segunda-feira, 18 de março de 2013

OPINIÃO DO DIA – Miro Teixeira: mudança de ministros

Uma linha tênue separa a necessidade da troca de ministros da cooptação eleitoral. E o pior é o silêncio cúmplice da maioria.

Miro Teixeira, deputado federal (PDT-RJ) Folha de S. Paulo, 18/3/2013.

Manchetes de alguns dos principais jornais do país

O GLOBO
Sem royalties, Rio bate no teto do endividamento
Enem nota mil: Sem ‘enchergar’ erros de redação
Greve paralisa obras no Porto
Campos volta a alfinetar Dilma

FOLHA DE S. PAULO
Promessas de Haddad já
somam R$ 13,9 bilhões
COC vendeu R$ 14 milhões a secretaria na gestão Chalita
Fundos reduzem aplicação para atrair iniciantes
Europa teme que corrida a bancos no
Chipre se espalhe para outros países

O ESTADO DE S. PAULO
Brasil resiste a exigências dos EUA e fim de vistos atrasa
No Congresso, evangélicos miram comissão
Indústria deve investir menos
No Angelus, papa fala em perdão e vai aos fiéis

VALOR ECONÔMICO
Só Brasil perde na Argentina entre maiores exportadores
BB e Caixa unem centro de dados
Em dez anos, renda dos que têm ensino superior cresceu só 0,7%

BRASIL ECONÔMICO
Economia brasileira ganha fôlego e já está crescendo a 4% ao ano
Telefonia celular ainda espera para investir R$ 1 bilhão
“Nova regra de solvência nos seguros vai provocar fusões”

CORREIO BRAZILIENSE
Papa desperta a fé de jovens católicos
Brasil tenta estancar lavagem de dinheiro
Máfia do sexo mata 20 brasileiras por ano

ESTADO DE MINAS
Falta de leitos é 'doença crônica'
Royalties: divisão igualitária é defendida pela OAB
Boates abrem portas mesmo sem alvará
Empresas de MG apreensivas com o futuro da Venezuela

O TEMPO (MG)
União do PT fica só no discurso
Campos dá tempo a Lacerda, e prefeito resiste à candidatura
Papa prega perdão em 1ª oração

GAZETA DO POVO (PR)
Está mais fácil e rápido encontrar um novo emprego
No 1.º Angelus, papa fala sobre o perdão
Brasil paga salário de até R$ 85 mil a adido militar
Ficinski lamenta a política para a tarifa de ônibus
Medicina também pode combater a corrupção

ZERO HORA (RS)
Crédito e incentivo turbinam política industrial do Piratini
Obama do Vaticano: Benefícios e riscos da popularidade do papa

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Eduardo em estilo "morde e assopra"
Jogo de vôlei na areia quente
Na sua primeira oração do Angelus, papa fala do perdão

Campos volta a alfinetar Dilma

Um dia depois de a presidente Dilma defender a coalizão, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, pregou a "renovação" e criticou "velhas políticas que incomodam a sociedade”.

Eduardo Campos defende renovação política

Governador de Pernambuco repudia "velho pacto", e ex-ministra Marina Silva ataca o "poder pelo poder"

Letícia Lins, Cristina Tardáguila

RECIFE e RIO - Um dia depois de a presidente Dilma Rousseff defender a coalizão de partidos como meio de garantir a governabilidade do país, Eduardo Campos (PSB), atual governador de Pernambuco, disse que os velhos pactos políticos já não servem para promover mudanças e que o Brasil precisa mesmo é de "renovação". O partido de Campos faz parte da base de sustentação do governo.

Apesar de negar a posição de pré-candidato à Presidência da República em 2014, Campos aproveitou a manhã de ontem, na Praia de Boa Viagem, em Recife, para testar a popularidade. Posou para fotos e abraçou simpatizantes, ao lançar o programa Praia sem Barreiras, que pretende viabilizar o acesso de cadeirantes à areia e ao mar. No evento, aproveitou para criticar o modelo tributário brasileiro, classificado por ele como um dos piores da América Latina e, mais uma vez, repetiu a frase que vem usando em seminários e em entrevistas: a de que é possível fazer "muito mais" pelo país.

Campos evitou, no entanto, comentar diretamente as críticas feitas na sexta-feira pelo senador Aécio Neves (PSDB-MG), que acusou a presidente Dilma de privilegiar interesses eleitorais na reforma ministerial. Sem citar nomes, afirmou, entretanto, que não será o "velho pacto político" o responsável pelas mudanças de que o país precisa.

- A meu ver, o pacto político que vai ser capaz de fazer as mudanças continuarem, se acelerarem, não será conservador, com as velhas políticas, nem com aquilo que incomoda a sociedade brasileira - alfinetou.

Campos disse ainda que o debate sobre 2014 deverá ser feito em 2014 e que vai exigir tanto um diagnóstico sobre a situação econômica e política como "sobre os sinais que são dados pela sociedade".

- A própria eleição da primeira mulher para a Presidência e as eleições municipais em 2012, com uma série de jovens talentos, demonstram esse desejo de renovação. Eu já sinto os sinais do processo de renovação, vi isso aqui em Pernambuco, fiz parte desse processo - destacou ele. - Infelizmente o debate eleitoral parece ter sido antecipado e, aí, tudo que eu disser vai ter sempre alguém que vai puxar para a questão eleitoral. É um direito de quem puxa, assim como é um direito meu continuar discutindo o futuro do Brasil.

Campos contou que se reuniu com empresários em São Paulo e que não gostou da descrença que encontrou no futuro do país:

- Vi uma dose grande de pessimismo. Eu disse que sou otimista, que nos últimos anos se fez muito. Mas também disse que pode ser feito mais. No dia em que a gente achar que não pode fazer mais, a gente se entrega às circunstâncias, às desigualdades que estão aí, às deficiências que ainda existem e que são muitas. Precisamos fazer mais, sim. Até porque tivemos dois anos muito duros para o Brasil.

O governador voltou a cobrar a reforma tributária. Ressaltou que o modelo atual é um dos piores da América Latina e criticou as desonerações adotadas para movimentar a economia.

- Estamos fazendo desonerações tributárias muito pontuais. Mas acho que os efeitos dessas desonerações já demonstraram que elas são muito limitadas. É como se você já tivesse acostumado o organismo com determinado medicamento e dose - reclamou.

Mas, para o socialista, essas desonerações devem ser ampliadas:

- A gente precisa fazer reduções tributárias mais lineares, transversais ao conjunto da economia. Tudo que tiver espaço fiscal para desoneração, a gente precisa fazer.

De roupa esporte e calçando tênis, Campos distribuiu abraços e atendeu a pedidos de foto. Por fim, jogou voleibol sentado na areia da praia para testar a quadra construída a fim de atender às pessoas com deficiência locomotiva.

- Jogo melhor sentado do que em pé.

Marina Silva em busca de assinaturas

A ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, que também ainda refuta a posição de candidata à Presidência em 2014, voltou a criticar a reforma ministerial de Dilma. Disse ser contra a união "do poder pelo poder".

Em caminhada por Copacabana, no Rio, para coletar assinaturas para a criação de seu novo partido, Marina disse que a Rede Sustentabilidade aspira a governar o Brasil, mas que é cedo para sair como candidata.

- Não queremos antecipar essa discussão. Estamos agora criando uma ferramenta política para discutir projetos e ideias, para adensar uma plataforma. Esse debate virá depois.

Na primeira meia hora do evento, do qual também participaram o deputado federal Alfredo Sirkis (PV-RJ) e o vereador Jefferson Moura (PSOL-RJ), Marina tirou fotos com simpatizantes e colheu pelo menos dez assinaturas.

- Em 2008 eu não sabia que havia um espaço entre Serra e Dilma para conseguir 20% dos votos. Tinha uma ecochapa, e disseram que teria entre 2% e 3%. Mas o imprevisível acontece. Sou prova disso. E defendo uma ideia (da sustentabilidade) cujo tempo chegou.

No sábado, Marina jantou com 50 atores e diretores na casa do ator Marcos Palmeira.

Fonte: O Globo

Eduardo em estilo "morde e assopra"

Eduardo procura amenizar declaração

Depois de ter dito a empresários que "dá para fazer mais", numa crítica a Dilma Rousseff, governador classifica como "natural" a afirmação: "a gente sempre acha que dava para fazer mais"

Carolina Albuquerque

No seu estilo habitual do "morde e assopra", o governador Eduardo Campos (PSB) aproveitou o lançamento da 2ª edição do Pedala PE, ontem (ver mais em Cidades), para proferir mais críticas ao governo federal e minimizar a declaração de que "dá para fazer mais", dada durante evento com empresários em São Paulo, na última quinta-feira, quando enumerou uma série de ressalvas à gestão Dilma Rousseff, entre elas a falta de diálogo e a impropriedade das medidas tomadas para enfrentar a crise econômica.

"A gente acumulou democracia, estabilidade econômica, um olhar para a questão da desigualdade social. Isso em várias etapas e governos, liderados por várias personalidades. A gente sempre fica achando que dava para fazer mais e isso é natural. Se perguntar à presidenta Dilma, ela com certeza vai querer o mesmo", contemporizou.

Ao mesmo tempo em que tentou "contextualizar" a frase, Campos fez questão de frisar, novamente sem citar nomes, que o Brasil precisa fazer a discussão dos desafios do País para o futuro de maneira profunda, em vez de "ficar nesse debate rasteiro da disputa eleitoral que ainda vai chegar".

Assunto recorrente à retórica do governador, a desoneração de impostos da presidente Dilma foi novamente alvo de censuras. "O que se vê são os seus efeitos limitados na economia. É preciso fazer reduções tributárias mais lineares, transversais, a setores da economia. E também a reforma tributária no Brasil, que é um dos piores sistemas da América Latina. É isso que está matando a geração de empregos. O que falta é decisão política para fazer", fustigou.

Saindo em sua defesa, das declarações de que a sua sugestão de solução negociada sobre a distribuição dos royalties foi uma manobra "eleitoreira" e "tardia", Campos colocou a culpa da "judicialização" do caso no governo do Rio de Janeiro. O vice-governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), chegou a tachar de "tardia" a intenção de Campos.

O socialista também argumentou que lutava pelo entendimento "desde o princípio", numa proposta que preservaria a receita dos Estados produtores e mexeria apenas nos contratos de exploração futuros. "Tanto que quando radicalizou, eu saí de cena. Quem passou a discutir (o tema) foi o ex-deputado Ibsen Pinheiro e o senador Wellington Dias", destacou. "O governador do Espírito Santo e Geraldo Alckmin (governador de São Paulo) foram favoráveis ao entendimento. Mas eram os três", disse, numa referência ao colega Sérgio Cabral (PMDB-RJ).

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Os movimentos de um senador

Juliana Colares, Paulo Tarso Lyra

Com o peso de ex-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o senador Armando Monteiro (PTB-PE) atua nos bastidores como interlocutor de Eduardo Campos, provável candidato do PSB à Presidência, junto a empresários. Aliados do socialista não consideram o petebista figura fundamental quando o assunto é capitalizar para uma possível campanha ao Planalto. Mas afirmam que o apoio de Monteiro, personagem conhecido na política e na economia pernambucana, tem importância. Em troca, o senador espera ser ungido na disputa pelo governo do estado, em 2014.

“Eduardo hoje já tem um trânsito muito grande no empresariado. Ele prescinde de apresentação. Mas eu já fiz muito contato, pude divulgar e enaltecer o perfil de gestor dele”, diz Monteiro. O senador diz que, além de ter ajudado no diálogo de Campos com o parlamento e o empresariado, foi ele quem apresentou ao socialista uma consultoria que teve importante papel na implantação de novo modelo de gestão no estado. “Eu fiz a ponte, no início do governo dele, em 2006. Depois, o modelo se desenvolveu, se transformou. Hoje ele é um dos governadores que têm mais perfil de gestão. Eu ajudei a levar esse processo lá atrás para Pernambuco, mas o mérito é dele. O papel central é dele”, pondera.

Na última quarta, dia do encontro dos governadores no Congresso, Campos chegou mais cedo e foi ao gabinete de Armando Monteiro. Conversaram a portas fechadas e dizem ter tratado apenas do que estava na pauta do dia, o pacto federativo. Ao falar sobre a visita, Monteiro disse que não conversou sobre sucessão e que Campos tem o costume de visitar a bancada do estado quando no Congresso.

Financiamento

Naquela tarde, antes de ir à reunião, o socialista também foi à sala do senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE). No dia seguinte, Eduardo viajou para o Rio, onde assinou um termo de compromisso ambiental com a Petrobras. Na quinta, jantou na casa do presidente do Instituto para o Desenvolvimento do Varejo e do grupo Riachuelo, Flávio Rocha, em São Paulo, com cerca de 60 empresários. Na ocasião, disse que o Brasil não começou com partido A, B ou C e que “dá para fazer muito mais”. Na sexta, deu uma palestra a empresários varejistas, em que afirmou que para posicionar o Brasil no mercado global, é preciso fazer as reformas política e tributária.

“Uma candidatura primeiro se viabiliza do ponto de vista político. Não vejo, a priori, problemas no quesito financeiro”, disse Armando, quando perguntado sobre necessidade de Campos capitalizar recursos para conseguir entrar na disputa pela presidência. “Com a dimensão política que ele (Campos) adquiriu, essa questão será tratada. Nunca fui tesoureiro de campanha de ninguém. Pelas inserções que ele tem, isso será equacionado a seu tempo”, complementa o senador, enfatizando que os resultados da gestão do governador são termômetros para o empresariado. O Palácio do Campo das Princesas nega que tenha sido delegado a Monteiro o papel de interlocutor de Campos com o empresariado.

Ciente de que o PT local também discute o apoio a seu nome quando trata da disputa pelo governo estadual em 2014, Monteiro diz que tem bom trânsito com o PT. Mas não esconde que prefere ser o candidato de Campos e rebate os que apostam que o socialista prefira alguém da “cozinha” do governo a um político de outra legenda. “Eduardo recebe todos na sala”, brinca. “A aliança é pluripartidária. Na composição da chapa em 2010, Eduardo revelou um espírito aliancista. Não tem ninguém excluído. Nunca escondi que tenho esse desejo (de ser governador), mas entre o desejo e a viabilização do projeto, existe um caminho em que é preciso somar.”

Entre os nomes apontados por políticos locais como possíveis candidatos de Eduardo Campos, estão o secretário da Casa Civil do governo de Pernambuco, Tadeu Alencar, o secretário da Fazenda, Paulo Câmara, e o secretário de Saúde, Antônio Figueira. “O governador é o natural coordenador do processo decisório. Em algum momento, ele vai discutir critérios, ver quem soma mais. Eu estou na fila. Em que posição da fila, eu não sei”, complementou Monteiro. Eduardo Campos não comenta sobre o assunto com a imprensa. Prefere manter o discurso de que só se fala de 2014 em 2014.

Fonte: Correio Braziliense

Um dia para os eleitores

As fotos dos políticos em pleno domingo apenas confirmam a campanha antecipada de alguns dos possíveis candidatos ao Palácio do Planalto. Com Dilma Rousseff em Roma, as críticas de adversários ao governo federal ganham corpo

Júlia Schiaffarino, Amanda Almeida

Em viagem a Roma, a presidente Dilma Rousseff congelou a agenda política no Brasil e as negociações para a corrida eleitoral de 2014, enquanto potenciais adversários dedicaram tempo para fazer negociações e criticar o governo petista. Marina Silva (sem partido) e Eduardo Campos (PSB) aproveitaram o domingo para o contato com os eleitores. Marina passou o fim de semana no Rio coletando assinaturas para formar o Rede Sustentabilidade. Campos lançou programa do governo de Pernambuco e disse que o país precisa de “renovação”.

Com a prancheta na mão em busca de assinaturas, Marina conversou com eleitores, posou para fotos e sentou em quiosques, na orla de Copacabana. Embora negue que a legenda está sendo criada para ela ser candidata no ano que vem, a ex-senadora disse que “a Rede tem propostas e projetos para governar o Brasil, com certeza”. No sábado, também em evento na capital fluminense, ela criticou a minirreforma ministerial de Dilma. “Não adianta mudar os ministros, se a lógica continua a mesma”, atacou, acrescentando que sua nova legenda não seguirá a mesma “lógica de juntar poder pelo poder, que nos últimos tempos ganhou o sofisticado nome de coalizão ou governabilidade”.

A ex-senadora disse que a política é imprevisível e que ela própria é a maior prova disso. “Não sabia em 2008 que havia outro quadro político além do (José) Serra e da Dilma para conseguir quase 20% dos votos do Brasil.” Foi o resultado da votação dela em 2010, quando concorreu pelo PV e conquistou cerca de 20 milhões de votos. Para sair em 2014, a ex-senadora tem pouco tempo. Precisa coletar 500 mil assinaturas e articular palanques nos estados. Na noite de sábado, ela participou de um jantar para 50 pessoas na casa do ator Marcos Palmeira. Entre os convidados, estavam atores, atrizes, diretores e cenógrafos.

Em uma intensa agenda pública, na manhã de ontem, no Recife, o governador Eduardo Campos (PSB) repetiu críticas à economia brasileira e afirmou acreditar em uma renovação. “Sinto sinais de um processo de renovação”, disse. Campos cobrou, ainda, mais comprometimento do governo federal com uma reforma tributária. “O Brasil perdeu a oportunidade de fazer uma reforma tributária. Faltou decisão política para isso. Ninguém conseguiu”, reclamou.

Apesar de ainda compor a base aliada, o socialista é pré-candidato à Presidência da República e trabalha firmemente para consolidar o seu nome além do estado. Um dos focos tem sido a classe empresarial. Entre as defesas dele, está a ampliação das desonerações tributárias. Na semana passada, o governador fez visitas aos estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília, onde conversou com políticos e empresários. Ontem, entretanto, ao ser questionado de forma direta sobre a intensificação dessas agendas e das declarações feitas, o socialista tentou se esquivar.

Ele disse que sempre participou de congressos, jantares e fóruns e assim continuaria. Comentou que tudo o que havia dito sobre a economia foi em resposta a “algumas perguntas feitas com tom de pessimismo” e acrescentou: “Se você perguntar à própria presidente Dilma Rousseff, ela dirá que gostaria de fazer mais”.

Campos começou o domingo participando de um passeio ciclístico no centro da capital pernambucana, acompanhado do prefeito da cidade, e afilhado político, Geraldo Júlio (PSB). Os dois fizeram questão de cumprimentar todos. Os dois foram também para o bairro de Boa Viagem participar do jogo de lançamento do projeto de acessibilidade para pessoas com deficiência física, Praia sem Barreiras. O senador Aécio Neves (PSDB-MG), também potencial candidato à Presidência, não teve agenda ontem.

"Não adianta mudar os ministros se a lógica continua a mesma. A lógica de juntar poder pelo poder"

Marina Silva, ex-senadora da República

Fonte: Correio Braziliense

Opção precoce por Aécio rompe tradição tucana

Desde a sucessão de FHC, em 2002, PSDB deixa escolha de candidato ao Planalto para o ano da eleição presidencial, em função de disputas internas

Isadora Peron

Nunca antes na história deste país o PSDB lançou uma candidatura à Presidência da República com tanta antecedência. Em dezembro, faltando um ano e dez meses para as eleições, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que o senador Aécio Neves (MG) seria o nome tucano para a corrida presidencial de 2014. Assim, o PSDB deixou para trás o histórico de adiar ao máximo essa decisão.

O motivo para postergar o anúncio de quem seria o candidato da sigla costuma ser o mesmo, eleição após eleição: a falta de consenso em tomo de um único nome. Aliar as ambições pessoais e os interesses partidários não foi tarefa fácil no ninho tucano nos últimos anos.

Até neste momento, em que o presidente nacional da sigla, Sérgio Guerra, tem repetido por toda parte que Aécio é o candidato “da grande maioria do PSDB”, ainda há descontentes. Setores do partido, em especial tucanos de São Paulo, estão insatisfeitos com a condução do processo, que inclui a escolha do senador como presidente nacional da legenda.

Segundo afirmou FHC em entrevista ao Estado na semana retrasada, o anúncio antecipado da candidatura de Aécio teria sido ‘‘inevitável” diante das ações do PT e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em prol da reeleição da presidente Dilma Rousseff. Fernando Henrique, no entanto, disse que suas declarações sobre o senador mineiro tinha como objetivo inicial apenas fortalecê-lo dentro da sigla.

A existência de disputas internas no PSDB ficou mais evidente nas últimas três eleições. Em 2010, por exemplo, a disputa para ver quem seria o escolhido foi entre Serra e Aécio, que só retirou a sua pré-candidatura a dez meses das eleições.

Em 2006, os protagonistas da disputa foram Serra e o então governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Quatro anos antes, o então senador Tasso Jereissati (CE) também apresentou-se como rival de Serra e era o nome preferido de Mário Covas, mas foi preterido na escolha.

Desgaste. O cientista político Bolívar Lamounier corrobora a avaliação de FHC e afirma que a campanha à reeleição de Dilma forçou o PSDB a agir. A declaração mais explícita de Lula pela reeleição da presidente foi dada em fevereiro, em comemoração dos dez anos do PT no governo.

O desgaste de outros quadros do partido, segundo o professor da USP e consultor político Gaudêncio Torquato, também explicariam a preferência por Aécio. “Serra já disputou a Presidência duas vezes sem sucesso e Alckmin também já concorreu.”

Para o filósofo José Arthur Giannotti, a oposição percebeu que, para ter chance em 2014, precisava lançar um candidato o quanto antes. Ele alerta, no entanto, que apenas um nome não será o suficiente para o partido voltar ao poder. “Não basta definir quem vai ser o candidato, é preciso definir sobre o que ele vai falar.” Para Giannotti - que se autonomeia “tucanoide”, isto é, uma pessoa que pode votar em outras siglas -, falta ao PSDB um discurso que não se baseie apenas em críticas à atual gestão.

CANDIDATOS DO PSDB

• Nas últimas três eleições, não houve consenso em torno de um nome e as candidaturas è Presidência da República foram definidas apenas no ano do pleito.

1989
Covas
Fundador do PSDB, Mário Covas

1994
FHC
Ministro da Fazenda e criador do Plano Real, Fernando Henrique Cardoso foi automaticamente colocado como candidato

1998
FHC
Após obter a polêmica aprovação da emenda da reeleição, FHC concorreu novamente

2002
Serra
Abriga foi entre José Serra (SP) e Tasso Jereissati (CE), que retirou a sua candidatura somente no final de 2001 .

2006
Alckmin
A disputa mais acirrada foi entre os paulistas Serra e Geraldo Alckmin, que acabou escolhido como candidato. Aécio, Tasso e FHC formaram triunvirato que bateu martelo sobre opção

2010
Serra
Serra só foi declarado candidato após Aécio desistir da candidatura ao Planalto, em dezembro de 2009.

Fonte: O Estado de S. Paulo

FH pede a Alckmin para pacificar a relação entre Aécio Neves e José Serra no PSDB

Para ex-presidente, partido não pode chegar às eleições mais uma vez dividido

Gustavo Uribe, Germano Oliveira

SÃO PAULO - Um dos principais fiadores da candidatura de Aécio Neves ao Palácio do Planalto em 2014, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso pediu ao governador Geraldo Alckmin que atue para dirimir resistências internas em São Paulo à candidatura do senador mineiro e o ajude na busca de um acordo com José Serra para a composição da nova direção nacional da sigla. O diagnóstico de FH é de que o partido não pode chegar à sucessão presidencial mais uma vez dividido.

Nas últimas semanas, aliados de Serra têm criticado a possibilidade de Aécio assumir o comando do partido e têm dito que ele poderá deixar a sigla caso o seu grupo não assuma a direção da legenda. Em um esforço para evitar o racha, aliados de Alckmin têm proposto oferecer ao grupo de Serra a direção do Instituto Teotônio Vilela (ITV), órgão de formação política do PSDB, ou a vice-presidência da sigla, atualmente ocupada por Alberto Goldman, aliado do ex-governador de São Paulo.

Em reunião em Brasília, na terça-feira, Alckmin também manifestou preocupação com a hipótese de Aécio dirigir a sigla. Na avaliação dele, ao assumir o posto, o senador mineiro poderá se expor indevidamente antes da hora. Numa tentativa de aproximação com o PSDB de São Paulo, Aécio Neves deve desembarcar nesta semana na capital paulista, onde terá reuniões com Serra, com mediação de Alckmin.

Com a ajuda de FH, o governador de São Paulo programa uma agenda conjunta com o senador mineiro na próxima segunda-feira, quando participarão de congresso da sigla na capital paulista, e planeja para o segundo semestre uma excursão com o candidato do PSDB ao interior de São Paulo. Para a semana que vem, também tem sido esboçado um encontro de Aécio com a bancada tucana na Assembleia Legislativa de São Paulo.

- A ampla maioria do partido quer a candidatura de Aécio a presidente em 2014. A hora é dele. Mas para o Aécio também não interessa que Serra fique descontente, trabalhe contra sua candidatura ou até mesmo deixe o partido, como tem ameaçado. Por isso, Alckmin e Fernando Henrique vão intermediar essa conversa - avaliou um deputado do PSDB de São Paulo.

O presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire, confirma que convidou Serra para ingressar no partido, mas considera improvável que ele deixe o PSDB.

- Ele ficou de pensar, mas, se vier para o PPS, não tem compromisso algum de ser candidato a presidente. Hoje, tem gente no partido que gostaria de apoiar o governador Eduardo Campos. Ainda está cedo para discutir isso. Mas acho difícil o Serra deixar o PSDB - disse Freire.

Fonte: O Globo

Marina faz corpo a corpo em Copacabana por novo partido

Damaris Giuliana

RIO - Em busca de assinaturas para viabilizar a fundação de seu partido, o Rede Sustentabilidade, a ex-senadora Marina Silva foi para o corpo a corpo na manhã de ontem em Copacabana, zona sul do Rio.

Sob um calor de 29ºC, vestindo calça preta e camiseta customizada com trançados em rede, Marina caminhou pela avenida Atlântica, parou nos quiosques, posou para fotos e entregou uma prancheta para que eleitores preenchessem seus dados em apoio à criação da legenda.

"A Rede tem propostas e projetos para governar o Brasil", disse Marina, que negou ser pré-candidata à Presidência da República em 2014.

Para a ex-senadora, a política é imprevisível e ela é a maior prova disso. "Eu não sabia que havia outro quadro político além do Serra e da Dilma para conseguir quase 20% dos votos do Brasil."

Esse foi o resultado da votação de Marina em 2010, quando concorreu pelo PV e conquistou cerca de 20 milhões de votos ao enfrentar o PSDB e o PT.

Marina disse que a Rede é uma alternativa ao país porque "as pessoas não querem ser espectadoras da política, querem ser protagonistas".

Nesse movimento, a ex-senadora recebeu o apoio do ator Marcos Palmeira. Os dois jantaram ontem à noite na casa do ator, que fica no Jardim Botânico, também na zona sul do Rio.

De acordo com a ex-senadora, as conversas com Palmeira giraram em torno de cultura, arte, ambiente e filosofia.

Fonte: Folha de S. Paulo

PTbras, de novo - Aécio Neves

Em outubro, a Petrobras completa 60 anos. Infelizmente não há o que comemorar, submersa que está em um poço de graves problemas, embora, possivelmente, isso não venha a ser impedimento para mais uma milionária campanha publicitária da estatal.

É sempre oportuno recuperar a memorável jornada da criação da Petrobras. Foi um dos movimentos populares mais marcantes da história brasileira. Sensível ao grande sentimento nacionalista daquele momento, o presidente Getúlio Vargas encampou a exigência expressa em comícios e manifestações de rua.

O slogan "O petróleo é nosso!" arregimentou estudantes, sindicalistas, intelectuais e outros segmentos da sociedade, no final dos anos 40 e começo dos anos 50.

Nos anos recentes, os petistas levaram a frase ao pé da letra, mediante o entendimento de que o "nosso" quer dizer que a Petrobras é "deles", com exclusividade. E promoveram o aparelhamento partidário da empresa, com os enormes danos que começam a vir à tona. Daí a grande atualidade em se retomar a batalha dos tempos da fundação da companhia. O Brasil precisa reestatizar imediatamente a Petrobras, que está afundando sob o peso dos interesses privados do PT.

Não há barril de petróleo capaz de obscurecer o que está acontecendo, a olhos vistos, com a empresa: queda brutal no valor de mercado, baixo retorno dos investimentos, descumprimento de metas, aumento dos custos operacionais e administrativos e perda de posição nos rankings internacionais, entre outras mazelas.

A lista continua. Os milhares de trabalhadores que adquiriram ações da Petrobras com recursos do FGTS viram o patrimônio registrar uma queda de cerca de 50%.

O escândalo da compra por mais de US$ 1 bilhão de uma refinaria nos EUA, pouco tempo antes negociada por apenas US$ 42,5 milhões e que, hoje, só conseguiria ser vendida por cerca de US$ 100 milhões, lança graves suspeitas sobre a empresa. Segundo o Ministério Público, "é mais que um mau negócio". Afinal, quem propôs e quem autorizou tamanha temeridade?

Com tantas incertezas pela frente, teme-se agora até pelo futuro do pré-sal. No final de 2006, às vésperas das eleições, o governo federal anunciou a autossuficiência do país em petróleo. No entanto, a própria Petrobras reconhece agora que, entre 2007 e 2012, essa condição não existiu. Registre-se ainda que, apenas no ano passado, o Brasil importou US$ 7,2 bilhões em derivados.

Patrimônio nacional e um dos símbolos da nossa independência, a Petrobras sempre foi um esteio para a economia brasileira. Defendê-la da voracidade de parte do PT é tarefa urgente. Tempos atrás era anunciado como grande novidade um certo modo petista de governar. Hoje o Brasil inteiro sabe o que isso significa.

Aécio Neves, senador (PSDB-MG)

Fonte: Folha de S. Oaulo

Que gestora, hein? - Ricardo Noblat

"Estou ficando apavorado!" -Eduardo Campos, governador de PE, sobre o número de adesões à sua candidatura à vaga de Dilma

Era uma vez a presidente da República que contava com seis anos de parceria para oferecer a seus aliados. Foi quando, com medo de perder a vez para seu antecessor, decidiu antecipar a próxima campanha eleitoral. Um aliado mais esperto aproveitou a ocasião e trocou o status de aliado dela pelo de concorrente. Sabe o que aconteceu? O poder de barganha da presidente diminuiu. E aumentou o dos aliados.

DECODIFICANDO: a presidente da República: Dilma Rousseff. O antecessor que poderia atropelá-la: Lula. O aliado esperto que virou concorrente: Eduardo Campos, governador de Pernambuco. A maior parte do PT gostaria de ter Lula de volta à presidência. O próprio Lula gostaria de voltar. Para evitar o risco de ele se animar com a ideia, Dilma procurou-o para uma conversa definitiva.

"0 SENHOR É CANDIDATO?" Lula negou. Ela insistiu. Ele negou. Dilma disse que o apoiaria com entusiasmo. Lula negou de novo. Dilma então pediu-lhe para que aproveitasse a festa de aniversário do PT e a lançasse à reeleição. Lula lançou — sem muito entusiasmo. E se por um motivo qualquer fosse obrigado a sair candidato no lugar de Dilma? A hipótese existe.

SOB 0 LEMA "2013 é para governar, deixemos para fazer campanha em 2014" Eduardo Campos viaja de uma ponta à outra do país fazendo campanha, e agora governa quando lhe sobra tempo. É candidato para ganhar ou perder. Contra Dilma ou Lula. "Não gosto de perder. Mas serei candidato até mesmo para marcar posição se esse for o desejo do meu partido" ouvi dele há poucos dias.

AO BANCAR DILMA à sua sucessão, Lula sacou uma frase que passou a repetir como se fosse um mantra: "Ela é melhor gestora do que eu" Presidente bom gestor é uma mistura de presidente bom executivo e de presidente bom político. Lula cercou-se de executivos razoáveis. Na política deu um show. Dilma é uma executiva à moda antiga que pouco ouve. E uma política sem gosto pela política.

EM 2011, travestiu-se de faxineira ética e demitiu ministros autores de malfeitos. Ninguém perguntou por que os nomeara. No início do ano seguinte, arquivou a fantasia de faxineira quando um dos seus ministros foi acusado de ter recebido por consultorias que não deu. Obrigada pela Comissão de Ética da Presidência a despachar o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, desmontou a Comissão.

NO ÚLTIMO SÁBADO, Lupi desfilou feliz pelos amplos salões do Palácio do Planalto. Fora trocado por um neto de Brizola. Com medo de perder o PDT para Eduardo Campos, Dilma substituiu Brizola Neto por um serviçal aliado de Lupi. Outro partido que perdeu ministro no rastro da faxina ética deverá ganhar um ministério em breve. Lula loteou seu governo no segundo mandato. Dilma loteia para assegurar o segundo mandato.

0 PRIMEIRO ANO do governo Dilma foi pior do que o último ano do governo Lula. O segundo ano do governo dela foi pior do que o primeiro. O terceiro, em curso, a ver. A inflação alta disseminou-se. A Petrobras nunca perdeu tanto valor (quem foi mesmo a presidente do Conselho de Administração da empresa no governo Lula? Adivinha.) O Brasil estagnou no ranking do índice de Desenvolvimento Humano.

SÃO 39 MINISTROS e nenhum se destaca por ter emplacado algum projeto notável. Mas como brilhar em um governo cuja presidente trata assessores aos gritos, centraliza o que deve e o que não, e pede para ler com antecedência discursos que só mais tarde ouvirá? Que boa gestora, hein, seu Lula?

Fonte: O Globo

O cronômetro e o umbuzeiro - José Roberto de Toledo

O valor do minuto de propaganda eleitoral disparou na semana passada - e é sua cotação que vai determinar o destino dos candidatos a presidente daqui para frente. A oscilação afetou diretamente as chances de Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB). Como? Em tempo. Antes, um passo atrás para olhar o contexto desse sobe e desce de preços.

Com o aumento do ruído de fundo e das tentações eletrônicas, a atenção do público perde-se à deriva. O cidadão é mais disperso e menos atento na razão da densidade de suas conexões. Quanto mais envolvido pelos quintilhões de bits e bytes que o novo mundo digital produz diariamente, mais difícil é para cortar pelo cipoal de dados e encontrar significado e rumo através da selva de textos, telas e fragmentos de informação.

Essa tendência está mudando as campanhas eleitorais. O tempo pelo qual o eleitor é capaz de se concentrar no tema da eleição e decidir seu voto é progressivamente mais curto. A cada pleito, o período decisório dos sem-candidato - quando o eleitor menos interessado se informa para definir em quem votará - é tanto mais breve quanto mais próximo do dia de ele ir à urna.

Pudera ser quase impossível encontrar candidato que sobreviva à reta final da campanha eleitoral sem um estoque mínimo de tempo para propaganda de TV. E a nota de corte sobe a cada eleição: mais e mais minutos são necessários para o candidato superar intenções de voto liliputianas e assomar acima dos nanicos.

Nesse cenário, levam vantagem candidatos que têm um eleitorado cativo e se beneficiam da inércia do voto. Não basta ser muito conhecido, porém. É preciso ter marca forte e rejeição desproporcional ao grau de conhecimento, ou o candidato cai no paradoxo serrano: quanto mais aparece, menos eleitores têm. A rejeição alta - como a falta de tempo de TV - é eliminatória.

Mesmo os candidatos conhecidos batalham por mais tempo de propaganda. Se não para eles próprios aparecerem, para impedir que os adversários apareçam. Essa é a batalha em curso, e que antecipa a sucessão de 2014. Quem já tem muito tempo, como a presidente, tenta amarrar as alianças para não deixar preciosos minutos escaparem para a oposição. Quem não tem corre atrás.

Dilma é assombrada pela inflação também de aliados. Por proteção, a presidente fez um caxangá ministerial na quinta-feira: tirou Brizola Neto (PDT) do Trabalho, pôs um mineiro na Agricultura e deixou o peemedebista Moreira Franco ficar, mas num posto menos decorativo. Tudo para reforçar a aliança com o PMDB e tentar resgatar os fugidios e divididos pedetistas.

O equilibrismo presidencial amarrou os dois minutos e meio do PMDB, deu um laço nos 45 segundos do PDT, mas deixou escapar o minuto e 40 do PSD de Gilberto Kassab. O ex-prefeito percebeu que a cotação do tempo de TV está em alta e comprou uma opção de venda futura quando, aposta, o apoio de seu partido valerá mais do que o microministério oferecido por Dilma.

A manobra especulativa não foi só de Kassab. O PPS tenta reverter sua decadência eleitoral fundindo-se ao nanico PMN. Mesmo juntos, os dois partidos têm poucos segundos a oferecer em tempo de TV a um presidenciável. Mas a criação da nova sigla abre a Caixa de Pandora da fidelidade partidária: deputados de outros partidos podem aderir sem perder o mandato - foi a jurisprudência criada pelo TSE ao julgar o caso do PSD.

O PPS+PMN aposta que atrairá deputados de outras siglas se a nova legenda estiver aliada ao PSB de Eduardo Campos em 2014. Acha que atenderá uma demanda reprimida na Câmara. O movimento ajudaria o governador de Pernambuco a alcançar o mínimo de 12% do tempo de TV (98% dos candidatos a prefeito que não atingiram esse patamar não se elegeram nem chegaram ao segundo turno em 2012).

Quem mais tem a perder com a fusão é Aécio Neves. O tucano não apenas perderia os segundos de TV do PPS, como veria a candidatura oposicionista de um rival ganhar viabilidade eleitoral. Potenciais aliados, como PTB e DEM, poderiam se sentir tentados a embarcar na canoa reforçada de Campos. Pior, tucanos dissidentes poderiam pular fora do barco de Aécio.

"Mineiro" à la Getúlio Vargas, o ex-governador de Minas gostaria de esperar em cima do umbuzeiro até a undécima hora - e só saltar para a campanha presidencial quando as condições lhe fossem ideais. Mas tem tucano cortando o tronco do umbuzeiro.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Cada um com seu cada qual - Denise Rothenburg

O fato de Dilma não levar os antecessores a Roma esta semana indica que deseja ser a estrela do show e promover desde já uma vacina contra o uso de temas religiosos na campanha de 2014. Temas para lá de explorados em 2010

A viagem de Dilma Rousseff ao Vaticano diz mais pelas ausências em sua comitiva do que pelas presenças. Enquanto Lula foi aos funerais de João Paulo II acompanhado de dois dos antecessores, José Sarney e Fernando Henrique Cardoso — Itamar Franco estava lá porque era embaixador do Brasil na Itália —, Dilma foi com os mesmos personagens que sempre a acompanham nos eventos internacionais. Ao mundo da política, fica o reforço do recado passado na posse dos ministros no último sábado: “Eu aprendi que numa coalizão você tem que valorizar as pessoas que contigo estão, que são companheiros que acompanham a gente em uma jornada diuturna e que, portanto, têm que estar com a gente nos bons e nos maus momentos, e nós com eles”. O recado é claro: Dilma daqui para frente estará com os partidos realmente aliados. E com quem mais se mostrar leal e disposto a acompanhá-la na campanha reeleitoral daqui a um ano.

Essa nova marcação do governo deixa para trás os tempos em que a presidente convidava o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para solenidades no Itamaraty, como o fez logo no início do governo, março de 2011, quando da visita do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ao Brasil. O convite, à época, foi considerado surpreendente até mesmo pelo PT. Lula, por exemplo, não compareceu ao almoço oferecido a Obama e à primeira-dama Michele, porque não queria se sentar à mesa com FHC. Agora, é Dilma quem evita contato.

A presidente tem lá suas razões para não chamar os antecessores. Afinal, se levasse só Lula ficaria aquela impressão de viagem petista. Se chamasse todos, diluiria a importância política de sua presença no Vaticano. A presidente está num momento em que é bom se mostrar próxima da Igreja, até para evitar que, daqui a um ano, haja uma nova rodada de acusações de defensora intransigente do aborto, como houve em 2010. Em Aparecida do Norte, na festa da Padroeira do Brasil durante o segundo turno, houve inclusive a distribuição de folhetos apócrifos para denegrir a imagem de Dilma enquanto candidata. O resultado foi que, no segundo turno, a presidente passou mais tempo visitando templos e igrejas do que propriamente palanques. Espera-se, dentro do governo, que a próxima temporada eleitoral seja diferente.

Enquanto isso, no Congresso…

Os petistas apreciaram o fato de Dilma não levar os antecessores. Há entre eles a sensação de que a presidente foi uma das responsáveis pelo resgate da imagem do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso pelos tucanos. Afinal, foi depois da carta que ela enviou a Fernando Henrique, parabenizando-o pelos 80 anos, que o PSDB parece ter acordado para quem era, de fato, o maior líder do partido. Agora, para alegria dos petistas, essa fase de o governo levantar os tucanos terminou.

Dilma está cada vez mais ciente de que precisa governar com aqueles que estão dispostos a seguir nesse projeto, leia-se o PMDB de Michel Temer. Os peemedebistas de fato hoje não têm muita alternativa, uma vez que têm a vice presidência da República. Na prática, agem como aquele sujeito que flerta aqui e ali, mas não larga a mulher, no caso o governo Dilma, porque é ela quem lhe sustenta. E como Dilma parece disposta a dividir mesmo o poder, o PMDB está cada vez mais dedicado à manutenção do casamento.

Ainda não se sabe, entretanto, até que ponto Dilma fará essa divisão. Conforme dissemos aqui ontem, a pressão por mais mudanças na equipe e redistribuição dos cargos de segundo escalão será grande. Mas antes de contemplar ainda mais os peemedebistas, Dilma precisará resolver outros problemas, como o PR e o PTB. Os petebistas não estão assim tão fechados com a presidente. Há um grupo em manobras para se aproximar do senador Aécio Neves (PSDB) e outro, representado pelo senador Armando Monteiro, próximo do governador de Pernambuco, Eduardo Campos - que está a cada dia mais à vontade no papel de pré-candidato a presidente, basta ver a desenvoltura com que disse a um grupo de empresários em São Paulo que é possível fazer muito mais do que Dilma está fazendo.

Os desfiles de Eduardo vão servir para que Dilma acelere a definição da reforma. Isso porque os petistas já perceberam que não dá para esperar o tempo passar ou deixar os aliados à deriva serem recolhidos pelo PSB ou pelo PSDB. As apostas na política são as de que em duas semanas a presidente conclui mais uma parte da reformulação, deixando o segundo escalão um pouquinho mais para frente. Afinal, se entregar tudo agora, fica sem cartas para jogar logo ali. E, sabe como é, quem poupa sempre tem algum para aquela emergência. E emergências não vão faltar daqui para frente nesse início da corrida a 2014.

Fonte: Correio Braziliense

Sintomas e riscos - Valdo Cruz

A lógica eleitoral atropelou a presidente-gerente Dilma Rousseff. A Dilma original jamais deixaria um ministro de uma área por ela considerada essencial ser fritado em praça pública como se deu com o ex-ministro da Aviação Civil Wagner Bittencourt.

Desde o final do ano passado ele trabalhava sabendo estar com os dias contados. Nada mais contraproducente e fora dos padrões modernos de gerenciamento.

Pior é que Dilma tirou um técnico de um setor repleto de gargalos -às vésperas de eventos como a Copa do Mundo- e pôs em seu lugar, na reforma ministerial, um político com experiência zero na área.

Sintoma de que algo saiu dos trilhos no governo Dilma. Estivesse tudo dentro do planejado, a presidente não teria de sucumbir ao apetite dos aliados tão cedo assim, mais de um ano antes da eleição.

A resposta está nos resultados decepcionantes da economia. A equipe de Dilma avalia hoje que errou ao acreditar que bastava baixar os juros e ajustar a taxa cambial para o país deslanchar, crescer acima de 4% e segurar a inflação.

A receita, acertada, demandava, porém, outros ingredientes para fazer o bolo crescer. Quando o governo acordou, veio o festival de pacotes. A maior parte necessária, mas recheada de ações intervencionistas que assustaram o empresariado e travaram o investimento.

Agora, o discurso palaciano é de que tudo está no prumo. Reservadamente, há quem alerte no governo para riscos em 2014. A inflação elevada lança o desafio de controlá-la num quadro de crescimento fraco.

E ainda não há, para assessores, segurança de que o pacote de concessões de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos irá funcionar a contento e destravar o investimento.

Sem ele, o país corre o risco de ter baixas taxas de crescimento. Algo ruim num ano eleitoral -pior ainda se a inflação não recuar. Com a palavra, o Banco Central.

Fonte: Folha de S. Paulo

Seguir a lei é econômico - Renato Janine Ribeiro

Imagine, caro leitor, um idiota. Bebe três vodcas, sábado à noite. Raiando o dia, sai guiando pela avenida Paulista. Cones já demarcam a pista para a ciclofaixa, a ser ativada em uma hora. Faz ziguezague entre os cones. Não vê um ciclista na faixa e o atropela. Assustado, foge. Percebe que o braço decepado da vítima está no carro. Depois do que fez - beber, atropelar, fugir - o que é jogar o braço cortado no esgoto? Só uma etapa a mais na violência infligida ao ciclista. Mas isso impede um possível reimplante. Uma sucessão de pequenas infrações gera uma tragédia para a família do ciclista, pobre. Advogados do réu dirão que ele está traumatizado, que vai ajudar a vítima, que, enfim... Muitas palavras.

Imagine, leitor, um idiota. Antes de dar um show, compra um sinalizador, para a galera vibrar. Pede um de R$ 2. O vendedor pergunta onde vai usá-lo; "em lugar fechado, este não serve. Tenho um adequado, por R$ 70". O comprador acha caro: "Sei usar, não vai acontecer nada". Por R$ 68 de economia - mais um forro impróprio e a falta de saídas adequadas - morrerão esta noite 241 jovens. R$ 1 para cada três pessoas. R$ 0,30 por vida. Choca o contraste entre a morte às centenas e a banalidade - e até o baixo custo - das causas para tais mortes.

E cada morte se multiplica. Muitos dos 241 teriam filhos. Estes nunca nascerão. Há uma geração que nunca verá a luz do sol. E, porque morreram 241, centenas de seus próximos levarão o resto da existência sob um céu de chumbo, a alma pesada, sobreviventes - porque perderam um ser amado, e com ele os sonhos, o sonho de que fizessem faculdade, de que fossem felizes no amor, salvassem vidas como médicos, reduzissem a ignorância como professores, tivessem filhos, plantassem árvores, talvez escrevessem livros... O direito de sonhar é o direito de ter um futuro: difícil avançar na vida, quando já não se tem esperança. Tudo isso ceifado, por uma irresponsável economia.

Contravenções até pequenas podem ter efeitos letais

Como pode um valor tão pequeno carregar tanta capacidade letal? Se pensarmos em termos econômicos, altos investimentos, públicos e privados, na formação dos 241 foram destruídos pela irresponsabilidade de quem economizou no preço do sinalizador e de quem errou, por leviandade, na forração do teto da boate. O problema é que no Brasil essas histórias se repetem em fila. Sai de cena a boate, entra o atropelador. O roteiro é igual: uma infração à lei que parece ingênua, cometida por uma pessoa apenas leviana, irresponsável - mas que causa danos piores que um crime premeditado, doloso, que cometesse uma pessoa fria e impiedosa.

Na Justiça, ouviremos que os levianos eram pessoas de bem; ouviremos de sua fé e caridade, isso ajuda; em suma: o que aconteceu naquela fração de segundo é inexplicável, foi uma fatalidade, doutor, ele está sofrendo direto por isso.

E o argumento da defesa prevalecerá, à medida que passe o tempo e se faça o luto dos mortos, ou se esqueça a miséria a que foi condenado o rapaz que fazia rapel para limpar os vidros do Hospital das Clínicas. Visitas a ele, se prometidas, terão sido esquecidas. Ajudá-lo financeiramente será determinado pela Justiça, até para atenuar a pena prisional do réu, mas com o cuidado de não empobrecer este último nem enriquecer a pessoa que ele amputou. As posições sociais devem ser preservadas. Perder o braço não deve ser meio de ascensão social - ouviremos isso, sim. E uma "fatalidade" não deve arruinar a vida de um jovem estudante de... Psicologia; terrível a ironia do contraste entre a profissão e a atitude.

Mas esses episódios deveriam ensinar uma coisa: o sentido ético do respeito à lei. Se o motorista de sábado não bebesse demais, não jogasse no lixo parte de um ser humano, o faxineiro poderia reaver o braço. Sem a série de descuidos que houve na boate Kiss, duzentos e tantos jovens sairiam vivos da boate; teriam à frente, somados, 12 mil anos a viver. Pensei em distinguir o dano econômico, que é mensurável, e o dano humano, que não o é. Mas não é preciso. Porque, para cada dinheiro que pais e sociedade investiram nos mortos, houve também amor que estes receberam e deram. Contas econômicas e amorosas dirão a mesma coisa: uma destruição que raia o absurdo.

Está na hora de entendermos que o respeito à lei reduz custos econômicos, reduz sofrimento humano. Se isso não acontecer, o Brasil será o país, não do carnaval, mas do horror. Sabemos que há crimes por crueldade. Estamos avançando no conhecimento do crime de corrupção, que causa danos enormes. Mas ainda não assumimos que seguir as posturas de trânsito é tão importante como foi, na medicina do século XIX, os médicos começarem a lavar as mãos com água e sabão, a medida que talvez mais vidas salvou na história de sua profissão. Nosso arcabouço mental entende a criminalidade decorrente da maldade, da conspiração - atos que, pensamos nós, nunca cometeremos. Só que há atos mínimos que podem gerar efeitos devastadores. Os tribunais terão dificuldade em julgar esses casos. A defesa alegará que os réus devem ser punidos pelo ato, não pelas consequências: multe-se o motorista só por invadir na ciclofaixa. Mas foi isso o que o levou a mutilar a vítima! Precisamos despertar para a letalidade que a mera contravenção pode ter. Não adianta culpar o destino, a fatalidade, quando atos elementares de prudência fazem despencar a morte, reduzem enormemente os acidentes. Mas, para fazer isso, é preciso entender que a lei pode ser o que protege a vida, que aí está sua beleza, e que sem isso a vida se esvai às centenas. É preciso punir, sim, e é preciso educar.

Renato Janine Ribeiro, professor da USP

Fonte:Valor Econômico

De volta ao sagrado - José de Souza Martins

No embate entre o monarca e o profeta, entre o poder e o Espírito, o papado de Francisco pode sinalizar essa radical necessidade do homem contemporâneo de encontrar-se consigo mesmo

Acostumados com papas geograficamente distantes, mais figuras míticas do que figuras de carne e osso, a eleição de um papa argentino põe os católicos brasileiros em face de uma proximidade perturbadora. O cardeal Jorge Mario Bergoglio, eleito com o nome profético de Francisco, é figura central da Igreja Católica da Argentina. Uma Igreja que tem débitos graves com a opinião política e a consciência de seu país pela falta de clareza no seu relacionamento com a ditadura militar, com as prisões, a tortura, os desaparecimentos e mortes até mesmo de religiosos. Uma Igreja de história oposta à da Igreja Católica no Brasil, que não raro abrigou os perseguidos e falou firmemente em nome das vítimas. Igreja que defendeu os índios contra a onda genocida na ocupação da Amazônia, em nome de sua condição humana e de sua diferença antropológica. Igreja que abrigou a causa dos posseiros e dos trabalhadores rurais, alcançados pela onda de desenraizamentos e miséria decorrentes de uma política fundiária perversa. Verso e reverso, a Igreja de lá e a Igreja de cá.

Lá não havia separação entre o Estado e a Igreja, o catolicismo foi religião oficial do Estado até a nova Constituição de 1994. Ao ser economicamente mantida pelo Estado, a Igreja argentina teve seu clero convertido em corpo de funcionários públicos disfarçados. Uma Igreja mutilada e cerceada na vocação profética. Aqui, a República teve a lucidez política de separar o Estado da Igreja.

Provavelmente, Francisco carregará nos ombros o fardo imenso da falta de clareza de suas ações e omissões durante os anos medonhos da ditadura militar argentina. Mas carregará, também, o belo sentido evangélico da dura repreensão pública que dirigiu aos párocos que se recusam a batizar os bebês extramatrimoniais, os filhos de mães solteiras. Além da crítica aberta ao neoliberalismo e seus devastadores efeitos sociais.

É inútil um acerto de contas com a história pessoal de um homem que morreu ao fim do conclave para renascer com outro nome na "loggia" da Basílica de São Pedro no começo da noite escura e chuvosa do dia 13 de março e para enfrentar o silêncio da multidão surpreendida pelo inesperado. Porque os papas não nascem papas. É nesses desencontros que se dá o chamamento, é por eles que o Espírito se manifesta, como certeza na contradição. A circunstância, o momento e até o acaso os elegem. Vi, na casa camponesa e pobre em que nascera Angelo Giuseppe Roncali, em Sotto-il-Monte, Bérgamo, Itália, o bilhete ferroviário de volta do Cardeal Patriarca de Veneza, que fora a Roma eleger o sucessor do gélido Pio XII. Descobriu na Capela Sistina que sua viagem era só de ida. Ficou em Roma como papa João XXIII e ali está sepultado como beato. O cardeal Albino Luciani, quando assomou ao balcão, minutos após sua inesperada eleição como João Paulo I, disse assustado: "tive medo". Não fora para ficar.

Francisco é o que será e não apenas o que foi. A circunstância lhe abrirá o caminho desse renascimento. Cada papa se realiza em seu percurso, que é muito mais o da circunstância da História do que o da pessoa. De qualquer modo, leva consigo a herança de uma biografia que o ilumina ou persegue em sua nova identidade. Bergoglio é um cardeal de trajetória diferente: nascido e criado em cortiço, filho de ferroviário, estudou química antes da opção sacerdotal, namorou uma vizinha, lê Dostoiévski, faz sua própria comida, desloca-se em transporte público e esteve do lado errado durante a ditadura. Enfim, tem seus defeitos, o que deve ajudá-lo no destino que o surpreendeu, o de pastor do reencontro da Igreja com sua missão profética.

A adoção do nome do pobre de Assis é coerente com seu modo de vida franciscano. Sugere um retorno ao franciscanismo, à opção pelos pobres. No gesto promissor de inclinar a cabeça e pedir que o povo da praça orasse por ele, para que fosse abençoado, compartilhou a função sacerdotal com os fiéis antes de abençoá-los. Indica, assim, sua concepção do sagrado, que pode mudar muita coisa.

Essas reorientações não são escolhas apenas suas. Quando do terremoto de Aquila, Bento XVI ali esteve e foi rezar no túmulo de Celestino V, o papa eremita e pobre que renunciara, escandalizado com os abusos na Igreja, e ali depositou o pálio papal. Uma antecipação fortemente simbólica de sua própria renúncia. Na escolha do Sacro Colégio, é possível ver uma inquietação. No embate entre o monarca e o profeta, entre o poder e o Espírito, aparentemente estamos vivendo mais um episódio histórico do reencontro da Igreja com o sagrado.

O sagrado tem se revelado uma necessidade radical da sociedade contemporânea, sobretudo dos jovens, um atenuante para a brutalidade de um cotidiano demarcado pela anomia e pela alienação. É no espaço do sagrado que, historicamente, o homem tem se encontrado consigo mesmo. Despedaçado e aniquilado pelas irracionalidades e pela materialidade econômica da vida moderna, busca, conservadoramente, no sagrado a inteireza de um renascimento.

José de Souza Martins é sociólogo, professor emérito da Faculdade de Filosofia da USP, autor, entre outros livros, de , A Sociedade Vista do Abismo (VOZES)

Fonte: Aliás / O Estado de S. Paulo

Uma oportunidade histórica - José Goldemberg *

A História está cheia de exemplos de que uma escolha errada tem consequências funestas e uma escolha certa produz milagres. O grande desafio é fazer as escolhas certas - e o próprio conceito de "governar" significa escolher entre as opções disponíveis.

O governo brasileiro, em pleno regime militar, fez em 1975 uma escolha de grande sucesso, que foi lançar o Programa Nacional do Álcool (Proálcool), o único combustível, existente até hoje, capaz de substituir a gasolina em grandes quantidades, com as características que todos desejam: ser economicamente competitivo e renovável, isto é, sem os problemas que caracterizam os combustíveis fósseis.

O programa sofreu muitos tropeços ao longo dos últimos 35 anos, mas sobreviveu. E chegou a substituir 50% da gasolina que seria consumida no País se ele não existisse.

As expectativas de expansão da produção de etanol da cana-de-açúcar no Brasil sempre foram bem fundadas. Ele poderia ser exportado para os Estados Unidos, onde o uso do milho para produzir etanol não tem as vantagens econômicas e ecológicas do nosso álcool de cana. Tampouco dispõem de tais vantagens os países da Europa, que usam beterraba e outros produtos e nos quais o etanol é mais caro. Não é de admirar, pois, que esses países tenham adotado medidas protecionistas que impediram a conquista do seu mercado interno pelo etanol brasileiro.

Sucede que as barreiras adotadas pelos Estados Unidos já caíram. E as europeias vão acabar caindo também, porque simplesmente não há condições geográficas e climáticas para produzir grandes quantidades de etanol na Europa. O Brasil poderia, portanto, ocupar o espaço deixado pelos Estados Unidos.

Com a tecnologia existente atualmente, somente etanol produzido da cana-de-açúcar, em países tropicais, pode atender às necessidades de combustível renovável. Novas tecnologias, as de segunda geração, poderão mudar esse quadro. Isso, contudo, levará alguns anos. Até agora os trabalhos nessas áreas estão sendo testados em diversas plantas-piloto, que não se mostraram ainda economicamente viáveis e em alguns casos, até mesmo tecnologicamente inviáveis.

Além disso, a produtividade em litros de álcool produzidos por hectare da tecnologia em uso no Brasil tem aumentado sistematicamente em cerca de 3% ao ano desde 1980, o que é realmente extraordinário. Novos ganhos de produtividade são ainda possíveis. Não é preciso esperar pela segunda geração para competir.

Há, pois, uma janela de oportunidade para o etanol do Brasil e de outros países com clima adequado e terra abundante, o que significa, principalmente, a África abaixo do Saara e alguns países da América Latina. Apenas para dar um exemplo, a União Europeia acaba de sobretaxar a importação de etanol dos Estados Unidos - cerca de 600 milhões de litros por ano - para proteger sua indústria. Essa sobretaxa não se aplica ao Brasil, que poderia facilmente conquistar esse mercado.

Os países da Europa e os Estados Unidos acabarão por se render à evidência: produtos tropicais são produzidos nos trópicos, mas podem ser importados e comercializados pelas empresas europeias e norte-americanas. Isso é verdade desde os tempos da Roma imperial, 2 mil anos atrás, quando o trigo consumido na Itália, produto essencial para o Império, era produzido no Norte da África, que na época era bem mais fértil do que é hoje. Parte da riqueza do Império Britânico veio da produção de chá na Índia - que não era produzido na Inglaterra, mas era comercializado pelos ingleses.

Isso é o que deve acontecer com o etanol da cana-de-açúcar. Existem no mundo mais de cem países produtores de açúcar (usando cana), a maioria na África e na América Latina, e eles poderiam com relativa facilidade usar parte da produção de cana para produzir etanol. Aos poucos isso está ocorrendo na Colômbia, em Angola, Moçambique e vários outros países. Neles é que existe uma grande oportunidade de expansão e o governo brasileiro precisa acordar para ela.

Quando houver muitos produtores, o etanol se transformará numa commodity, como é o açúcar, e contratos de fornecimento a longo prazo - que são raros hoje - passarão a ser a norma. Para não perder a oportunidade histórica de liderar a adoção do etanol da cana-de-açúcar como substituto da gasolina no mundo o governo brasileiro precisa, contudo, remover com urgência os obstáculos que estão asfixiando a sua produção, no momento, como o congelamento do preço da gasolina desde 2007, o que viola as mais elementares regras de uma economia de mercado.

Que a Venezuela, que é um grande produtor de petróleo, o faça, em nome de beneficiar sua população mais pobre, é até compreensível. Mas importar gasolina a preços internacionais de hoje e vendê-la a preços de 2007 é irracional. E a Petrobrás está pagando caro por isso.

O Programa do Álcool no Brasil já enfrentou outros percalços no passado, como o de não ser capaz de abastecer os carros usando etanol puro - em motores especialmente construídos para tal no nosso país -, o que quase destruiu o programa quando o petróleo baixou de preço. O desenvolvimento de motores flexfuel, cuja introdução no mercado foi entusiasticamente apoiada pelo governo do Estado de São Paulo, em 1973, resolveu, todavia, esse problema.

As dificuldades que o setor enfrenta agora, entretanto, são de âmbito nacional e só o governo federal pode resolvê-las. Ao fazê-lo, ele estaria tomando uma decisão histórica: hoje mais energia renovável é produzida como o etanol do que com qualquer outra opção - eólica, fotovoltaica, geotérmica ou solar.

O programa brasileiro de etanol não representa o passado, mas o futuro.

* José Goldemberg é professor da Universidade de São Paulo.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Minas à margem das decisões do governo Dilma - Marcus Pestana

A relação da presidente talvez nem Freud explique

Consta que a certidão de nascimento da presidente Dilma teve seu registro em Belo Horizonte. Como mineira, a presidente deveria ter um olhar especial para Minas e sua gente. Não é isso que se vê. De início, prometeu ter um escritório na capital e aqui vir todos os meses, mas a retórica política não foi suficiente para a construção de identidades profundas. Ser mineiro é um estado de espírito, é um jeito de ser, é carregar tradições e um inconfundível estilo, é defender os interesses mineiros. Os esforços de seus assessores e partidários não conseguiram esconder que a presidente Dilma vota em Porto Alegre, tem um jeito - nada mineiro - pouco afeito ao diálogo, conhece muito pouco a realidade de Minas, tem sua trajetória ligada aos pampas e, tudo indica, prefere chimarrão e churrasco ao bom pão de queijo com cafezinho.

Mais do que simbolismos, a marginalização de Minas através de gestos concretos revela um componente freudiano na ação presidencial, ao renegar suas raízes e adiar investimentos estratégicos para o desenvolvimento do Estado.

Já se vão 25 meses dos 48 que compõem seu mandato. Os gestos falam mais que palavras. São 11 ministros paulistas, oito gaúchos e apenas um mineiro, assim mesmo de sua cota pessoal. Nunca, na história republicana, a participação de Minas foi tão pequena. Agora, tardiamente, por razões meramente eleitorais, parece que novidades estão a caminho.

A planta de acrílico, em Ibirité, para adensar a cadeia produtiva em torno da Refinaria Gabriel Passos, é uma promessa arquivada pelo PT. Eu mesmo, como secretário de saúde, participei de várias reuniões com a Petrobras sobre o Hospital Municipal, como suporte para o investimento.

E a ampliação da Fiat, que deveria naturalmente se situar em Betim, foi levada para Pernambuco, com incentivos que foram objeto de medida provisória específica e direcionada.

Na infraestrutura, nem se fala: o último centímetro e a última estação de metrô datam do governo FHC. As BRs 381 e 040 não saíram do papel após dez anos de governo do PT. O novo Anel Rodoviário não passa de um rabisco na prancheta.

O veto à mudança da base de cálculo da CFEM nas operações de exportação de minério tirou do Tesouro Estadual cerca de R$ 300 milhões/ano. Zerando a Cide para desafogar a Petrobras, outros R$ 300 milhões/ano para a manutenção das estradas sumiram, levando o governo de Minas a arcar sozinho com o Pró-MG.

Na construção do novo marco do setor elétrico, faltou diálogo e respeito aos contratos, com graves consequências para o Tesouro Estadual e para a Cemig.

Também em relação à dívida pública estadual, a postura tem sido semelhante à de um agiota, já que o governo federal capta a Selic (7,25%) e corrige a dívida de Minas a IGP+7% (15%). O comprometimento de 13% das receitas com pagamento de dívida sufoca os investimentos em educação e saúde.

Portanto, a relação da presidente Dilma com Minas, seu Estado natal, talvez nem Freud explique.

Marcus Pestana, deputado federal (PSDB-MG)

Fonte: O Tempo (MG)

As eleições de 2014 e a economia - Luiz Carlos Mendonça de Barros

A condução da política econômica no Brasil está dando sinais de estar passando por mudanças importantes. Os analistas precisam incorporar os efeitos de uma eleição presidencial - que se mostra hoje mais difícil do que as que consolidaram a hegemonia do PT no quadro político brasileiro - em suas previsões. Vou dividir com os leitores do Valor algumas observações que tenho sobre esse tema, embora deva ressaltar que ainda são ideias iniciais e que só os próximos meses poderão robustecê-las.

Em primeiro lugar, é preciso lembrar que o PT é um partido que segue os princípios do cientista político italiano Antonio Gramsci, adaptado ao cenário brasileiro ao longo dos últimos dez anos. E nesse quadro de princípios a manutenção do poder é um de seus principais itens. Em outras palavras, para o PT e sua liderança política, eleição é uma coisa muito séria que justifica tudo, inclusive a mudança de posições consolidadas ao longo do tempo. A própria presidenta nos lembrou, recentemente, desse fato ao dizer que em época de eleições faz-se o diabo para ganhá-las.

Um segundo ponto que gostaria de desenvolver diz respeito a uma observação feita pelo ex-governador Paulo Hartung - outro político que também leva a questão de eleições a sério - em recente conversa. Para ele as eleições presidenciais do próximo ano serão as mais difíceis que o PT enfrentará na sua fase "poder". As razões são várias, mas as mais importantes me parecem as seguintes:

Alta da Selic e uma valorização do real mostrarão até onde o governo pretende ir pela reeleição de Dilma

1 - a economia em 2014 não será a maravilha que vivemos em 2006 e 2010;

2 - a se confirmarem as candidaturas que estão postas hoje, a presidente Dilma terá que enfrentar no Nordeste um político local e de grande visibilidade como Eduardo Campos e que certamente vai roubar muitos votos do PT;

3 - em Minas Gerais (outro curral eleitoral do PT nas últimas eleições) a presença do ex-governador Aécio Neves vai alterar de forma importante a distribuição dos votos;

4 - Marina Silva também pode representar uma alternativa eleitoral interessante para eleitores que votaram nos candidatos do PT nas últimas eleições;

5 - Em um eventual segundo turno entre Dilma Rousseff e Eduardo Campos os riscos de derrota aumentam muito;

Por tudo isso o governo e o PT sabem que o estado da economia vai ter um papel importante no comportamento do eleitor. E os resultados dos dois últimos anos não garantem que um cenário de céu de brigadeiro vá acontecer em 2014. Essa é a razão porque acredito que vamos assistir a algumas mudanças significativas na condução da política econômica nos próximos meses. A direção desses movimentos será nitidamente no sentido de reduzir o mau humor do setor privado em relação ao governo em função de traços claros de um autoritarismo estatal - que não ocorreu nos anos Lula - nas suas decisões.

A presidenta Dilma mudou de forma clara o soft econômico herdado de Lula, reduzindo o espaço e a liberdade da dinâmica privada na economia e aumentando as intervenções do governo, principalmente via regulação e ações de empresas estatais. A presidenta acredita em um modelo econômico em que o Estado deve liderar as ações na economia, inclusive interferindo em contratos em vigor como aconteceu recentemente com o setor elétrico. Por outro lado o governo tem demonstrado pouca disciplina na gestão das âncoras macro que herdou dos governos Fernando Henrique e Lula.

Com isso vem perdendo o apoio de amplas faixas do setor privado, tanto no Brasil como no exterior. Hoje o Brasil é visto com desconfiança pelos mercados financeiros, apesar ainda de ser um polo importante de investimentos de empresas que querem participar do fortalecimento do mercado de consumo nos próximos anos.

Por essa razão, apesar do mau humor dos investidores meramente financeiros, o volume de investimento direto do exterior continua forte, na faixa dos US$ 60 bilhões anuais. Mas o peso dos chamados mercados na construção do clima de negócios em um país emergente como o Brasil é suficiente para que, como acontece agora no Brasil, ocorra uma redução dos investimentos privados. A realidade do PIB do ano passado, com uma queda expressiva da formação bruta de capital, deve ter mostrado aos dirigentes do PT e ao governo a necessidade de restabelecer uma ponte de credibilidade com os mercados.

Alguns sinais dessa nova postura começam a aparecer em decisões do governo e, principalmente, no vazamento pela imprensa de comentários de fontes oficiais. No caso das concessões de serviços públicos parece que o governo vai aceitar que os leilões sejam realizados com taxas de rentabilidade compatíveis com os riscos envolvidos. Também nas negociações sobre a MP dos Portos essa postura, mais realista e favorável ao capital privado, parece estar ocorrendo.

Mas virão das decisões do Copom e das intervenções no mercado de câmbio nos próximos meses as indicações mais importantes destas mudanças. A dimensão e a velocidade da elevação dos juros Selic diante de uma inflação perigosa - inclusive para as eleições - e uma valorização maior do real nos mercados de câmbio mostrarão até onde o governo pretende ir para fortalecer a reeleição da presidenta Dilma.

Luiz Carlos Mendonça de Barros, engenheiro e economista, é diretor-estrategista da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações. Escreve mensalmente às segundas.

Fonte: Valor Econômico

Greve paralisa obras no Porto

Uma greve de 3.500 operários que trabalham no projeto de revitalização da Zona Portuária paralisa 33 frentes de obra. Eles reivindicam plano de saúde. A Porto Novo diz que o cronograma não será afetado

Greve de operários paralisa revitalização da Zona Portuária

Concessionária afirma que movimento não prejudicará cronograma

Natalia Castro

A greve de 3.500 operários da concessionária Porto Novo, empresa contratada pela prefeitura o Rio para executar obras do Porto Maravilha, paralisou 33 frentes de obra na Zona Portuária. Eles suspenderam os serviços na última quarta-feira, reivindicando o benefício do plano de saúde, dado apenas a funcionários do departamento pessoal da firma. Hoje, uma assembleia marcada para as 7h e uma audiência de conciliação à tarde, no Tribunal Regional do Trabalho (TRT), prometem definir o impasse. No momento, somente o monitoramento das obras dos túneis é mantido por trabalhadores autorizados pelo sindicato da categoria.

Em negociação com os operários, a assessoria da Porto Novo afirmou que a concessionária obedece plenamente à Convenção Coletiva de Trabalho, estabelecida pelo Sindicato dos Trabalhadores da Construção Pesada do Rio de Janeiro (Sitraicp) e pelo Sindicato da Indústria da Construção Pesada (Sinicon). O documento, porém, ainda não assinado pelas partes, exclui o benefício do plano de saúde. A assessoria garantiu ainda que a paralisação não afetará o cronograma das obras, previstas para serem entregues no primeiro semestre de 2016.

Diretor-presidente da Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio (Cdurp), Alberto Gomes Silva espera que a situação se resolva o mais rapidamente possível e que não comprometa as relações contratuais:

- As providências possíveis estão sendo tomadas. Por enquanto, não há danos mais graves.

Negociação demorada, diz sindicato

Porém, caso as partes envolvidas não cheguem a um acordo hoje, a greve será mantida, ressalta Nilson Duarte Costa, presidente do Sitraicp, que chama a atenção para a morosidade nas negociações:

- Eles não querem discutir. Parece que estão deixando a greve acontecer. E o resultado disso é o atraso, cada vez maior, das obras.

A principal reclamação de Costa diz respeito à falta do plano de saúde. Ele argumenta que somente os operários da Porto Novo não têm o benefício.

- Se os trabalhadores envolvidos nas obras do Caju, do Maracanã e do metrô têm direito ao plano, por que os da Zona Portuária não têm? - indaga ele, acrescentando que muitos dos operários da Porto Novo vieram do canteiro de obras do Maracanã. - E, na transição, perderam o direito, o que é um absurdo. Sei que, às vezes, o pagamento do plano de saúde não é possível. Eu nem sei em quanto essa obra foi orçada, mas acho que existe condição.

Atualmente, as obras do Porto Maravilha totalizam 33 frentes. As principais intervenções são a Via Binário (futura Oscar Niemeyer) - que vai interligar a Linha Vermelha e o Viaduto do Gasômetro ao Centro da cidade -, o Viaduto de Conexão com São Cristóvão e o alargamento do túnel ferroviário existente sob o Morro da Providência. Desde o último dia 9, a interdição da pista sentido Centro da Avenida Rodrigues Alves - que se transformará em via expressa - vem causando ainda mais transtornos ao trânsito.

A greve na Zona Portuária ocorre um mês depois de protestos no Maracanã. Na ocasião, um dia antes da visita oficial de integrantes do Comitê Olímpico Internacional (COI) ao estádio, trabalhadores fizeram uma paralisação de advertência que visou a um reajuste salarial de 15% mais cesta básica de R$ 330, inclusão dos familiares no plano de saúde e participação nos lucros equivalente a dois salários, além de pagamento de 100% da hora extra. Após assembleia e terem conquistado parte das reivindicações, eles retomaram as atividades depois do carnaval. A reforma do Maracanã está prevista para chegar ao fim daqui a dois meses, em maio, a tempo da Copa das Confederações. A primeira partida será em 16 de junho.

Fonte: O Globo