sábado, 16 de março de 2013

OPINIÃO DO DIA – Aécio Neves: lógica eleitoral

Nas democracias, as reformas ministeriais costumam ter como objetivo corrigir rumos, melhorar a eficiência da administração e, quando possível, ainda diminuir o peso da máquina pública. No governo da presidente Dilma ocorre o contrário. A máquina só faz inchar e a busca pela eficiência foi substituída pela lógica da reeleição. Ao que parece, a prioridade é garantir alguns segundos a mais na propaganda eleitoral ao invés de fazer o governo funcionar. Quem paga a conta sempre são os brasileiros.

Aécio Neves, senador (PSDB-MG), O Globo, 16/3/2013

Manchetes de alguns dos principais jornais do país

O GLOBO
Dilma devolve ministério a grupo afastado em ‘faxina’
Royalties: briga agora é no STF
Cresce população de rua no Rio
Serviço público: A queda do sistema

FOLHA DE S. PAULO
Dá para fazer muito mais que Dilma, diz Campos
Vaticano nega que papa tenha apoiado ditadura argentina
Índice do BC mostra avanço da economia em janeiro
Falta de contrato deixa parques de SP sem limpeza
Brasil vai acelerar reconhecimento de diploma português
Presidente troca ministros em busca de apoio em 2014
Todos têm direito de criticar governo, afirma Dilma sobre opiniões de Gerdau

O ESTADO DE S. PAULO
Vaticano nega ligação do papa com ditadura argentina
Dilma diz que vai 'persuadir' empresários a baixar preços
Governo troca ministros e fortalece PMDB
Pesquisa mostra 'cura' de 14 pessoas com HIV

CORREIO BRAZILIENSE
Verdade vem à luz no caso Herzog
Reforma para saciar aliados
Entorno sem Minha Casa
Apelo à sabedoria

ESTADO DE MINAS
Dengue mata um por dia em Minas
Programa dá mais poder aos Procons
Prévia do PIB de janeiro indica maior alta em 5 anos
Royalties : Três estados recorrem ao STF contra partilha
Ministério tem mais um mineiro
PM diz que Lei Seca sem bafômetro será fraca

O TEMPO (MG)
Vereadores contestam PT `oposicionista´
Pontífice pede que Evangelho seja levado a todo o planeta
Em reforma, Dilma oficializa deputado mineiro na Agricultura
Procon registra aumento de 123% no número de queixas

GAZETA DO POVO (PR)
Justiça aceita denúncia de mortes no Evangélico
Promessa de Dilma, Vant é investigado
Estudo mostra cura funcional da aids
Policial acusado de grampo ilegal pega 20 anos de prisão
Papa Francisco pede novos métodos para conquistar fiéis

ZERO HORA (RS)
Coquetel de gases em pelo menos 234 mortos
Dívida pode se tornar impagável
Procons vão poder multar e fechar lojas
Um papa peronista?

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Recife vai testar rodízio de carros
Consumidor fica mais protegido
Vaticano condena quem tenta ligar o Papa à ditadura da Argentina

Dança das cadeiras - Dilma devolve ministério a grupo afastado em ‘faxina’

Preocupada em garantir palanques para sua campanha à reeleição, a presidente Dilma Rousseff fez ontem uma minirreforma ministerial e reabilitou o grupo do pedetista Carlos Lupi, sétimo ministro a cair em 2011, na chamada "faxina ética". Próximo a Lupi, Manoel Dias foi escolhido ministro do Trabalho, no lugar de Brizola Neto. Dilma deve indicar para os Transportes alguém que agrade ao PR, outro alvo da faxina de 2011. A pasta da Agricultura será comandada pelo deputado Antônio Andrade (PMDB), que em 2012 garantiu o apoio de seu partido ao PT em Minas. Ele substitui o colega Mendes Ribeiro. Moreira Franco, também do PMDB, será o novo secretário de Aviação Civil. As posses ocorrerão hoje

Olha quem voltou

Grupo do PDT afastado por irregularidades retoma Trabalho; PMDB ganha Aviação Civil

Luiza Damé, Maria Lima

Parceria fortalecida. Dilma entrou ao PMDB do vice Michel Temer o comando da Secretaria de Aviação Civil

BRASÍLIA - Já preparando o palanque para a reeleição em 2014, a presidente Dilma Rousseff fez ontem uma minirreforma ministerial, amarrando o apoio de PDT e PMDB, e, num gesto ousado e polêmico, reabilitou o ex-ministro Carlos Lupi, o sétimo ministro a cair, sob denúncias de corrupção, na chamada faxina ética do primeiro ano de seu governo. Lupi derrubou Brizola Neto e emplacou o amigo e fiel aliado Manoel Dias (SC) no Ministério do Trabalho. O PMDB do vice-presidente Michel Temer melhorou seu espaço na Esplanada dos Ministérios com uma pasta mais robusta para o ex-governador Moreira Franco (RJ), que trocou a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) pela Secretaria de Aviação Civil (SAC).

Ainda na cota do PMDB, Dilma fez um rearranjo político-eleitoral: o peemedebista gaúcho Mendes Ribeiro (RS), com problemas de saúde, deixou o posto de ministro da Agricultura e abriu vaga para o deputado Antônio Andrade, presidente do PMDB de Minas. Ele foi o principal responsável, ano passado, pelo apoio do partido ao candidato do PT à prefeitura de Belo Horizonte, Patrus Ananias. O mineiro Leonardo Quintão, disputou a vaga com Andrade.

A SAE, até ontem comandada por Moreira Franco, ficará interinamente com o secretário-executivo Roger Stiefelmann Leal. A posse dos novos ministros está marcada para a manhã de hoje, no Palácio do Planalto, pois a presidente embarca domingo à noite para Roma, onde participará da entronização do Papa Francisco.

Dilma procura nome que agrade ao PR

A reforma ainda não está concluída. Dilma não conseguiu acertar a equação em relação ao PR, que também foi alvo da faxina de 2011 com a demissão do então ministro dos Transportes, o senador e presidente da legenda Alfredo Nascimento (AM). No lugar de Nascimento ficou o técnico de confiança de Dilma, Paulo Sérgio Passos, filiado ao PR, mas que não atende aos anseios do partido. Nascimento, a exemplo de Lupi, também foi chamada por Dilma no início do ano ao Planalto, para tratar da volta do partido ao governo. Ela também não fechou o acordo com o PSD de Gilberto Kassab.

Desde a semana passada, Dilma vem conversando com os partidos, especialmente com o PMDB de Temer e com Kassab. As conversas se afunilaram esta semana. Ontem, após lançar o Plano de Defesa do Consumidor, Dilma recebeu Mendes Ribeiro, Brizola Neto e Manoel Dias, além da cúpula do PMDB e Wagner Bittencourt - um nome do BNDES que era titular da Secretaria de Aviação Civil.

O novo ministro do Trabalho disse que não conversou com a presidente sobre as eleições de 2014, mas admitiu, em entrevista no Planalto, que a sua presença no governo aproxima o PDT do palanque petista:

- Eu creio que sim. Com a minha proximidade com os companheiros do partido de todo o Brasil, nós vamos tentar construir (apoio a Dilma). Na medida em que a gente consiga por em prática as políticas públicas que defendemos, vamos fortalecer esta posição.

Em outra entrevista na sede do PDT, Dias admitiu que Lupi foi o responsável por sua indicação:

- Lupi teve papel fundamental. Tenho com ele relação mais próxima possível, sabemos quanto custou manter o PDT após desaparecimento do Brizola.

Dias: "a tarefa é zelar pelo bem público"

Sobre a conversa com a presidente, Dias disse que ela pediu que o Ministério do Trabalho melhore o atendimento na ponta, nas delegacias do Trabalho.

- Conversamos sobre as metas e planos do Ministério do Trabalho e rememoramos a nossa militância (no PDT). A tarefa é zelar pelo bem público. Ela pediu que olhássemos para os órgãos de ponta. Lá no interior do país, nos municípios, estão as agências do Ministério do Trabalho, locais onde os trabalhadores vão buscar seus direitos, fazer suas carteiras de trabalho. Tem de ser um órgão moderno, informatizado e confortável - afirmou.
Sobre o fato de o PDT não ser unido na defesa do governo no Congresso, Dias sinalizou que, a partir de agora, será diferente:

- Somos partido ideológico, de esquerda e temos princípios. Tem pontos que o partido tem cuidado na defesa dos postulados, temos princípios que são inegociáveis, mas a nossa participação no governa implica o dever de sermos solidários, apoiar o governo e colaborar para que o governo tenha sucesso - disse, acrescentando que vai procurar Brizola Neto. - Vamos pacificar o partido, avançar o partido, porque a briga não é boa para ninguém.

Lupi deixou o Ministério do Trabalho em dezembro de 2011, alvo de denúncias de irregularidades em convênios da pasta, que beneficiariam o PDT. Brizola Neto assumiu em maio do ano passado e enfrentou forte oposição de setores do PDT comandados por Lupi.

Meta é diminuir custo da cesta básica

O novo ministro da Agricultura, Antonio Andrade, disse que, na conversa com Dilma, ela lhe pediu que a pasta trabalhe pelo aumento da produtividade no campo e ajude a diminuir o custo da cesta básica. Sobre as críticas da oposição à reforma, que diz ser eleitoreira, afirmou:

- A oposição tem todo direito de criticar. É o papel dela, mas, no caso de Minas, não houve esse peso político. Seria questão política se ela nomeasse quem não tem experiência no setor - disse ele, que é produtor rural.- Estou animado, será um grande desafio.

Fonte: O Globo

Governo troca ministros e fortalece PMDB

Na reforma ministerial anunciada ontem, a presidente Dilma Rousseff fortaleceu o PMDB, em busca de apoio para 2014, e impediu debandada do PDT. Os peemedebistas Moreira Franco e Antônio Andrade assumem, respectivamente, a Secretaria de Aviação Civil e o Ministério da Agricultura. Manoel Dias, do PDT, vai para o Trabalho.

Dilma aumenta peso político do PMDB e amarra PDT ao projeto de reeleição

Vera Rosa, Tânia Monteiro

BRASÍLIA - Em busca de apoio para a campanha da reeleição, a presidente Dilma Rousseff fortaleceu o PMDB no governo e cedeu ao grupo do PDT que havia saído da Esplanada no rastro da "faxina" administrativa, em 2011. Na reforma ministerial iniciada ontem, Dilma sedimentou a aliança com o PMDB, impediu a debandada do PDT, que flerta com a possível candidatura ao Planalto do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), mas deixou o PR irritado.

A pedido do vice-presidente Michel Temer, Dilma transferiu Wellington Moreira Franco (PMDB) da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) para a Secretaria de Aviação Civil (SAC), uma pasta poderosa em tempos de concessão de aeroportos e obras para a Copa de 2014. Além disso, para facilitar a montagem do palanque petista em Minas, o deputado Antônio Andrade, presidente do PMDB mineiro, assume a Agricultura no lugar de Mendes Ribeiro, que voltará para a Câmara. As trocas foram antecipadas pelo Estado.

Pressionada pela cúpula do PDT, Dilma também nomeou o secretário-geral do partido, Manoel Dias, para o Ministério do Trabalho, no lugar de Brizola Neto. Dias é ligado ao presidente do PDT, Carlos Lupi, que antecedeu Brizola Neto no cargo e foi demitido em meio a denúncias de corrupção. Lupi foi o sétimo ministro que caiu no primeiro ano de governo Dilma, em 2011, na esteira da "faxina" promovida por ela.

Neto do ex-governador Leonel Brizola, o ex-ministro do Trabalho ficou apenas dez meses no cargo. " Abriga interna fratricida pode levar o PDT ao esfacelamento", disse Brizola Neto, que é desafeto de Lupi. As posses dos novos ministros serão hoje. Dilma embarca amanhã para Roma, onde participará da missa de inauguração do pontificado do papa Francisco, na terça-feira, e só dará continuidade à reforma ministerial quando retornar.

A cúpula do PR quer substituir o ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, mas sente-se preterida por Dilma. "Defendo a aliança do PR com o ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento), candidato do PT ao governo de Minas. Mas, para usarmos a estrutura do PR em benefício de Pimentel e do palanque da presidente, precisamos de um ministro político", avisou o deputado Luciano Castro (PR-RR).

A entrada de Antônio Andrade na Agricultura também foi articulada para a construção da candidatura de Pimentel.

Na conversa de uma hora e meia com Temer e com os presi¬dentes da Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), e do Senado, Renan Calheiros (AL), antes do anúncio dos ministros, Dilma disse que a parceria com o PMDB é fundamental.

Embora o PMDB continue comandando cinco pastas (Minas e Energia, Previdência, Agricultura, Turismo e Aviação Civil), seu peso político aumentou. Somente a Aviação Civil - antes ocupada por Wagner Bittencourt, um técnico sem filiação partidária - tem orçamento de R$ 2,7 bilhões para 2013. A pasta controla, ainda, a Infraero, com gastos previstos de R$ 1,8 bilhão, sendo R$ 300 milhões para aportes de capital nos aeroportos de Viracopos, Guarulhos e Brasília.

O plano inicial de Dilma era abrigar Mendes Ribeiro - que está em tratamento contra um câncer - na Secretaria de Assuntos Estratégicos, mas ele não aceitou a troca. Voltará para a Câmara, desalojando Eliseu Padilha (RS), que é suplente. O mais cotado para a SAE é Marcelo Néri, presidente do Ipea. Por enquanto, a pasta será tocada por Roger Leal, secretário executivo. A SAE foi oferecida ao PSD do ex- prefeito Gilberto Kassab junto com a recém-criada pasta da Micro e Pequena Empresa, o 39º ministério da Esplanada. Kassab recusou.

Colaboraram João Domingos e Rafael Moraes Moura

Fonte: O Estado de S. Paulo

Reforma para saciar aliados

Presidente troca os ministros da Agricultura, da Aviação e do Trabalho e atende aos interesses de PMDB e PDT

Trocas em três ministérios

Para atender o PMDB e o PDT, Dilma muda o comando da Agricultura, da Aviação Civil e do Trabalho, que passa a abrigar um aliado de Carlos Lupi, afastado após denúncias

Paulo de Tarso Lyra, Karla Correia, Rosana Hessel e Denise Rothenburg

A presidente Dilma Rousseff iniciou ontem a minirreforma ministerial prometida tão logo encerrou-se a campanha municipal de 2012. Depois de cinco meses de consultas, Dilma conseguiu resolver apenas as demandas do PMDB e do PDT. Foram nomeados o deputado federal Antônio Andrade (PMDB-MG) para o Ministério da Agricultura, no lugar de Mendes Ribeiro (PMDB-RS), que reassume o mandato na Câmara dos Deputados; Moreira Franco vai para a Secretaria Nacional de Aviação Civil, que era ocupada por Wagner Bittencourt; e Manoel Dias, do PDT, que substitui Brizola Neto no Ministério do Trabalho. As posses estão marcadas para hoje.

Mendes Ribeiro recebeu o convite para assumir a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), mas preferiu retornar à Câmara. Com isso, a SAE será comandada, interinamente, pelo atual secretário executivo da pasta, Roger Leal. O cotado para substituir Moreira é Ricardo Paes de Barros. Já Wagner Bittencourt, ex-ministro da Aviação Civil, pode substituir Beto Vasconcelos — que deixa o governo no meio do ano para fazer um curso no exterior — na secretaria executiva da Casa Civil.

Em nota divulgada no início da noite de ontem, a presidência da República explicou que as posses foram marcadas para hoje em virtude da viagem que a presidente Dilma fará ao Vaticano para participar de uma audiência com o papa Francisco. Ela agradeceu a todos os ex e futuros colaboradores de governo. “A presidente deseja bom trabalho a Antônio Andrade, Manoel Dias e Moreira Franco nas importantes missões que passarão a desempenhar e agradece a dedicação, o empenho e os inestimáveis serviços prestados pelos ministros Mendes Ribeiro, Brizola Neto e Wagner Bittencourt em suas áreas. Eles continuarão contando com seu apoio e confiança”, diz o comunicado.

Do ponto de vista prático, a reforma ministerial pouco acrescentou politicamente ao governo Dilma. Como observaram interlocutores da base aliada, a presidente não agregou um deputado a mais na base aliada nem ganhou um segundo extra no tempo de televisão para a campanha presidencial de 2014. “Foi uma reforma de soma zero”, ironizou um articulador político.

A demora da presidente Dilma em definir o que fazer alterou por completo os rumos da reforma ministerial. O plano original era incluir o PSD no governo e compensar o PMDB paulista, especificamente ao deputado Gabriel Chalita, pelo apoio dado ao petista Fernando Haddad no segundo turno das eleições para a prefeitura de São Paulo. Como surgiram as pressões do PMDB mineiro e o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, preferiu ficar independente (leia mais na página 3), as negociações mudaram de rumo.

Amparados pelo lobby do ministro da Educação, Aloizio Mercadante, que não queria Chalita no Ministério da Ciência e Tecnologia — e beneficiados pelas denúncias de corrupção que afundaram as pretensões ministeriais do parlamentar paulistano —, os mineiros conseguiram uma pasta na Esplanada. Mais uma vez, um ministro petista foi fundamental para sacramentar a escolha: Fernando Pimentel (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio) trabalhou pela indicação de Antonio Andrade e não de Leonardo Quintão, temendo que este ganhasse visibilidade na disputa pelo governo de Minas em 2014.

Royalties

Resolvida a questão mineira, a presidente abriu o espaço para a nomeação de Moreira Franco na Secretaria Nacional de Aviação Civil. Parte do PMDB atribui a troca a um “sinal de prestígio” de Dilma com o PMDB fluminense, compensando o “lavar das mãos” na derrubada do veto presidencial à distribuição dos royalties e a insistência do senador Lindbergh Farias (PT-RJ) de ser candidato ao governo do Rio contra o atual vice-governador do estado, Luiz Fernando Pezão. Aliados de Cabral afirmam, contudo, que Moreira Franco é da cota pessoal do vice-presidente Michel Temer.

Já no caso do PDT, Dilma decidiu substituir Brizola Neto por Manoel Dias por avaliar que o primeiro não conseguiu unificar o partido, cada vez mais alinhado ao ex-ministro Carlos Lupi, que deixou a pasta em 2011 após denúncias de corrupção. Presidente nacional da legenda, Lupi não estava ontem em Brasília. Alegou não ter “conseguido passagem para vir do Rio de Janeiro para Brasília”.

Na Esplanada

Antônio Andrade (PMDB-MG) Agricultura
Engenheiro civil graduado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e produtor rural, foi prefeito de Vazante (MG) e deputado estadual por três mandatos. Está na segunda legislatura como deputado federal. Em 2009, assumiu a presidência da executiva estadual do PMDB de Minas Gerais e, em 2012, foi eleito presidente da Comissão de Finanças e Tributação da Câmara.

Manoel Dias (PDT-SC) Trabalho
Advogado catarinense, é secretário-geral do PDT. Integrou o conselho político da campanha de Dilma Rousseff à Presidência da República em 2010 e o conselho político do governo de Santa Catarina de 2006 a 2010, durante a gestão do peemedebista Luiz Henrique. Muito ligado ao ex-presidente do PDT Leonel Brizola, foi coordenador do partido na campanha presidencial de 1998.

Moreira Franco (PMDB-RJ) Aviação Civil
Foi deputado federal por três mandatos. Entre 1977 a 1982, elegeu-se prefeito de Niterói, tornando-se governador do Rio entre 1987 e 1991. Em 2007, assumiu a vice-presidência do Fundos de Governo e Loterias da Caixa Econômica Federal, cargo que ocupou até 2010. Antes de assumir a Secretaria Nacional de Aviação Civil era o ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.

Análise da notícia

Difícil agradar

As insatisfações da base governista não cessam com a reforma ministerial deflagrada ontem. Basta ver as declarações do deputado Leonardo Quintão (PMDB-MG) ao Correio (leia na página 3). Ao dizer que está bastante confortável em relação ao futuro e com menos compromisso com o governo, ele deixa a porta aberta para, se for o caso, apoiar o senador Aécio Neves em 2014. E, dada a popularidade do deputado, conquistada desde que foi candidato a prefeito de Belo Horizonte em 2008, ele não é tão descartável quanto possa parecer à primeira vista. Para completar, deputados peemedebistas do sul do país — muitos deles mais afeitos ao PSDB do que ao PT — apelaram pela permanência de Mendes Ribeiro na Agricultura.

No caso do PDT, não é diferente. Dilma, de olho no tempo de tevê, entrega novamente o Ministério do Trabalho ao grupo do presidente do partido, Carlos Lupi. O engajamento dos pedetistas que têm voto popular na campanha, entretanto, é outra conversa. A maioria dos senadores, por exemplo, torcia pela permanência de Brizola Neto. Diante dessas constatações, pode-se tomar a reforma feita até aqui como jogo empatado. (DR)

Fonte: Correio Braziliense

Oposição critica mudanças e diz que reforma já mira reeleição

Líder petista reage e defende mudanças feitas pela presidente

Fernanda Krakovics

BRASÍLIA - A oposição acusou ontem a presidente Dilma Rousseff de fazer uma reforma ministerial pautada por sua campanha à reeleição, e não por preocupações com a qualidade técnica de sua equipe. Parlamentares do PSDB, DEM e PPS também afirmaram que Dilma jogou fora a faxina ética promovida em seu governo, em 2011, ao nomear Manoel Dias para o Ministério do Trabalho. Ele foi uma indicação do presidente do PDT, Carlos Lupi, que deixou a mesma pasta sob acusações de corrupção.

Pré-candidato do PSDB à Presidência da República, o senador Aécio Neves (MG) criticou o que chamou de inchaço da máquina federal e afirmou que a busca pela eficiência foi substituída pela "lógica da reeleição":

- Nas democracias, as reformas ministeriais costumam ter como objetivo corrigir rumos, melhorar a eficiência da administração e, quando possível, diminuir o peso da máquina pública. No governo da presidente Dilma ocorre o contrário. A máquina só faz inchar e a busca pela eficiência foi substituída pela lógica da reeleição. Ao que parece, a prioridade é garantir segundos a mais na propaganda eleitoral ao invés de fazer o governo funcionar. Quem paga a conta sempre são os brasileiros.

Presidente do PPS, o deputado Roberto Freire (SP) criticou a indicação do aliado de Lupi.

- É uma tentativa de manter o PDT na base. Para isso, ela teve que fazer acerto com aquele que tinha colocado para fora (Lupi), bancando a faxineira. Faxina coisa nenhuma - disse Freire.

- Essa reforma é uma coisa só: fixação de partidos em torno da candidatura dela. É meramente política. Quem esperava reforma técnica pode perder as esperanças. Nesses dois próximos anos, o governo não será para o Brasil, e sim voltado para a reeleição dela - disse o presidente do DEM, senador José Agripino (RN).

O senador tucano Álvaro Dias (PR) disparou:

- É loteamento evidente, sem preocupação com eficiência. É distribuição de cargos em busca de apoio. É a antirreforma.

As críticas não se resumiram à oposição. Da ala independente do PDT, o senador Cristovam Buarque (DF) não gostou da mudança:

- Por que Dilma muda ministro do PDT na véspera da convenção do PDT? Por que a direção do PDT aceita? Viramos puxadinho do Planalto!

O senador Pedro Taques (PDT-MT) ironizou:

- O ministro pode ser até certo. Mas o governo é errado.

O líder do governo na Câmara, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), defendeu as trocas e criticou a oposição:

- Quem só pensa em eleição é a oposição, porque tudo que ocorre eles falam que tem a ver com eleição. E, no caso do Aécio, ele devia era estar comemorando a entrada de um mineiro no ministério.

Fonte: O Globo

Líder do PMDB faz provocação, Eduardo ignora

Governador de Pernambuco disse que o líder do governo no Senado não merece resposta

Líder do governo no Senado considera legítimas Adins do Rio e Espírito Santo no Supremo sobre regras dos royalties

Maria Lima, Gustavo Uribe

BRASÍLIA e SÃO PAULO - Continua causando mal estar no governo a movimentação do presidente do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, junto ao empresariado nacional. Em palestras e reuniões com integrantes do setor, Campos tem feito duras críticas à política econômica da presidente Dilma Rousseff e elogiado medidas adotadas ainda no governo Fernando Henrique Cardoso. Os governistas também não gostaram da proposta, feita por Campos na reunião de governadores, para que buscassem um acordo para repor as perdas de Rio, São Paulo e Espírito Santo pela nova lei de distribuição dos royalties. Nesta sexta-feira, o líder do governo no Senado, Eduardo Braga, disse que o socialista tem de decidir se fala como governador, ou como candidato.

O líder do governo reagiu a declarações de Eduardo Campos, provável adversário de Dilma em 2014, em evento na Confederação Nacional do Comércio (CNC), no Rio de Janeiro. O governador de Pernambuco disse ser preciso unir os brasileiros para discutir como fazer a economia voltar a crescer em todos os setores. Aplaudido, Campos disse ainda aos empresários que o desafio é pensar o Brasil estrategicamente, já que 2011 foi pior que 2010, e o ano passado pior que 2011, lembrando que os Estados Unidos sofreram muito com a crise financeira iniciada em 2008 e cresceram mais do que o dobro que o Brasil no ano passado.

- Eu não sei se ele falou como governador ou como candidato, porque até pouco tempo atrás, ele como governador só tinha palavras de elogio, portanto, o que nós estamos diante é de uma situação do governador ou do candidato. Precisamos saber com quem vamos dialogar - alfinetou Eduardo Braga.

Em São Paulo, Eduardo Campos apenas declarou:

- Eu não vou responder ao Eduardo Braga. Ele não merece a minha resposta.

Sobre as ações impetradas nesta sexta-feira no Supremo Tribunal Federal (STF) pelos governos do Rio e Espírito Santo, o líder do governo disse ser legítimos os recursos.

- Acho que é um direito legítimo, da democracia. Quando o Congresso toma uma decisão política e algum ente entende que teve seus direitos prejudicados, busca o seu direito - observou Eduardo Braga.

O líder do PSDB no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (SP) também apoiou os recursos impetrados pelos estados prejudicados com a derrubada pelo Congresso Nacional do veto parcial da presidente Dilma Rousseff à lei dos royalties do petróleo.

- Se há razões constitucionais que moveram a presidente Dilma a formular o seu veto e essas razões foram desrespeitadas, elas têm de ser levadas à apreciação pelo Supremo - disse Aloysio Nunes.

Fonte: O Globo

Eduardo Campos diz que já conversou com Dilma sobre eleições de 2014

Governador de PE ressaltou que seu partido não decidiu sobre uma candidatura no ano que vem

Daiene Cardoso

SÃO PAULO - O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), revelou nesta sexta-feira, 15, que conversou com a presidente Dilma Rousseff há cerca de 15 dias sobre o destino dele e do PSB em 2014.

"Eu falei com a presidente Dilma e acho que é o suficiente falar com a presidente Dilma sobre o que o PSB acha sobre o futuro. Estou falando com quem deve liderar o processo", respondeu o governador, sem deixar claro se vai manter a aliança em torno da candidatura à reeleição da presidente ou se vai lançar seu nome para essa disputa.

Após almoço com empresários do Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV), em São Paulo, Campos disse que conversou com Dilma sobre as preocupações dele para 2013 e sobre os problemas causados pelas disputas eleitorais em 2012 entre PT e PSB. Ele ressaltou que seu partido, do qual é presidente, não decidiu sobre uma candidatura em 2014.

"Ela sabe que não é a hora do PSB decidir, porque o PSB vai decidir no seu tempo e, se fosse decidir hoje, ela sabe o que daria", afirmou o governador.

Campos disse que continuará mantendo uma relação de respeito com Dilma e que a sucessão presidencial só será discutida em 2014. "Para mim, vale a conversa que tive com a presidente Dilma. Quando eu tiver alguma coisa para dizer ao PT, ou à presidente Dilma, ou ao conjunto, eu vou lá falar efetivamente com quem eu devo falar. Não vou ficar falando no jornal", respondeu o pessebista.

O governador não quis comentar as críticas do senador Eduardo Braga (PMDB-AM), que hoje questionou se Campos, ao falar sobre a economia do País, se posicionava como governador ou como candidato. "Não vou responder a Eduardo Braga. Ele não merece minha resposta."

Fonte: O Estado de S. Paulo

Aécio diz que Dilma muda ministério por tempo de TV na eleição

SÃO PAULO - Virtual candidato à Presidência em 2014, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) divulgou uma nota para criticar a reforma ministerial oficializada pela presidente Dilma Rousseff nesta sexta-feira (15).

Segundo o tucano, a troca nos ministérios serve apenas para que a presidente garanta apoio dos partidos da base na eleição.

"Ao que parece, a prioridade é garantir alguns segundos a mais na propaganda eleitoral ao invés de fazer o governo funcionar. Quem paga a conta sempre são os brasileiros", afirma Aécio.

Segundo o senador, "nas democracias, as reformas ministeriais costumam ter como objetivo corrigir rumos, melhorar a eficiência da administração e, quando possível, ainda diminuir o peso da máquina pública. No governo da presidente Dilma ocorre o contrário. A máquina só faz inchar e a busca pela eficiência foi substituída pela lógica da reeleição".

A nota de Aécio foi divulgada minutos depois de a Presidência confirmar a saída de Mendes Ribeiro (Agricultura), Brizola Neto (Trabalho) e Wagner Bittencourt (Secretaria de Aviação Civil).

Para o Trabalho, vai o advogado Manoel Dias, secretário-geral do PDT, e para a Agricultura, o deputado federal Antônio Andrade (PMDB-MG).

Por ora, a Secretaria de Assuntos Estratégicos será ocupada interinamente pelo secretário-executivo Roger Leal. Isso porque o titular da pasta, Wellington Moreira Franco, assume a Secretaria de Aviação Civil.

A posse dos novos ministros será amanhã às 10h porque a presidente viaja à Itália para acompanhar a primeira missa do novo papa, que acontece na terça-feira (19).

Em comunicado, Dilma agradeceu "a dedicação, o empenho e os inestimáveis serviços prestados pelos ministros Mendes Ribeiro, Brizola Neto e Wagner Bittencourt em suas áreas" e desejou "bom trabalho" nas "importantes missões" dos novos ministros. Dilma disse ainda que continuará contando com o apoio e confiança dos três ministros que deixam a Esplanada.

Fonte: Folha de S. Paulo

Aécio diz que 'eficiência foi substituída pela lógica da reeleição'

Senador tucano critica a minirreforma ministerial de Dilma Rousseff

Adriana Mendes

BRASÍLIA – Logo após o anúncio da minirreforma ministerial, o senador Aécio Neves (PSDB), pré-candidato à presidência da República em 2014, criticou a mudança com objetivo de fortalecer os aliados da base do governo para a reeleição da presidente Dilma Rousseff. Em nota, Aécio diz que com a mudança “a busca pela eficiência foi substituída pela lógica da reeleição”.

O senador tucano sugere que a minirreforma no 1º escalão tem como prioridade “garantir alguns segundos a mais na propaganda eleitoral ao invés de fazer o governo funcionar”. Segundo ele, ao contrário de corrigir rumos e melhorar a administração pública, Dilma “só faz inchar” a máquina pública.

“Quem paga a conta sempre são os brasileiros”, finaliza o texto.

No início da noite foram confirmadas três mudanças: Antônio Andrade (PMDB-MG) no Ministério da Agricultura no lugar de Mendes Ribeiro; Wellington Moreira Franco (ex- Secretaria Assuntos Estratégicos) na Secretaria de Aviação Civil (SAC) em substituição a Wagner Bittencourt, e Manoel Dias no Ministério do Trabalho, na vaga de Brizola Neto. Na SAC assume o secretário executivo da pasta, Roger Stiefelmann Leal.

Leia a nota na íntegra:

“Nas democracias, as reformas ministeriais costumam ter como objetivo corrigir rumos, melhorar a eficiência da administração e, quando possível, ainda diminuir o peso da máquina pública. No governo da presidente Dilma ocorre o contrário. A máquina só faz inchar e a busca pela eficiência foi substituída pela lógica da reeleição. Ao que parece, a prioridade é garantir alguns segundos a mais na propaganda eleitoral ao invés de fazer o governo funcionar. Quem paga a conta sempre são os brasileiros”.


Fonte: O Globo

Para o Lula, “presidente emérito”, candidatura de Campos é reversível

Líder petista não vê espaço para duas opções de esquerda

Gustavo Uribe

SÃO PAULO - Os sinais dados pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos, de que disputará a sucessão presidencial em 2014 ainda não convenceram o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para quem o lançamento da candidatura do dirigente do PSB ainda pode ser revertido. Em conversas recentes, com petistas e aliados, o líder do PT avaliou que, no cenário atual, seria muito arriscado para o socialista entrar numa disputa eleitoral, uma vez que, segundo ele, não há espaço no campo da esquerda para mais uma candidatura presidencial.

Caso o socialista queira se viabilizar como candidato, Lula avalia que Campos terá de se aproximar da direita e, assim, abrir mão de bandeiras eleitorais do atual governo federal, como o combate à miséria e a ascensão da população à classe média. O líder do PT ainda considera cedo debater a sucessão ao Planalto com o dirigente do PSB, o que deve ser feito apenas no segundo semestre, quando pretende chamar o socialista para uma conversa em São Paulo, na qual irá alegar que o lançamento da candidatura do PSB poderá dividir e enfraquecer a esquerda.

Em encontro, no final do mês passado, Eduardo Campos informou à presidente Dilma Rousseff que o PSB decidirá pela candidatura própria apenas em 2014 e que, até lá, continuará na base aliada do governo federal. Nas últimas semanas, contudo, o dirigente do PSB tem mantido diálogos com PPS, PDT e PTB e se aproximado de setores do empresariado. Na quinta-feira, o socialista compareceu a jantar na residência do empresário Flávio Rocha, dono da rede de lojas Riachuelo, e, ontem, participou de almoço promovido pelo Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV), em um hotel de São Paulo.

No evento, o socialista afirmou que a presidente sabe que não é hora de o PSB decidir sobre 2014 e ressaltou que, no encontro que tiveram, Dilma deixou claro que o interesse do governo federal é manter uma relação de respeito com o partido neste ano. Segundo ele, quando houver uma decisão, informará à presidente ou ao dirigente nacional do PT, Rui Falcão.

- Ela sabe que não é a hora do PSB decidir. O PSB vai decidir no seu tempo. Ela deixou muito claro que o interesse é seguir com uma relação de respeito com o PSB durante todo o ano de 2013 e deixar 2014 para 2014. Para mim, vale a conversa que tive com ela. Se tiver alguma coisa para dizer ao PT, vou falar com quem efetivamente devo falar: com a presidente ou com o presidente nacional do PT - afirmou.

O dirigente do PSB disse que ainda não foi marcada uma conversa com Lula, mas que estará à disposição do petista e irá ao seu encontro caso ele queira discutir. Na quarta-feira, o ex-presidente iniciou viagem pela África e só retornará ao Brasil no final da semana quem vem.

- Eu fui ministro e sou amigo do ex-presidente, tenho um grande respeito por ele. Todas as vezes que ele precisar falar comigo, estarei à disposição e vou ao encontro dele - disse.

No almoço de ontem, segundo empresários presentes, o dirigente do PSB defendeu que o país precisa definir uma política de comércio exterior mais clara e que o governo federal deve priorizar alguns setores da economia para os quais tem maior vocação. Em sua exposição, ele elogiou o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e apresentou conquistas da sua gestão nas áreas social, educacional e de saúde, as quais, se for candidato, devem lhe servir como bandeiras eleitorais.

O Globo

Dá para fazer muito mais que Dilma, diz Eduardo Campos

Governo de Dilma não dará "passo adiante"

Mônica Bergamo

"Dá para fazer muito mais" que a presidente Dilma Rousseff. Com esse, digamos, slogan, o governador Eduardo Campos (PSB-PE), de Pernambuco, passou seu recado a um grupo de 60 empresários que se reuniram anteontem em SP, num jantar, para conhecê-lo melhor -e descobrir se ele é, mesmo, candidato à presidência. Boa parte saiu de lá com a certeza de que Campos vai, sim, se lançar contra Dilma em 2014.

O encontro foi na casa do empresário Flávio Rocha, da Riachuelo. E Campos soltou o verbo.

Começou dizendo que o Brasil teve grandes conquistas nas últimas décadas -e logo engatou crítica que a oposição sempre fez a Lula, a Dilma e ao PT: "O Brasil não começou ontem. Não começou com o partido A, B ou C".

Na sequência, engrossou o coro dos que dizem que as coisas no país vão bem -mas podem piorar. "Não há grande incômodo nas grandes massas. Não há na classe média esse sentimento, nem de forma generalizada no empresariado. Mas há, nesse instante, nas elites, grande preocupação com o futuro. Há o sentimento de que as coisas podem piorar."

Os "florais aplicados em todas as crises" não funcionaram desta vez, diz Campos. "E mais do que de repente começa uma série de medidas, em série, em relação a vários setores, sobretudo, no início, na área do petróleo", segue, referindo-se aos pacotes lançados por Dilma. "Há um sobressalto daqueles que foram atingidos e daqueles que não foram atingidos por medidas." Para ele, "se estabelece uma ansiedade total".

"E a tudo isso se somou a antecipação do debate eleitoral", segue o governador, referindo-se, sem citar o nome de Lula, ao fato de o ex-presidente ter lançado Dilma à sucessão presidencial. "Um debate maniqueísta, eu sou o bem, você é o mal."

Na sequência, Campos passa a criticar a campanha presidencial de 2010, quando Dilma Rousseff disputou com José Serra (PSDB-SP). "Nós tivemos uma campanha das mais pobres do ponto de vista do conteúdo. Acusação de lá, defesa de cá. Acusação de cá, defesa de lá. Sinceramente, não dá para respeitar como um debate à altura dos desafios do Brasil. E isso deixou as coisas desamarradas para o futuro."

"Um monte de político se junta e diz: 'Olha, a gente precisa ganhar a Presidência da República'. É como dizia o meu avô [Miguel Arraes]: na política, você encontra 90% dos políticos atrás de ser alguma coisa. Dificilmente eles sabem para que."

É chegada a hora, portanto, de debater. E é o que o governador está fazendo, ainda que desperte a ira de Lula, de Dilma e do PT -até então seus aliados. "Esse é o momento para que o Brasil aprenda a viver com diversidade. Fazer crítica não é ser contra, não é ser inimigo."

E crítica é o que não falta. "O estado que está aí, as políticas, as normas como são feitas, precisam evoluir."

"Dá para ser melhor. E não é uma ofensa para quem está aí você dizer que dá para ser melhor. Nós queremos mais. E que bom que queremos mais, né? Isso deveria desafiar as pessoas a fazer, a quebrar o velho costume e afirmar novos valores."

"Dá pra fazer muito mais", repete Campos. Para, então, disparar o torpedo: "E isso não vai ser feito se a gente não renovar a política. O pacto político que hoje está no centro do governo que eu defendo, que ajudei a eleger, a meu ver, não terá a condição de fazer esse passo adiante. Não vai fazer. As últimas eleições no parlamento brasileiro [em que Renan Calheiros foi eleito presidente do Senado com o apoio de Dilma e do PT] são uma indicação. É ficar de costas para tudo isso."

O governo, além de tudo, "às vezes não dialoga". A solução "é falar com o governo pela imprensa. Não quer me receber? Você pode tuitar. Eu, por exemplo, tive a oportunidade de dar a minha opinião sobre a Medida Provisória dos Portos pela imprensa, porque não tive a oportunidade de discutir [com Dilma] antes. Apesar de o meu estado ter o porto público mais eficiente do Brasil. Eu podia até ser convencido de que estava certo. Mas não custava nada ouvir a mim e a outros."

"Quanto mais popularidade o governo tiver, mais paciência e diálogo deve ter", afirma. "E popularidade vai e vem. Popularidade é uma coisa. Voto é outra coisa.

O ano, afirma ele, deveria ser o da construção de "convergências políticas". "E nós corremos um sério risco de botarmos 2013 fora."

"Enquanto o Brasil diz que tem o petróleo do pré-sal, importa gasolina. A Petrobras, que já foi 'case' de sucesso lá fora, tá cheia de problema. E aí? Vamos ficar discutindo a eleição que vai ter em 2014 ou o país? Porque daqui a pouco a gente não sabe nem o que vai encontrar em 2014, entendeu? Precisamos encontrar em 2014 um país em que seja possível fazer algo para ele melhorar. E, sinceramente, a gente não pode ficar pelos cantos, constrangido em fazer o debate."

Campos diz que a presidente Dilma conhece suas críticas. E mais: sabe também que seu partido, o PSB, o pressiona para se lançar candidato à presidência. "Quem disse a ela não foram terceiros, fui eu mesmo", afirma. "Ela sabe o que o meu partido pensa e sabe os sonhos que meu partido tem. Se esses sonhos vão ser realizados ou não, é outra coisa."

Ele então faz uma ressalva: "Só não vamos nos meter em aventura. E não vamos ajudar a destruir o que nós construímos. Nós queremos é seguir adiante, não é desmanchar as coisas boas que foram feitas. Nós queremos fazer mais coisas boas". Continuidade, mas com liderança renovada.

Campos finaliza a conversa da noite sem assumir que é candidato. "Não vamos entrar num debate eleitoral. Cada um tem seu relógio. Ninguém é obrigado a andar no fuso horário dos outros.

******

"Nós tivemos uma campanha [em 2010] das mais pobres do ponto de vista do conteúdo. Acusação de lá, defesa de cá. Acusação de cá, defesa de lá"

"Dá para ser melhor. E não é uma ofensa para quem tá aí você dizer que dá para ser melhor. Nós queremos mais"

"O pacto político que hoje está no centro do governo que eu defendo, que eu ajudei a eleger, a meu ver, não terá a condição de fazer esse passo adiante. Não vai fazer"

"O Brasil diz que tem o petróleo do pré-sal e importa gasolina. A Petrobras, que já foi 'case' de sucesso lá fora, tá cheia de problema"

"E aí? Vamos ficar discutindo a eleição presidencial que vai ter em 2014 ou o país? Porque daqui a pouco a gente não sabe nem o que vai encontrar em 2014, entendeu?"

"Esse é o momento para que o Brasil aprenda a viver com diversidade. Fazer crítica não é ser contra, não é ser inimigo"

Fonte: Folha de S. Paulo

IDH: devagar, devagarinho

O Brasil estacionou no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Depois de avanços significativos desde 1990, o país vem perdendo força nos últimos anos, prejudicado, principalmente, por maus resultados na educação e uma desigualdade de renda ainda dolorosa. O governo petista esperneou contra a constatação desta triste realidade. Melhor seria se agisse adequadamente para transformá-la.

Pelos resultados divulgados ontem pelo Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), o país manteve-se em 85° lugar, entre 187 nações, com IDH de 0,730. O índice é uma média geométrica que reflete expectativa de vida de 73,8 anos, 7,2 anos de estudo e renda per capita anual de US$ 10.152.

O nível de desenvolvimento do Brasil no ano passado é inferior ao que países como Noruega, EUA e Japão possuíam há 40 anos. Na edição anterior, divulgada em novembro de 2011, havíamos subido uma posição no ranking, ultrapassando São Vicente e Granadinas. Desta vez, nem isso: este notável produtor de bananas das Antilhas voltou a figurar na nossa frente, na 83ª colocação. Uma pena...

O Pnud fez questão de destacar que o Brasil tem tido desempenho positivo na melhoria da qualidade de vida de sua população na história recente. Mas o órgão da ONU deixou claro: este processo não é de agora, vem desde a década de 90. Talvez tenha sido isso o que mais tenha irritado os petistas.

Com base no levantamento da ONU, dá para ir ainda mais fundo na comparação entre períodos recentes. Entre 1990 e 2000, a taxa média de crescimento do IDH brasileiro foi de 1,26% ao ano. Foi o período de maior avanço desde que as Nações Unidas iniciaram o levantamento, em 1980. E o que acontece no intervalo posterior, já de predomínio dos governos petistas? Desde 2000, o ritmo caiu para 0,73% anual, ou praticamente à metade.

O relatório da ONU destaca políticas públicas que colaboraram para o avanço das condições de vida no país. Estão lá o Plano Real e o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental (Fundef), criado em 1996 na gestão Fernando Henrique. Ah, para completar o Pnud qualifica o Bolsa Família como "versão otimizada" do Bolsa Escola, outra realização tucana. Deve ter sido demais para a arrogância petista...

Infelizmente, os avanços que começaram lá atrás estão agora se dissipando, notadamente na educação. Entre os sul-americanos, nossa média de escolaridade (7,2 anos) só não é menor que a do Suriname. No ritmo de avanço atual, o Brasil demandará uma geração para atingir o nível educacional da Noruega (com 12,6 anos de estudos em média).

A situação brasileira também revela-se vergonhosa quando o quesito é a desigualdade de renda. Aí caímos para 97ª colocação do ranking. Entre os países classificados como de desenvolvimento humano elevado, só não nos saímos pior que a Colômbia. Quando se utiliza o índice de Gini (0,547), somos o 13° país mais desigual do mundo.

O ranking divulgado ontem também permite outras conclusões pouco abonadoras para o discurso oficial adotado pelo governo brasileiro na era Lula-Dilma. A ONU mostra que a melhora nas condições de vida e a ascensão social, com a emergência de novas camadas urbanas de classe média, é um fenômeno mundial. Nunca uma particularidade brasileira.

Constata-se, também, que países que já exibem IDHs bem mais avançados e que, naturalmente, deveriam estar evoluindo numa velocidade menor que a nossa continuam indo mais rápido que a gente, como são os casos de Argentina, Chile e Uruguai, para fixar-se apenas nos vizinhos. O hiato que nos separa dos chilenos no ranking, por exemplo, era de 28 posições dez anos atrás e agora é de 44.

"Efetivamente, a situação do Brasil no ranking do IDH piorou", afirmou a'O Globo o professor Flávio Comim, que já coordenou relatórios anteriores do IDH no Brasil. Segundo ele, o último ano em que o Brasil esteve bem no ranking foi 2005 (63° lugar).

O IDH é um ótimo espelho para o país se enxergar e dar-se conta dos desafios, imensos, que ainda precisa superar. As constatações decorrentes do relatório do Pnud deveriam ser recebidas com serenidade pelo governo brasileiro, como o são em qualquer parte do mundo. Mas, como suas incômodas conclusões conflitam com o Brasil virtual que os petistas propagandeiam, a gestão Dilma preferiu vilipendiar o relatório. Só falta dizer que a ONU é um aparelho tucano.

Fonte: Instituto Teotônio Vilela

A visão de Campos - Merval Pereira

Aquela que um dia pareceu ser chapa possível para a disputa da Presidência da República - Aécio Neves na cabeça e Eduardo Campos de vice - tornou-se combinação improvável para 2014, mais pelo crescimento do governador de Pernambuco, que hoje é alternativa real de contraponto à reeleição de Dilma Rousseff e não aceita ser vice nem mesmo na chapa oficial. Falta, porém, definir em que campo ele exercerá o papel de oposição.

Se não tem dificuldades em criticar o PT, Campos não se sente bem no papel de opositor de Dilma, e muito menos de Lula. Não será fácil, portanto, desenhar uma candidatura que não seja de oposição "a tudo isso que está aí", mas a pontos específicos. O governador de Pernambuco corre o risco de fazer uma campanha como a da ex-senadora Marina Silva em 2010, que em nenhum momento criticou a candidata do PT diretamente, embora tivesse divergências tão graves com ela que acabaram levando-a a deixar o governo.

Marina tinha a vantagem de ter uma bandeira clara, a da defesa do meio ambiente, que bastou para que tivesse cerca de 20% dos votos. Mas faltou-lhe "gosto de sangue na boca" para se opor ao PT. Campos tem a vantagem de não ser petista, como Marina sempre foi durante toda a sua vida política. Ao contrário, o neto de Arraes tem consigo lembranças de tentativas de golpe contra seu avô arquitetadas por José Dirceu, que queria tirar o PSB do grupo de Arraes com a ajuda de Garotinho, que chegou a disputar a Presidência da República pelo partido em 2002.

As divergências continuaram até hoje, quando o seu PSB disputou e derrotou candidatos petistas em vários estados, inclusive em Recife, mas eleições municipais. Realista, Eduardo Campos sabe que tem fragilidades partidárias diante dos principais adversários, Dilma e Aécio, e testa as chances de fazer alianças "que não precisem ser explicadas", mas que rendam tempo de TV, essa medida que se tornou fundamental para viabilizar qualquer candidatura. Nesse campo estão o PPS e o PDT. Até mesmo uma eventual aliança com o DEM, que estaria se sentindo desprestigiado pelo PSDB, é possível. Além da relação que tem com o PSD de Kassab, que na undécima hora ficou em cima do muro em relação ao governo Dilma, rejeitando uma vaga no Ministério atual. "Mas eu não quero todos os pês, não", diz Campos referindo-se a diversas siglas que estão se oferecendo para apoiá-lo.

Muitas, ele sabe, buscam se valorizar dentro da aliança governista, e por isso a cautela é redobrada nas primeiras aproximações. Não foi por acaso que a presidente Dilma voltou a pensar em dar o Ministério do Trabalho para o PDT de Carlos Lupi, que estava em campo conversando não apenas com Eduardo Campos, mas também com o senador Aécio Neves.

A falta de estrutura de apoio nos principais colégios eleitorais - Rio, São Paulo e Minas -, ele acredita que poderá ser resolvida pelos embates dentro do PSDB e também com a disputa entre PT e PMDB no Rio. Partindo do princípio de que a ala paulista dos tucanos, especialmente a que segue o ex-governador José Serra, jamais se conformará com a escolha de um mineiro como candidato a presidente, Campos acha que, qualquer que seja o resultado dessa disputa, um dos dois estados se abrirá para ele.

Mantido Aécio Neves como candidato, ele acredita que a dissidência tucana pode lhe render bons votos em São Paulo. Caso o senador Aécio Neves tenha que desistir da candidatura por divergências insanáveis, Campos acredita que poderá receber seu apoio em Minas. No Rio de Janeiro, o PSB tem boa relação com o senador Lindbergh Farias - que acompanhou a apuração da eleição municipal na casa de Alexandre Cardoso, eleito prefeito de Caxias pelo PSB - e deve tê-lo como candidato, caso o PT seja obrigado a aceitar a candidatura do vice-governador Pezão (PMDB), como quer o governador Sérgio Cabral.

Caso os dois partidos tenham candidatos próprios, Campos considera que é possível aproveitar essa situação desconfortável para receber o apoio do grupo do PMDB do Rio. E é aí que entra a proposta de acordo sobre os royalties do petróleo. O problema para Campos é que o senador Aécio Neves tem os mesmos alvos e uma estrutura partidária mais forte.

(Amanhã, "Os trunfos do PSDB")

Fonte: O Globo

Gestão, política e eleição - Fernando Rodrigues

O Brasil está desde janeiro de 1995 com um sistema de governo e político mais ou menos estável. Houve eleições diretas para presidente. FHC e Lula ficaram oito anos cada um. Agora, Dilma Rousseff comanda.

Para o Brasil é uma eternidade, mas, em termos históricos, 18 anos é um período curto quando se trata de construir uma nação. Por essa razão, é compreensível que em um setor tenha havido pouca evolução até agora: a gestão política dos governos.

Ao assumir em 1995, FHC abraçou com paixão o modelo fisiológico franciscano do "é dando que se recebe". O país estava saindo da hiperinflação. O Estado estava em frangalhos. Ou o tucano aceitava compor com o centro conservador ou sairia pelo ralo como outros tantos.

Oito anos depois veio Lula, em 2003. Agentes financeiros espalharam pânico pelo mercado. A expectativa de inflação disparou. O filme se repetiu: ou Lula colocava no colo parte da "vanguarda do atraso" usada por FHC ou também poderia fracassar. Era a velha lógica leninista de tentar dar um passo atrás e depois dois à frente.

Em 2011, outro percalço. Chegou ao poder Dilma Rousseff. Ela nunca tinha disputado uma eleição. Muito menos era graduada nas negociações políticas federais para tocar uma administração com mais de meio milhão de servidores.

Depois de um início sinalizando faxina e austeridade, Dilma sucumbiu aos de sempre. Aumentou o número de ministérios. Agora são 39, e ainda não comportam o apetite de todos os partidos governistas.

Jorge Gerdau, empresário de sucesso e colaborador voluntário do governo, disse que a "burrice" de aumentar o número de ministros está perto do limite. Pode ser mais desejo do que realidade.

A lógica eleitoral por trás da reforma ministerial em curso indica que ainda vai demorar para o Brasil sofisticar a sua gestão política.

Fonte: Folha de S. Paulo

O lugar do Brasil no mundo – Editorial / O Estado de S. Paulo

O governo não gostou de ver o Brasil marcando passo em 2012 no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU, que mede a qualidade de vida no mundo conforme a saúde, a educação e a renda das populações dos 187 países que dispõem de informações a respeito. Apesar de um ligeiro avanço na pontuação, de 0,728 para 0,730 numa escala que vai de 0 a 1, o Brasil foi mantido no 85.º lugar de 2011. O ranking é liderado pela Noruega, com 0,955 pontos. O Níger, com 0,304, fecha a raia. O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, e a sua colega do Desenvolvimento Social, Tereza Campello, consideraram "incorretos" os números e "injusta" a avaliação.

Isso porque o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), responsável pela construção do IDH, ano a ano, usou dados de 2005 para a educação no País. Deixou de contabilizar, assim, cerca de 4,6 milhões de novas matrículas na pré-escola e nas classes de alfabetização. A omissão, por sua vez, excluiu do cômputo avanços recentes na taxa média de escolarização dos brasileiros, medida pelo IBGE, e na tendência desse indicador. O Pnud admite o problema. Alega que se limitou a usar números superados, no caso do Brasil e eventualmente de outros países, para poder comparar o seu desempenho em anos iguais. A metodologia é discutível.

Nas tabelas que comparam os países por variáveis econômicas, como nível de emprego, taxas de inflação e nível de investimentos, os organismos internacionais que as produzem trabalham sempre com os últimos dados disponíveis e assinalam com asteriscos os países cujos números estão atrasados. Além do mais, o desenvolvimento de um país também deve ser julgado pela sua capacidade de produzir estatísticas nacionais sistemáticas, confiáveis e atualizadas. Um país não deveria ser prejudicado pelo atraso alheio. Mas o próprio Pnud fez uma simulação reveladora. Se, no quesito educação, tivesse utilizado os números de que o governo sente falta, a diferença não seria da água para o vinho.

O IDH do Brasil passaria de 0,730 para 0,754 e o País avançaria 16 casas, saindo da 85.ª posição, ao lado da Jamaica, para a 69.ª, emparelhando com o Casaquistão e ainda no segundo pelotão do ranking, o das nações de alto, mas não muito alto, IDH. Nessa primeira liga de 47 países, a América Latina está representada pelo Chile (em 40.º lugar com o índice 0,819) e pela Argentina (em 45.º com 0,811). Pior ainda para os brios de Brasília, mesmo se o País estivesse no lugar que o governo consideraria correto e justo, continuaria atrás, de baixo para cima, de Trinidad e Tobago, Antígua e Barbuda, Granada, Costa Rica, México, Panamá, Cuba e Uruguai. Para não falar da Rússia, o único dos Brics à nossa frente. (A China está em 101.º lugar; a África do Sul, em 121.º; e a Índia, em 136.º.)

Já dizia o prussiano Bismarck que os números são como as baionetas. Pode-se fazer tudo com eles, menos sentar em cima. Os do IDH tanto podem servir para comprovar, ainda uma vez, que a caminhada do Brasil seria outra sem as botas de chumbo do passado - o "passivo histórico", dizem os técnicos do Pnud - como para ressaltar as distâncias já percorridas ainda assim. A crônica desigualdade social é decisiva para o Brasil ainda ter um IDH abaixo da média na região. Em contrapartida, a contar de 1990, quando o índice começou a ser calculado, o País subiu 24 pontos porcentuais no ranking mundial da ONU. É uma das 15 nações que mais rapidamente conseguiram reduzir o seu "déficit" - a diferença entre o índice apurado e a meta ideal de IDH.

Devido aos ganhos relativos alcançados em matéria de expectativa de vida da população, matrículas escolares e renda per capita, o Brasil foi citado nada menos de 137 vezes na atual edição do Relatório de Desenvolvimento Humano, intitulado A Ascensão do Sul - progresso humano em um mundo diverso. O documento assinala que, graças a modelos que combinam "Estado desenvolvimentista proativo, aproveitamento dos mercados mundiais e inovações em políticas sociais", nunca antes as condições de vida e as perspectivas de futuro nos países emergentes mudaram tanto e tão depressa. Nos últimos 12 anos, o seu IDH cresceu quase o dobro da média mundial.

Números incômodos – Editorial / Folha de S. Paulo

Governo brasileiro pode se abespinhar com defasagem da metodologia do IDH, mas faria melhor em recuperar o ímpeto para as reformas

A divulgação de listas classificatórias e comparações internacionais sempre causa controvérsias. A necessidade de simplificar para cotejar impõe limitações a qualquer metodologia. Não poderia ser diferente com o Índice de Desenvolvimento Humano, da ONU.

Até por seu impacto político, o indicador é escrutinado com lupa pelos governos de turno.

O número procura sintetizar a evolução de cada país com base em três dimensões essenciais: acesso à educação (média atual de anos de escolaridade da população e expectativa de escolarização para novos alunos), expectativa de vida e renda nacional per capita.

O IDH brasileiro ficou em 0,730 (o máximo é 1), nota que deixa o país na 85ª posição (entre 187 nações), mas ainda no grupo com elevado desenvolvimento humano. Na comparação com os Brics, o país só perde para a Rússia -nada surpreendente, diante da renda per capita baixa de Índia e China.

O quadro é menos alentador quando se verifica que o IDH médio da América Latina (0,741) é superior ao brasileiro. Chile e Argentina, por exemplo, ocupam a 40ª e a 45ª posições, respectivamente.

Cabe a ressalva de que a ONU usou dados brasileiros de 2010 e que informações mais atualizadas colocariam o país em situação melhor. Ainda assim, a evolução dos últimos anos deixa a desejar. Após período de crescimento rápido entre 2005 e 2010, o ritmo caiu no último biênio, em especial por causa do baixo crescimento econômico.

Fora da comparação numérica -sempre útil, mas incapaz de capturar nuances-, o ponto de maior interesse está na discussão dos principais elementos que impulsionam o bem-estar humano. O relatório elenca ao menos três: Estado engajado na meta do desenvolvimento, integração nos mercados mundiais e avanço continuado das políticas sociais.

Quanto ao papel do Estado, a questão de fundo é mobilizar a sociedade para o desenvolvimento por meio de reformas econômicas e institucionais. Nesse quesito, o Brasil falha. O ímpeto reformista perdeu força nos anos de bonança externa, quando o governo se limitou a surfar a onda.

O país também patina na integração global, pois segue fechado e cada vez mais à margem das cadeias produtivas de ponta e do comércio internacional de alto valor, com a crescente parcela de produtos primários nas suas exportações. Sem essa integração, é difícil incorporar tecnologia e aumentar a produtividade nacional.

Por fim, nas políticas sociais, a despeito dos bons resultados dos últimos anos, o futuro demanda uma nova visão. As transferências de renda dão sinais de que não terão o mesmo impacto do passado, até por efeito de limitações orçamentárias. Doravante, educação e saúde é que farão a diferença.

IDH e os limites do Bolsa Família – Editorial / O Globo

O ranking de 2012 do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) levou o Brasil a contestar sua posição. Em vez do 85º lugar, entre 187 países, o governo reivindica o 69º, pois o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), responsável pelo IDH, não usou nos cálculos estatísticas atualizadas. Do ponto de vista formal, o Planalto tem forte argumento, pois, de fato, se forem utilizados os números mais recentes sobre a extensão da vida escolar e matrículas no pré-escolar, o IDH brasileiro sobe de 0,730 para 0,754.

Mas, na prática, isso de nada adianta, além de inspirar marqueteiros colocados de plantão devido à antecipação da campanha eleitoral de 2014. Para ter validade efetiva a subida no ranking, todos os demais índices teriam de ser calculados sob os mesmos critérios de aferição.

A questão, portanto, é desimportante. Interessa é observar a evolução do índice no longo prazo. E, desde 1980, o IDH do país ostenta um avanço consistente. De 90 em diante, inclusive, o Brasil é um dos 15 com melhor evolução.

Mas, de 2010 em diante, o IDH revela alguma estabilidade. É preciso entender as causas. Os processos de melhoria costumam, em geral, ser mais lentos à medida que progridem. Há, também, limitações objetivas para programas sociais; a principal delas, a disponibilidade de recursos.

Existe, ainda, a possibilidade de os programas conseguirem cobrir toda a população a que se propõem atender. O Bolsa Família, por exemplo, parece ter chegado a um limite: cerca de 14 milhões de famílias, para as quais, este ano, serão canalizados R$ 24 bilhões. Sempre é possível, a depender da disponibilidade fiscal, destinar mais dinheiro ao BF. Mas, a não ser que se mudem parâmetros de abrangência do programa, há no Ministério de Desenvolvimento Social a percepção de que o Bolsa Família atingiu um patamar e deverá estacionar nele.

A estabilização do IDH reforça a tese de que a hora, mais do que nunca, é de investimentos na Educação e qualificação da mão de obra. Este é o caminho para um país cujos gastos sociais são enormes (algo como R$ 60 bilhões anuais, um dos mais pesados itens do Orçamento) e que acumula sérias carências de investimentos públicos em infraestrutura.

O BF, ao contrário do seu início, tem levado a sério a questão das contrapartidas ao benefício, principalmente na educação de crianças e jovens (já são 16 milhões de matriculados). Cresce, também, o treinamento para a qualificação de adultos: são 316,3 mil matriculados no Sistema S (Senai), e será, se a meta for atingida, um milhão no ano que vem. Começam, afinal, a ser abertas as "portas de saída" para bolsistas viverem exclusivamente da renda do próprio trabalho.

Os sinais de esgotamento do assistencialismo empurram os governos para qualificar a população. Se isso for levado a sério, o país mudará de patamar de desenvolvimento, social ou sob qualquer outro critério.

IDH: ainda estamos mal – Editorial / Estado de Minas

País melhora, mas ainda é só o 85º do mundo

A divulgação do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) tem duas vantagens. De um lado, apresenta o estado de bem-estar da população não só em relação aos avanços internos, mas também em comparação com os indicadores das 187 nações que participam da pesquisa. De outro, constitui importante parâmetro para avaliar as políticas adotadas nos setores considerados — renda, educação e saúde.

Anunciado esta semana pela ONU, o IDH informa que mantemos, há seis anos, a 85ª posição no ranking, mas progredimos em vários índices. Em escala que vai de 0 a 1, o país alcançou 0,728. Ao tomar conhecimento da classificação, o governo protestou. Alegou defasagem de dados da análise. Usadas as estatísticas mais recentes, o IDH nacional chegaria a 0,74. A ONU afirmou tratar-se de exigências da metodologia, que impõe isonomia dos países pesquisados.

O indicador brasileiro, porém, registrou melhoras: passou de 0,728 em 2011 para 0,73 em 2012. De 1990 até hoje, saltou 24% — de 0,59 para 0,728. Há que aplaudir os passos à frente. Mas impõe-se lembrar que não caminhamos sozinhos. O mundo também avança. Nenhum país em 2012 teve o IDH menor que o de 2000. Vivemos num planeta melhor, menos injusto, mas com desigualdades que precisam ser reduzidas.

Para diminuir o hiato que separa o Brasil da Noruega, 1ª colocada no ranking do bem-estar com média de 0,955, necessitamos de mais, muito mais. Necessitamos de mais também se quisermos nos aproximar de vizinhos latino-americanos. Chile, Argentina e Uruguai, para citar três exemplos, estão bem na dianteira. A média da escolaridade responde por parcela do nosso atraso. Vale a comparação: 7,2 anos no Brasil, 9,35 anos na Argentina.

A falta de excelência da educação constitui o calcanhar de aquiles nacional. Em consequência, amargamos atraso na inovação, que compromete a competitividade da indústria e dos serviços. Na lista de produtividade dos países latino-americanos elaborada pela agência norte-americana de pesquisa Conference Board, o Brasil aparece em 15º lugar — à frente apenas da Bolívia e do Equador.

Vale lembrar que subdesenvolvimento não se improvisa. Cultiva-se ao longo dos anos. Entre 2005 e 2010, o Brasil investiu 1,1% do PIB em tecnologia. É pouco. Os Estados Unidos aplicaram 2,8%. A China, 1,5%. O resultado não poderia ser outro. Brasília tem 695,7 pesquisadores por milhão de habitantes. Washington, 4.674. Pequim, 1.198. O recado é claro: acumular e distribuir riqueza exige algo mais que palavras.

Avanço lento – Editorial / Zero Hora (RS)

A divulgação do novo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) está suscitando controvérsias no país. Enquanto integrantes de partidos de oposição se aproveitam da estagnação do Brasil na 85ª posição entre os países analisados no ranking das Nações Unidas (ONU), o governo alega que os dados usados na medição estão defasados. 

A ressalva procede pelo menos sob o ponto de vista dos indicadores relativos à educação, mas também é verdade que os avanços constatados estão em descompasso com os obtidos por nações integrantes do chamado Brics – do qual fazem parte, além do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – e até mesmo de países sul-americanos.

Mesmo contestado por fontes oficiais brasileiras, o próprio levantamento chama a atenção para o fato de o país estar incluído num grupo de 15 que mais avançaram no IDH desde 1990. Os avanços levados em conta, no caso, são os relacionados a educação, longevidade e renda.

O relatório ressalta os esforços brasileiros na área social, que contribuíram para retirar contingentes expressivos da condição de miséria. Ainda assim, países historicamente à frente do Brasil, incluindo vizinhos como Argentina, Uruguai e Chile, continuam avançando num ritmo maior. E, embora o Pnud reconheça o uso de dados defasados e admita uma melhora relativa do país caso fossem atualizados, o fato é que os avanços no âmbito da renda per capita foram modestos. Ao mesmo tempo, os da área de educação e saúde também ficaram distantes dos esperados. A taxa de escolaridade, por exemplo, continua baixa, enquanto a expectativa de vida segue longe da registrada em países incluídos no grupo dos mais desenvolvidos.

Simultaneamente ao combate à miséria, o Brasil precisa apostar na qualificação do ensino e na melhoria do atendimento na área de saúde pública, garantindo mais anos de estudo e maior expectativa de vida ao nascer. São conquistas que não são obtidas de um momento para outro, nem numa única administração, e que, por isso, precisam ser perseguidas com obstinação e de forma planejada.

Intervencionismo - Celso Ming

O governo Dilma acordou para a enorme necessidade de ampliação do investimento. Mas vai esbarrando na relutância dos empresários em se atirar à empreitada e em mobilizar seu espírito animal.

Eles elogiam a nova música que vai sendo entoada em Brasília, garantem que vão executar a partitura e, no entanto, ficam à espera de melhores condições.

As razões reconhecidas dessa falta de entusiasmo são duas: (1) a falta de retorno compensador para os negócios, dadas as condições da economia; e (2) o excessivo intervencionismo do governo na iniciativa privada, que subverte marcos regulatórios e cria a insegurança.

As queixas sobre o ativismo excessivo têm dois níveis. O primeiro deles tem a ver com os fundamentos macroeconômicos. E o segundo, com o forte protagonismo do governo federal nos negócios.

Sobre o primeiro nível, o que se pode dizer é que a segurança dos investimentos é dada, em larga medida, por uma boa administração das finanças públicas (marco fiscal); por estabilidade nas regras do câmbio; e por um rígido controle da inflação - algo que depende de clareza na condução da política monetária (política de juros).

Sobre a estabilidade desses três pilares vêm pairando dúvidas crescentes e um progressivo desarranjo geral da economia. A todo momento, o governo vem se sentindo obrigado a negar que haja problemas com o câmbio flutuante, com o cumprimento das metas do superávit primário (sobra de arrecadação para pagamento da dívida) e com a observância das metas de inflação. No entanto, uma hora o governo puxa as cotações do câmbio para o alto com o objetivo de dar mais competitividade à indústria. E, logo em seguida, as derruba para ajudar a combater a inflação. Os compromissos fiscais têm sido atropelados com manobras contábeis esquisitas, como aconteceu em 2012. E o Banco Central se comporta como se uma meta de juros fosse mais importante do que a meta de inflação e já não consegue ancorar as expectativas. Em outras palavras, o governo federal vem mexendo de tal forma nos fundamentos da economia que deixa sérias dúvidas sobre a consistência da política econômica.

O outro nível de intervencionismo que suscita retração do investidor são as iniciativas temporárias e arbitrárias de distribuição de favores tributários e de créditos de longo prazo - aquilo que esta Coluna outras vezes chamou de "política do puxadinho". Ora favorecem alguns setores, como a indústria de veículos e de aparelhos domésticos; ora empresas eleitas previamente para se transformar em futuras vencedoras à custa das demais.

São decisões como essas que deixam muito flácidas as regras do jogo e que criam insegurança ou porque podem ser retiradas a qualquer momento e, assim, deixar o investidor "com a brocha na mão"; ou porque são discricionárias e permitem que alguns se tornem artificialmente mais competitivos do que os outros.

O diabo é que os dois níveis de intervenção na economia sempre se compõem para criar instabilidade e mais insegurança. Assim, fica difícil calcular retorno e riscos de um negócio e a tendência dos investidores ou é de alguma maneira compensar-se pelo aumento do risco - o que implica aumento de custos para a economia - ou simplesmente adiar os investimentos.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Esperança equilibrista - Míriam Leitão

O Brasil se move lento demais. O ritmo aflige quem sonha, há muito tempo, com um país mais civilizado. Ontem, 37 anos depois, foi finalmente entregue a certidão de óbito de Vladimir Herzog sem a mentira imposta pelos militares. Hora da morte não se sabe, mas agora está lá o local, II Exército, e a causa, "lesões e maus tratos". Por que o Brasil precisou esperar tanto?

Muita gente fez a coisa certa para que o momento de ontem chegasse, mas ninguém fez mais que Clarice. Com 34 anos, viúva, dois filhos, decidiu enfrentar o regime nos terríveis anos 70. Conseguiu em 1978 que a União fosse responsabilizada, numa sentença inédita dada pelo corajoso e jovem juiz Márcio de Moraes.

"Obrigado mãe pelos seus valores e princípios inegociáveis" e "por ter cuidado tão bem de todos nós em momentos tão difíceis da sua vida", disse Ivo para a mãe, Clarice. A música de Aldir Blanc e João Bosco, cantada por Elis, dizia: "Choram marias e clarices no solo do Brasil". Era dela que se falava.

Hoje, o Instituto Vladimir Herzog, sob o comando de Ivo, tem belos planos para o Brasil na defesa de direitos humanos, no resgate da história e na proteção dos jornalistas.

Uma névoa ainda encobre os fatos que levaram à morte do jornalista naquele 25 de outubro de 1975. Uma campanha contra o jornalismo da TV Cultura começou um pouco antes de Vladimir ser preso. Uma das vozes era do deputado José Maria Marin. Em aparte ao deputado Wadih Helu, num discurso contra os jornalistas, Marin pediu: "É preciso mais do que nunca uma providência para que a tranquilidade volte a reinar nos lares paulistanos."

O lar dos Herzog foi, duas semanas depois, atingido pela prisão e morte de Vladimir. Agora, tudo o que há é uma certidão de óbito com a verdadeira causa da morte. E José Maria Marin é presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).

Esta semana, Marin usou o site da CBF para se defender. Disse que lembrar esses fatos é uma tentativa de conturbar "as atividades do futebol brasileiro". O Futebol não é Marin. Ele devia responder por seus atos fora da CBF. É um espanto como o Brasil é arcaico às vezes.

Há muito o que ser louvado nos esforços da Comissão da Verdade e nas reportagens que têm iluminado parte desse tempo obscuro. Mas, tudo somado, é pouco, e o ritmo, muito lento.

A Fortaleza de São João é um prédio lindo, construído em 1565, na fundação da cidade do Rio de Janeiro. Fica no sopé do Pão de Açúcar. Fui lá esta semana entrevistar a almirante Dalva, a primeira oficial general do Brasil. Ela entrou na Marinha e logo depois engravidou. Nem ela esperava e muito menos a Marinha:

- Foi uma surpresa para todos e a gente não sabia como lidar. E outras três apareceram grávidas.

A Marinha adaptou o uniforme fazendo batas de grávidas e as quatro se formaram exibindo orgulhosamente suas barrigas. Até um berçário para que elas amamentassem foi providenciado. Mas a Força não permite até hoje que mulheres entrem para o coração da carreira, que passa pela Escola Naval e leva ao comando.

Quando ela ingressou, em abril 1981, o pior da ditadura havia passado, mas se recusava a ir embora. Tanto que dias depois houve o atentado do Riocentro.

Perguntei sobre a Comissão da Verdade, um assunto que os militares enfrentam com desconforto. Ela falou:

- A Marinha é legalista e cumprirá a lei e a vontade da nossa comandante em chefe. Eu, pessoalmente, sou a favor de que as verdades sejam sempre ditas.

Os avanços acontecem no Brasil, mas muito devagar. Ontem, um pedaço da verdade foi dita. Mas muito está encoberto. A esperança ainda tem que se equilibrar.

Fonte: O Globo

Copacabana – Vinicius de Moraes

Esta é Copacabana, ampla laguna
Curva e horizonte, arco de amor vibrando
Suas flechas de luz contra o infinito.
Aqui meus olhos desnudaram estrelas
Aqui meus braços discursaram à lua
Desabrochavam feras dos meus passos
Nas florestas de dor que percorriam.
Copacabana, praia de memórias!
Quantos êxtases, quantas madrugadas
Em teu colo marítimo!

- Esta é a areia

Que eu tanto enlameei com minhas lágrimas
- Aquele é o bar maldito. Podes ver
Naquele escuro ali? É um obelisco
De treva - cone erguido pela noite
Para marcar por toda a eternidade
O lugar onde o poeta foi perjuro.
Ali tombei, ali beijei-te ansiado
Como se a vida fosse terminar
Naquele louco embate. Ali cantei
À lua branca, cheio de bebida
Ali menti, ali me ciliciei
Para gozo da aurora pervertida.

Sobre o banco de pedra que ali tens
Nasceu uma canção. Ali fui mártir
Fui réprobo, fui bárbaro, fui santo
Aqui encontrarás minhas pegadas
E pedaços de mim por cada canto.
Numa gota de sangue numa pedra
Ali estou eu. Num grito de socorro
Entreouvido na noite, ali estou eu.
No eco longínquo e áspero do morro
Ali estou eu. Vês tu essa estrutura
De apartamento como uma colmeia
Gigantesca? em muitos penetrei
Tendo a guiar-me apenas o perfume
De um sexo de mulher a palpitar
Como uma flor carnívora na treva.
Copacabana! ah, cidadela forte
Desta minha paixão! a velha lua
Ficava de seu nicho me assistindo
Beber, e eu muita vez a vi luzindo
No meu copo de uísque, branca e pura
A destilar tristeza e poesia.
Copacabana! réstia de edifícios
Cujos nomes dão nome ao sentimento!
Foi no Leme que vi nascer o vento
Certa manhã, na praia. Uma mulher
Toda de negro no horizonte extremo
Entre muitos fantasmas me esperava:
A moça dos antúrios, deslembrada
A senhora dos círios, cuja alcova
O piscar do farol iluminava
Como a marcar o pulso da paixão
Morrendo intermitentemente. E ainda
Existe em algum lugar um gesto alto,
Um brilhar de punhal, um riso acústico
Que não morreu. Ou certa porta aberta
Para a infelicidade: inesquecível
Frincha de luz a separar-me apenas
Do irremediável. Ou o abismo aberto
Embaixo, elástico, e o meu ser disperso
No espaço em torno, e o vento me chamando
Me convidando a voar... (Ah, muitas mortes
Morri entre essas máquinas erguidas
Contra o Tempo!) Ou também o desespero
De andar como um metrônomo para cá
E para lá, marcando o passo do impossível
À espera do segredo, do milagre
Da poesia.

Tu, Copacabana,
Mais que nenhuma outra foste a arena
Onde o poeta lutou contra o invisível
E onde encontrou enfim sua poesia
Talvez pequena, mas suficiente
Para justificar uma existência
Que sem ela seria incompreensível.

Los Angeles, 1948.