sábado, 4 de maio de 2013

OPINIÃO DO DIA – Joaquim Barbosa: o mensalão

Tecnicamente, não (podem mudar a decisão do STF). Embargos de declaração visam apenas corrigir eventuais contradições.

Joaquim Barbosa. Presidente do Supremo Tribunal Federal, sobre os recursos do mensalão, in O Estado de S. Paulo, 4/5/2013.

Manchetes de alguns dos principais jornais do País

O GLOBO
Punição de menor por crime dura menos tempo no Brasil
Dois pra lá, dois pra cá
Indústria cresce abaixo do esperado
Enquanto isso, na Argentina...
Liberdade de imprensa: Brasil cai em ranking mundial

FOLHA DE S. PAULO
Após um ano, lei da transparência trava nos Estados
Indústria fraca leva analistas a rever avanço da economia
Não há pretos nos três cursos mais disputados da USP em 2012
Inimigos íntimos
Dilma coloca chefe do Tesouro em sua articulação eleitoral

O ESTADO DE S. PAULO
Barbosa põe em dúvida novo recurso no mensalão
Aécio deixa palanque onde Dilma discursava
Lula e os ‘dois PTs’
Para mercado, PIB vai crescer menos de 3%

ESTADO DE MINAS
Palanque dividido

O TEMPO (MG)
Em palanque dividido, Aécio e Dilma economizam ataques
Embargo não reverte sentença
Alimentação ficou 13,86% mais cara em um ano, quase o triplo a inflação

CORREIO BRAZILIENSE
Mensalão:Recursos não mudam penas, diz Barbosa
Crise aponta para PIB abaixo de 3%
GEAP demite gerente suspeito de corrupção

GAZETA DO POVO (PR)
Brasil avança na formação de mestres
Prefeitura vai bancar a tarifa de ônibus
Presidente do STF faz críticas ao Judiciário

ZERO HORA (RS)
Tarso põe em dúvida PC do B no Ambiente
“Justiça pune os mais pobres”, ataca Barbosa

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Mordomo de Renan ganha R$ 18 mil
Dilma apela ao Congresso pela MP dos Portos

Barbosa põe em dúvida novo recurso no mensalão

O presidente do STF, Joaquim Barbosa, questionou ontem a validade dos embargos infringentes, recursos que podem mudar sentenças do julgamento do mensalão. De acordo com o ministro, a Corte ainda deverá decidir se eles “existem ou não”. Isso porque a medida foi extinta na reforma do Código de Processo Civil, mas o regimento do STF manteve essa possibilidade. Os embargos infringentes são usados em sentenças em que houve ao menos quatro votos pela absolvição do réu. E o caso da condenação do ex-ministro José Dirceu por formação de quadrilha. Barbosa falou na Costa Rica, onde está em evento da Unesco pelo Dia Mundial da Liberdade de Imprensa. Em discurso, ele afirmou que a Justiça brasileira pune pobres, negros e quem não tem relações políticas, criticou a conexão de “advogados poderosos” com o Judiciário e a quantidade de recursos possíveis e ainda atacou o foro privilegiado

Barbosa questiona admissão de recursos e critica ‘conexões de advogados poderosos’

Mensalão. Ministro participou ontem de evento sobre liberdade de imprensa e lembrou que plenário do Supremo terá de decidir se os embargos infringentes, que visam a rever condenações, poderão ser aceitos; para ele, excesso de recursos favorece a impunidade

Felipe Recondo (Enviado especial)

SAN JOSÉ - O presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Bar¬bosa, colocou em dúvida ontem a validade e a admissibilidade, pela Corte, dos embargos infringentes, recursos nos quais os condenados pelo julgamento do mensalão tentarão modificar as respectivas sentenças nos casos em que o placar foi apertado (com pelo menos quatro votos pela absolvição do réu). "O tribunal terá de decidir se existem ou não (os infringentes)", afirmou.

O ministro, que participou ontem em San José, na Gosta Rica, de um evento da Unesco sobre liberdade de imprensa, lembrou que o Supremo precisa decidir se os embargos infringentes "sobrevivem", já que foi alterada a lei que rege os processos penais, acabando com esse tipo de recurso. Apesar da modificação da lei, o STF manteve a possibilidade do recurso em seu regimento inter¬no. Ao discursar no evento, Barbos icriticou conexões de "advogados poderosos" com integrantes do Judiciário e a imensa possibilidade de recursos.

"Uma pessoa poderosa pode contratar um advogado poderoso, com conexões no Judiciário, que pode ter contatos com juízes sem nenhum controle do Ministério Público ou da sociedade. E depois vêm as decisões surpreendentes", disse ele.

Nesses casos, avaliou o ministro, uma pessoa acusada de co¬meter um crime é deixada em liberdade em razão dessas relações. "Não é deixada em liberdade por argumentos legais, mas por essa comunicação não transparente no processo judicial", atacou.

Barbosa já havia criticado em sessão do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) o que chamou de conluio entre juiz e advoga¬do. Agora, atacou as conversas privadas ou reservadas entre juiz e advogado sobre os processos. Na avaliação de Barbosa, isso é "antiético" e um problema cultural brasileiro que contribui para a impunidade.

O ministro do Supremo disse ainda que a Justiça brasileira pune majoritariamente pessoas pobres, negras e sem relações políticas. "Pessoas são tratadas diferentemente pelo status, pela cor da pele, pelo dinheiro que tem", acrescentou. "Tudo isso tem papel enorme no sistema judicial e especialmente na impunidade."

Outro fator que contribui para a impunidade, disse, é o foro privilegiado. "No Brasil tem algo chamado foro privilegiado, o que significa que, se um prefeito é acusado de cometer um cri¬me, ele não terá o caso julgado por um juiz regular(...)Se o acusado é um ministro de Estado, membro do Congresso ou ministro do Supremo, o caso será decidido pela Suprema Corte." Em várias ocasiões, ministros do STF já confidenciaram, porém, que se não fosse o foro o julgamento dos mensaleiros não teria ocorrido ainda.

Prazos. Os embargos infringentes aos quais Barbosa se referiu ontem só poderão ser apre¬sentados pelos condenados do mensalão numa segunda etapa de recursos. Na quinta-feira, terminou o prazo para a entrega dos chamados embargos declaratórios, que servem para esclarecer pontos obscuros da de¬cisão do STF. Esses recursos podem, no máximo, alterar o tamanho das penas. Já os embargos infringentes podem implicar re-visão de sentenças.

Barbosa reforçou ontem que, "tecnicamente", os embargos de declaração não têm poder de mudar o resultado do julgamento. "Embargos de declaração visam apenas corrigir eventuais contradições", disse o presidente do Supremo.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Barbosa diz que Justiça pune mais os pobres e critica foro privilegiado

Em discurso a estrangeiros, presidente do STF fez críticas ao sistema brasileiro e atacou excesso de recursos contra condenações

Felipe Recondo

SAN JOSÉ (COSTA RICA) - O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, disse nesta sexta-feira, 3, que a Justiça brasileira pune majoritariamente pessoas pobres, negras e sem relações políticas. No discurso que fez em congresso sobre liberdade de imprensa, na Costa Rica, Barbosa criticou a quantidade de recursos possíveis contra condenações judiciais, atacou o foro privilegiado e a relação entre juízes e advogados no Brasil.

"Brasil é um País que pune muito pessoas pobres, pessoas negras e pessoas sem conexões", disse. "Pessoas são tratadas diferentemente pelo status, pela cor da pele, pelo dinheiro que tem", acrescentou. "Tudo isso tem um papel enorme no sistema judicial e especialmente na impunidade", argumentou.

Barbosa já havia criticado em sessão do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) o que chamou de conluio entre juiz e advogado. Agora, atacou as conversas privadas ou reservadas entre juiz e advogado sobre os processos. Na avaliação de Barbosa, isso é "antiético" e um problema cultural brasileiro que contribui para a impunidade.

"Uma pessoa poderosa pode contratar um advogado poderoso com conexões no Judiciário, que pode ter contatos com juízes sem nenhum controle do Ministério Público ou da sociedade. E depois vêm as decisões surpreendentes", disse. Nesses casos, avaliou o ministro, uma pessoa acusada de cometer um crime é deixada em liberdade em razão dessas relações. "Não é deixada em liberdade por argumentos legais, mas por essa comunicação não transparente no processo judicial", disse.

O presidente elogiou a Argentina por ter impedido o contato entre uma parte do processo e o juiz sem a presença da outra parte. No Brasil, essa restrição é mal vista pelos advogados, conforme Barbosa.

Recursos. Barbosa criticou ainda a possibilidade de um processo criminal percorrer quatro instâncias judiciais antes de ser concluído e afirmou que a quantidade de recursos possíveis ao longo da tramitação do caso, inclusive os habeas corpus, é outra razão que contribui para impunidade no país. "Ha formas paralelas de questionar cada uma dessas decisões judiciais (em cada uma das instâncias). Há infinitas possibilidades de recursos dentro dessas quatro instâncias. Da primeira para a segunda instância, às vezes há 15 ou 20 diferentes recursos", afirmou. "Qual a conclusão? Um longa demora, é claro", acrescentou.

Pelas contas de Joaquim Barbosa, um caso que envolva duas ou três pessoas "não é concluído no Brasil em menos de cinco, sete, as vezes dez anos, dependendo da qualidade social da pessoa".

Além disso, o ministro fez questão de dizer que o foro privilegiado é outra causa da impunidade. Barbosa explicou a jornalistas estrangeiros que prefeitos, governadores, ministros de Estado, parlamentares e magistrados não são julgados por um juiz. "No Brasil tem algo chamado foro privilegiado, o que significa que, se um prefeito é acusado de cometer um crime, ele não terá o caso julgado por um juiz regular (...) Se o acusado é um ministro de Estado, membro do Congresso ou ministro do Supremo, o caso será decidido pela Suprema Corte (...) não tem tempo algum para decidir processos criminais", concluiu.

Ministros do STF, em várias ocasiões, já confidenciaram, porém, que se não fosse o foro o julgamento dos mensaleiros ainda não teria ocorrido.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Dilma e Aécio dividem palanque e café

Em feira no interior de Minas, presidente e tucano evitam confronto e encontram Lula

Ezequiel Fagundes e Maria Lima

UBERABA (MG) O encontro em Uberaba (MG) do tucano Aécio Neves, pré-candidato do PSDB à Presidência no ano que vem, com a presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição, foi cercado de cuidados para evitar um clima de confronto ou qualquer saia-justa. Coube ao governador Antonio Anastasia, do PSDB, fazer as honras de anfitrião, buscar a presidente no aeroporto e levá-la ao local da abertura da 79ª Expozebu. O tucano esperou a presidente na entrada do palanque. Eles se abraçaram, trocaram beijos e falaram por alguns instantes. Como não teria direito a fala ou réplica em caso de alguma alfinetada, o senador tucano não acompanhou o discurso da presidente e deixou o local antes que ela começasse a falar. O ex-presidente Lula, que já estava na cidade desde a véspera, também não apareceu no palanque.

Em dezembro último, durante a reinauguração do Estádio do Mineirão, em Belo Horizonte, os prováveis adversários se encontraram em clima de animosidade. Trocaram apenas um cumprimento formal e não se falaram mais. No feriado do 1º de Maio, Aécio atacou duramente o governo e atribuiu a Dilma leniência no combate à inflação.

Cafezinho a três

Antes de subir ao palanque montado no parque de exposições, Dilma percorreu parte das instalações ao lado de Anastasia e dos ministros Aldo Rebelo (Esporte), Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), Aloizio Mercadante (Educação) e Antônio Andrade (Agricultura). Depois, em tom de campanha, fez promessas para o público presente, formado em sua maioria por fazendeiros. Anunciou a criação de um plano para o setor, denominado de Safra, que prevê novas linhas de crédito e financiamento. Para o prefeito da cidade, o peemedebista Paulo Piau, a petista garantiu recursos do Programa de Aceleração de Crescimento (PAC) para construir o Anel Rodoviário de Uberaba, uma das principais demandas da cidade.

Depois da abertura oficial da exposição agropecuária, todos eram convidados do pecuarista Jonas Barcellos para uma tradicional feijoada na Fazenda Mata Velha, a cerca de 30 km do centro de Uberaba. Mas Aécio evitou dividir a mesa com Dilma. Ao deixar o parque de exposições, ele foi para outra fazenda, do amigo e pecuarista Mário Franco, onde permaneceu até por volta das 15h, horário previsto para a presidente embarcar para Brasília. Dilma, no entanto, esticou sua permanência na feijoada, e Aécio voltou a encontrá-la, ainda a tempo de tomar um café com a presidente e com Lula, em local reservado na sede da fazenda. Os três, mais dona Marisa e o anfitrião, conversaram por cerca de cinco minutos, mas evitaram o tema eleição, segundo relatos.

Para descontrair o ambiente, Aécio brincou com Lula, dizendo que o ex-presidente tinha rodado o Brasil inteiro, mas o melhor café que ele provara certamente era aquele cafezinho mineiro. Falaram da festa e da exposição agropecuária, e elogiaram o anfitrião.

- Foi uma conversa carinhosa. Não houve conversa política. Lula e Dilma foram muito atenciosos - contou Aécio Neves.

Lula chegou a Uberaba na quinta-feira e ficou hospedado na fazenda de Jonas Barcellos, pouso antigo de tucanos e ex-pefelistas como Jorge Bornhausen. Os convidados especiais foram recepcionados na sede da fazenda. Do lado de fora, a festa para mais de mil pessoas aconteceu em uma tenda instalada com luxo. A feijoada foi animada pela cantora paraense Gaby Amarantos.

Dilma e Lula ficaram dentro da sede a maior parte do tempo. Quando a presidente saiu para dar uma rápida volta entre os convidados, foi acompanhada pela ex-primeira-dama Marisa Letícia, enquanto Lula continuava dentro da casa. Só mais tarde, quando Dilma já tinha embarcado de volta para Brasília, ele deu uma voltinha rápida na festa. Não disputou as atenções com ela.

Na véspera, o acontecimento político ocorreu durante jantar para tucanos e Gilberto Kassab na casa do deputado Marcos Montes (PSD-MG), ex-prefeito de Uberaba. Estavam lá Aécio, Anastasia, o presidente do PSDB mineiro, Marcus Pestana, e outros parlamentares. Ontem, ao encontrar com Montes, Jonas Barcellos brincou com o ex-prefeito:

- Quase que eu levei Lula lá no seu jantar ontem!

- Ainda bem que você não levou, se não, aquilo lá ia explodir - respondeu Montes.

Fonte: O Globo

Um novo cara a cara presidencial

No dia 20, Eduardo e Dilma estarão na Arena

Antes mesmo de a bola rolar, a Arena Pernambuco será palco de um "clássico", só que da política. A presidente Dilma Rousseff (PT) - potencial candidata à reeleição em 2014 - e o governador-presidenciável Eduardo Campos (PSB) estarão lado a lado pela segunda vez no Estado em menos de dois meses. Para que a presença de Dilma no evento fosse possível, a Presidência da República solicitou a alteração da data de inauguração do estádio, marcada inicialmente para o dia 14. Com isso, ela estará presente no dia 20 ao jogo festivo entre equipes formadas por operários da obra.

A última visita da presidente Dilma a Pernambuco - já no clima de desconfiança entre PT e PSB por causa da costura de palanques distintos para 2014 - ocorreu em março. Durante a inauguração da Adutora do Pajeú, em Serra Talhada, a presidente anunciou um pacote de benefícios para o Estado no valor de R$ 3,1 bilhões de investimento. O esperado daquele "cara a cara" anterior foi marcado pela tensão e gestos calculados. Enquanto o governador Eduardo Campos, abandonando o improviso, seguiu à risca o discurso escrito com críticas sutis ao governo federal, a presidente Dilma cobrou, em seu discurso, parceiros "comprometidos com o País".

Enquanto preparada a sua próxima visita ao Estado, Dilma segue o roteiro de viagens pelo País. Ontem, ela se encontrou com outro virtual adversário, em Minas Gerais. Presidenciável tucano, o senador Aécio Neves (MG), quebrou o protocolo e deixou o palanque que dividia com a presidente, principal convidada da festa de abertura da 79ª ExpoZebu, em Uberaba minutos depois do início do evento. Dilma chegou atrasada à abertura da feira agropecuária, uma das maiores do País, marcada para as 10h. Aécio já estava no palanque, ao lado do governador mineiro, Antônio Anastasia (PSDB). O senador e a presidente se cumprimentaram com um abraço e dois beijos e trocaram sorrisos amistosos. Depois, o trio conversou cerca de dois minutos em frente das câmeras. Após cerca de 15 minutos do início do evento, Aécio surpreendeu.

O tucano, que durante a semana criticou o governo Dilma por causa dos índices de inflação e atacou o PT, levantou-se e saiu. Segundo sua assessoria, o senador havia marcado compromisso com o pecuarista Mário Franco Júnior, amigo de infância e seu anfitrião. Apesar disso, Dilma não deixou de cumprimentar no início de seu discurso o senador ausente.

O segundo encontro entre Dilma e Aécio ocorreu na feijoada oferecida por Jonas Barcellos, um dos maiores criadores de gado zebu do País. O pecuarista oferece o almoço em sua fazenda para receber o presidente da República e autoridades que participam da abertura da Expozebu. Na Fazenda Mata Velha, Dilma encontrou o ex-presidente Lula.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Após ataques, o tom conciliador de Eduardo

Governador chamou à responsabilidade governos municipais, estaduais e federal contra seca e inflação

Pedro Romero

GARANHUNS - Depois do "quem viver verá" e de afirmar que o problema da inflação não deve ser escondido pelo governo federal, o governador Eduardo Campos (PSB) adotou um discurso conciliador em seu terceiro e último dia de viagens ao interior do Estado. Dizendo-se parceiro da União e dos municípios, o presidenciável afirmou que é preciso a união de todos na luta por uma melhor convivência com a estiagem. Para o socialista, assim como a alta de preços, a seca não pode ser politizada nem partidarizada.

"É tempo de juntar forças, de unir o povo de Pernambuco e do Brasil. Essa discussão sobre a seca não deve dividir os brasileiros. Temos que firmar um compromisso de vida sobre isso. Aqui tem um governo que é parceiro do governo federal e dos municípios", destacou Eduardo Campos. O governador acrescentou que não se pode ficar jogando a responsabilidade de uns para outros. "Ficar politizando a questão da inflação é um atentado contra o Brasil", discursou o socialista, numa crítica indireta ao tucano Aécio Neves, que vem batendo no governo federal por causa dos índices de inflação.

Para Eduardo, a questão hídrica ficou muito tempo fora das discussões e só começou a ganhar importância a partir do governo do ex-presidente Lula (PT), que foi citado várias vezes em seu discurso. Lembrando o tempo do regime militar, o socialista disse que a luta contra a seca não acontecia na mesma proporção do que está sendo feita atualmente.

Segundo o governador, é importante que municípios, Estados e a União tenham plano para o semiárido que permita que o homem do campo atravesse essas estiagens. "Elas sempre virão. E é importante que o homem do campo passe por elas sem os constrangimentos que eram maiores ontem, mas que ainda existem", pontuou.

O clima amistoso do evento foi completado pelo ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho (PSB), que se derreteu em elogios ao governador. Segundo ele, Eduardo Campos será lembrado não somente pelas obras, mas por sua determinação para o trabalho e para a resolução de problemas. "Sua determinação pessoal, sua obstinação pelo trabalho, que não mede hora nem dia. Nenhum outro governador transformou tanto a paisagem social do Estado, você abriu horizontes para muitos pernambucanos", completou.

O evento em Garanhuns serviu para o lançamento de programas de convivência com a seca e assinatura de ordens de serviços para a construção de obras hídricas. Entre as ações, um acordo de cooperação técnica com o Ministério da Integração Nacional para viabilizar a construção de 1.210 pequenas barragens, com capacidade para armazenar 300 mil metros cúbicos. O investimento é de R$ 100 milhões. Também foi anunciada a aração de 40 mil hectares de terra na região.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Partido de Marina conquista mais da metade do apoio para obter registro

De fevereiro até o começo deste mês, a Rede Sustentabilidade coletou 263 mil das 500 mil assinaturas necessárias

Isadora Peron

A Rede Sustentabilidade, partido que está sendo criado pela ex-senadora Marina Silva, divulgou nesta sexta-feira, 3, novo balanço do número de assinaturas coletadas desde fevereiro: 263.515. A quantidade representa mais da metade das 500 mil assinaturas necessárias para registrar a sigla no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Para poder disputar as eleições em 2014, é necessário finalizar todo o processo até outubro deste ano.

O número, no entanto, ficou abaixo da meta estipulada pela Rede para o fim de abril. O movimento esperava coletar 300 mil assinaturas.

Desde o mês passado, a sigla tem dado uma remuneração a colaboradores para que eles passem mais tempo nas ruas colhendo fichas de apoio. No site, a Rede explica que pretende intensificar as ações este mês. O cronograma definido pelo grupo é conseguir o total de assinaturas necessárias até 15 de junho.

"O balanço de abril revelou um resultado excelente, mas também nos trouxe muitos aprendizados. Em maio, devemos ampliar nossa presença nas universidades, com a realização de debates, e em outros pontos estratégicos", disse Marcela Moraes, coordenadora de organização sigla.

Eles contam ainda com a ajuda de outros partidos, como o PPS e o PSB, para conseguir conquistar o número de assinaturas em tempo hábil.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Aécio deixa palanque onde Dilma discursava

O senador Aécio Neves (PSDB-MG), possível candidato à sucessão presidencial em 2014, abandonou o palanque que dividia com a presidente Dilma Rousseff, ontem, na abertura da ExpoZebu, em Uberaba. Sua assessoria alegou que ele tinha um compromisso. Aécio e Dilma se cumprimentaram no início do evento, conversaram rapidamente e se reencontraram depois em almoço, com a presença do ex-presidente Lula

Aécio evita exposição ao lado de Dilma e deixa palanque

Tucano ficou poucos minutos ao Lado da petista em feira agropecuária e deixou ex-prefeito Kassab esperando em jantar

Ricardo Erandt (Enviado especial)

UBERABA (MG) - O senador Aécio Neves (PSDB- MG), possível candidato ao Planalto, quebrou o protocolo ontem e deixou o palanque que dividia com a presidente Dilma Rousseff, principal convidada da festa de abertura da 79.a ExpoZebu, em Uberaba (MG), minutos depois do início do evento. A petista e o tucano ainda se encontrariam novamente na cidade do Triângulo Mineiro e quase tiveram a companhia de outro potencial candidato - o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB).

Dilma chegou atrasada à abertura da feira agropecuária, uma das maiores do País, marcada para as íoh. Aécio já estava no palanque, ao lado do governa¬dor mineiro, Antonio Anastasia (PSDB). O senador e a presidente se cumprimentaram com um abraço e dois beijos e trocaram sorrisos amistosos. Depois, o trio conversou cerca de dois minutos em frente das câmeras.

Após cerca de 15 minutos do início do evento, Aécio surpreendeu. O tucano, que na noite anterior e durante a semana criticou o governo Dilma por causa dos índices de inflação e atacou o PT, levantou-se e saiu.

Segundo sua assessoria, o senador havia marcado compromisso com o pecuarista Mario Franco Júnior, amigo de infância e seu anfitrião. Apesar disso, Dilma não deixou de cumprimentar no início de seu discurso o senador ausente. Por sua vez, Anastasia, que tradicionalmente cita Aécio em suas falas públicas, não mencionou seu nome ao perceber que o antecessor não estava no palco.

Feijoada. O segundo encontro entre Dilma e Aécio ocorreu na tradicional feijoada oferecida por Jonas Barcellos, um dos maiores criadores de gado zebu do País. O pecuarista oferece o almoço em sua fazenda para receber o presidente da República e autoridades que participam da abertura da ExpoZebu.

Na Fazenda Mata Velha, Dilma encontrou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, hospedado no local desde a noite anterior, Aécio, que todo ano vai à feijoada, chegou por volta das 14h.50, quando Dilma e Lula já estavam no café. O tucano foi recebido por Barcellos, que estava com a presidente, o ex-presidente e assessores na casasede, distante das mesas do evento. No encontro, não se falou em política. Logo em seguida, Dilma e Lula foram embora.

Em 2010, Dilma se encontrou com o então pré-candidato do PSDB José Serra. Barcellos colo¬cou os dois na mesma mesa. Eles comeram feijoada juntos.

Olho no relógio

Na noite anterior, em jantar oferecido pelo deputado Marcos Montes (PSD- MG) para Anastasia, Aécio chegou por volta das 23I1, evitando assim encontrar no local o ex- prefeito paulistano Gilberto Kassab, presidente do PSD.

"Nós não temos que, em cada encontro desse, tratar de política e de eleições. O partido do prefeito Kassab deu uma sinalização clara de apoio à presidente Dilma, e nosso campo é ou¬tro”, disse Aécio. “Nós vamos construir um projeto alternativo ao Brasil. Alianças virão no momento certo, não é agora.” Quem deveria estar presente e acabou desmarcando na últi¬ma semana foi Eduardo Campos. “Nos encontramos uns dois meses atrás e ele me disse que queria vir para o jantar que tradicionalmente faço no dia anterior da abertura para o governador. Semana passada o pessoal dele me ligou dizendo que ele não poderia vir”, contou Montes. A justificativa oficial foi uma agenda no interior de Pernambuco envolvendo o problema da seca no Estado, mas a reportagem apurou que Campos preferiu evitar o constrangi¬mento de encontrar Aécio e Kassab ao mesmo tempo.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Chance remota de mudança nas penas

Joaquim Barbosa afirma que os recursos dos 25 condenados só servem para "corrigir eventuais contradições" no julgamento

Diego Abreu (Enviado especial)

San José (Costa Rica) — Na primeira vez em que se pronunciou sobre o processo do mensalão depois de os réus terem apresentado recursos, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, afirmou ontem que embargos de declaração não têm efeitos modificativos em ações penais que tramitam na Corte. Os 25 condenados no julgamento protocolaram embargos contra as decisões proferidas pelo STF.

Em uma rápida entrevista coletiva concedida ontem de manhã em San José, capital da Costa Rica, Joaquim Barbosa evitou polemizar contra os pedidos dos réus, mas foi enfático ao dizer que esses recursos não produzem efeitos modificativos. Ele foi questionado se, em tese, esse tipo de recurso pode alterar decisões do STF, e respondeu: “Tecnicamente, não. Embargos de declaração visam simplesmente corrigir eventuais contradições”, frisou o ministro, que viajou à Costa Rica para participar de uma mesa de debate na conferência internacional que celebra o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa.

Joaquim Barbosa não quis se manifestar sobre os pedidos apresentados por réus de novos julgamentos pela primeira instância da Justiça. Ele também não comentou a possibilidade de ser substituído da relatoria do caso, como querem alguns advogados das partes. A defesa do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu pediu que Barbosa deixe de ser relator do mensalão por ter assumido o cargo de presidente do STF em meio ao julgamento do mensalão, em novembro do ano passado.

O ministro observou que não teve acesso ao conteúdo dos embargos de declaração e comentou que levará duas semanas para decidir como proceder quanto ao julgamento dos recursos. “Não li nada ainda, não tomei conhecimento do teor de nenhum recurso e, portanto, só começarei a pensar no que fazer na próxima semana”, disse o presidente do STF.

Evitando criar uma expectativa quanto ao retorno do processo para o plenário do Supremo, Barbosa preferiu não precisar uma data para o início da apreciação dos recursos. “Não tem previsão, mas nas duas próximas semanas eu devo sinalizar o que vou fazer”, afirmou. O Correio apurou que Barbosa pretende levar, ainda em maio, os embargos para análise no plenário da Suprema Corte.

Embargos

Quanto aos embargos infringentes, mecanismos previstos no Regimento Interno do STF nunca usados pela Corte, mas que têm potencial para reverter as condenações, o ministro disse que o tribunal ainda avaliará se são cabíveis. Esses recursos devem ser protocolados pelos réus em uma segunda etapa, depois do julgamento dos embargos de declaração.

“Com relação aos embargos infringentes, o tribunal vai ter que decidir se eles existem ou não, porque há uma lei votada pelo Congresso, em 1990, na qual não se tem a previsão da existência desses embargos. E esta é a lei que rege há mais de 20 anos o processo penal nos tribunais superiores no Brasil”, detalhou. “O STF vai ter que decidir se sobrevivem esses embargos, já que houve uma regulamentação geral do processo criminal nos tribunais superiores”, completou.

A tendência é que Barbosa não abra mão de continuar na relatoria do caso durante a apreciação dos embargos de declaração. No entanto, se os embargos infringentes forem admitidos — nos casos em que o réu tiver recebido ao menos quatro votos pela absolvição —, eles serão distribuídos a um novo relator.

Fonte: Correio Braziliense

Jango pode ter sido envenenado

Júlia Chalib

BRASÍLIA – O filho do ex-presidente da República João Goulart (Jango) João Vicente Goulart disse que a possibilidade de exumação do cadáver é fundamental para esclarecer a causa da morte do pai. "Entendemos que foi um grande primeiro passo. Acho que o estado brasileiro devia isso não só à família, porque há seis anos pedimos ao Ministério Público Federal, mas à sociedade também", disse João Vicente, que preside o Instituto João Goulart. Jango morreu enquanto na Argentina, durante o exílio político na Argentina, em 6 de dezembro de 1976, e seu corpo está enterrado em um cemitério em São Borja (RS), onde o ex-presidente nasceu.

Em reunião no dia 24, o Ministério Público Federal no Rio Grande do Sul e a Comissão Nacional da Verdade decidiram pedir a exumação do ex-presidente. O prazo para o procedimento ser feito não está definido. A Secretaria de Mortos e Desaparecidos Políticos também está envolvida no processo.

Na época em que Jango foi morto, o governo informou que ele havia sido vítima de um ataque cardíaco. O pedido de exumação ocorreu para que seja verificado se, na realidade, o ex-presidente não foi envenenado. De acordo com João Vicente Goulart, um dos vestígios de que Jango pode ter sido assassinado veio do depoimento do uruguaio Mário Barreto, detido no Rio Grande do Sul, concedido a ele, em 2007. Naquela ocasião, Barreto revelou que o serviço secreto uruguaio teria montado um esquema para matar Jango, como parte da Operação Condor (uma aliança entre as ditaduras militares da América do Sul). "Além disso, ele contou que uma pessoa levou a um agente argentino, que estava no hotel onde meu pai morava na Argentina, alguns produtos que poderiam eliminar uma pessoa. Esse agente teria colocado o veneno em uma cápsula em meio aos remédios que Jango tomava diariamente, por ser cardíaco", detalhou.

Segundo Goulart, posteriormente, em 2008, Barreto repassou as mesmas informações em depoimento à Polícia Federal. "O que queremos agora são esclarecimentos. Diante de inúmeros indícios de que o serviço secreto tinha a intenção de assassiná-lo, esperamos que seja entregue uma explicação plausível sobre o que aconteceu. Eu peço a Deus que ele tenha morrido de morte natural, mas diante de tantas evidencias, temos de tirar a dúvida, que permanece no seio da família. Não só por nós, mas pela história nacional."

Metodologia A procuradora federal do MP-RS Suzete Bragagnolo disse que, a partir de agora, serão adotadas medidas preparatórias para que o procedimento seja feito, como estabelecer a metodologia. "Vamos ver quem deve participar da perícia. A Comissão da Verdade vai ao Uruguai e à Argentina para levantar mais documentos e ver se há o interesse desses países em participar da exumação", contou. Segundo ela, a intenção é que a Polícia Federal faça a perícia, mas que, caso seja necessário, eles recorrerão a especialistas fora do país. Na Argentina, a morte do ex-presidente também está sendo investigada pela Justiça, só que criminalmente, já que o caso foi considerado imprescritível. Não há uma definição se haverá uma solicitação oficial à Justiça ou se o procedimento obedecerá outro trâmite legal.

Em março, durante audiência pública da CNV em Porto Alegre, a família do ex-presidente fez um pedido formal para que o corpo fosse exumado. Desde então, o processo, que estava parado no MP-RS, passou a ser analisado. O inquérito chegou a ser arquivado em 2011, considerado "inconclusivo". A assessoria da CNV informou que uma das exigências da família para que a exumação fosse feita era a de que houvesse comprovação de que o procedimento traria conclusões. Segundo Goulart, uma avaliação preliminar com patologistas e peritos da Polícia Federal e de outros órgãos mostra que há pelo menos 50% de chances de a exumação dar resultados positivos. "Das 15 possibilidades de componentes e compostos quimicos que podem ter sido usados para matar meu pai, acreditamos que apenas em torno de seis seriam inconclusivas."

Fonte: Estado de Minas

Governo e país - Merval Pereira,

Outro dia, o ex-presidente Lula deu uma entrevista e lá pelas tantas disse que ficava “com pena” quando via o ex-presidente Fernando Henrique, aos 80 anos, falando mal do Brasil no exterior.

Na mesma toada, a presidente Dilma Rousseff desabafou recentemente para repórteres: “Tem gente torcendo para o país dar errado”. Na verdade, tanto Lula quanto Dilma se referiam a oposicionistas que criticam a atuação do governo, e não o país.

Lula chegou a uma espécie de desabafo, pedindo a Fernando Henrique que deixasse a presidente Dilma “trabalhar em paz”.

O que deixa especialmente irritada a presidente Dilma é a demonstração dos erros de seu governo, notadamente agora que a inflação voltou a ser um tema relevante, saindo da esfera meramente econômica para o campo político.

Apontar os erros da equipe econômica do governo tem rendido bons momentos aos oposicionistas de diversos quilates, desde o senador Aécio Neves, provável candidato tucano à sucessão de Dilma, até o governador de Pernambuco Eduardo Campos, aspirante a oposicionista que ainda busca seu lugar no campo oposto ao que se encontra hoje.

São críticas ao governo Dilma, não ao país. Um governo representa o país, é fato, mas pode representar mal e merecer críticas. E as críticas vêm de uma oposição que, há quase unanimidade sobre isso, é muito fraca no enfrentamento do governo, além de numericamente insignificante no Congresso.

Agora mesmo, quando o PT e a presidente se confundiram em mensagens partidárias e institucionais pela televisão num claro abuso de poder, não há uma manifestação maciça da oposição de crítica a essa postura, muito menos uma análise crítica das mensagens.

Imaginem se a oposição fosse tão aguerrida hoje quanto era o PT nos governos tucanos, a tal ponto que criticava até mesmo medidas que considerava acertadas, como veremos mais adiante.

É mais um exemplo de como confundem o público com o privado, como se consideram donos dos cargos que ocupam transitoriamente ou, no caso de Lula, como não consegue se desapegar da Presidência da República.

Logo ele que criticava a atuação de Fernando Henrique e dizia que daria o exemplo de como um ex-presidente da República deve se comportar.

Não é preciso comentar o que Lula vem fazendo fora do governo para mais uma vez se constatar que o que Lula diz não se escreve. Esse já foi tema de várias colunas, e continua inesgotável. Vale a pena ler de novo.

Afinal, o que fazia o PT quando estava na oposição? Deixava Fernando Henrique governar com tranquilidade ou tentava por todos os meios boicotar sua administração?

Para se ter uma ideia de como a atuação oposicionista radical do PT se reflete hoje no governo, basta lembrar que o PT votou contra o Fundef, que mudou radicalmente o financiamento do ensino fundamental no país; contra a criação da CPMF; contra a Lei de Responsabilidade Fiscal; contra a reforma da Previdência; contra a privatização das telecomunicações, entre muitos outros votos não. E hoje é a favor de todas eles.

Já contei como logo no início do governo Lula, quando ele assumiu surpreendentemente como tarefa de seu governo prosseguir a reforma da Previdência, conversei com o então presidente da Câmara, deputado João Paulo Cunha, hoje condenado pela participação no mensalão, e perguntei a ele por que o PT se batera tanto contra a reforma quando o PSDB estava no governo se agora se mostrava favorável a ela. Ele, candidamente, respondeu: “Luta política”. Simples assim.

A “luta política” justificava tudo, até mesmo trabalhar contra medidas que consideravam acertadas. Fora os erros propriamente ditos, como apostar que o Plano Real era apenas eleitoreiro, e não daria certo.

O hoje ministro da Educação, Aloizio Mercadante, era a cabeça econômica do PT, e apostava nisso. Hoje, diz que a oposição, ao criticar o governo, parece-se com o PT quando criticava o Plano Real.

Fonte: O Globo

Dona Dilma e seus shows televisivos - Alberto Goldman

Durante 12 minutos, e pela décima terceira vez, ouvi um pronunciamento, com direito à trilha sonora, da presidente Dilma Rousseff em rede nacional de rádio e televisão, entre o Jornal Nacional e a novela. Até fiquei em dúvida se não era uma nova novela, “Salve Dilma”. Desta vez despejou uma série enorme de temas – educação, royalties, emprego, inflação – e dezenas e dezenas de números, que transmite aos que ouvem a impressão de inteligência, seriedade e conhecimento. Torna-se difícil até analisá-los de imediato e essa talvez tenha sido, justamente, a sua intenção. Em termos do número de aparições, está dando um show sobre o seu antecessor.

Sobre a inflação, quase que de passagem, ela diz: “É mais do que óbvio que um governo que age assim e uma presidenta que pensa desta maneira não vão descuidar nunca do controle da inflação. Esta é uma luta constante, imutável, permanente. Não abandonaremos jamais os pilares da nossa política econômica, que têm por base o crescimento sustentado e a estabilidade.”

Pois ela já abandonou, já demoliu os tais pilares construídos antes do período petista. Ou será que índices acima de 6% são índices razoáveis nessa conjuntura em que o crescimento da economia, no ano passado, não chegou a 1%. A nossa inflação é uma das maiores e o nosso crescimento um dos menores do universo. Caso raro!

Entre os números que ela citou me chamou a atenção a “criação, em 10 anos, de 19 milhões de empregos com carteira assinada”. Aí fui ao Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, o CAGED, operado pelo governo federal. E o que vejo? Em dez anos, de 2003 a 2012, o Brasil criou…14.520.658 empregos com carteira assinada. A presidente inchou o dado em 4,5 milhões de empregos. Para ser exato e detalhado conforme o CAGED informa, entre 0 e 2 salários mínimos, criaram-se 20.375.683 empregos, mas acima de 2 salários mínimos perderam-se 5.855.025 empregos! O saldo é o número acima citado de empregos criados: 14,5 milhões, não 19 milhões.

Além disso, é grave, mas naturalmente a nossa presidente não explica: os empregos criados são de mais baixa qualificação e os perdidos são os de melhor qualificação. Isso é coerente com o baixo crescimento econômico: criação maior de empregos nas áreas de serviços que menos exigem do ponto de vista de qualificação e criação menor, ou até perda, de empregos mais qualificados na indústria de transformação.

Com tempo iremos analisando os demais pontos do pronunciamento.

Fonte: Blog Goldman

Um Bric sem rumo e sem estratégia - Rolf Kuntz*

O economista Jim O'Neill parecia ter feito uma boa aposta quando inventou a sigla Bric, em 2001, para indicar quatro países - Brasil, Rússia, Índia e China - com potencial para mudar o equilíbrio global e ultrapassar as maiores nações capitalistas em algumas décadas. Só parece ter esquecido ou negligenciado um detalhe: a qualidade da política. Isso inclui a capacidade de fixar metas, identificar obstáculos e desenhar estratégias sem tropeçar em preconceitos e sem sobrepor interesses de curto prazo - partidários e até pessoais - às ações de longo alcance.

Os estragos impostos à Petrobrás, agora forçada a desinvestir para fazer caixa, bastariam para mostrar o ponto fraco da avaliação de O'Neill. Mas a coleção de provas é muito maior e é enriquecida, dia após a dia, pelo empenho do governo em demolir os fundamentos da economia brasileira. A piora das contas externas, a erosão fiscal, a tolerância à inflação e a estagnação dos investimentos são indisfarçáveis.

O esforço de recuperação da Petrobrás pela nova administração apenas começou. A empresa realizou maus investimentos, negligenciou a produção, perdeu dinheiro com preços controlados e foi convertida irresponsavelmente em instrumento de política industrial. Para cumprir integralmente esse papel seria forçada a deixar seus objetivos empresariais em plano inferior. O aumento da importação de combustíveis e lubrificantes - de janeiro a abril 28,4% mais que em igual período do ano passado - é uma das consequências desses erros. A decisão de vender a participação de 20% em seis blocos exploratórios no Golfo do México é outra. Isso é apenas parte do desinvestimento necessário.

A autossuficiência no setor de petróleo, alardeada no tempo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é agora prevista para 2020. Deixou de constar do repertório de bravatas oficiais. Mas a expansão das importações da Petrobrás é só um dos componentes negativos da balança comercial. Erros semelhantes aos cometidos na gestão da estatal ocorreram em muitas outras áreas.

Os itens mais importantes de uma política de longo prazo foram substituídos por ações eleitoreiras e pela distribuição de favores a favoritos da corte. Gastou-se muito para salvar algumas empresas em dificuldades - só as escolhidas, é claro. Sem critério estratégico, aplicaram-se bilhões na formação de grandes vencedores nacionais, em alguns casos com notáveis prejuízos. O Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) nunca errou tanto. Ao mesmo tempo, a infraestrutura entrou em colapso. Pequenos apagões - alguns nem tão pequenos - tornaram-se rotineiros, afetando às vezes vários Estados. O setor de transportes entrou em pane, mesmo depois da faxina parcial no ministério em 2011. Neste ano, mais uma vez o agronegócio teve dificuldade para embarcar seus produtos, enquanto navios se enfileiravam ao largo e importadores ameaçavam cortar encomendas.

No ano passado o investimento em máquinas, equipamentos, construção civil e obras de infraestrutura foi 4% menor que em 2011. Governo e empresários projetam para este ano um aumento, mas, ainda assim, o total investido provavelmente ficará abaixo de 20% do produto interno bruto (PIB), muito abaixo do mínimo necessário para desatolar a economia, A meta oficial é algo em torno de 24%, mas esse nível, segundo projeção do governo, só deve ser alcançado em mais ou menos cinco anos.

A perda geral de eficiência e de competitividade é evidente no comércio exterior. Entre janeiro e abril o País faturou US$ 71,47 bilhões com a exportação, 3,1% menos que no primeiro quadrimestre do ano passado, pelas médias diárias. Enquanto isso, o valor importado, US$ 77,62 bilhões, foi 10,1% maior que o de igual período de 2012, pelo mesmo critério. O saldo comercial, um déficit de US$ 6,15 bilhões em quatro meses, é de longe o pior em muitos anos e produzido basicamente por erros cometidos internamente.

O Brasil tem perdido espaço em seus principais mercados, incluídos China, Estados Unidos, União Europeia e Argentina, embora esses países tenham aumentado suas importações totais. Ao mesmo tempo, concorrentes estrangeiros continuam conquistando fatias do mercado brasileiro, apesar das barreiras criadas pelo governo.

O aumento do déficit em transações correntes é uma das consequências da erosão do saldo comercial. O buraco formado em 12 meses passou de 2,05% do PIB em março de 2012 para 2,93% um ano depois. Não é um desastre, mas a piora é rápida e a tendência é clara. Basta ver o descompasso entre exportação e importação de mercadorias.

Do lado fiscal, o governo proclamou a decisão de jogar as metas de superávit primário para segundo plano, em troca de uma política anticíclica. Mas isso é coisa de governos sérios e disciplinados: economizar nos tempos bons e gastar mais quando a economia fraqueja. O padrão brasileiro é outro. Consiste em gastar sempre, por motivos políticos e porque o Orçamento é cada vez mais engessado. O recente anúncio da nova orientação pelo secretário do Tesouro, Arno Augustin, apenas oficializa o abandono da responsabilidade fiscal e a opção pela farra nas finanças públicas. Quanto às desonerações, são uma coleção de remendos mal feitos e desarticulados. Política tributária é outra coisa.

A irresponsabilidade fiscal é irmã da tolerância à inflação. Quem quiser negar essa tolerância terá de explicar por que o governo mantém desde 2005 a meta de 4,5% com a escandalosa margem de dois pontos. Países emergentes com governos respeitáveis têm adotado metas bem mais severas. Ainda é preciso esperar para saber se o recente aumento de juros pelo Banco Central foi o início de uma mudança. Por enquanto, o mais seguro é duvidar.

*Jornalista

Fonte: O Estado de S. Paulo

Risco de letargia - Cristovam Buarque

Um país pode dormir em berço esplêndido, mas seu povo e suas lideranças não têm o direito de ficarem letárgicos quando seu futuro está ameaçado. Mas estamos sofrendo de letargia diante do esgotamento de um ciclo histórico que exige mudança de rumo.

É visível que nossa democracia está fragilizada por causa da corrupção, da desmoralização dos partidos tradicionais, do uso de "pacotes" elaborados conforme os interesses do momento, do elevado custo de campanhas, transformadas em batalhas de marqueteiros e advogados, e do financiamento corruptor destas campanhas milionárias. Outro fato que demonstra esta fragilidade é o controle do Legislativo pelo Executivo e a insólita disputa entre Legislativo e Judiciário.

É visível o risco da perda do controle da inflação. Uma das conquistas da democracia foi o Plano Real, adotado por unanimidade pelas lideranças políticas nacionais e todos os governos desde 1994. Agora, elas parecem abandonar esta grande conquista. E o povo parece manter-se letárgico, sem despertar para o risco do monstro da inflação e suas consequências desestabilizadoras de todas as políticas, especialmente as sociais e econômicas.

Também estamos letárgicos diante da desmoralização de outra grande conquista da democracia: a transferência de renda. Estamos letárgicos também diante do risco do aumento real do salário mínimo, agora ameaçado pela volta da inflação e pelo risco de que sirva como indutor de mais inflação. Estamos letárgicos diante da aceitação de bolsas como instrumentos permanentes sem compromisso com a abolição da pobreza. Os brasileiros, especialmente os beneficiários das bolsas, ainda não se despertaram para um tempo em que se livrarão delas. E as lideranças políticas, especialmente as que se consideram de esquerda, parecem considerar que o Brasil já fez sua revolução, ao distribuir um mínimo de sua imensa renda para os pobres, mesmo mantendo o modelo social e econômico concentrador. É preciso despertar para a necessidade de que qualquer brasileiro e sua família estejam independentes da necessidade de bolsa.

Nosso povo e líderes também estão letárgicos diante do claro atraso da nossa economia que, mesmo quando cresce, faz como há cinco séculos, por meio da exportação de commodities, e há 60 anos por intermédio da produção industrial de bens sem conteúdo científico e tecnológico. É preciso despertar para o fato de estarmos aceitando no século XXI uma economia de meados do século XX.


A letargia fica mais grave porque as eleições presidenciais são o momento de despertar, mas até agora não se vê qualquer dos candidatos com propostas que permitam reorientar o país. Nenhum deles parece estar interessado em despertar o povo da letargia diante de uma sétima economia baseada em commodities, de uma sociedade não emancipadora, de volta da inflação e de uma democracia acanhada e instável, que parece ser de brincadeira.

É muito arriscado ficar dormindo enquanto o mundo inteiro se mexe, mesmo quando em crise de crescimento na produção.

Cristovam Buarque, senador (PDT-DF)

Fonte: O Globo

Brasileiro vai gastar R$ 250 bi para se alimentar em casa

Cada cidadão deverá gastar R$ 1.525,25 neste ano só para comer em casa, aponta o IBGE

Alimentação ficou 13,86% mais cara em um ano, quase o triplo a inflação

SÃO PAULO - A alimentação no lar deve produzir uma receita de R$ 250 bilhões em 2013. De acordo com projeções do Pyxis Consumo, ferramenta de dimensionamento de mercado do Ibope Inteligência, cada brasileiro deverá gastar R$ 1.525,25 com alimentação no domicílio até o fim do ano. Entre as classes sociais, a C será a maior compradora de alimentos no ano, com gastos estimados em R$ 120,824 bilhões, 48,25% do total. A classe B fica na sequência, com um consumo estimado em R$ 79,025 bilhões ou 31,56% do total.

A classe D/E está em terceiro, com uma receita de R$ 34,688 bilhões ou 13,85% do total. Na análise por região, os consumidores do Sudeste farão as maiores compras para a alimentação no lar, com quase metade do projetado para o país (R$ 121,680 bilhões), seguindo pelas Regiões Nordeste (20,89% ou R$ 52,3 bilhões) e Sul (15,57% ou R$ 38,997 bilhões). "Apesar do maior consumo no Sudeste, a Região Sul é a que apresenta o maior gasto por habitante, de R$ 1.656,11, enquanto no Sudeste o valor é de R$ 1.061,51, e no Centro-Oeste, de R$ 1.598,06", anunciou o Pyxis Consumo, em nota.

Já na avaliação por classe e região, a classe C do Sudeste lidera com consumo estimado em R$ 57,282 bilhões para 2013. A classe B, também do Sudeste, aparece em seguida, com R$ 44,110 bilhões. A Região Norte apresenta o menor potencial de consumo, com exceção das classes D/E. Nestas classes, o menor potencial é no Centro-Oeste.

Pressão na inflação. A alta dos preços dos alimentos continua sendo um dos grandes vilões da inflação. Em Belo Horizonte e região, a alimentação já ficou 13,86% mais cara em um ano. Essa variação é quase três vezes maior do que a inflação acumulada entre maio de 2012 e abril de 2013, quando o Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo Ipead/UFMG, atingiu 5,76%.

Dos tipos que compõem o item, a alimentação na residência variou 0,46% em um mês e 16,04% em doze meses, enquanto a alimentação fora de casa aumentou 1,31%, com alta acumulada de 11,20% em um ano. Já a alimentação in natura aumentou 1,84%, acumulando alta de 43,35% em doze meses. Só nos primeiros meses deste ano, o aumento já é de 33,26%.

O Ipead/UFMG apurou que os alimentos subiram acima da inflação em todas as comparações. Em abril, o IPCA foi de 0,49% e a variação dos alimentos foi de 0,83%. Nos quatro primeiros meses de 2013 os índices foram de 5,50% 3,19%, respectivamente.

Remédios também têm reajustes

Os medicamentos vendidos nas drogarias de Belo Horizonte são encontrados com uma diferença de preço que chega a 251,6%, na comparação entre remédios de referência e genéricos, segundo levantamento feito pelo Procon Assembleia em treze estabelecimentos e com 166 produtos. Por exemplo, o medicamento com princípio ativo Atenol/Atenolol, de 50mg, conforme verificado em uma drogaria, custa R$ 35,13, se consultado o preço do medicamento de referência, enquanto o genérico custa mais de três vezes menos, R$ 9,99.

Foi apurado pelo Procon também aumento de até 43,77% em um ano no preço do medicamento. Caso de um antivirótico do laboratório Cimed, que em 2012 custava em média R$ 8,43 e, em abril de 2013, passou para R$ 12,12. Em contrapartida, medicamentos como o analgésico com a substância ativa paracetamol, do laboratório Teuto, ficou 32,62% mais barato.

Ambev e BRF reclamam

A disparada dos preços dos alimentos, que cresceram nos últimos 12 meses num ritmo duas vezes superior à inflação, afetou as vendas de comida e bebidas na indústria e no varejo nos primeiros meses deste ano. Duas gigantes do setor, a BRF, que produz alimentos industrializados, e a Ambev, fabricante de cervejas, sentiram dificuldade para vender os produtos no mercado doméstico no 1º trimestre deste ano e culparam a inflação por isso. "Estamos em boa condição no momento, mas preocupados porque o mercado interno está com grande dificuldade de absorver volumes", disse o diretor-presidente BRF, José Antonio do Prado Fay. De toda forma, no 1º trimestre deste ano a receita com vendas domésticas somou R$ 4,069 bilhões, com alta de 4% ante o mesmo período de 2012.

A Ambev já registrou queda de 7,1% nas vendas de cerveja no 1º trimestre, na comparação anual. Segundo o diretor- geral, João Castro Neves, a inflação de alimentos e a desaceleração do crescimento da renda disponível do consumidor foram apontadas como os principais fatores para o mau momento do consumo de bebidas. O recuo captado pela indústria já se traduziu em números para o varejo. Pesquisa do instituto Nielsen aponta o volume de vendas de uma cesta composta por 130 categorias de produtos caiu 1,6% no período.

Fonte: O Tempo (MG)

Para mercado, PIB vai crescer menos de 3%

Bancos e consultorias reveem para baixo as projeções de crescimento da economia do País para o ano. A maioria indica aumento do PIB inferior a 3%. A produção industrial cresceu 0,7% em março, desempenho aquém do esperado

Bancos e consultorias já falam em crescimento do PIB abaixo de 3% no ano

Cleide Silva

SÃO PAULO - Bancos e consultorias começam a cortar as projeções de crescimento da economia para este ano e já trabalham com previsões abaixo de 3%. Crescimento de 3% é a projeção do Banco Central (BC) para a alta do Produto Interno Bruto (PIB) este ano. Até agora, o número vinha sendo endossado pelo mercado, levando-se em conta a média das projeções obtidas na pesquisa Focus, feita pelo BC, com bancos e consultorias.

Mas os analistas estão ficando mais pessimistas. O desempenho abaixo do esperado no primeiro trimestre, segundo mostram números como os da produção industrial, divulgados ontem, e a piora em indicadores de consumo e da balança comercial levaram à revisão de algumas projeções. No ano passado, o PIB cresceu só 0,9% e as projeções para este ano iam até 4%, com mais apostas em 3%.

O diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, Octavio de Barros, baixou de 3,5% para 2,8% a expectativa de alta do PIB em 2013. "Nossa revisão para o crescimento doméstico foi influenciada pela incorporação recente de resultados mais fracos do que esperávamos da atividade econômica", disse. Barros também aponta um cenário global mais fraco que o imaginado.

Silvia Matos, economista do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV), reduziu sua expectativa de 2,9% para 2,7%. Segundo ela, "há chances de nova revisão, dependendo principalmente do desempenho do setor de serviços", a ser divulgado.

Os resultados do primeiro trimestre também estão abaixo do esperado pela Tendências Consultoria. A expectativa de alta de 3% deve cair para 2,8% ou 2,9%, diz a economista Alessandra Ribeiro. Ela esperava alta de 1,1% no PIB do primeiro trimestre, mas, com os dados da produção industrial, a previsão deve baixar para 1% e, com isso, o viés será de baixa para o ano.

O economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, trabalhava desde junho com alta de 3%, mas revisou o índice para 2,5% há um mês. "Os dados fracos da indústria, aliados aos do comércio e serviços, podem trazer uma surpresa negativa." Vale não vê recuperação evidente no segmento de bens de capital e nos investimentos.

Alta de 2,5% também é a previsão de Thaís Marzola Zara, da Rosenberg & Associados, desde o início de 2013, e do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

André Loes, economista-chefe do HSBC para a América Latina, mantém aposta em 2,6%. Ele lembra que o ano começou um pouco mais forte, mas desacelerou. "Não achamos, contudo, que o número da balança comercial seja razão para alteração, pois o Brasil é muito fechado e as exportações representam parte pequena do PIB."

Com margem que vai de 2% a 3%, Emerson Marçal, coordenador do Centro de Macroeconomia Aplicada (Cemap/FGV) diz que a balança comercial pode ter impacto no desempenho da economia. "A queda do mercado externo vai bater na produção industrial."

O Banco Fator é outro que vê chances de revisar para baixo a alta de 2,9% esperada inicialmente. O Credit Suisse, que tem a aposta mais alta do mercado, de crescimento de 4%, só deve rever os números em junho.

Fonte: O Estado de S. Paulo

De novo, a indústria - Míriam Leitão

Continua difícil contar com a indústria. Os economistas previam alta de 1,3% em março, mas a produção cresceu 0,7%. O trimestre fechou em 0,8% e o acumulado em 12 meses continua negativo, -2%. As projeções para um PIB de 3% no ano contam com uma alta forte do setor industrial, que ainda não aconteceu. Metade do investimento no trimestre é equipamento de transporte, com foco na produção de caminhões.

Os problemas da indústria não estão apenas na macroeconomia e no custo Brasil. Há causas específicas, que não são atacadas pelo governo. A política setorial é só uma forma de compensação: dá pequenos benefícios a quem está indo mal. Um por um, para onde se olha, há luz amarela.

O setor de petróleo e gás ficou cinco anos sem rodadas de licitação. São cinco anos perdidos de investimentos e prospecção de novos campos, que fariam aumentar a produção agora. A mineração está travada porque o governo há dois anos fala em mudar o marco regulatório, mas o projeto não sai dos gabinetes de Brasília. A construção civil cresceu muito rapidamente e está repensando seu modelo de negócios. Sofre com a falta de mão de obra e o aumento de custos. A siderurgia anda de lado desde a crise de 2008, que deixou uma ociosidade enorme no mundo em capacidade produtiva. As empresas de energia elétrica levaram um tombo com a MP 579. Perderam valor de mercado e vão perder receita. A indústria do etanol ficou sem competitividade com o congelamento do preço da gasolina.

Até setores que vinham andando bem agora estão tendo problemas. Um executivo do setor de bebidas disse que as vendas de cerveja caíram 7% no primeiro trimestre, com queda de 5% nos refrigerantes. O aumento da inflação está tirando renda das famílias, que também estão endividadas. Além disso, o governo tem um cronograma pesado de aumento de impostos sobre bebidas, para compensar a perda de caixa com as desonerações feitas a outros setores. A indústria de alimentos processados também sente o aumento dos preços. A produção caiu tanto em fevereiro quanto em março, acumulando perda de 4% no período.

Em março, a indústria como um todo cresceu 0,7%, mas houve alta em apenas 13 dos 27 setores. O crescimento foi mais uma vez concentrado no setor automotivo, que só cresce com a injeção bilionária de subsídios, via redução de IPI. Toda vez que se fala em voltar com o imposto, as vendas caem, e a produção, também.

No mercado internacional, a indústria continua sem condições de competir. A balança comercial do setor industrial terminou o primeiro trimestre com déficit de US$ 16 bi. As exportações caíram 5%, mesmo com o real mais fraco, e as importações cresceram 3%. Produtos de alta tecnologia tiveram queda de 8%.

O melhor dado de ontem foi a alta pelo terceiro mês seguido dos bens de capital. Mas, até aqui, há ressalvas. O ritmo começou em 9,2%, em janeiro, desacelerou para 1,6%, em fevereiro, e em março foi a 0,7%. No trimestre, houve alta de 9,8% em relação a 2012. Pelas contas de André Macedo, do IBGE, praticamente metade disso é produção de equipamentos de transporte, leia-se caminhões.

Olhando para frente, os primeiros números de abril mostram piora na expectativa dos empresários. O índice dos gerentes de compras PMI do banco HSBC caiu pelo terceiro mês seguido, para a menor taxa em seis meses. O Índice de Confiança da Indústria da FGV caiu 0,8% em abril e ficou abaixo da média histórica.

A política industrial não tem dado certo, e as previsões dos economistas estão errando o alvo. Os bancos previam forte alta da indústria. O Bradesco estimava 1,7%. Itaú, HSBC e Santander estavam com a média do mercado, em 1,3%. Deu 0,7%. Mesmo com grandes departamentos econômicos, eles não estão conseguindo medir o que está acontecendo com a economia. Gradual Investimentos e MB Associados chegaram próximos - 0,6% - mas estão entre as exceções.

Fonte: O Globo

Renato Lessa fala dos desafios à frente da Biblioteca Nacional

Cientista político explica em entrevista os primeiros passos que pretende dar para resolver os sérios problemas de infra-estrutura da instituição

Ele discorda dos gastos assumidos pelo governo para a Feira de Frankfurt, mas garante que vai cumprir os compromissos

RIO - Quando foi anunciado que o cientista político Renato Lessa, de 58 anos, seria o novo presidente da Fundação Biblioteca Nacional, uma amiga mandou a ele uma mensagem de parabéns, com um recado: “Que Deus e o governo ajudem você”.

Pelos problemas que o esperam, Lessa realmente vai precisar da ajuda de todos os lados na gestão da instituição. Há um ano, desde uma inundação, sua sede no Rio está sem ar-condicionado, o que, no verão, levou a temperatura dos armazéns de livros para até 50 graus. Outro ponto a ser enfrentado por Lessa, oficialmente no cargo desde segunda-feira, são as críticas quanto aos atrasos e ao orçamento elevado na organização brasileira na Feira de Frankfurt, a maior do mundo para o mercado literário, que vai homenagear o Brasil em outubro.

Em entrevista no gabinete da presidência da Biblioteca Nacional ¬¬— com as janelas abertas pela falta de refrigeração —, Lessa reconheceu que há muito a ser feito. Segundo ele, serão necessários mais 120 dias para que um sistema antigo de ar-condicionado volte a funcionar na Biblioteca, e o tempo para que o sistema geral seja religado é indeterminado. Lessa também discorda dos gastos assumidos pelo governo para Frankfurt — R$ 15 milhões de investimentos diretos e a possibilidade de mais R$ 3 milhões via renúncia fiscal —, por acreditar que a homenagem deveria ser de responsabilidade do setor privado. Mas promete cumprir os compromissos.

Por fim, o novo presidente da Biblioteca Nacional discorda de Galeno Amorim, que esteve no cargo nos últimos dois anos, quanto à quantidade de municípios sem bibliotecas no Brasil: “É um número vergonhoso”.

Como foi feito o convite para o senhor assumir a presidência da Fundação Biblioteca Nacional? A ministra (Marta Suplicy, da Cultura) pediu algo específico ao senhor?

Foi em meados de março, poucas semanas antes de ela anunciar a mudança. Nós tivemos uma primeira conversa excelente, muito franca. O que me deixou muito seguro para aceitar o convite foi a possibilidade de institucionalizar políticas para a Biblioteca Nacional, sem que dependam de rompantes ou projetos pessoais, com um clima de independência. Além disso, ao mesmo tempo em que a ministra me deu autonomia e liberdade para estruturar a gestão da Biblioteca, ela manifestou também um enquadramento geral de como vê a coisa. A maior preocupação da ministra, da qual eu compartilho inteiramente, é ter uma restruturação tanto da Biblioteca Nacional quanto da política do livro. É um movimento que não incidiu apenas sobre a Biblioteca Nacional, ele inclui também a vinda do Castilho (José Castilho Marques Neto, presidente da editora Unesp) para a reorganização da política do livro e do Sistema Nacional de Bibliotecas como política pública de Estado em Brasília.

A junção de responsabilidades da Biblioteca Nacional com a política do livro era justamente uma das maiores críticas que parte do mercado fazia ao seu antecessor, Galeno Amorim.

A Biblioteca Nacional estava sobrecarregada. O excesso de atribuições torna impossível que todas recebam igual atenção. Não era um desenho adequado. Agora, a Biblioteca vai ficar desasfixiada para cuidar de suas atribuições naturais.

Em alguns de seus artigos publicados em jornais, o senhor já expressou críticas aos governos do PT. Isso em algum momento foi impeditivo para aceitar o convite?

Não foi só ao PT, também fui crítico aos governos anteriores. Mas em momento algum esse assunto apareceu na conversa com a ministra. Meus artigos não são secretos, têm a ver com meu lado de intelectual público, como observador dos hábitos políticos brasileiros. Não foram artigos que se dirigiam a este ou aquele governo. Isso é sabido, é público, estou longe de abjurar as coisas que eu escrevi. E acho que isso qualifica o convite, mostrando a ideia de independência de pensamento e de juízo.

Ainda há uma infinidade de livros físicos em circulação, mas ao mesmo tempo existe hoje um processo de digitalização em curso, de aumento da presença dos livros digitais. Em vista disso, qual o senhor considera ser o papel de uma biblioteca hoje? Esse papel está mudando?

Eu acho que o papel da biblioteca não se altera. O que as configurações novas trazem é a importância de uma biblioteca acrescentar dimensões a seu papel, que é a guarda de acervos valiosos. Fazer a guarda desses acervos incorporando tecnologias que permitam a recuperação e o restauro, mas isso tudo associado a uma perspectiva de publicização, de conquistar públicos leitores de diferentes níveis. Desde o leitor eventual até pessoas profissionalmente ligadas à pesquisa que têm na biblioteca seu local de trabalho. Acho que o futuro da biblioteca tem a ver com a capacidade de atender essa diversidade pública. Mas isso implica naturalmente um projeto agressivo de digitalização, mas não só do acervo específico de uma biblioteca, mas uma digitalização que componha redes de acervos digitalizados. Por exemplo, você pode imaginar uma grande biblioteca virtual que reúna as bibliotecas dos países lusófonos, em que os usuários possam compartilhar os acervos. Outro recorte possível é com a América do Sul. Existe um mundo para ser explorado de compartilhamentos de base da nossa Biblioteca Nacional com outras bibliotecas do mundo.

Como vai a digitalização do acervo da Biblioteca Nacional?

Ainda é muito pequeno, temos cerca de 25 mil títulos digitalizados. São 11 milhões de páginas.

De um total de quantos?

O total é complicado. Nunca houve um censo rigoroso de qual é o tamanho da Biblioteca, é uma coisa que precisamos fazer. Existe um número mágico de 9 milhões. Mas são 9 milhões de títulos, de volumes físicos? Por exemplo, naqueles 25 mil títulos digitalizados, a gente considera “O Globo” um título. Mas se forem exemplares, esse número já aumenta. Então não tenho como dizer um percentual do que já foi digitalizado. Mas posso dizer que é muito pouco, muito pequeno em função do volume do acervo. É uma prioridade das maiores, até porque, voltando à pergunta anterior, o papel da biblioteca depende da digitalização.

Falando sobre os problemas que a Biblioteca Nacional enfrentou nos últimos meses, o que ainda mais chama a atenção é a falta de ar-condicionado. É uma situação que se estende há um ano e que é prejudicial para usuários e funcionários, mas também é prejudicial para os livros. Ainda falta muito para isso se resolver?

É horrível para os livros. No pico do verão, me disseram que a temperatura no armazém de obras gerais bateu 50 graus. Você não pode ter um acervo valioso assim. O ideal são 23 graus, 22 graus. Mas, infelizmente, ainda está longe de chegarmos lá. Em marcha, começamos agora um processo de recuperação de um sistema antigo de ar-condicionado, e a estimativa que me deram é que a obra termine em 120 dias. Então a expectativa é que enfrentemos o verão com esse sistema antigo em funcionamento. Será um verão melhor do que o anterior, mas ainda longe do que a Biblioteca precisa. Já o sistema geral de refrigeração é de uma complexidade imensa e vai depender de um projeto de reforma. Temos dinheiro para isso e temos decisão de fazer a obra em seguida. Mas seria irresponsável eu dizer quando isso vai ficar pronto.

Qual a verba para essa reforma da refrigeração?

Existe um volume de recursos para as obras gerais da Biblioteca, que incluem as obras da sede e do anexo. O BNDES entra com pouco mais de R$ 40 milhões. Conseguimos também uma parte do PAC das cidades históricas, fizemos jus aos recursos porque somos um prédio histórico. E vamos ter ainda aplicações do orçamento da Biblioteca. Tudo isso vai dar um total de R$ 70 milhões. Vão ser usados para obras de estrutura, da refrigeração, da recuperação da claraboia, do reboco que andou caindo para a rua, da segurança, coisas assim. Enfim, são obras para levantar a infraestrutura. A administração anterior contratou a Fundação Getulio Vargas para fazer os termos de referência dessas obras, e eu vou ter uma reunião com eles na segunda-feira para saber em que pé isso está.

Mas olhando o acervo hoje, é possível que alguma obra tenha sofrido algum dano por causa do calor?

Não tenho notícias de danos ao acervo.

Outra questão muito discutida é a participação brasileira na Feira de Frankfurt, em outubro, quando o país será homenageado. Com a mudança na diretoria da Biblioteca Nacional, muda algo na organização da feira?

A participação brasileira na Feira de Frankfurt é uma política de governo que mobiliza o Ministério da Cultura e o Itamaraty. Acho importante desfazer um pouco a ideia de que a Feira de Frankfurt é a Biblioteca Nacional. Não é. A homenagem em Frankfurt significa que o governo brasileiro aceitou e entendeu que essa é uma oportunidade de promoção brasileira no exterior. O projeto é gerido por um comitê gestor, e a Biblioteca faz parte desse comitê, mas há outros integrantes, como a Funarte e o Ministério da Relações Exteriores.

Mas a Biblioteca tem um papel grande na organização.

Tem um papel grande, sim. Mas, na minha perspectiva, não é um papel compatível com as funcões próprias da Biblioteca. Como a Feira de Frankfurt tem uma dimensão econômica muito forte, algumas questões deveriam estar a cuidado dos editores do setor privado. Eu entendo que também há um interesse estratégico do Brasil, o que leva o poder público a participar, mas não me parece correto que isso seja pensado como exclusivamente fincado dentro de uma esfera estatal. Mas isso foi decidido em 2010 com comprometimentos financeiros e com o comprometimento da Biblioteca em algumas decisões, e isso será mantido. Estamos discutindo, hoje, que esse paradigma não se repita em outros eventos dessa natureza. Não cabe ao presidente da Biblioteca Nacional ser o dirigente dessa internacionalização dos livros brasileiros, e não associo o que penso sobre a Biblioteca Nacional a eventos do tipo. E ainda tenho uma reserva aos custos assumidos para a viabilização de negócios, sobretudo numa indústria que tem pujança, força e muita qualidade.

Quanto vai ser o gasto do governo em Frankfurt?

O orçamento total não vai passar de R$ 18 milhões. Desses, R$ 15 milhões vêm do orçamento do Estado brasileiro, pelo Fundo Nacional de Cultura. Já a Câmara Brasileira do Livro teve autorização para captar, via Lei Rouanet, R$ 13 milhões, dos quais nada ainda foi captado. Então, o que temos garantido hoje são R$ 15 milhões, e ainda faltam R$ 3 milhões para fechar o orçamento. Esse dinheiro virá ou de renúncia fiscal ou de patrocínio.

Houve algumas críticas sobre possíveis atrasos da preparação brasileira para Frankfurt. Alguma dessas críticas chegou ao senhor?

Com relação a prazos, nada chegou a mim. O que eu sei é que houve uma preocupação natural em relação à mudança na presidência da Biblioteca. Essas coisas são institucionais, mas envolvem relações pessoais. Então, quando há uma mudança dessas, surgem incertezas. Mas eu garanto que estamos trabalhando com a perspectiva de realizar o projeto na integridade.

Uma pergunta que é feita há anos e cuja resposta sempre foi um pouco nebulosa é sobre o número de municípios brasileiros ainda sem bibliotecas. O senhor sabe quantos faltam?

Eu não sei o número para te dizer, mas sei que é um número vergonhoso. A questão não é apenas o número de municípios sem biblioteca, mas temos que nos perguntar que bibliotecas existem e que pessoas trabalham nessas bibliotecas. Há gente que trabalha sem salários, com heroísmo. Essa é uma preocupação fortíssima da Elisa Machado, que dirige o Sistema Nacional de Bibliotecas: dar consistência a esse sistema, criando bibliotecas e fortalecendo as bibliotecas que existem.

É curioso porque, quando Galeno Amorim assumiu a presidência da Biblioteca Nacional, há pouco mais de dois anos, ele disse que faltavam “poucas dezenas” de municípios sem biblioteca no Brasil.

Eu não acho. A leitura no Brasil ainda é muito pequena, precisamos aumentar a familiaridade do brasileiro com o livro. Temos que ver isso realisticamente, como um obstáculo e desafio. Não como uma maldição que se abateu sobre a gente. A democratização do país não é só poder votar e ter liberdade para dizer o que pensa, democratização é a população ter acesso à cultura. E a biblioteca é um espaço fundamental desse processo.

Fonte: O Globo

Invocação à mulher única – Vinicius de Moraes

Tu, pássaro - mulher de leite! Tu que carregas as lívidas glândulas do amor acima do sexo infinito
Tu, que perpetuas o desespero humano - alma desolada da noite sobre o frio das águas - tu
Tédio escuro, mal da vida - fonte! jamais... jamais... (que o poema receba as minhas lágrimas!...)
Dei-te um mistério: um ídolo, uma catedral, uma prece são menos reais que três partes sangrentas do meu coração em martírio
E hoje meu corpo nu estilhaça os espelhos e o mal está em mim e a minha carne é aguda
E eu trago crucificadas mil mulheres cuja santidade dependeria apenas de um gesto teu sobre o espaço em harmonia.
Pobre eu! sinto-me tão tu mesma, meu belo cisne, minha bela, bela garça, fêmea
Feita de diamantes e cuja postura lembra um templo adormecido numa velha madrugada de lua...
A minha ascendência de heróis: assassinos, ladrões, estupradores, onanistas - negações do bem: o Antigo Testamento! - a minha descendência
De poetas: puros, selvagens, líricos, inocentes: O Novo Testamento afirmações do bem: dúvida
(Dúvida mais fácil que a fé, mais transigente que a esperança, mais oporturna que a caridade
Dúvida, madrasta do gênio) - tudo, tudo se esboroa ante a visão do teu ventre púbere, alma do Pai, coração do Filho, carne do Santo Espírito, amém!
Tu, criança! cujo olhar faz crescer os brotos dos sulcos da terra - perpetuação do êxtase
Criatura, mais que nenhuma outra, porque nasceste fecundada pelos astros - mulher! tu que deitas o teu sangue
Quando os lobos uivam e as sereias desacordadas se amontoam pelas praias - mulher!
Mulher que eu amo, criança que amo, ser ignorado, essência perdida num ar de inverno.
Não me deixes morrer!... eu, homem - fruto da terra - eu, homem - fruto da carne
Eu que carrego o peso da tara e me rejubilo, eu que carrego os sinos do sêmen que se rejubilam à carne
Eu que sou um grito perdido no primeiro vazio à procura de um Deus que é o vazio ele mesmo!
Não me deixes partir... - as viagens remontam à vida!... e por que eu partiria se és a vida, se há em ti a viagem muito pura
A viagem do amor que não volta, a que me faz sonhar do mais fundo da minha poesia
Com uma grande extensão de corpo e alma - uma montanha imensa e desdobrada - por onde eu iria caminhando
Até o âmago e iria e beberia da fonte mais doce e me enlanguesceria e dormiria eternamente como uma múmia egípcia
No invólucro da Natureza que és tu mesma, coberto da tua pele que é a minha própria - oh mulher, espécie adorável da poesia eterna!

Rio de Janeiro