pelo então candidato do PMDB, Germano Rigotto. No ano passado, a direção nacional atropelou o direito do então prefeito de Recife, João da Costa, e resolveu bancar a candidatura de Humberto Costa. O prefeito eleito foi o pessebista Geraldo Júlio.

Candidata natural

A única alternativa seria Dilma, espontaneamente, abrir mão da candidatura para Lula. "Não há essa hipótese. Dilma será nossa candidata em 2014. E incentivada por Lula. Ninguém nega que, se Lula quiser, ele vai ser candidato, mas ele não quer", garantiu um petista que não esconde a preferência pelo ex-presidente. "Dilma sabe que só tornou-se presidente porque Lula quis. Foi ele quem convenceu a presidente a aceitá-la. Os passos dela dependem dos planos dele", disse o mesmo petista.

Dentro do governo, a ordem unida é inevitável. Todos estão empenhados, segundo um ministro ouvido pelo Correio, em fazer o Executivo deslanchar e garantir mais quatro anos para a chefe. "É claro que Lula e Dilma estão afinados. Eles se falam sempre, mas desde o início a presidente buscou mostrar que, na atual gestão, era ela quem mandava", disse um aliado presidencial. Isso teria ficado claro, segundo ele, logo nos primeiros dias de gestão, quando cancelou as férias do então ministro da Educação, Fernando Haddad, para que ele explicasse problemas relacionados ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

Interlocutores da presidente acreditam que todas essas críticas que se acumulam nas últimas semanas, sobre a falta de jogo de cintura nas negociações políticas e o intervencionismo nas medidas econômicas, são típicos ´choros´ de quem não perdeu o espaço privilegiado que tinha na gestão anterior. "Não nos iludimos, esse tiroteio vai crescer ainda mais até a eleição presidencial do ano que vem", disse um aliado direto de Dilma.

Fonte: Correio Braziliense

Presidente mira 2014 e adota ‘novo’ estilo

Na metade final do mandato, Dilma segue conselho de Lula e altera modo de governar

Isadora Peron

Pré-candidata à reeleição em 2014, a presidente Dilma Rousseff acatou os conselhos do antecessor e padrinho político Luiz Inácio Lula da Silva e alterou a agenda para intensificar o corpo a corpo com empresá¬rios, representantes de movimentos sociais, sindicalistas e partidos da base governista.

Desde janeiro, a presidente mudou a forma de se relacionar com setores da sociedade. Deixou de lado o perfil mais técnico e passou a adotar estilo parecido com o de Lula, que comandava as relações políticas do governo de seu gabinete no Planalto.

A mudança ocorreu após conversas com Lula no final de 2012, em Paris, e no último dia 25, em São Paulo. Nas ocasiões, os dois traçaram estratégias para este ano e discutiram 2014. O ex-presidente manifesta preocupação com o baixo crescimento do País e o isolamento do governo, que teriam implicações negativas no seu plano de reeleger de Dilma.

Logo após se encontrar com Lula em São Paulo, Dilma mu¬dou o tom. Em cima de um palanque, enalteceu resultados dos programas sociais iniciados pelo antecessor e disse que o Brasil crescerá. Dias depois, em Sergipe, criticou a política energética do tucano FHC. O ataque foi uma resposta à direção do PSDB, que classificou como "antecipação de campanha" o anúncio da redução no valor da energia elétrica feito em rede nacional.

Na semana passada, começou a colocar em prática a aproximação com os movimentos sociais. Na segunda-feira, visitou - pela primeira vez desde que assumiu a Presidência - um assentamento do MST. No interior do Paraná, ouviu críticas à política de reforma agrária, mas também aplausos e um coro de "Dilma novamente", em referência a 2014.

Na terça-feira, Dilma se encontrou com dirigentes da CUT e, segundo a entidade, se comprometeu a conversar com as centrais sindicais em marcha marcada para 6 de março, em Brasília.

Caso a reunião se confirme, será a primeira vez que ela receberá pessoalmente a pauta de reivindicações dos trabalhadores, tarefa que delegava ao ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral).

"As iniciativas de receber o MST e a CUT vão na direção de reabrir um diálogo, um diálogo que para Dilma é importante, porque esses são setores tradicionalmente ligados ao PT e que apoiaram a eleição dela em 2010 de maneira muito decisiva", explica o cientista político Ricardo Ismael, professor da PUC-Rio.

Além dos sindicalistas, Dilma recebeu empresários no Planalto. Foram mais de dez encontros com executivos desde janeiro.

Base. A presidente também intensificou os contatos políticos. Na semana passada, cortejou o PR para cimentar a volta da sigla à base governista. A relação com o partido está estremecida desde 2011, quando o então ministro dos Transportes Alfredo Nascimento pediu demissão após denúncias no setor. O ex-ministro Carlos Lupi, presidente do PDT, que também caiu na "faxina" feita por Dilma, foi outro chamado para conversa no Planalto.

Na nova agenda, a presidente intensificou as viagens pelo Nordeste, reduto eleitoral do PT que está sob influência do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), potencial adversário em 2014. Dilma quer mantê-lo em seu radar. Em janeiro, almoçou com o governador em suas férias e o recebeu em audiência em Brasília.

Fonte: O Estado de S. Paulo

'O PT se considera vitorioso, mas ideologicamente foi derrotado'

Para historiador, oposição conseguiu 'colar a marca da corrupção' na sigla, que pode perder força para o PSB ou virar um PMDB

Isadora Peron

Aos 33 anos, completados no último domingo, o PT, que já havia abandonado o discurso socialista, assiste, agora, à subtração do discurso da ética após o julgamento do mensalão, que abateu e condenou seus principais dirigentes políticos. A avaliação é do professor da USP Lincoln Secco, autor de A História do PT

Para Secco, o PT não consegue mais transmitir ao eleitor uma mensagem de esperança como em 1989 e em 2002, quando elegeu Luiz Inácio Lula da Silva presidente da República.

"No voto, o PT ainda se manterá forte por alguns anos", afirma o professor, que faz, porém, um alerta: se quiser se manter no poder, o partido terá de se recuperar do desgaste ideológico.

Qual PT completou 33 anos? O que ficou do PT do Colégio Sion?

O PT teve o mérito de combinar uma tradição clássica da esquerda com os novos valores de 1968. O restante da esquerda demorou para incorporar efetivamente a defesa das mulheres, negros e homossexuais, por exemplo. O PT aplicou as cotas nas suas direções internas antes de usá-las em seus governos. O que ele abandonou foi o radicalismo verbal dos seus anos primaveris e a aversão às alianças com os partidos fisiológicos.

Isso significa que o PT de antigamente jamais apoiaria a eleição de dois peemedebistas às presidências da Câmara e do Senado?

Sem dúvida. Ele faria como o PSOL faz hoje: lançaria um anticandidato.

O PT ainda é um partido de esquerda?

Esquerda e direita são conceitos relacionais. Só há dois blocos políticos relevantes no Brasil e, certamente, o PT está mais à esquerda do que o bloco liderado pelo PSDB.

Existe o risco de, como aconteceu na Europa com a saída do poder dos partidos social-democrata, uma direita ainda mais conservadora emergir no Brasil?

O PT é um típico partido social-democrata, mas condensou em pouco tempo o processo de moderação que a Social Democracia viveu em um século. O desencantamento chegou mais rápido no PT. No entanto, a extrema direita no Brasil só terá chance de ameaçar o PT se as condições internacionais lhe permitirem atuar fora da legalidade. No voto, o PT ainda se manterá forte por alguns anos.

Acredita que Lula possa voltar a disputar a Presidência em 2014?

Lula é um patrimônio do PT e de grande parte da sociedade brasileira. Ele poderia ganhar as eleições, mas só seria candidato se o governo Dilma vivesse uma crise. Como isso não está no horizonte politico, eu creio que ele será o maior cabo eleitoral de Dilma.

Qual o peso de Lula hoje dentro do PT? E o de Dilma?

Obviamente o peso de Dilma cresceu por causa de sua condição como presidente. Mas ninguém duvida que a última palavra no PT será sempre de Lula. Depois da vitória de Fernando Haddad em São Paulo ele ganhou ainda mais confiança do partido.

O PT ainda pode empunhar um discurso ético após a condenação de figuras históricas no julgamento do mensalão?

O PT se considera o grande vitorioso nas ultimas eleições, mas ideologicamente ele foi derrotado. Em 1989 aconteceu o contrário: o PT teve uma derrota eleitoral, mas uma vitória moral. Isso foi tão importante que mesmo com a queda do Muro de Berlin, a diminuição da base de sindicatos importantes da CUT nos anos seguintes e o esvaziamento militante das ruas, o PT continuou agregando as esperanças de mudancismo. Agora, não mais.

Por quê?

Porque o PT não tem mais uma mensagem de esperança como tinha em 1989 e em menor medida em 2002. Ele não projeta o novo, apenas gasta um patrimônio já constituído. O fato de que depois de sete anos o partido ainda esteja na defensiva no caso do mensalão revela que ele tem sido ideologicamente derrotado. A oposição conseguiu colar no PT a marca da corrupção.

Mas a defesa da cúpula do PT contra o julgamento do Supremo Tribunal Federal e essa "marca da corrupção" foram tímidas até agora...

Pessoalmente acho que José Dirceu deveria ser absolvido porque nenhuma Justiça é justa quando é seletiva e condena sem provas. Este sentimento perpassa também a base petista. Já a direção do PT comete um erro grave: ou ela defende os condenados, o que ela dificilmente fará, ou os esquece. O que não é possível é silenciar sobre o julgamento e, depois, permitir que José Genoino assuma o mandato. Expulsar Delúbio Soares e admiti-lo novamente. O Estatuto do PT prevê expulsão de condenados com sentença transitada em julgado. Foi uma medida tomada de afogadilho depois dos escândalos de 2005. Mas o PT não vai cumprir este artigo depois que o STF publicar o acórdão. Então por que assumiu esta impropriedade?

O senhor disse certa vez que escândalos como mensalão não iriam prejudicar a história do PT, mas sim o futuro do partido. Por quê?

Por mais que o partido se mantenha forte eleitoralmente, no longo prazo ele é julgado como produtor de valores. O discurso socialista o PT já abandonou, o da ética lhe foi tirado. Seus novos eleitores passarão a ter novas exigências, além das demandas sociais que já foram atendidas.

E qual será o futuro do PT?

Como historiador eu só posso fazer projeções duvidosas. Se a atual tendência de desgaste ideológico se confirmar, o PT continuará sendo uma agremiação com votos, mas pode perder a liderança, seja para o PSB ou mesmo para a oposição. Ele ficaria cada vez mais parecido com o PMDB. Outro cenário seria a renovação geracional rápida das lideranças, o que já vem acontecendo graças ao próprio mensalão. Só que ela teria que vir acompanhada de um acerto de contas decidido com aqueles episódios de 2005, seja assumindo tudo o que foi feito em nome da legitimidade do legado do governo Lula, seja abandonando de vez seus velhos dirigentes e redefinindo-se como agremiação supostamente republicana e de centro.

O PT comemora este ano também dez anos no poder. Qual a estratégia para não perder a Presidência em 2014? Conquistar a tão falada classe média?

O PT não precisa mudar a estratégia, pois ela deu certo até agora. O que acontecia em São Paulo? Ele tinha o voto da periferia, mas no resto do Brasil os mais pobres se dividiam e apoiavam majoritariamente a direita. O modelo paulistano se espraiou pelo País. Hoje, o PT tem forte apoio entre os mais pobres. Não que ele não queira a classe média, mas pode viver sem ela por enquanto. O que ele não pode perder é a nova classe trabalhadora que ele ajudou a integrar no mercado.

O sr. acredita que ascensão de muitos brasileiros à classe média pode prejudicar o PT, especialmente se crise financeira se agravar?

Não. O eleitorado do PT foi conquistado por políticas sociais que vão se manter. E o PT sempre tem um plano B: Lula.

Tirar o governo de São Paulo das mãos do PSDB em 2014 é considerado prioridade de Lula. O que isso vai significar para o partido?

Será a mais difícil batalha do PT depois da conquista da presidência. Se por um lado há amplo desgaste do PSDB pelo tempo que já tem no governo, o que favorece o PT, por outro não há uma tradição de acomodação do ideário petista com o pensamento dominante no interior paulista, que tem prioridades diferentes das politicas sociais petistas. O PT poderia buscar incorporar valores que agradam a um imenso eleitorado de um mundo corporativo que só existe em São Paulo em grandes dimensões. Mas a cúpula do PT paulista já deu provas de que dificilmente faz isso: ela prefere culpar os eleitores, chamando-os de naturalmente reacionários. E é por isso que Lula ignorou o PT local e impôs Fernando Haddad, um candidato palatável para a classe média.

Por que a oposição está tendo tanta dificuldade em lançar um nome forte à Presidência para 2014?

A oposição precisa de duas coisas: um novo nome e um discurso. Se ela insistir no discurso que seus intelectuais tem produzido, continuará agredindo os eleitores que ela precisa conquistar. Ir além da ética seria o caminho, mas ela inverteu os papéis do passado. Quando o PT fazia este discurso ético, elegia bons deputados e perdia eleições para o executivo. Só que o PT tinha também uma história, uma base militante. Enfim, tinha outros discursos possíveis. A oposição ainda não tem. Só que os recursos humanos e materiais com os quais ela pode contar não são nada desprezíveis e não é impossível pavimentar um caminho supostamente moderno, calcado em valores de mercado, mas sem desprezar o que socialmente já foi conquistado pelo PT. A oposição não sabe, mas as políticas sociais do PT só são "revolucionárias" porque a direita não as incorpora. Não há nada de radical em si mesmo no programa Bolsa Família. Ele não ataca o grande capital.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Eduardo Campos: não há indícios de falha contra Gurgel

Angela Lacerda

O governador Eduardo Campos, presidente nacional do PSB, não vê nenhum indício de falha do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, que justifique um pedido de impeachment. "É uma medida que existe, que é constitucional, mas que é uma medida extrema, quando há uma falha grave, um absurdo, um descumprimento da lei", afirmou ele, na concentração do bloco Galo da Madrugada, esta manhã, ao ser questionado por repórteres sobre a intenção de peemedebistas aliados do presidente do Senado, Renan Calheiros.

A medida seria em retaliação a Gurgel por ele ter enviado denúncia contra Renan ao Superior Tribunal Federal (STF) dias antes da sua eleição à presidência do Senado. Consistiria em levar adiante representações contra Gurgel protocoladas na mesa da Casa que normalmente seriam arquivadas.

"Da mesma forma que um detentor de mandato pode ser cassado, um governador, um prefeito, um presidente pode ser ''impichado'', sofrer um impeachment, o procurador também pode, mas só em caso de descumprimento da lei", explicou, ao reafirmar: "Não vejo nem conheço nem o País conhece nenhum fato objetivo que venha a incriminar a ação do procurador".

"Não há sequer uma representação ao conselho superior do próprio Ministério Público de qualquer descumprimento da lei e do regimento interno no próprio Ministério Público", continuou.

O governador aproveitou para identificar o PSB como um partido que representa a ética e a transparência, ao ser indagado sobre qual será o comportamento da legenda em relação ao fato. "Nosso partido vai se meter em tudo o que seja certo, que defenda a ética, a transparência, melhores práticas na administração pública". Frisou ainda que a democracia e a liberdade de expressão são as bandeiras e os valores que presidem o partido. "Não precisa eu falar, as pessoas que estão lá á sabem e a vida inteira fizeram isso".

Aliado da presidente Dilma, mas com disposição de fazer um voo solo visando à Presidência da República, ele não considerou fruto de rusgas o fato de a presidente não ter ido prestigiar o carnaval de Pernambuco, preferindo ir para a Bahia, governo do PT. "Com a agenda intensa que ela tem, ela procurou dar uma parada". Observou que o local escolhido é bastante reservado, "onde ela fica descansando com a família".

Acompanhado do ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, Eduardo Campos caminhou pelas ruas cheias de foliões cumprimentando, abraçando e posando para fotos antes de ir encontrar seus convidados - entre eles, a ministra da Cultura, Marta Suplicy, e da Saúde, Alexandre Padilha - para levá-los ao camarote oficial do governo estadual, no percurso do Galo.

Fonte: O Estado de S. Paulo

líder do PPS apresenta lista de prioridades para votação no semestre

Na lista de prioridades da bancada do PPS da Câmara dos Deputados para o primeiro semestre de 2013 estão a apreciação dos vetos dos presidentes Lula e Dilma Rousseff, em especial a questão da partilha dos royalties do petróleo, a votação do Orçamento da União e do projeto que extingue o 14° e o 15º salários.

A legenda alega que essas são matérias urgentes que, sem apreciação, têm provocado questionamentos judicial e prejudicado Estados e municípios. O líder do partido, deputado Rubens Bueno (PR), já apresentou a lista ao presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN).

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Parlamento `più brasiliano´

Com mais de 30 milhões de imigrantes, brasileiros concorrem a seis cadeiras no Congresso italiano

Ex-vereadora, Renata Bueno conta com suporte do PPS para fazer campanha

Lucas Pavanelli

Pela primeira vez, uma brasileira pode representar o país no Parlamento italiano. Filha do líder do PPS na Câmara, o deputado federal Rubens Bueno (PR) e ex-vereadora em Curitiba, Renata Bueno disputa uma das quatro vagas para deputado reservadas a sul-americanos nas eleições do país europeu.

Até o dia 21 de fevereiro, italianos que vivem fora da Itália e descendentes com dupla cidadania podem, por correio, escolher um dos 18 representantes para a Câmara de Deputados e Senado do país. Na América do Sul, são quatro cadeiras para deputados e duas para senadores.

Desde 2006, o governo italiano passou a reservar espaço no Parlamento para "estrangeiros" devido ao grande número de imigrantes e descendentes espalhados pelo mundo. Apenas no Brasil são mais de 30 milhões, metade de toda a colônia internacional. Entretanto, menos de 1% desse total, ou seja, cerca de 280 mil ítalos-brasileiros, está apto a votar.

Para conseguir seu objetivo, Renata Bueno deve superar a concorrência dos argentinos. Atualmente, das quatro vagas sul-americanas na Câmara, três são ocupadas pelos vizinhos. A outra pertence a Fabio Porta, italiano radicado em São Paulo.

Embora tenha número de imigrantes menor do que o Brasil - 20 milhões -, a Argentina possui mais da metade dos atuais eleitores, muito por conta de uma melhor estrutura consular.

"Nós temos realmente um problema de estrutura, de falta de condição e de recursos para os consulados. Eu conheço o corpo consular no Brasil, e eles são muito esforçados, mas não dão conta de atender. Essa é uma demanda clássica", afirma Renata.

Apoio. A paranaense, filiada ao PPS, conta com o apoio e a estrutura do partido para angariar votos pelo Brasil. Em visita a Belo Horizonte, esteve acompanhada da presidente da sigla no Estado, a deputada Luzia Ferreira.

"Nós temos como bandeira ser um partido internacionalista. É um exemplo que pode servir para outros no futuro. Quem sabe os brasileiros que moram no exterior, e que hoje votam apenas para presidente, não possam também ter representação?", sugeriu Luzia.

Para Renata, a estrutura da legenda ajuda na aproximação com pequenas comunidades italianas. "Nós temos que chegar às pequenas cidades, e o partido pode ajudar bastante já que temos diretórios municipais espalhados por todo o Brasil. O que temos que nos comprometer não é só com voto, mas também de assumirmos compromissos com a comunidade italiana de cada Estado", concluiu.

Parceria para estreitar laços

Nascido em Caltagirone, na Sicília, e radicado em São Paulo, onde vive desde 1998, o deputado italiano Fabio Porta, do Partido Democrático, tenta se reeleger neste ano. Assim como Renata Bueno, Porta também esteve em Belo Horizonte pedindo votos à comunidade italiana.

Ele ocupa uma das quatro cadeiras de imigrantes italianos na Câmara. Eleito com 17 mil votos em 2008, Porta é vice-presidente do Comitê para os Italianos no Exterior e membro da Comissão de Relações Exteriores. Entre as propostas que defende para um eventual segundo mandato, estão o incentivo a projetos de intercâmbio e a obrigatoriedade do ensino da história da imigração italiana nas escolas.

"O maior conhecimento do que os italianos fizeram e estão fazendo fora da Itália, principalmente no Brasil, significa maior integração dessas comunidades pelas gerações mais jovens", detalhou.

Outra proposta dele é criar um projeto de intercâmbio a exemplo do Ciência sem Fronteira, do governo brasileiro, para que "possamos aproximar mais os jovens e incentivá-los a participar do intercâmbio acadêmico ou de pequenas empresas dos dois países".

Porta critica a herança política do ex-primeiro ministro italiano, Silvio Berlusconi, que renunciou ao mandato em novembro de 2011.

"A minha luta foi de manter algumas conquistas, como a rede consular, os projetos de língua e cultura, o atendimento a microempresas. O governo de Silvio Berlusconi estava acabando com tudo isso", criticou.

Minientrevista: "Esta eleição marcará a história"

Candidata ao Parlamento da Itália

Por que é importante para o Brasil ter representante no Parlamento italiano?

Aqui, na América do Sul, é onde temos a maior concentração de imigrantes, e, desde a primeira eleição no exterior, em 2006, nós temos uma grande ocupação por parte dos argentinos. O Brasil é o país que mais tem descendentes de italianos no mundo. Poder ter um brasileiro no Parlamento italiano que represente nossa voz a nível de Europa, sem dúvida, nenhuma, será um ponto forte no ganho político para o nosso país.

A Itália vem de uma crise, e você pode entrar em um caldeirão efervescente. Como você está encarando essa possibilidade?

Eu acompanhei todo esse processo de perto. A gente percebe que a dificuldade é grande, sim. Essa eleição vai marcar a história, entre tudo o que aconteceu e o que virá para o futuro. A Itália é um país importante na Europa e, é claro, que a Europa, por sua vez, reflete na economia mundial.

Fonte: O Tempo (MG)

Antes e depois do carnaval - Eliane Cantanhêde

A inflação de janeiro foi a maior desde abril de 2005 e a pior dos últimos dez anos. Como admite Alexandre Tombini (BC) e nega Guido Mantega (Fazenda), é preocupante. O mercado já prevê aumento de juros, algo indigesto para o governo sob todos os aspectos.

Mas... depois do Carnaval, a presidente Dilma Rousseff vai se reunir alegremente com líderes camponesas no Parque da Cidade, em Brasília, e ficará tudo ótimo.

Os baixos níveis de desemprego são uma das mais reluzentes vitrines do governo e, apesar disso, o emprego na indústria caiu 1,4% em 2012, como reflexo do pibinho de 1% -se é que vai chegar a tanto.

Mas... depois do Carnaval, no dia 20, Dilma e Lula estarão com petistas e aliados comemorando o legado do PT. Isso é o que importa.

A Petrobras, coitada, está detonada. Seu lucro líquido caiu 36% no ano passado e suas ações não param de esfarelar nas Bolsas.

Mas... depois do Carnaval, Lula será a estrela do seminário inaugural dos dez anos do PT no poder, em Fortaleza. O resto é detalhe.

O governo maquiou contas para ter um superavit primário digerível.

Mas... depois do Carnaval, Dilma vai fazer uma reforma ministerial bacana, reequilibrando os partidos já aliados e absorvendo o PSD.

E o Tesouro Nacional deu o cano no FGTS, retendo a contribuição das empresas pelas demissões por justa causa, para fechar artificialmente as contas do ano passado. Se ilegal não é, bonito também não chega a ser.

Mas... depois do Carnaval, Lula reavivará sua eficiente Caravana da Cidadania, distribuindo carisma e lábia país afora. Tudo é uma festa.

Assim, o Brasil segue na contramão do Chile. No simpático e aplicado país sul-americano, a economia vai bem, mas a reeleição do presidente Sebastián Piñera vai mal. No melhor país do mundo, que é o nosso, a economia não está lá essas coisas, mas a reeleição de Dilma Rousseff em 2014 vai de vento em popa.

Fonte: Folha de S. Paulo

Ratzinger - Tereza Cruvinel

O CNJ, presidido pelo ministro Joaquim Barbosa, sabe do que fala quando quer proibir patrocínios a eventos de juízes: em 2003, um congresso da AMB foi patrocinado pelo Banco do Brasil, com a verba da Visanet que, segundo o STF, foi desviada para o valerioduto

Há quase 600 anos um papa não renunciava ao trono de São Paulo, o que ajuda a explicar a perplexidade dos católicos (e não católicos) de todo o mundo com a decisão de Bento XVI. Aconteceu em 1415, quando Gregório XII renunciou no auge de uma crise, o Grande Cisma do Oriente, para garantir a unidade. O Vaticano enfrentava o poder concorrente de dois papas dissidentes, o de Avignon (França) e o de Pisa (Itália). As poucas renúncias anteriores também tiveram motivação política, como a de Ponciano, que se tornara prisioneiro do Império Romano, ou a de Bento IX, abatido por denúncias de corrupção. Na Igreja também se faz política, e como! Por isso, o mundo busca uma outra razão, além da idade, para a renúncia de Ratzinger, um alemão conhecido pela racionalidade. Não se conhecendo outra, as apostas recaem sobre a ideia de que ele se antecipou para poder controlar a própria sucessão.

O fato de que ele não estará entre os cardeais que elegerá o novo pontífice pouco significa. O importante é que ele deixa o cargo com prestígio e autoridade suficientes para cabalar votos e influenciar opiniões. Se isso ocorrer, teremos mais um papa conservador e dogmático. Aqui no Brasil, dom Raimundo Damasceno, de Aparecida, citado pela imprensa entre os cinco "papáveis" brasileiros, disse ontem em entrevista coletiva que, seja quem for o escolhido, ele manterá os fundamentos do pontificado de Ratzinger, como inflexibilidade no celibato, valorização da família nuclear e oposição à união entre pessoas do mesmo sexo. Entre os cinco, o mais progressista e dom Claudio Hummes, que celebrava missas para os grevistas liderados por Lula em 1979. Mas, por mais conservador que seja, o futuro papa enfrentará o problema da perda de católicos para outras religiões, que deve ser enfrentado com maior abertura e sintonia com o mundo. Um dos efeitos da renúncia de Ratzinger, eleito em 2005 aos 78 anos, pode ser a escolha de um cardeal mais jovem, assegurando um pontificado mais longo e estável.

Estrategista, ele foi até no anúncio da renúncia: ao fazê-la durante o carnaval, festa essencialmente profana, obrigou o mundo inteiro a fazer uma pausa para pensar no sagrado e na Igreja.

Dez anos no poder

Quis também o calendário que a data de criação do PT, 10 de fevereiro, caísse no domingo de carnaval e passasse quase em branco. Apenas o ex-presidente Lula fez um registro em seu perfil no Facebook. Mas não só para escapar do carnaval o partido este ano mudou a data e o formato da celebração. Vai casar o aniversário com os dez anos no poder. Ou "dez anos de mudanças para o Brasil", como prefere dizer o líder na Câmara, José Guimarães. Rui Falcão, presidente do partido, fala em "dez anos de governo democrático e popular". Nome oficial à parte, a dupla celebração terá vários eventos, começando pelo grande ato do dia 20, em São Paulo, com a presença da presidente Dilma Rousseff, além da de Lula. Dois dias antes, na Câmara, por iniciativa da bancada, será aberta uma exposição iconográfica cobrindo os 33 anos de história do partido, com exibição de documentos históricos, fotografias e vídeos. Treze seminários, informa o líder, serão realizados nas cinco regiões do país, começando pelo de 2 de março, em Fortaleza. Eles acontecerão paralelamente às viagens que Lula fará pelo Brasil, permitindo sua participação no encerramento, sempre que possível. Nesses seminários, segundo Nobre, o PT fará um balanço das "transformações do Brasil iniciadas com Lula e continuadas por Dilma" e a defesa do legado de Lula. Servirão também para produzir os primeiros subsídios para a atualização programática prevista para o congresso do ano que vem.

Não está dito mas, com estes eventos, o PT tenta virar a página dos tempos amargos trazidos pela denúncia e pelo julgamento do chamado mensalão, que cravaram uma chaga moral no partido que nasceu comprometido com a ética. Só com discursos e seminários, não conseguirá isso. Continua pendente a tarefa pedida por Lula, de produção de uma contranarrativa às teses da CPI dos Correios e da Procuradoria Geral da República, acolhidas pelo Supremo. Mas uma coisa, pelo menos, o infortúnio já produziu: uma unidade interna raramente vista nestes 33 anos. Na recente troca de guarda no Congresso, os petistas não brigaram por comissões e cargos de liderança. A reeleição de Rui Falcão para presidente parece assegurada e, mesmo assim, os petistas trabalham para evitar o lançamento de um concorrente pela única tendência disposta a fazer isso: a Mensagem ao Partido, ligada ao governador Tarso Genro.

Reprimenda nos juízes

Na semana passada, o Conselho Nacional de Justiça colocou em pauta uma resolução proibindo que eventos de juízes e magistrados recebam verbas de patrocínio, de entes públicos ou privados. As três entidades que representam os meritíssimos e meritíssimas — Ajufe (Associação dos Juizes Federais), AMB (Associação dos Magistrados do Brasil) e Anamatra (Associação de Magistrados da Justiça do Trabalho) querem ser ouvidas sobre o assunto. O Conselho, presidido por Joaquim Barbosa, sabe do que está falando. Segundo reportagem da revista Retrato do Brasil, mostrando o verdadeiro destino dos recursos da Visanet que segundo o Supremo foram desviadas para o Valerioduto, até a AMB recebeu parte dele, sob a forma de um patrocinio de R$ 200 mil do Banco do Brasil/Visanet (cartões Ourocard) ao Congresso Nacional da Magistratura, que reuniu mais de 3 mil juízes em Salvador, em 2003.

Fonte: Correio Braziliense

Peso dos derivados - Míriam Leitão

A principal mudança recente na balança comercial brasileira aconteceu no setor energético. É isso que explica o déficit de US$ 4 bi da balança em janeiro. Quatro dos 10 principais produtos importados em 2012 são matérias-primas energéticas. Petróleo lidera. Em pelo menos cinco itens a produção interna é menor que o consumo: óleo diesel, gasolina, gás natural, nafta, querosene de aviação.

Embora a balança comercial do petróleo - sem os derivados - seja positiva, ele é o item que lidera a lista, com US$ 13 bilhões importados em 2012. O óleo extraído no país, em sua maioria, é pesado. Isso obriga a Petrobras a comprar lá fora o produto leve, do qual se extrai mais gasolina.

- O país passa por uma explosão do consumo de combustíveis fósseis. Para atender a essa demanda, o Brasil é grande importador de gasolina, diesel, querosene de aviação, nafta petroquímico e até mesmo etanol - disse Adriano Pires, diretor do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura).

Dos 10 principais produtos importados em 2012, quatro são insumos energéticos. Depois do petróleo, vem o óleo combustível, em quarto lugar, com US$ 6,7 bilhões importados. Nafta petroquímico aparece em sétimo, com US$ 4,1 bi, e o gás natural surge em décimo, com US$ 3,3 bilhões. A gasolina vem galgando posições e já representa US$ 3 bilhões de importação.

Segundo levantamento do CBIE, feito com exclusividade para a coluna, de janeiro a novembro de 2012, último dado disponível pela ANP, a produção de óleo diesel foi de 41,5 milhões de metros cúbicos. Mas o consumo chegou a 50,9 milhões. Houve um gargalo de 9,4 milhões de m3 de diesel. Com o nafta petroquímico, usado na fabricação de plástico, aconteceu a mesma coisa: produção de 5,9 milhões contra consumo de 11,2 milhões. A produção de querosene de aviação foi 1,6 milhão de metros cúbicos menor que o consumo, de janeiro a novembro de 2012.

Desde janeiro de 2011, a produção de gasolina do país não consegue suprir a demanda. O gargalo ficou maior em 2012. A produção subiu 11%, mas o consumo cresceu 20%. Pela medida em metros cúbicos, a diferença entre a produção e o consumo subiu de 2,2 milhões, de janeiro a novembro de 2011, para 4,2 milhões, no mesmo período de 2012.

O baixo nível dos reservatórios de água das usinas hidrelétricas, que fecharam janeiro com o menor volume desde 2001, vai exigir maior importação de gás natural. Para poupar água, será preciso deixar ligadas as usinas termelétricas. Um exemplo está acontecendo com a usina de Uruguaiana, no Sul do país. O gás natural liquefeito (GNL) foi importado de Trininad e Tobago, transportado até a Argentina, e levado pelo gasoduto até a usina brasileira. No ano passado, o consumo de gás exigiu que fossem importados 1,2 milhão de metros cúbicos. A demanda por gás dessas usinas subiu 102% no quarto trimestre, segundo a Petrobras.

O governo fez grande uso político do fato de ter se atingido uma produção de petróleo suficiente para o consumo brasileiro. O país terá atingido então, garantiu o presidente Lula com as mãos sujas de petróleo e o macacão laranja da Petrobras, a mítica autossuficiência. A economia não respeita as simplificações do populismo político. Hoje, os derivados de petróleo são o grande peso nas importações, a insuficiência energética é uma realidade diária que bate no bolso do consumidor e do acionista da Petrobras.

A estatal tem inúmeras virtudes e ao longo do seu mais de meio século fez enormes contribuições à vida brasileira, desenvolvendo uma tecnologia de ponta, mas ela não pode ser apropriada por um governo como foi durante o período Lula. E as simplificações grosseiras, como a de que o governo de então teria feito a Petrobras mais forte e por isso ela teria atingido a autossuficiência, é desmentida pela realidade.

A empresa colhe hoje o preço da excessiva interferência política dos últimos 10 anos. Teve que fazer investimentos como o da Refinaria Abreu Lima, cujo custo deu um salto ornamental em relação ao preço previsto inicialmente, e tudo isso para refinar o petróleo da Venezuela. E esse não foi o único investimento caro e equivocado feito pela empresa. A balança comercial está mostrando a realidade: um país que depende, e muito, de vários insumos energéticos derivados do petróleo.

Fonte: O Globo

O gargalo do agro - Celso Ming

Enquanto a indústria brasileira amargou, em 2012, queda de 2,7% em sua produção e, há anos, sofre forte esvaziamento (desindustrialização), o agronegócio, com algumas avarias em alguns dos seus subsetores, exibe pujança.

A nova projeção para o ano, divulgada quinta-feira pelo Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aponta para a produção de 183 milhões de toneladas de grãos, 13,1% maior do que a anterior. Os números da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), levantados com metodologia diferente, são igualmente otimistas: colheita de 185 milhões de toneladas de grãos, neste período 2012/2013 - 11,3% a mais do que na safra 2011/2012.

Condições climáticas e preço bom são os dois principais fatores que mais colaboram para esse sucesso praticamente assegurado. Mas também tem a ver com ele a maior disponibilidade de crédito a juros mais baixos. A carteira total destinada a essa área até junho é de R$ 133 bilhões, 26% acima das disponibilidades na safra anterior.

O problema é a infraestrutura. Faltam condições de armazenamento e de transporte. O analista Paulo Molinari, da consultoria Safras & Mercado, vê grande descompasso entre os ritmos de produção e o de investimento nas últimas décadas: "Produzimos como uma China e investimos como um Paraguai". Para ele, a disparada dos custos para o produtor come boa parte do retorno proporcionado pelo aumento de produção e pelos bons preços.

Para acolher toda a safra estimada, faltam R$ 10 bilhões em investimentos em aumento de capacidade de armazenamento. O ideal é que o setor possa estocar até 120% da produção. No entanto, neste ano, conta com só 75%. Perto de 45 milhões de toneladas de grãos não têm onde ser guardadas. Ou ficarão dias e dias sob a lona dos caminhões, o que implica custos adicionais, ou em abrigos improvisados, sujeitas a perdas de todo tipo.

A falta de armazéns nas zonas de produção criou novos gargalos, desta vez nos portos. Molinari calcula que, hoje, mais de 60 navios graneleiros estão parados apenas no Porto de Paranaguá (PR), dada a falta dos chamados "pulmões" para estocagem. Cada navio parado custa mais de US$ 40 mil por dia, ou seja, somente aí as perdas diárias sobem a US$ 2,5 milhões.

Daniel Latorraca, gestor do Instituto Mato Grossense de Economia Agropecuária está otimista: "A redução dos juros básicos para 7,25% ao ano e o maior acesso ao crédito devem levar o produtor a construir mais armazéns". E André Debastiani, sócio da Agroconsult, concorda: "O faturamento dos últimos anos, enfim, pode garantir esse salto de qualidade".

Mas há um pedaço enorme do problema que não pode ser resolvido pelo agricultor. Faltam estradas em boas condições e ferrovias para escoar a safra. Os custos com transporte não param de subir. A saca de milho de 60 quilos, por exemplo, só tem comprador por R$ 14 no Mato Grosso. Mas apenas o frete por caminhão ao Porto de Santos sai por R$ 17. Ou seja, cabe ao governo prover melhores condições de transporte.

Este é o setor mais próspero da economia brasileira. Mas não pesa mais do que 5% no PIB. Por isso, seus recordes terão pouco impacto na renda total.

Fonte: o Estado de S. Paulo

Um novo cenário - Rubens Barbosa

O comércio internacional, fonte de crescimento e de emprego, vive significativas mudanças, lideradas pelos EUA e pela China. Observa-se hoje a proliferação de acordos regionais e bilaterais e a multiplicação de medidas restritivas e protecionistas, em grande parte, devido ao fracasso das negociações multilaterais da Rodada de Doha e ao enfraquecimento da Organização Mundial de Comércio (OMC).

Em reação a essas mudanças, os EUA, a Europa e a Ásia estão avançando entendimentos para a negociação de acordos de livre comércio de grande porte. A Parceria Trans-Pacífica, liderada pelos EUA, concentra 40% do PIB global, e inclui a Austrália, Malásia, Vietnã, Cingapura, Nova Zelândia, Chile, Peru, Brunei, Canadá, México e talvez Japão e Coreia do Sul. Os EUA já haviam firmado acordos com o Canada e México (Nafta) e mais recentemente com Panamá, Colômbia, Peru, Chile e Coreia do Sul. A União Europeia finalizou acordo de livre comércio com a Coreia e está negociando com Cingapura, Canadá e iniciou conversação com o Japão e o Mercosul. Bruxelas e Washington conversam para avançar os entendimentos de um mega-acordo de comércio e investimento, chamado de Acordo de Livre Comércio Transatlântico (Tafta, em inglês). A Ásia embarcou em uma série de acordos de livre comércio regionais, sob a liderança da China e do Japão, inclusive com países sul-americanos.

Sendo os EUA e a Europa, dois dos principais parceiros do Brasil, é importante entender o significado do Tafta e suas implicações para os países que dele ficarem de fora.

Nesse contexto de grandes movimentos de transformação no comércio internacional, o Brasil está sem estratégia de negociação comercial.

Caso os acordos EUA-União Europeia (Tafta) e o dos EUA com países asiáticos (Trans Pacific Partnership) sejam concluídos, o Brasil ficará alijado dos dois maiores fluxos de comércio . A eliminação de tarifas entre os países membros desses dois blocos afetará ainda mais a competitividade dos produtos brasileiros que, praticamente, ficarão excluídos desses mercados.

A politica Sul-Sul dos últimos dez anos, no tocante à África e ao Oriente Médio, pouco resultou do ângulo comercial. A Aliança do Pacífico (Chile, México, Peru e Colômbia) representou uma ação geoeconômica importante pela aproximação dos EUA e da Ásia. O Mercosul, que pediu para ser observador da Aliança, encontra-se em situação de quase total isolamento. Nos últimos dez anos firmou apenas três acordos de livre comércio com Israel, Egito e Autoridade Palestina, além de um acordo de preferência tarifária com a Índia e a África do Sul. A negociação do grupo com a União Europeia passa a ser crucial para podermos estar sintonizados com essas transformações globais.

Se as negociações com a Comissão Europeia não avançarem não restará alternativa ao Brasil, senão fazer, no âmbito do Mercosul, um acordo em separado com a União Europeia, para resguardar nossos interesses.

Fonte: O Globo

O novo carnaval das ruas - Arnaldo Jabor

Todo ano minha coluna sai na terça-feira de carnaval. Não há outro assunto que possa suplantar a espantosa festa popular e acabo me repetindo. Eu andava irritado com a folia anual. Cheguei a dizer que o chamado "tríduo momesco" - como falavam os cronistas d'antanho - tinha virado uma calamidade pública. Mas, nos últimos dias, vendo as massas pulando nas ruas de Salvador, Recife e Rio, fiquei pensando: como é que pode? O que faz milhares de foliões se jogarem nas ruas como estouros de boiadas, o que será que provoca tanta fome de samba, de riso, de porres, de sexo em flor? Este ano, há blocos que congregam mais de 400 mil participantes, 400 mil dançando na orla do Rio, em um delirante comício de felicidade.

Olhei de perto um infinito rio de gente pulando na beira-mar, até sem ouvir mais a música que guiava os foliões, como uma locomotiva sonora. Houve uma mudança, sem dúvida.

Lembro-me do tempo recente em que todos reclamavam do "fim do carnaval", reduzido às alegorias luxuosas das escolas sob um elegante desprezo das elites. Lembro das primeiras damas da ditadura rebolando no camarote, d. Yolanda Costa e Silva ou d. Dulce Figueiredo, enquanto o carnaval de rua no Rio minguava, com mascarados solitários e escassos bloquinhos na avenida, restando apenas os "Clovis" de Santa Cruz com a tradição do passado. O carnaval oficial tinha virado um produto de mercado, um merchandising de bicheiros, uma festa para voyeurs, para turistas, inclusive para brasileiros - turistas de si mesmos.

Mesmo depois da ditadura, seria impossível ver esses imensos rios que passam em nossas vidas. Era impossível a alegria popular com 2 mil por cento de inflação ao ano, no fim da década de 80. Creio mesmo que essa enchente de povo se forma a partir da estabilização da economia em 94 e da maré em nossa direção, com o capital internacional dirigido aos países emergentes. Aos poucos, o País retomou sua autoestima e, especialmente no Rio, ela cresce nos últimos tempos, com o melhor controle da criminalidade e com o fim dos governos sórdidos que jogaram a cidade no buraco.

Subitamente, como as multidões árabes que tomaram as praças da África do Norte, nossas massas encheram a cidade. Sente-se o renascimento de um desejo gregário, até de contato físico entre as pessoas, uma explosão de liberdade e um irresistível desejo de existir em comunidade, de viver e morrer numa fervente multidão, onde todos virem um grande "um". Creio também que isso reflete o movimento atual da vida social que se organiza cada vez mais em redes, pois os métodos de comunicação pela internet não apontam mais para um futuro, para um ponto de chegada. Não. Agora a vida social tem uma dinâmica interna, intramuros, congregadora. Não mais utopias nem mesmo distopias, que são 'finalismos' ao avesso. Não. Agora o movimento é no presente, é centrípeto, cerrando contatos e intimidades.

Não me esqueço do desfile premonitório que o genial Joãozinho Trinta fez com urubus, ratos e mendigos em 1988, anunciando que o luxo que ele tinha criado com sua frase luminosa ("o povo quer é luxo; quem gosta de miséria é intelectual...") poderia virar um lixo crítico, uma denúncia ao êxtase fácil e alienante. Ali estava um prenúncio do carnaval que agora se derrama, fluvial, pelo País.

Somos um povo esquisito, todo nu, pulando como malucos para espanto risonho do mundo "civilizado".

Muito bem. Pois, acho o carnaval nossa marca e nossa grandeza. Como pode o mundo achar o carnaval uma loucura, este mundo irracional de homens-bomba e drones? É melhor entender o Brasil através do carnaval, do que ver o carnaval como um desvio da razão. O carnaval nos vê. Sua razão sacana nos ensina mais que estas 'moralidades críticas'.

Assim como o Círio de Nazaré congrega milhares pela esperança e fé, como um martírio triunfal, assim como o futebol congrega torcidas pela vitória de uma camisa, o carnaval de hoje me parece a consequência da democracia e do crescimento econômico do País. Enquanto as elites deprimem em casa, vão a um camarote de cervejaria ou fogem para a serra, milhares de bailarinos tomam a cidade como numa revolução.

O carnaval mostra que o Brasil tem outra forma de 'seriedade', mais alta que a gravidade do mundo anglo-saxão. O carnaval mostra a matéria de que somos feitos, por baixo dessa mímica de "ocidente" que o Brasil tenta há quatro séculos. Mas, para descobrir um carnaval ainda mais puro, temos de ir aos blocos de "sujos", esses sim, com uma alegria selvagem e sem frescuras.

Podemos ver nas ruas a preciosa origem do carnaval profundo. Lá, estão os desesperados, os famintos de amor, os malucos, os excluídos da festa oficial; é o carnaval dos miseráveis, a dança do escracho na melhor tradição da arte grotesca, dessacralizando as obrigações da virtude e da obediência. Na razão do carnaval existe algo mais além da imoralidade; há uma santidade nesta explosão de carne que não se explica. 

Onde existem estas montanhas de corpos se atirando uns aos outros, com sexo e música? A sacanagem das matas profundas é diferente das surubas calvinistas de Nova York, que inventaram o sexo torturado nas boates doentias e acabaram na aids. A "razão perversa" é a razão do carnaval. Não a perversão como 'pecado', mas como mímica de uma liberdade, como a busca de uma civilização 'não civilizada', de um retorno a uma animalidade perdida e, no entanto, pulsante.

A África e os índios nos salvaram, assim como salvaram os USA. Que seria da América sem o jazz? Um país branco azedo, cheio de wasps tristes.

Nosso carnaval mostra que o Inconsciente brasileiro está à flor da carne. Quanto mais civilizado o país, mais fundo o recalque. Já imaginaram um carnaval na Suíça? Talvez o carnaval seja uma doença salvadora, uma epidemia de "desbunde" de que o mundo precisa, por só conhecer a guerra, a velocidade e o mercado cruel.

Fonte: Segundo Caderno / O Globo

Soneto de carnaval – Vinicius de Moraes

Distante o meu amor, se me afigura
O amor como um patético tormento
Pensar nele é morrer de desventura
Não pensar é matar meu pensamento.

Seu mais doce desejo se amargura
Todo o instante perdido é um sofrimento
Cada beijo lembrado uma tortura
Um ciúme do próprio ciumento.

E vivemos partindo, ela de mim
E eu dela, enquanto breves vão-se os anos
Para a grande partida que há no fim

De toda a vida e todo o amor humanos:
Mas tranqüila ela sabe, e eu sei tranqüilo
Que se um fica o outro parte a redimi-lo.

Oxford, 1939.