quarta-feira, 20 de março de 2013

OPINIÃO DO DIA – Aécio Neves: Serra

"Foi uma conversa muito positiva. Fizemos uma análise muito convergente do Brasil. Tenho confiança que o Serra tem lado. E o lado dele é o nosso lado. Na construção do nosso projeto ele terá o espaço que quiser.

Aécio Neves, senador (PSDB-MG), em O Globo, 20/3/2013

Manchetes de alguns dos principais jornais do País

O GLOBO
Tragédia na Serra: Número de mortos em Petrópolis sobe para 27
‘Há muitos juízes para colocar para fora’
Refinarias do NE: futuro incerto
Royalties: decisão pós-Páscoa
Doméstica ganha novos direitos

FOLHA DE S. PAULO
Barbosa critica 'conluio'
entre juízes e advogados
Dilma gasta só um terço da verba para tragédias
Papa Francisco prega humildade na inauguração do pontificado
No aniversário da invasão, Iraque revive cenas de 2003
Senado aprova ampliar direitos de domésticas
Aluno usa até hino do Palmeiras em redação do Enem
Aprovação do governo federal alcança 63%, indica pesquisa

O ESTADO DE S. PAULO
Petrobrás desiste de vender refinaria após investigação no TCU
Barbosa vê ‘conluio’ entre juízes e advogados
Aécio já admite se candidatar à presidência do PSDB
Petrópolis teve só R$ 41,2 mil para desastres; mortos são 27
Preço da cesta básica cai 0,55% em 1 semana
Francisco pede por pobres e natureza em início de papado

VALOR ECONÔMICO
Cade assina hoje acordos com Unimeds
Caixa lidera a conquista de contas
Empregado doméstico já é quase luxo
Planalto teme reação do Rio sobre royalties

BRASIL ECONÔMICO
Unificação do ICMS em 4% pode ir parar no plenário do Supremo
“Ninguém desqualifica a Petrobras no pré-sal”
Autor da Lei dos Royalties tenta driblar a liminar de Cármen Lúcia
Bancos projetam aumento de 30% nas linhas de crédito imobiliário

ESTADO DE MINAS
UFMG adota Sisu e acaba com vestibular
Aprovação do governo Dilma chega a 63%
Cai idade para fazer cirurgia bariátrica

O TEMPO (MG)
UFMG extingue vestibular
"Não devemos ter medo da ternura", alerta Francisco
Newton diz que ministério não vai impedir candidatura
Petrobras deve subir mais os preços e vai importar até 2020
Senado aprova novos direitos de domésticas

CORREIO BRAZILIENSE
Ser mulher no Brasil é correr risco de vida
Barbosa condena “conluio” entre juízes e advogados
Ato de fé: Dilma tieta o papa Francisco
Trabalho: Domésticas mais perto de novos direitos
Descaso, uma tragédia no Rio
Férias na Copa ficam a critério de cada escola

GAZETA DO POVO (PR)
Produtos da cesta básica ficam 4% mais baratos após corte de impostos
Cuidem das pessoas e do meio ambiente, pede o papa a líderes
Barbosa acusa advogados e juízes de conluio
Emenda estende isenção do ICMS do diesel a seis cidades

ZERO HORA (RS)
Carvão abre espaço para usinas de R$ 10 bi no RS
Cada vez mais pop

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Senado aprova a lei das domésticas
Cesta básica cai menos no Recife
Vaticano
Popularidade de Dilma nunca esteve tão alta
Número de mortos em Petrópolis chega a 27

Aécio já admite se candidatar à presidência do PSDB

O senador Aécio Neves (MG) disse que pretende se candidatar a presidente do PSDB e afirmou que seu nome ganhou "consistência" nos últimos dias. A afirmação ocorreu um dia após encontro com o ex-governador José Serra, cujo nome também foi colocado na disputa pela direção do partido.

Aécio vê "consistência" em assumir PSDB após se encontrar com Serra e Alckmin

João domingos, Débora Álvares, Julia Dualibi, Bruno Boghossian e Sonia Racy

O senador Aécio Neves (PSDB- MG) afirmou ontem, pela primeira vez, que pretende se candidatar a presidente do PSDB e declarou que sua indicação ganhou "consistência" nos últimos dias. A afirmação foi feita horas depois de ele se encontrar com o ex-governador José Serra, cujo nome também foi colocado na disputa para o comando do partido.

O anúncio de Aécio foi feito logo depois de um encontro de cerca de 30 minutos com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, ontem, no Senado, quando os dois já se haviam despedido. "Essa questão começou com o presidente Fernando Henrique Cardoso e com o deputado Sérgio Guerra, que lançaram meu nome. De lá para cá, ganhou consistência. Estou muito animado", disse Aécio, em referência ao lançamento feito pelos dois tucanos em dezembro.

A candidatura à presidência do PSDB, confirmada ontem por Aécio, é o primeiro passo do mineiro na construção de sua candidatura a presidente. O senador resistia, inicialmente, a embarcar no projeto, alegando que poderia causar desgaste desnecessário mais de um ano antes da eleição. Por pressão do partido, assumiu a missão, como forma de demonstrar comprometimento com o projeto presidencial.

No final da semana passada, parlamentares ligados a Serra afirmaram a integrantes da direção do PSDB que o ex-governador deveria ser o presidente da legenda para comandar o partido na eleição de 2014. Disseram que essa seria a única forma de evitar a saída do tucano do partido rumo ao PPS, Serra disse não ter autorizado ninguém a falar por ele e declarou que não pleiteava cargo no partido. A movimentação nos bastidores criou um mal-estar no partido.

Conversa.. Aécio conversou por três horas com Serrana segunda- feira, conforme informou a coluna Direto da Fonte. "Foi uma conversa de convergência. Não houve nenhum tipo de exigência, embora Serra tenha credenciais para ocupar qualquer espaço no partido", disse o senador. Para alguns tucanos, o ex-governador poderia ocupar a presidência do Instituto Teotônio Vilela (ITV), centro de estudos do partido. Procurado, Serra não respondeu às ligações. "As coisas estão caminhando muito bem. São Paulo terá papel de destaque no projeto de tornar o PSDB competitivo, com propostas renovadoras para o Brasil", disse Aécio.

Segundo o senador, Serra disse que está retomando sua vida pessoal e profissional, após a derrota na eleição municipal em São Paulo no ano passado. No encontro, Serra teria descartado a possibilidade de sair do PSDB. "Isso não existe. Serra continua forte no PSDB", afirmou.

Ontem, Alckmin disse que Aécio era "um grande nome" para presidir o PSDB. Em encontro com a bancada de deputados federais do partido, na segunda-feira, o governador tinha dito que a presidência poderia não ser boa ideia para o senador. Alckmin teme que um racha no partido, em razão de eventual descontentamento de Serra, fragilize a sigla em São Paulo e coloque em risco sua candidatura à reeleição.

Seminário. Aécio disse que . Alckmin o convidou para um seminário no diretório paulista do PSDB, na segunda-feira. "O Alckmin pediu para eu ir direto ao Palácio dos Bandeirantes, onde ; vou encontrá-lo. De lá, vamos juntos para o seminário, para mostrar o quanto estamos unidos", contou. Alckmin emendou: "O café estará no bule, aguardando-o. Vamos saborear : a sabedoria mineira do Aécio".

Na semana passada, Alckmin chegou a sugerir que a apresentação de Aécio fosse adiada, em razão do mal-estar entre o mineiro e parte do PSDB de São Paulo. Temia que o evento parecesse provocação. Após a visita de Aécio a Serra, concordou com a realização do seminário por avaliar que algumas arestas foram aparadas.

No Senado, Alckmin foi indagado se era candidato a cuidar de um tratado de paz entre o PSDB de São Paulo e de Minas. "Sou candidatíssimo, mas a presidente do Santos (time do qual é torcedor)", respondeu. Mais uma vez, Alckmin tentou manter distância da polêmica sobre a disputa pela presidência do partido em maio. "Temos dois meses para ter uma boa conversa e eleger uma boa diretoria partidária", disse.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Aécio diz que apoio de Serra chegará em 'momento oportuno'

Ainda sem conseguir superar divisão dentro do PSDB, virtual candidato em 2014 se reúne com tucanos de SP

Senador mineiro teve que agir contra rumores de que Alckmin resistia ao seu nome para a presidência do partido

Gabriela Guerreiro, Natuza Nery e Daniela Lima

BRASÍLIA, SÃO PAULO - A menos de um mês e meio de sua convenção geral -festa programada para selar a liderança do senador Aécio Neves (MG) no comando do PSDB-, o partido ainda não conseguiu superar a divisão interna. Mas o mineiro diz: "Teremos o apoio de [José] Serra no momento oportuno".

Virtual candidato tucano à Presidência da República, Aécio precisou agir nos últimos dois dias contra rumores de que a resistência a seu nome para a presidência da sigla vinha também do gabinete do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.

Anteontem, o senador tucano reuniu-se por três horas com José Serra em São Paulo. Ontem, recebeu o governador em seu gabinete no Senado e dele obteve uma indicação de apoio político.

Alckmin comprometeu-se a acompanhá-lo no encerramento de um congresso do partido na capital paulista, estreia do mineiro com a militância do Estado. Havia dúvidas sobre a presença do governador -ele chegou a sugerir que o ato fosse adiado.
Semana passada, Alckmin esteve em um jantar na casa de Aécio em Brasília, onde disse que o colega não precisaria ser presidente da sigla para ser presidenciável.

A declaração preocupou aliados de Aécio. Na visão desse grupo, a resistência de Serra, sozinha, não abalaria o projeto político do senador dentro do partido. Entretanto, uma divergência com o governador de São Paulo poderia comprometer os planos.

Ontem, Alckmin não só confirmou presença no congresso como disse que chegará ao local com Aécio, o que foi visto como sinal de trégua por aliados do mineiro.

Unidade partidária

A convenção nacional do PSDB está marcada para 19 de maio. Construir a unidade partidária tem sido a principal agenda de Aécio. Sem isso, o impulso para sua candidatura perderia embalo.

Aécio e Alckmin deixaram o encontro de ontem afirmando que, até maio, vão achar uma saída para eleger uma "boa direção partidária".

Foi uma referência ao pleito de alguns tucanos de São Paulo que temem uma hegemonia do mineiro. Eles defendem que Aécio ceda cargos estratégicos a aliados de Alckmin e Serra, teoria abraçada pelo governador paulista.

Alckmin tem evitado polemizar com Serra num momento em que não pode desprezar suporte político para reelegê-lo ao Palácio dos Bandeirantes em 2014.

Foram os sinais enviados pelo governador que levaram Aécio ao encontro com Serra na segunda-feira. Segundo aliados de ambos, a conversa terminou inconclusa.

"Serra, temos algo que nos une: o espírito público e o objetivo de tirar o PT do governo", disse o senador no encontro. "Não quero você como aliado, quero você como protagonista."

Serra teria ouvido Aécio sem fazer muitas ponderações. Disse que não poderia ser considerado obstáculo à unidade do partido, pois há anos não é ouvido pela cúpula do PSDB. Os dois encerraram o papo com o compromisso de que voltarão a conversar em duas semanas.

Ontem, Aécio desmentiu a versão de que Serra estaria cobrando cargos na cúpula da sigla para apoiá-lo. Serra havia manifestado irritação com esses rumores.

Fonte: Folha de S. Paulo

Aécio tenta entendimento com Serra para se viabilizar em 2014

Alckmin também atua para aparar arestas e receberá mineiro em SP

Maria Lima, Gustavo Uribe e Germano Oliveira

BRASILIA e SÃO PAULO - Numa conversa franca na noite de segunda-feira, que durou cerca de três horas, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) tomou a iniciativa de tentar resolver problemas com o ex-ministro e ex-governador José Serra, que se arrastam desde as duas últimas eleições presidenciais. Na conversa, segundo relato de tucanos, os dois discutiram pontos delicados da relação, mas o mineiro saiu convencido de que houve avanços, porque está descartada, em sua opinião, a possibilidade de o paulista deixar o PSDB para se integrar ao projeto do governador Eduardo Campos (PSB-PE) em 2014.

O encontro entre Aécio e Serra durou três horas e começou tenso. O mineiro disse ao paulista que o partido não poderia abrir mão dele para qualquer projeto nacional, mas explicou a importância de assumir a presidência do PSDB como parte da estratégia para sua candidatura à sucessão presidencial. José Serra se mostrou insatisfeito por não ter sido consultado na formação do novo comando do partido. O senador, então, sondou o líder tucano sobre a possibilidade de ele assumir a direção do Instituto Teotônio Vilela, posto recusado por Serra. Sem um acordo, o mineiro prometeu contemplar São Paulo no novo comando do partido.

Intermediando a pacificação dos dois, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, também se reuniu ontem com Aécio para acertar sua participação no seminário do PSDB, segunda-feira em São Paulo, quando Serra estará fora do país. Alckmin e Aécio acertaram de chegar juntos para mostrar a unidade dos tucanos mineiros e paulistas.

Na conversa, Serra teria negado que esteja condicionando seu apoio à provável candidatura de Aécio a presidente à não eleição do mineiro para a presidência do PSDB, em maio.

- Foi uma conversa muito positiva. Fizemos uma análise muito convergente do Brasil. Tenho confiança que o Serra tem lado. E o lado dele é o nosso lado. Na construção do nosso projeto ele terá o espaço que quiser - disse Aécio, após o encontro com Alckmin em seu gabinete, em Brasília.

Segundo relatos de interlocutores do PSDB, na conversa entre Aécio e Serra, em São Paulo, o senador disse que os dois podiam ter divergências, mas compartilhavam um objetivo comum: um projeto alternativo de país.

- Queremos derrotar o PT. E a polarização será conosco - teria dito Serra.

- Serra, você tem um lastro eleitoral que ninguém mais tem no Brasil. Temos que fazer isso juntos - completou Aécio, de acordo com os interlocutores.

Os dois também conversaram sobre ressentimentos do passado, como o gerado por informações de que Aécio não teria se empenhado nas campanhas presidenciais em que Serra foi derrotado por Lula e Dilma.

- Zeramos o passado. O Serra avaliou que as derrotas dele nada tiveram a ver com Minas. Com as condições econômicas daquele momento, era quase impossível vencer - disse Aécio, segundo relatos de seus companheiros.

Na análise que os dois fizeram sobre os palanques nos estados, Serra e Aécio consideraram que candidatura de Eduardo Campos é fundamental para impedir a vitória do PT no primeiro turno. E consideraram equivocada a análise de que o pernambucano tira mais votos dos tucanos, argumentando que Campos tem votos no Nordeste, onde Dilma teve 70% de seus votos.

Aécio desclassifica informações de que Serra estaria negociando filiação ao PPS, para apoiar Campos:

- O Serra conversa com muita gente. Mas não vejo nenhum movimento que o distancie do PSDB. Nós temos o mesmo objetivo, de apresentar uma alternativa a esse modelo que está aí.

Alckmin tentou desfazer o clima de mal-estar:

- Temos dois meses para uma boa conversa e uma boa eleição. Há espaço para todos participarem.

Fonte: O Globo

Ciro muda o tom e defende PSB na briga

BELÉM - Duas semanas após ter feito críticas ao seu colega de partido Eduardo Campos (PSB), potencial candidato à Presidência, o ex-ministro Ciro Gomes passou a defender candidatura própria da legenda em 2014. Ciro Gomes voltou a afirmar que o PSB deve deixar a base aliada do governo federal caso decida concorrer ao Planalto."Se nós queremos apresentar uma candidatura própria, e eu gostaria que nós apresentássemos, temos que sair do governo, dizer por que saímos e oferecer ao povo brasileiro um embrião de projeto para o país, para que se justifique", afirmou.

As declarações foram feitas em entrevista no último dia 8 à TV Diário, emissora cearense, e reproduzidas pelo blog de Roberto Moreira, diretor da TV.

Na entrevista, Ciro afirma que cultiva "decência" e que não acha razoável que o PSB fique ali "catando migalhas do banquete onde estão PMDB e PT e deixe para largar esse osso só na véspera da eleição". "Se isso acontecer, acho que teremos cometido um grave erro", disse.

No fim de fevereiro, Ciro provocou desconforto em seu partido ao dizer em uma rádio local que nem Eduardo Campos nem os outros possíveis candidatos em 2014 têm proposta para o País. "Eduardo não tem estrada ainda. Não conhece o Brasil. Aécio não conhece o Brasil. Marina Silva representa uma negação ética, uma negação desses maus costumes, mas não representa a afirmação de rigorosamente nada", afirmou, na ocasião.

As novas declarações indicam uma mudança de posição de Ciro Gomes, que considerava o cenário ideal emplacar seu irmão, Cid Gomes (PSB), atual governador do Ceará, na vice da presidente Dilma.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Campos cria revista com feitos do governo

Proposta da publicação é mostrar boas práticas de administração pública

Letícia Lins

RECIFE - No mesmo dia em que teve questionada a transparência do governo por deputados estaduais e pela seccional de Pernambuco da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o governador Eduardo Campos (PSB) lançou ontem uma revista com custo anual de R$ 200 mil, pagos integralmente pelo governo do estado. A publicação será trimestral, com tiragem inicial de mil exemplares, e tem como público-alvo servidores, gestores e acadêmicos. E objetiva mostrar experiências exitosas da administração pública de Pernambuco e de outros estados e municípios. A revista "Gestão Pública PE" traz em seu número inicial 14 seções, das quais pelo menos seis relatam experiências no estado, destacando o modelo de gestão premiado no ano passado pela ONU, na qual Campos aparece ao lado do hoje prefeito de Recife, Geraldo Júlio (PSB).

Ao lançar a revista, Campos voltou a defender a necessidade de inovação na administração pública.

- Não é possível que o aparelho de Estado se organize da mesma forma do século passado, muitas vezes duplicando estruturas sem necessidade - disse.

Segundo o secretário de Planejamento e Gestão do estado, Frederico Amâncio, a publicação "é uma revista científica para um debate qualificado", aberta a "sugestões, provocações e textos".

- É um espaço de discussão sobre gestão pública, com experiências também de outros estados e colaboradores do Brasil todo - frisou.

A transparência do governo de Campos foi questionada por deputados estaduais que pretendiam fazer uma blitz no Laboratório Farmacêutico de Pernambuco (Lafepe), mas foram impedidos. O fato levou a OAB-PE a emitir nota oficial ontem, na qual afirma que a medida "fere um direito constitucional: o livre acesso à informação".

O incidente ocorreu na última quinta-feira com quatro deputados estaduais da oposição que pretendiam averiguar denúncias de que o Lafepe estaria operando com ociosidade e em condições sanitárias insuficientes. Segundo os parlamentares, a direção do Lafepe não os autorizou a entrar no laboratório porque não tinha ninguém para acompanhá-los e porque o ingresso na área fabril requer programação e uma série de exigências feitas pela Anvisa.
O presidente do Lafepe, Luciano Vasquez, garantiu, no entanto, que "ninguém foi impedido de fiscalizar" e que os chamou para a sala da diretoria, mas que os parlamentares só tinham interesse em entrar na área industrial.

- Querem fazer factoide político. Não quiseram conversa, mas só adentrar na produção. Qualquer laboratório, seja público ou privado, exige pré-agendamento de visitas. Acabou-se o tempo da carteirada, de dizer que "vou entrar em qualquer lugar" - afirmou o executivo.

Fonte: O Globo

Aécio conquista apoio de PSDB paulista

Cristian Klein, Raquel Ulhôa e Marcos de Moura e Souza

SÃO PAULO, BRASÍLIA e BELO HORIZONTE - Depois dos momentos mais tensos de negociação - em que o ex-governador de São Paulo, José Serra, teria ameaçado sair do partido -, a resistência da seção paulista do PSDB em se engajar na pré-candidatura do senador mineiro Aécio Neves à Presidência da República parece ter se dissipado ou ao menos foi abrandada. Numa frente, Aécio conversou com Serra, na segunda-feira, em São Paulo, e iniciaram um acordo em torno da eleição que definirá a nova executiva nacional do partido, em maio.

Na outra frente, o senador mineiro recebeu o sinal verde do governador Geraldo Alckmin - com quem viajou de avião na manhã de ontem, para Brasília - para se aproximar da base do PSDB em São Paulo.

Aécio fará incursões pelo interior do Estado para travar os primeiros contatos com os militantes e dirigentes paulistas e, na segunda-feira, às 19h, dará uma palestra no Congresso Estadual do partido.

"Não o convidamos sem o consenso do governador. Essa história de que o Geraldo seria contra é só papo. Ele é um homem de partido. Vamos levar o Aécio a quatro, cinco regiões, para conhecer prefeitos, vereadores, deputados, todo mundo. Ele [Aécio] é que pediu, mas queremos também", disse ao Valor o deputado estadual Pedro Tobias, presidente do PSDB paulista.

Tobias diz que, no dia da palestra, Aécio Neves, depois de várias reuniões à tarde com o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso - maior incentivador de sua candidatura ao Planalto -, se encontrará com Alckmin no Palácio dos Bandeirantes, de onde sairão juntos para o diretório estadual do partido, numa demonstração de unidade. A palestra terá um tom nacional e Aécio falará como candidato, com críticas ao governo federal. Pela primeira vez, Aécio falará de São Paulo para o país, o que para os tucanos será um ato carregado de simbolismo.

"Acredito que já saiu a fumaça branca", afirma Tobias, numa referência ao sinal emitido no Vaticano quando os cardeais, reunidos em conclave, chegam ao consenso para a escolha de um novo papa.

O otimismo se baseia nos resultados da negociação entre Aécio e o maior foco de resistência à sua candidatura: José Serra. Mesmo vindo de duas derrotas seguidas, para a Presidência, em 2010, e para a Prefeitura de São Paulo, no ano passado, o ex-governador de São Paulo teria exigido o controle do partido em troca do apoio a Aécio. Caso contrário, poderia sair do PSDB. O senador mineiro, no entanto, também quer a presidência da legenda, para obter mais visibilidade nacional, mais liberdade para viajar pelos Estados em sua pré-campanha e evitar obstáculos à sua candidatura. No controle do PSDB, Serra poderia, no mínimo, atrapalhar a vida de Aécio. Para serristas, o senador se empenhou pouco e teria sido responsável pela votação aquém da esperada em Minas Gerais, na eleição presidencial de 2010.

O encontro entre os dois, na segunda-feira, durou mais de três horas, quando tentaram aparar as arestas. De um lado, Serra disse não ter reivindicado cargo algum, negou que tenha autorizado seus aliados a lançar seu nome para presidir o partido e mostrou disposição de permanecer no PSDB para tentar derrotar o PT em 2014. Aécio Neves, por sua vez, ofereceu ao correligionário "o espaço que ele quiser" na direção do partido. "Zeramos o passado", afirmou Aécio.

O senador começou a conversa de forma direta. "Temos muitas divergências e uma coisa em comum: espírito público e um projeto conjunto de partido e de Brasil", teria dito, segundo interlocutores. "E queremos derrotar o PT. A polarização será conosco", teria respondido Serra.

Aécio disse ao ex-governador que ele tem um "lastro eleitoral" que ninguém tem no Brasil. "Nós temos que fazer isso [derrotar o PT] juntos", foi o apelo feito pelo senador a Serra.

"Saí da conversa convencido de que o Serra tem lado e o lado dele é o nosso lado. A nossa visão de país é comum e ele terá papel importante na condução do PSDB. O papel que ele quiser", afirmou Aécio. "Tenho confiança de que Serra vai estar no jogo", acrescentou.

Aécio e Serra, sozinhos, no escritório do ex-governador em São Paulo, fizeram uma análise da situação política de cada Estado e avaliaram a provável candidatura do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, presidente do PSB, a presidente da República. Os dois concordaram que a participação de Campos na disputa favorece o projeto da oposição, já que divide a base de Dilma e, principalmente, tira dela votos do Nordeste, onde ela recebeu mais de 70% dos votos.

A questão delicada na relação de ambos também foi discutida: a suposta responsabilidade dos tucanos mineiros nas derrotas de Serra quando disputou a Presidência da República. O próprio ex-governador de São Paulo teria rebatido essa avaliação, dizendo que sua derrota nada teve a ver com Minas e sim com outros fatores, como a situação econômica do país. Serra, no entanto, avisou a Aécio que não participará de sua palestra no diretório paulista, pois estará viajando.

Fonte: Valor Econômico

Percepção favorável do noticiário ajuda a presidente

José Roberto de Toledo

A maior parte dos brasileiros (38%) acha que o noticiário foi mais favorável à presidente Dilma Rousseff nos últimos três meses. Pela primeira vez desde que ela tomou posse, essa fatia é maior do que a dos que consideram que houve mais notícias neutras (34%) ou negativas (17%). Dilma não é popular só por causa disso, mas a comunicação ajudou a presidente.

Das dez notícias mais lembradas pelos brasileiros nos últimos três meses, apenas uma (aumento do preço da gasolina) foi francamente negativa para o governo - e, mesmo assim, foi citada por apenas 3% das pessoas.

A grande maioria foi de boas notícias para Dilma: redução da tarifa de energia, corte de impostos da cesta básica, aumento do salário mínimo, e a presença solidária da presidente em eventos trágicos, como o incêndio em Santa Maria, ou notórios, como a despedida do papa e o enterro de Hugo Chávez.

Isso mostra que a comunicação presidencial está mais ativa, seja criando fatos positivos - como o anúncio em cadeia de TV do corte de impostos da cesta básica -, seja aproveitando bem as oportunidades que aparecem. É mais um sinal de que a campanha eleitoral de 2014 começou e com força, ao menos para Dilma.

Comunicação é o que as pessoas entendem, não o que quem falou pensa ter dito. Por enquanto, o governo está dando um banho na oposição nesse quesito. O anúncio da redução da tarifa de eletricidade, por exemplo, foi cinco vezes mais lembrado do que o noticiário sobre o pibinho. Talvez porque um afete diretamente o público, e o outro, não.

Não por coincidência, o único segmento social onde a popularidade de Dilma aumentou foi entre os mais pobres, justamente aqueles que mais se beneficiam do aumento do salário mínimo e da prometida redução do preço dos alimentos e da energia.

Nada garante que o vento continue soprando a favor de Dilma até a eleição, mas é mais fácil navegar uma tendência do que revertê-la. Esse é o desafio da oposição.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Eduardo e Aécio minimizam resultado de sondagem

Murillo Camarotto

RECIFE - O governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, minimizou ontem o resultado da pesquisa Ibope/CNI que apontou ligeiro crescimento na popularidade da presidente Dilma Rousseff. Potencial candidato ao Planalto em 2014, Campos disse que a pesquisa não trouxe mudanças significativas.

"Acho que a pesquisa demonstra o que sempre demonstrou. Desde o ano passado, os números são esses e não se alteraram", disse.

O senador mineiro, Aécio Neves (PSDB), também pré-candidato à Presidência, também minimizou os índices obtidos por Dilma. "Isso tem muito a ver com o sentimento momentâneo, talvez com algumas medidas de grande alcance popular tomadas pela presidente, e com o vigor da comunicação, da propaganda do governo. Tudo a seu tempo. Não há ainda um debate eleitoral. Temos que nos preocupar em construir nosso discurso, nossa agenda para o país".

Em Pernambuco, o governador evitou comentar possíveis influências da pesquisa sobre a disputa eleitoral de 2014. "Se vai haver ou não espaço no debate eleitoral de 2014, só vamos saber em 2014, pois as circunstâncias de 2014 não estão colocadas ainda", disse Eduardo. "É bom ter tranquilidade para esperar e ninguém cantar vitória ou chorar derrota antes da hora", completou.

Campos disse que a aprovação popular é importante para dar a Dilma condições para "reconduzir o Brasil a um processo de crescimento econômico, distribuição de renda e animar os investimentos, que é tudo que os brasileiros desejam".

Apesar da posição de adversário eleitoral que constrói em relação à Dilma, o governador disse que a presidente deve visitar Pernambuco na semana que vem. Campos preferiu, no entanto, deixar a divulgação da visita para o Palácio do Planalto. Nas últimas semanas, Dilma tem intensificado as viagens ao Nordeste, mas ainda não foi a Pernambuco.

Questionado sobre a mudança de opinião do ex-ministro Ciro Gomes (PSB), que teria passado a defender a candidatura do PSB, Campos evitou polemizar com o colega de partido. Segundo ele, Ciro é um companheiro que historicamente defende a candidatura própria no PSB, e pelo qual tem muito respeito.

Fonte: Valor Econômico

Meio cheio, meio vazio - Merval Pereira

É possível definir o encontro entre o senador Aécio Neves e o ex-governador José Serra, ocorrido segunda-feira em São Paulo, como sendo o primeiro passo de uma longa caminhada rumo à pacificação do PSDB. Mas essa seria a escolha de um otimista incurável. É possível, por outro lado, considerar a indefinição de Serra a respeito da candidatura de Aécio à Presidência da República em 2014 como um sinal de que essa pacificação está longe de acontecer, mas essa seria uma escolha de um pessimista.

Se Serra sempre demorou tanto para se definir pela própria candidatura, por que seria rápido em uma eventual adesão à candidatura de outrem, especialmente alguém que não faz parte de seu círculo de amizades nem de seus interesses políticos imediatos? Nenhum dos dois tocou no assunto diretamente na conversa de segunda à noite, mas tudo girou em torno da eleição. Mais importante do que o que foi dito foi o não dito, e pelo visto essa situação permanecerá inalterada, mesmo que cheguem a um acordo.

O fato é que Aécio Neves, o provável candidato do PSDB à Presidência, e José Serra são de grupos distintos, tucanos de plumagens diferentes, e não se bicam. O máximo que conseguirão, se conseguirem, é conviver, como aconteceu na noite de segunda-feira em São Paulo, sem que o clima seja pesado. Uma coisa parece certa: Serra não pretende fazer uma aventura para se candidatar à Presidência por um partido pequeno, como o PPS, apenas para marcar posição, sem condições de disputar para valer. E não disputaria contra o PSDB.

Além do mais, sair do PSDB, partido que ajudou a fundar, e cuja redação final do programa ele realizou junto com Fernando Henrique Cardoso, não é um movimento banal. A especulada saída do PSDB parece mais uma arma retórica de Serra do que uma realidade concreta, embora continue muito ressentido com o tratamento que vem recebendo do grupo que hoje é hegemônico no partido, ligado ao senador mineiro, e nisso estão incluídos o atual presidente da sigla, Sérgio Guerra, e até mesmo o ex-presidente Fernando Henrique.

Mas a relação entre Serra e Fernando Henrique é de outra qualidade, há uma admiração recíproca e muitas histórias para contar, o que ameniza possíveis dissabores. De ambos os lados, diga-se de passagem. Serra sente falta do ambiente mais afável, de mais camaradagem, entre os tucanos quando Mario Covas, Fernando Henrique e ele brigavam entre si, mas encontravam os caminhos.

Paradoxalmente, ele, que é acusado de ser um elemento desagregador dentro do partido, acha que o ambiente hoje está muito desgastante pela disputa interna. Se se arrependesse de alguma coisa, seria de não ter permanecido no governo do estado de São Paulo até o final e ter disputado a reeleição, em vez de enfrentar uma segunda campanha presidencial para ser derrotado pela força de Lula. Estaria agora em boas condições para decidir sobre a sucessão de 2014, acredita.

Já Aécio está realmente empenhado em reduzir as diferenças que o separam de Serra, e certamente os dois terão novas conversas. Com relação ao governador Geraldo Alckmin, tudo parece estar nos eixos, e ontem ele e Aécio estiveram juntos em Brasília por iniciativa do governador paulista, que foi ao gabinete do senador mineiro para uma conversa e convidou-o para irem juntos à reunião do PSDB paulista na segunda, uma maneira de demonstrar unidade. Serra não estará presente, mas por razão justa: vai fazer uma palestra na Universidade Princeton previamente marcada.

Aécio e Serra se tratam com bastante cuidado, o que demonstra pelo menos que nenhum deles está disposto a estressar a relação. Mas Serra considera absurdo culpá-lo pela divisão do partido. Está em momento de reflexão, sobre sua vida política e também particular, mas não descarta participar da campanha de Aécio Neves à Presidência, embora não explicite qual papel considera adequado para sua atuação. Mas também não está muito entusiasmado com a ideia.

Fonte: O Globo

Oposição descalibrada - Fernando Rodrigues

No terceiro dia de Itália, Dilma Rousseff finalmente conseguiu 24 segundos cumprimentando o papa Francisco. Garantiu presença nos telejornais. Hoje, terá uma reunião mais longa com o pontífice. E tome mídia espontânea a favor.

Enquanto isso, no Brasil, saiu uma pesquisa Ibope sobre a popularidade da administração da presidente.

Em dezembro, 62% achavam o governo da petista "bom" ou "ótimo". Agora, a taxa é de 63%. No Nordeste, a avaliação deu um salto expressivo, acima da margem de erro: de 80% para 85% de aprovação.

Múltiplos fatores sustentam a alta popularidade de Dilma. Embora óbvio, não custa repetir um dos principais: o nível de desemprego continua em patamar histórico muito baixo.

Mas a pesquisa Ibope revela algumas curiosidades menos evidentes. Por exemplo, 20% dos brasileiros acham o governo Dilma melhor do que o de Lula.

Esse percentual nunca foi tão alto e, pela primeira vez, é superior aos 18% que acham a administração Dilma inferior à de Lula. É a criatura aos poucos superando o criador.

Outro dado chama a atenção: a percepção das pessoas sobre o noticiário a respeito do governo Dilma. Pela primeira vez desde o início do mandato da petista, há mais brasileiros achando que a abordagem é mais positiva (38%) do que neutra (34%) ou negativa (11%).

A oposição dirá que os entrevistados são influenciados pela recente avalanche de propaganda do governo. Brasil sem Miséria e remédios de graça são duas campanhas que martelam a cabeça dos brasileiros na TV no momento.

Pode ser. Mas os três pré-candidatos a presidente de oposição -Aécio Neves (PSDB), Eduardo Campos (PSB) e Marina Silva (Rede)- têm recebido espaço farto para atacar a gestão Dilma na mídia. Em vão. O discurso não sensibilizou os eleitores. A estratégia anti-Dilma parece ainda bem descalibrada.

Fonte: Folha de S. Paulo

Nome em vão - Dora Kramer

A governabilidade tal como é entendida por aqui é um nome que, apesar de não ter nada de santo, é permanentemente invocado em vão.

Tal como fez a presidente Dilma Rousseff no dia seguinte ao presidente da Câmara de Políticas de Gestão da Presidência, o empresário Jorge Gerdau - um colaborador voluntário, diga-se criticar duramente o modelo agigantado e ineficiente da montagem do Ministério.

Dilma não quis passar recibo: disse que sabe conviver com a crítica. Mas, se é verdade que Gerdau já falou a ela em particular sobre a"burrice", "loucura" e "irresponsabilidade" de se distribuir cargos de primeiro escalão a torto e a direito ao molde de uma bolsa-ministério para os partidos aliados, em público a presidente fez que não ouviu.

Na manhã de sábado mesmo, na cerimônia de posse dos novos ministros da Agricultura, Aviação Civil e do Trabalho, Dilma invocou a "governabilidade" para justificar e defender os meios e modos da coalizão.

É de se supor que os defenda, pois falou como se fossem absolutamente necessários. E imutáveis.

Mas, afinal de contas, o que significa mesmo essa tal governabilidade? Desde quando o Brasil ficaria ingovernável caso o compartilhamento de poder com os partidos que apoiam o chefe do País obedecesse a critérios menos toscos que os do mais deslavado fisiologismo?

Certamente não haveria grandes prejuízos à administração do País se a aliança se sustentasse em comprometimento administrativo, doutrinário e até mesmo ético. Talvez a adesão fosse menor em quantidade, mas seria melhor em qualidade.

Itamar Franco tinha 27 ministérios, Fernando Henrique Cardoso, 24, por que Lula precisou de 37 e Dilma de 39 em vias de criar mais ume atingir o número 40, cuja simbologia não é das melhores?

Para acomodar as correntes do PT e os partidos que, não fosse isso, estariam na oposição trabalhando com afinco para tornar o Brasil ingovernável.

E já que estamos na base das perguntas, façamos outra: estariam mesmo? Que força esses partidos teriam sem as armas de governo? Mais uma: uma vez eleito um presidente que determinasse uma regra do jogo mais decente - sem, claro, destratar o Congresso como fez a turma de Fernando Collor - quantos minutos levariam para virar aliados?

Se é para adotar a lógica da barganha, lembremos que uma administração federal não se faz só de ministérios. E um enxame deles tampouco faz uma administração ser bem-sucedida.

Então, para quê? Para dar visibilidade e poder aos partidos e seus políticos nos respectivos eleitorados e, com isso, ajudarem a si, aos colegas de bancada de outros Estados e ter uma justificativa para viverem grudados nas barras das saias ou das calças dos governantes.
É bom. para quem recebe, é ótimo para quem dá esperando receber o troco em votos, tempo de televisão, tropa de defesa no caso de escândalos e base parlamentar mastodôntica para exibir.

Mas, para quem vota, para quem precisa dos serviços do Estado de verdade, não representa nada além de uma grande falácia a respeito do "presidencialismo de coalizão", cuja denominação, criada pelo cientista político Sérgio Abranches, está completamente deturpada.

Não há benefício coletivo na aludi-, da governabilidade tal como é entendida, e praticada, por aqui. Na realidade, nela reside um grande malefício.

Pesquisa. O aumento da aprovação da presidente da República projeta favoritismo eleitoral. Embora não garanta nada nesta altura porque não há concorrentes a serem analisados pelo público. Fosse parâmetro, Dilma sozinha poderia ter 100% e não 85%.

A proximidade dos anúncios da redução dos preços de energia e desoneração da cesta básica comprova o peso das ferramentas oficiais.

Fonte: O Estado de S. Paulo

O sorriso de Dilma - Denise Rothenburg

Àqueles petistas que viam a antecipação da corrida presidencial como um ponto negativo para a presidente Dilma Rousseff respiram aliviados desde ontem. Ela chega ao fim do primeiro trimestre de 2013 com a popularidade nas alturas e com demonstrações de que pretende “cercar” os partidos aliados para evitar que os concorrentes — leia-se Aécio Neves, do PSDB de Minas Gerais; o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, do PSB; e Marina Silva, ainda sem partido — se criem nas costelas do governo.

O que fez os petistas respirarem aliviados foi a pesquisa CNI/Ibope, divulgada ontem. Os números deixam claro que o baixo crescimento da economia registrado até o momento não abalou a confiança do brasileiro no governo Dilma Rousseff, basta ver que 63% consideram o governo ótimo ou bom e 79% aprovam a maneira como ela administra o país.

Dilma também se saiu bem na percepção das notícias. A presença dela na tragédia de Santa Maria, onde o incêndio na boate Kiss matou mais de 200 jovens, e a redução das tarifas de energia ficaram na cabeça dos entrevistados muito mais do que o aumento do preço da gasolina. Enfim, ela pode aproveitar a visita ao papa Francisco para fazer algumas orações de agradecimento aos santos que a protegem.

Embora a metade da população desaprove as ações na área de saúde, de segurança pública e os impostos, a impressão que se tem ao olhar com cuidado os dados da pesquisa é que essas áreas não “pegaram” na avaliação da presidente. Até porque são setores que sempre podem ter os ônus e os bônus divididos com estados e municípios. Para que esses temas atinjam Dilma, a oposição formal e informal terá que se agarrar no serviço.

Até agora, todos os pré-candidatos avançaram uma casa na campanha, mas a presidente manteve a vantagem. Até o fim de janeiro, quando começaram as andanças de Eduardo Campos, havia no PT uma disputa interna para ver quem seria o candidato, Dilma ou Lula. O ex-presidente, que de bobo não tem nada, colocou logo a candidatura de Dilma na roda, de forma que ela pudesse tratar da política como se estivesse num palanque. Assim, ela fez a reforma ministerial, atraiu a cúpula do PDT e o PMDB de Minas Gerais. Na quinta-feira, conversará com o PR.

Da parte do PSDB, o senador Aécio Neves começou a se movimentar, mas ainda não pode sair pelo país com a desenvoltura de Eduardo Campos porque ainda precisa resolver o problema interno: São Paulo. Enquanto os tucanos ficam aí, nesse rame-rame paulista, divididos apesar de não ter mais ninguém com cara de novo para desfilar em nome deles, a não ser Aécio, Eduardo vai caminhando e Dilma vai tentando segurar seus aliados. Nessa batida, ou o PSDB paulista sai logo da toca e fecha com o senador Aécio a fim dar a ele as ferramentas para conquistar corações e mentes ou, quando o fizer, poderá ser tarde demais.

O próprio Eduardo Campos, muito menos conhecido do que Aécio, terá de repensar seu jogo, uma vez que Dilma lhe tirou o PDT, onde ele esperava conseguir um candidato a vice. Ou seja, a cada conversa que ele tem, vem Lula, o articulador de Dilma, e a própria presidente, tratar de cortar a comunicação ou tirar as condições de voo do socialista.

Enquanto isso, nos demais partidos…

Para completar as agruras da oposição, a popularidade da presidente registrada pela CNI/Ibope traz embutida a impressão de que se afastar dela agora pode deixar o futuro insosso. Além disso, dá a ela a vantagem na hora de negociar com os partidos. Assim, os aliados vão ficando, pedindo um cargo aqui, outro ali, e ela dando apenas aquilo que considera viável. Talvez se a pesquisa tivesse saído antes, ela tivesse enrolado um pouco mais o PMDB de Minas Gerais, por exemplo. Agora, irá enrolar talvez o PR.

A bancada do PR, entretanto, está meio indócil. Amanhã, o partido se prepara para dar um prazo à presidente. Se ela não cumprir, não está descartado uma repetição do gesto do PSD, isto é, agradecer o chamado, mas ficar livre para voar. Se ela quiser, que chame no estilo “quota pessoal”, leia-se, sem compromisso de fidelidade nas votações.

Por falar em votações

A ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, que comemorou seu aniversário ontem no cafezinho do Senado, foi direta na avaliação do que espera o governo no Senado. Disse que não dá para votar, por exemplo, a distribuição da Contribuição para Financiamento da Seguridade (Cofins), sob pena de desestruturar a Previdência e os programas sociais. O difícil, entretanto, será fechar essa Caixa de Pandora da repartição das contribuições exclusivas da União.

Fonte: Correio Braziliense

A chave eleitoral do segundo turno - Rosângela Bittar

Em 2014, seja na disputa da Presidência, seja de governos estaduais, a ordem nos partidos é apresentar candidatos. Até quem não tem chance nenhuma, sendo médio ou nanico, estruturado ou não, quer tomar o seu lugar na chave. O histórico de campanhas recentes tem mostrado aos políticos que é moderno e eficiente jogar com o segundo turno, seja para disputá-lo, seja para negociar aliança na campanha ou composição de governo com o vencedor. Muitos - a maioria -não querem esperar a eleição seguinte para ter sua vez. É o aproveitamento máximo do momento.

Por exemplo: A candidatura de Gilberto Kassab ao governo de São Paulo, já posta, é uma busca de resultados para já ou para o futuro? É claro que é para o futuro. Assim, são várias as candidaturas a presidente, no momento, que já ficaram irreversíveis, mesmo com as dificuldades quase invencíveis de uma disputa com uma presidente no cargo fazendo um governo popular.

Faltam detalhes, alguns mesmo fundamentais, mas no plano geral da antecipação de campanha existem três candidaturas presidenciais adversárias à da presidente Dilma Rousseff praticamente irreversíveis, hoje: Eduardo Campos, Marina Silva e Aécio Neves. Outras podem surgir, mas essas já são.

A favorita absoluta é Dilma. Está no cargo, faz um governo popular com um lançamento de pacote de benefícios por semana, e tem uma aliança partidária ampla que lhe permite um espaço de propaganda inigualável. Mas ninguém quer desistir de véspera, pois há, no sistema eleitoral, o bendito segundo turno, para reduzir o número de perdedores. Até a oposição conta com ele para manter as esperanças caso seja ela a passar à nova rodada.

Entre todas, a candidatura menos construída é a de Aécio Neves. A Marina falta o partido, a Eduardo ser conhecido, a Dilma - a pesquisa Ibope mostrou, ontem -, falta um governo que lhe dê discurso para além da propaganda. A Aécio falta tudo.

O que menos falta é o que os adversários mais cobram: o discurso. Para começar, entre todos, Aécio é o único candidato realmente de oposição, por isso pode ter um discurso definido e confortável quando chegar o momento.

Depois, para enfrentar a propaganda das campanhas políticas, um discurso temático importa pouco. A disputa, na reeleição, se dá entre continuidade e mudança. É muito difícil fazer a mudança quando a maioria quer a continuidade, e vice-versa. A não ser que sobrevenha uma hecatombe.

No caso, uma crise econômica grave com reflexos no emprego, uma divisão profunda na base de sustentação política do candidato no governo, o surgimento de vários candidatos quando antes havia apenas um, o sucesso na exploração de temas nos quais o governo visivelmente fracassou (Saúde, Segurança, Impostos, mostrou a pesquisa de ontem). Mas é muito difícil.

De qualquer forma, ninguém quer, por causa dos obstáculos, desistir, deixar de disputar, e sempre há flancos na candidatura favorita, como em qualquer uma. Por isso, apesar da popularidade da presidente e da aceitação do seu governo, os partidos seguem na construção de alternativas.

No PSDB, tem-se uma ideia sobre como construí-la, qual é o passo a passo. O primeiro é formar uma direção partidária sólida, com disposição de trabalho e prestígio, capaz de agir em várias direções, principalmente nas preliminares eleitorais mas também quando chegar o momento das decisões sobre a condução da campanha.

O senador Aloysio Nunes Ferreira, do PSDB paulista, que assiste seu partido, mais uma vez, se digladiar para formar essa direção, costuma definir o comando partidário como uma banda de música. A harmonia é fundamental para unificar a linguagem, mapear locais onde é preciso vencer resistências, suscitar candidaturas onde o presidenciável não tem palanque, comprar as brigas, fazer o discurso mais contundente. O candidato deve se preservar, o presidente do partido não.

Em Pernambuco, onde haverá um candidato a presidente na disputa, o PSDB terá que apresentar um candidato ao governo. No Paraná, no Rio de Janeiro, são problemas à espera da solução do comando partidário.

A Executiva precisa funcionar. Sergio Guerra, senador e presidente do PSDB há vários anos, é considerado talentoso, um bom analista do quadro eleitoral, um político corajoso, mas não faz a Executiva funcionar.

Muito há a ser feito até chegar o momento de criar a equipe de campanha, que se sobrepõe à direção do partido. É a Executiva que conduz toda a fase que começa agora e vai até o período de propaganda. As alianças políticas são por ela negociadas, tem toda uma lição de casa a cumprir. Afinar o discurso, fazer pesquisas, preparar a casa.

Em que estágio dessas preliminares está a candidatura do PSDB? Absolutamente inicial. Na fase de sondagens para organização da Executiva Nacional, a ser definida em maio; na fase de ter Aécio como pré-candidato para que apareça mais, tenha maior protagonismo na política.

Até isso o PSDB demorou a conseguir, enquanto a candidatura favorita foi se tornando mais favorita ainda com os pacotes de benefícios para diferentes grupos do eleitorado.

Aécio é o candidato do PSDB, aceito por todos, José Serra inclusive. O ex-governador de São Paulo quer ser ouvido, já teve dois encontros a sós com Aécio, um no começo do ano, outro anteontem, e depois disso não há ninguém no PSDB que consiga ver Serra fora do partido, como se propagou.

Não iria para o partido do Kassab, cuja criação foi contra, um partido que nasceu na órbita da presidente Dilma, ou seja, do PT. O PPS, um partido pequeno, sem estrutura, que o enfrentou na última eleição lançando uma candidatura errática na cidade de São Paulo, também não parece ser um bom destino. O senador Aécio Neves saiu do encontro desta semana com a impressão que Serra é PSDB e será sempre PSDB. Com vocação política visceral, Serra não vai sair e ficar sem partido. Faltando qualquer sentido para sua migração, e uma vez aceita a candidatura Aécio, deve ficar e atuar.

Fonte: Valor Econômico

A economia do século 21 - Paulo R. Haddad

Keynes dizia, de uma forma pejorativa, não saber o que torna um homem mais conservador: não conhecer nada, mas apenas o presente, ou não conhecer nada, mas apenas o passado. Um exame cuidadoso da história do pensamento econômico irá mostrar como tema recorrente uma preocupação, no passado, com as questões das relações do homem com a natureza na evolução do processo de desenvolvimento das sociedades. E, no presente, nada preocupa mais os pensadores econômicos do que o futuro da humanidade em face do persistente uso predatório da base de recursos naturais do planeta e do eventual esgotamento desses recursos, levando ao fim do crescimento econômico. Já se analisam modelos de desenvolvimento sustentável que possam gerar prosperidade sem crescimento econômico ao longo das próximas décadas.

Essas inquietações analíticas têm nos conduzido para um novo paradigma da Economia como ciência neste início de século 21. A questão básica se coloca no seguinte dilema: na economia tradicional, a macroeconomia é vista como um sistema isolado sem trocas de matéria e energia com o meio ambiente. O ecossistema é considerado como um subsistema da economia do qual se extraem recursos ambientais e no qual se depositam os desperdícios e os resíduos da produção e do consumo. Na economia do século 21, entretanto, a economia tende a ser considerada como um subsistema aberto do ecossistema com ou sem congestionamento.

Na visão macroeconômica tradicional, considera-se como objetivo principal da economia a maximização do crescimento econômico medido pela taxa de expansão do PIB per capita do território, tendo como pressuposto otimista que as forças desacorrentadas dos mercados, em conjunção com o progresso tecnológico, garantirão possibilidades de substituição de matéria e energia capazes de mitigar todas as restrições de escassez ou "os limites do possível" (fontes e perdas ambientais). O ecossistema é apenas o setor extrativo e de disposição de resíduos da economia. Mesmo que esses serviços se tornem escassos (capacidade de suporte de uma bacia hidrográfica ou limitações de oferta de um recurso natural não renovável relevante), o crescimento econômico pode se manter para sempre porque a tecnologia permite a substituição de capital natural por capital man-made. O único limite ao crescimento, na visão tradicional, é a tecnologia e, desde que se desenvolvam novas tecnologias (produção de etanol lignocelulósico para o aproveitamento do bagaço da cana ou de resíduos de madeiras, a descoberta de novos materiais, a miniaturização de bens duráveis de consumo, etc.), não há limites para o crescimento econômico.

Na visão contemporânea da economia, desde que o ecossistema permaneça em escala enquanto a economia cresce, é inevitável que a economia se tome maior em relação ao ecossistema ao longo do tempo, ou seja, a economia toma-se maior em relação ao ecossistema que a contém. O capital natural remanescente passa a ser o fator limitativo de crescimento econômico num ecossistema congestionado (com stress). Contudo, o meio ambiente não pode ser tratado apenas como uma externalidade negativa (exemplo: emissão de monóxido de carbono de veículos automotivos ou positiva (exemplo: propagação de inovações tecnológicas), que se busca precificar indiretamente pelos mecanismos de mercado.

Nesta nova visão, os conceitos se renovam (PIB Potencial Ecológico, Contas Sociais adaptadas para a inclusão do uso e da conservação do capital natural, etc.); novos indicadores de desenvolvimento são elaborados (Pegada Hídrica índice de Bem-Estar Econômico Sustentável, etc.); e teorias são repensada; (Ecoeficiência Microeconômica, Capitalismo Natural, etc.). Essa compreensão passa pelas relações entre as duas Leis da Termodinâmica e pelas Regras de Sustentabilidade do meio ambiente que permitem predizer melhor o que poderá ocorrer com o futuro bem-estar das nossas populações.

Professor do IBMEC/MG, foi ministro do Planejamento e da Fazenda no governo Itamar Franco.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Alta tensão - Míriam Leitão

As águas de março estão fechando o verão, e o nível de reservatório das hidrelétricas brasileiras está muito abaixo do que deveria estar, se comparado aos anos anteriores. O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) calcula que o mês fechará com água em 52% da capacidade dos reservatórios no Sudeste e Centro-Oeste, subindo um pouco acima do ponto atual. Mas isso é o nível mais baixo em 10 anos.

O gráfico com dados do ONS mostra como foi cada fim de março, desde 2003, nas duas regiões onde estão 70% dos reservatórios de água do país. Este ano, o Brasil usou as termelétricas durante todo o verão para poupar água, e a impressão geral foi de um período fortemente chuvoso. O problema é que a água tem caído mais no litoral do que nas cabeceiras dos rios das bacias onde estão as grandes hidrelétricas.

O baixo nível dos reservatórios significa que o país terá que continuar consumindo uma energia mais cara na travessia do período seco, do contrário as usinas podem chegar muito rapidamente num nível crítico. As térmicas funcionam a gás, óleo combustível e diesel. No caso do gás, a fonte é também matéria-prima para a indústria. A Associação Brasileira das Distribuidoras de Gás Canalizado disse que pelo segundo mês consecutivo houve mais uso de produto para a geração de energia do que para insumo industrial. No caso do diesel, é combustível para os caminhões e ônibus. Além disso, o custo por MWh é muito maior do que as outras fontes de energia. O cobertor vai ficando curto.

Há várias contas sendo feitas no setor elétrico sobre o impacto do uso das térmicas. Uma das menos assustadoras é a do Instituto Acende Brasil, que fala num custo acumulado de R$ 6 bilhões este ano.

As regiões Sudeste e Centro-Oeste são as mais importantes em termos de geração de hidroeletricidade. Os reservatórios estão, atualmente, antes do fim do mês, em 45% do nível máximo. É o mais baixo desde 2003.

O que causa estranheza no não especialista é que este ano o verão pareceu muito chuvoso, principalmente no litoral do Rio e São Paulo, com, inclusive, a repetição de calamidades públicas. Mesmo assim, a chuva não caiu nos lugares certos.

Há vários problemas no setor de energia. Um é que esse custo extra da energia térmica virou uma batata quente na mão do governo. Ele não pode repassar para o consumidor porque isso anularia o efeito benéfico da queda do preço da energia que foi anunciada em clima de campanha eleitoral. Quando um assunto técnico é politizado, não se encontram boas soluções.

O que o governo está avisando é que vai dividir com as geradoras parte do custo e entregar uma parte para o Tesouro. Isso será um retrocesso no esforço de tornar mais transparente a conta de luz, além de ser um peso indevido para as geradoras carregarem. Tudo isso para manter uma parte da redução oferecida como um presente do governo aos consumidores-eleitores.

As empresas estão descapitalizadas, e os investidores privados, assustados com o grau de intervencionismo no setor. Isso pode significar menos investimentos no futuro.

Como o ano que vem é eleitoral - e ano da Copa do Mundo - o país não poderá correr o risco de falta de energia. Portanto, a perspectiva é de continuação do uso das termelétricas para complementar e poupar as hidrelétricas. Mas isso elevará ainda mais esse custo.

O melhor é torcer para que as chuvas continuem mais um pouco além de março e que desta vez caiam nos lugares certos para aumentar o nível dos reservatórios. E torcer também para um pouco mais de racionalidade - e menos de política eleitoral - na questão do abastecimento da energia no Brasil.

Fonte: O Globo

Pautando a imprensa - Zuenir Ventura

É da natureza da imprensa correr atrás dos fatos, mas há fatos que correm atrás da imprensa. São assuntos, personagens e acontecimentos que, por seu interesse e importância, se impõem como notícia e assim permanecem por mais tempo em destaque. Nesses casos, diz-se que eles "pautam" os jornalistas, como está acontecendo agora com Francisco, o mais simpático, comunicativo e carismático Sumo Pontífice dos últimos tempos. Em uma semana, tudo o que ele disse ou fez foi correndo para os jornais, rádios e TVs. Há quem não se conforme: "É um marqueteiro", já me escreveram, jogando sobre nós a culpa. Sobra sempre para a mídia: "Vocês não resistem à sedução dele."

Será isso? Sabe-se que são insondáveis os mecanismos do sucesso (se estivessem à mão de qualquer um, todo mundo usaria), mas, se tivesse que tentar explicar esse fenômeno de comunicação e marketing, abandonaria as teorias sofisticadas, inclusive as conspiratórias, e prestaria atenção no uso que o novo Papa faz da maior fonte de notícia que existe: a surpresa ou seus equivalentes, a novidade e o improviso. Tudo nele e em torno tem sido inesperado, a começar pela humildade (alguém já tinha visto um argentino humilde?) e sem falar na eleição. Quando se esperava qualquer outro, veio ele. Depois foi a "revolução da simplicidade": as quebras de protocolo, as pequenas mudanças nas cerimônias, nos ritos e na tradição. Em vez dos trajes alegóricos, a batina branca, o crucifixo de prata e não de ouro, o sapato preto em lugar do chamativo vermelho do seu antecessor, o despojamento e não a pompa e a opulência. Por fim, talvez não precisasse exagerar, o beijo no rosto de Cristina, que até há pouco não era flor que ele cheirasse.

A dúvida é se tudo isso é gratuito, espontâneo ou se disfarça e esconde uma intenção programada e uma orquestração. Há teólogos e especialistas que acreditam que os gestos de Francisco "vão além das aparências" e são um "recado" de que ele vai ser bem diferente de Bento XVI, e não apenas na cor dos sapatos. Como já foi dito, ainda é cedo para santificar o novo Francisco, e é possível que ele decepcione a direita e a esquerda. Ao contrário do que muitos gostariam, como, por exemplo, a própria presidente Dilma, ele não vai contemplar as "opções diferenciadas do indivíduo", se isso significa mexer em dogmas como aborto e casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Mas, por outro lado, os que acham que ele é apenas um factoide, uma passageira "criação da mídia", também não perdem por esperar.

Fonte: O Globo

Entre o ser e as coisas - Carlos Drummond de Andrade

Onda e amor, onde amor, ando indagando
ao largo vento e à rocha imperativa,
e a tudo me arremesso, nesse quando
amanhece frescor de coisa viva.

As almas, não, as almas vão pairando,
e, esquecendo a lição que já se esquiva
tornam amor humor, e vago e brando
o que é de natureza corrosiva.

N’água e na pedra amor deixa gravados
seus hieróglifos e mensagens, suas
verdades mais secretas e mais nuas.

E nem os elementos encantados
sabem do amor que os punge e que é, pungindo,
uma fogueira a arder no dia findo.