sexta-feira, 14 de junho de 2013

OPINIÃO DO DIA – Aloysio Nunes Ferreira: credibilidade em xeque

"Quem dera a presidente Dilma fosse Vasco da Gama, que era um homem ousado, um homem audaz, um homem que ousou enfrentar uma navegação "por mares nunca dantes navegados" - na expressão de Camões sem contar com os instrumentos modernos que permitem orientar a navegação.

A presidente Dilma, infelizmente, está longe de ter as qualidades de um comandante. Ela se contenta com uma navegação de cabotagem: vai de um ponto a outro na costa; às vezes se aventura a uma ilha e, muitas vezes, passa de raspão pelos recifes que bordejam o litoral.

Aloysio Nunes Ferreira (SP), líder do PSDB no Senado. In “Aécio vê ‘nervosismo’ da presidente após queda em pesquisas” , O Estado de S. Paulo, 13/6/2013

Manchetes de alguns dos principais jornais

O GLOBO
Tensão urbana: Confronto se agrava em SP, com mais prisões e feridos
Grupo X já deve mais do que vale
Novos partidos: STF deve derrubar liminar

FOLHA DE S. PAULO
Polícia reage com violência a protesto e SP vive noite de caos
Distúrbios começaram com ação da Tropa de Choque
Jornalistas da Folha levam tiros
da PM; sete são atingidos
Petrobras está impedida de fazer comércio internacional
EUA afirmam que Síria usou armas químicas contra rebeldes

O ESTADO DE S. PAULO
Paulistano fica 'refém'; de bombas em novo confronto
Dilma usará privatizações para atingir meta de superávit
Débito impede Petrobrás de exportar e importar
STF deve liberar trâmite de projeto

VALOR ECONÔMICO
Investidor perde R$ 120 bi no ano com título público
Dividendo da Caixa não vai para o Tesouro
EUA querem investir no Brasil
Terminais atuam com contrato vencido há mais de três décadas

BRASIL ECONÔMICO
Protestos: Passagem não é mais o motivo
Sucessão: Candidatos usam mal a internet
Defasagem no preço da gasolina chega a 28,6%

ESTADO DE MINAS
Licitação da BR-381 começa com cinco lotes
Enquanto isso, nas ruas de São Paulo...

O TEMPO (MG)
Justiça proíbe protestos em MG durante a Copa das Confederações
Energia cara: Oposição vai pedir explicações
Inflação torna brasileiro mais consciente na hora de consumir
Polícia reage com violência, e SP tem novo dia de pânico
Manifestantes depredam pontos de ônibus na área central do Rio

CORREIO BRAZILIENSE
Inflação: Aperto maior para a classe C
Concurso: Transparência zero na Anvisa
Protestos levam mais 60 à prisão

GAZETA DO POVO (PR)
Protestos contra tarifa se espalham pelo país; violência cresce em SP
Crise ofusca festa do PT em Pinhais
Dívida impede negociações da Petrobras
Ex-presidente argentino Menem é condenado a sete anos de prisão

ZERO HORA (RS)
Preço do leite já subiu 10% após descoberta de fraude
Protesto e depredação
Perde e ganha: O desafio de enfrentar a alta do dólar

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Fiação matou 31 em 2012
Feirão da Caixa será aberto hoje com 23,8 mil imóveis
Governo rebate a crítica de Eduardo
Dia de pânico e violência

Inflação: Aperto maior para a classe C

Segundo o IBGE, o aumento nos preços paralisou a ascensão social no Brasil. Juros e dólar devem prejudicar o consumo.

Inflação mina o poder de compra da classe C

O comércio, que até bem pouco tempo crescia a um ritmo chinês, dá sinais de fadiga. Dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, com a inflação em alta, o varejo já se ressente do esgotamento do processo de ascensão social que marcou o país nos últimos 10 anos. A nova classe média, formada por 40 milhões de brasileiros que engordaram o mercado de consumo nesse período, não só parou de crescer como está vendo o seu poder de compra encolher.
Segundo Reinaldo Pereira, gerente da coordenação de serviços e comércio do IBGE, esse quadro é claro. "Antes, havia a entrada de pessoas na classe média, que vinham com a demanda reprimida e consumiam muitos móveis, eletrodomésticos, informática, celular e veículos. Outras, que já tinham esses bens, queriam produtos mais modernos. Só que chega um momento que isso se esgota. O processo de troca de bens é muito mais lento agora. Além disso, estamos num período em que a inflação nos incomoda e a inadimplência está alta (pois muitas famílias se endividaram além da conta", afirmou.

Com isso, o varejo registrou alta de apenas 1,6% em abril na comparação com o mesmo período de 2012. Foi o pior resultado para este mês desde 2003, primeiro ano do governo Lula. Frente a março, houve avanço de minguado 0,5%, número que, a despeito de ser positivo, frustrou o mercado, que esperava o dobro desse desempenho. No acumulado do ano, o incremento das vendas chega a 3%, mas as receitas do setor saltaram 11,1%. Quer dizer: o comércio não se intimidou em reajustar as mercadorias a um ritmo quase quatro vezes maior do que o incremento do consumo.

Segundo o pesquisador do IBGE, a tendência é de piora. É que o varejo sentirá o baque da disparada do dólar e do aumento dos juros. "A valorização do dólar terá um efeito inflacionário e implicações nas vendas do comércio. Os preços aumentarão, afetando o consumo", disse. Para ele, todos os produtos importados ficarão mais caros nos próximos meses, inclusive bens fabricados no Brasil que usam componentes de fora do país. Ainda segundo o técnico, com a alta da taxa Selic, que passou de 7,25% ao ano para 8% — e pode chegar a 9,5% —, as compras a prazo de bens duráveis devem esfriar.

Supermercados

Entre os seguimentos que mais perderam força está o de supermercados e hipermercados, que recuou 0,5% no mês. No acumulado do ano, as vendas desses estabelecimentos ficaram estagnadas, ou seja, crescimento zero. Na avaliação dos especialistas, a culpa de desempenho tão ruim é da inflação. "Os preços no varejo cresceram, em média, 1,2% ao mês. Esse número é bem elevado, superior ao observado no IPCA", calculou Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central.

Os dados do IBGE mostram ainda que o segmento de mercados registrou queda de 5,4% nas vendas na comparação com igual mês do ano anterior — o pior resultado desde agosto de 2003. Esse tombo, de acordo com análises do instituto, se explica pela elevação de preços — o grupo de produtos de alimentação consumidos no domicílio, por exemplo, encareceram 15,7% no acumulado de 12 meses.

Carlos Mussi, diretor do escritório da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), avaliou que, além da inflação, a velocidade de acesso ao crédito tem diminuído no país. "O consumidor está mais atento à situação financeira, e isso faz com que seja mais cauteloso nas compras. Não é um fato isolado no Brasil. A América Latina como um todo tem registrado desaceleração do consumo", argumentou.

Prévia do PIB

De acordo com Roque Pellizzaro, presidente da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), o varejo já esperava uma acomodação das vendas, sobretudo em função do endividamento da famílias e da carestia. "A questão é: uma das molas propulsoras do varejo, a demanda reprimida dos brasileiros, foi atendida. Com isso, há um novo perfil de consumo, bem mais moderado", argumentou.

O comportamento mais contido dos consumidores se reflete no crescimento do país. Hoje, será divulgado o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), um indicador que tenta antecipar o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) antes da publicação pelo IBGE. Para analistas, o número de abril estará entre uma expansão de 0,7% e 0,8%. "Com a continuidade de números positivos no mercado de trabalho e ajustes salariais de várias categorias, devemos ver algum avanço da massa salarial e um ritmo mais forte de atividade. Nos meus cálculos, o país vai crescer 2,3% em 2013", projetou Jankiel Santos, economista-chefe do Espírito Santo Investment Bank.

O Itaú Unibanco, que tem indicador semelhante ao do BC, projeta expansão de 0,8% para abril. "O resultado do PIB mensal indica que a atividade econômica está em expansão. Essa perspectiva se mantém mesmo com os dados preliminares de maio apontando para recuo da atividade econômica", relatou Aurélio Bicalho, economista da instituição.

Exclusividade gera protestos

O programa Minha Casa Melhor, lançado na quarta-feira pelo governo, foi motivo de conflito entre os formuladores e os lojistas. O cartão do benefício será operado exclusivamente pela Redecard, Segundo os comerciantes, a maioria dos estabelecimentos opera com outras empresas. Agora, terão de arcar com um novo custo para atender os clientes. A Caixa Econômica Federal afirmou que a exclusividade se deve a uma questão técnica. Os concorrentes não estariam preparados tecnologicamente para operar o cartão que será entregue aos clientes do Minha Casa, Minha Vida. Informações de bastidores apontam que a Redecard teria feito investimentos para participar do programa.

Fonte: Correio Braziliense

Inflação reduz de novo vendas nos supermercados

No varejo, como um todo, alta de 0,5% em abril veio abaixo do esperado

O aumento da inflação em abril voltou a influenciar as vendas nos supermercados. Segundo o IBGE, as vendas de hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo registram queda de 0,5% sobre março, após registrarem recuos de 2,1% em março e de 1,5% em fevereiro. Sobre um ano antes, as vendas caíram 5,4% em abril, único resultado negativo entre os segmentos pesquisados.

No varejo como um todo, as vendas também decepcionaram em abril, apesar de terem voltado a crescer na variação mensal depois de dois meses, ainda sob efeito da inflação elevada contaminando o consumo. Segundo o IBGE, as vendas cresceram apenas 0,5% ante março.

- Realmente, o preço alto está inibindo as compras no supermercado. A situação da inflação é preocupante para o comércio, e a taxa de câmbio também pode influenciar no ritmo do setor este aano - afirmou o economista do IBGE Reinaldo Pereira, referindo-se à recente desvalorização do real, que pode tornar os bens importados mais caros, empurrando os preços para cima.

A desaceleração dos preços dos alimentos, porém, pode ajudar a aliviar a pressão inflacionária. Já por conta disso, em maio, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou a menor alta em quase um ano, de 0,37%.

Fonte: O Globo

Governo quer reativar economia via concessões

Débora Bergmnasco

BRASÍLIA - A presidente Dilms Rousseff está apostando todas as fichas no programa de concessões de infraestratura para resgatar o crescimento da economia nacional, hoje afogada em um caldo de investimentos tímidos, baixo desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) ? alta do dólar e avanço da inflação.

Nos bastidores, a previsão do governo é de que outubro seja o mês da virada, quando se espera que as primeiras privatizações estejam concluídas e que a onda de aumento dos preços esteja domada.

No raciocínio de Dilma, o início dos leilões para conceder ao setor privado a administração de portos, aeroportos, rodovias e ferrovias será determinante para, além de melhorar o caixa do governo, estimular o consumo, suavizar a sensação de que o País está empacado e de que a presidente deixa a desejar no quesito gerência, com obras que não andam.

Apesar de se apresentar publicamente sempre otimista em relação ao crescimento do Brasil, iá no início deste ano, quando a economia começou a demonstrar os primeiros sinais de anemia - confirmados depois com o crescimento abaixo do esperado do PIB e a inflação em alta fontes do Palácio do Planalto admitem que o time presidencial já havia detectado internamente que o ano seria de fortes turbulências.

Para completar o quadro, a inflação permaneceu em patamar elevado, desafiando as previsões feitas pelo Banco Central no ano passado, de queda nos preços ao longo do ano. Sob críticas do mercado, os diretores do Comitê de Política Monetária (Copom) decidiram em abril aumentar osjuros pela primeira vez em quase dois anos, para controlar a inflação.

Prazo* Agora, a equipe governamental está imbuída da missão de começar a sessão de quem dá mais?" para assumir obras de infraestrutura impreterivelmente em setembro, onze meses depois de ser anunciada por Dilma.

Na semana passada, foram anunciadas as datas para a licitação de cinco lotes de rodovias, no período entre setembro e dezembro, totalizando 7,5 mil quilômetros. Nas ferrovias, serão 13 lotes a serem concedidos à iniciativa privada, num total de 10 mil quilômetros.

O governo espera que em outubro a economia esteja respondendo bem à enxurrada de desonerações promovidas ao longo do primeiro semestre, que devem chegar neste ano à casa dos R$ 72 bilhões. Foram eliminados impostos da folha de pagamento, a conta de luz ficou mais barata e até a cesta básica paga menos tributos, entre outras medidas, como o IPI menor para carros e eletrodomésticos.

Riscos políticos. Se o controle das finanças do País ainda está no plano das previsões, o impacto político que os tropeços da economia estão causando já está cristalizado. O Palácio do Planalto considera que o aumento da inflação foi a grande causa da queda de popularidade da presidente em pesquisas de opinião divulgadas recentemente.

Já se admite que os produtos mais caros no mercado deram para o PSDB o discurso que a oposição até então não tinha. E colou, como demonstra o avanço do pré-candidato à Presidência Aécio Neves nas mesmas pesquisas.

Mas os marqueteiros de Dilma preveem que, quando a economia voltar com fortes sinais vitais, até o fim do ano, como esperado pelo governo, Aécio terá mais dificuldades em se mover na escalada eleitoral.

Cifra bilionária

0 governo prevê investimentos totais de R$ 133 bilhões após a concessão de 7,5 mil quilômetros de estradas e 10 mil quilômetros de ferrovias.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Dilma usará privatizações para atingir meta de superávit

A presidente Dilma Rousseff decidiu usar todo o dinheiro obtido com as concessões de infraestrutura para atingir a meta do superávit primário. Nas contas do governo, as privatizações previstas para o segundo semestre, como de blocos de petróleo e gás, aeroportos e rodovias, devem render pouco mais de R$ 30 bilhões. A principal aposta vai para o leilão do poço de petróleo Libra, na Bacia de Santos, de onde viriam entre R$ 17 bilhões e R$ 25 bilhões. Outros R$ 13 bilhões devem sair das licitações dos aeroportos do Galeão (RJ) e de Confins (MG), previstas para ocorrer em setembro. Artigo inserido na MP 600, de dezembro, permite que os recursos obtidos com os terminais sejam depositados na conta única do Tesouro, o que era vetado até então. Expediente semelhante utilizado no governo FHC foi criticado pela presidente Dilma em agosto de 2012, quando ela anunciou as concessões de rodovias e ferrovias.

Governo usará receita de privatizações para atingir meta de superávit primário

João Villaverde, Adriana Fernandes

BRASÍLIA - O governo federal definiu a fórmula que usará neste ano para atingir a meta de economizar, no mínimo, R$ 110,9-bilhões para pagar os juros que incidem sobre a dívida pública. A presidente Dilma Rousseff tomou a decisão política de usar todo o dinheiro que for obtido com as concessões de infraestrutura deste ano, como as de blocos de petróleo e gás e grandes aeroportos e rodovias, para engordar a meta fiscal, conhecida como superávit primário.

Nas contas do Planalto, as privatizações previstas para o segundo semestre devem render pouco mais de R$ 30 bilhões ao governo. Segundo apurou o Estado, o uso dos recursos das concessões para atingir a meta de superávit primário foi definido na última quarta-feira, durante reunião entre a presidente Dilma e o ministro da Fazenda, Guido Mantega.

Quando anunciou as concessões de rodovias e ferrovias, em agosto de 2012, a presidente criticou as privatizações feitas por Fernando Henrique Cardoso, quando o dinheiro era usado para o pagamento de juros da dívida, e não para reforçar os investimentos públicos.

A principal aposta é para o leilão do poço de petróleo Libra, na Bacia de Santos. De acordo com uma fonte da área econômica, o governo vai "calibrar com Libra a meta fiscal". De lá viriam grandes volumes de recursos, que os técnicos calculam, hoje, em algo entre R$ 17 bilhões e R$ 25 bilhões.

Mas a nova estratégia ganha fôlego com o expediente de engordara meta fiscal com todas as outras concessões, em especial a de aeroportos. A avaliação é que as licitações dos terminais do Galeão (RJ) e de Confins (MG), previstas para setembro, são as mais promissoras. A equipe econômica estima que as outorgas dos consórcios vencedores devem somar cerca de R$ 13 bilhões, mas apenas uma parcela disso entrará no cofre este ano - as concessionárias pagam parcelas anuais.

Alteração via MP. Antes blindados pela legislação do Fundo Nacional de Aviação Civil (Fnac), criado em 2011 para receber o dinheiro das outorgas dos terminais privatizados e que somente poderia ser gasto em investimentos no setor de aviação, os técnicos do governo agora estão livres. Um artigo inserido na Medida Provisória (MP) 600, publicada em dezembro, permite que os recursos das outorgas sejam depositados na conta única do Tesouro, e, portanto, engordem a meta fiscal.

No governo, a opção de ampliar o bloqueio de recursos do Orçamento é vista como última hipótese. O cenário da equipe econômica inclui uma melhora da arrecadação de tributos ao longo do ano, que será reforçada pela nova estratégia de engordar a economia para o pagamento de juros da dívida com os recursos das concessões. No limite, de forma a atingir "a qualquer custo" a meta de poupar 2,3% do Produto Interno Bruto (PIB), serão retidos gastos do orçamento.

A presidente Dilma Rousseff encara como missão a recuperação da credibilidade perdida na área fiscal As manobras contábeis conduzidas no fim de 2012, quando até créditos da usina hidrelétrica de Itaipu foram usados para fechar as contas, mancharam a imagem construída em 2011, quando o governo cumpriu um a meta fiscal mais rigorosa que a inicialmente proposta.

Para o ano que vem, a estratégia voltará a ser aquela usada no início da gestão Dilma Rousseff. A meta de superávit primário será de 3,1% do PIB.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Mudança de discurso

Em agosto do ano passado, o governo anunciou com pompa um dos maiores programas de investimento em logística do planeta. Em discurso, no Palácio do Planalto, a presidente Dilma Rousseff deu uma estocada em governos da década de 90: "Nós, aqui, não estamos desfazendo de patrimônio público para acumular caixa ou reduzir dívida". Era uma" meia-verdade. O governo do PT não vai vender patrimônio público, mas fazer concessões a empresários.

No entanto, o dinheiro será usado justamente para "acumular caixa" e "reduzir dívida". Pressionada pela falta de credibilidade de sua política econômica, a presidente mandou usar o dinheiro recebido nos leilões deste ano como parte do "superávit primário", a meta de economia do setor público,

Dilma foi eleita com base em uma lógica antítese das privatizações, Era, nas palavras de Lula, a "mãe" do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Desde 2003, quando chegou ao governo federal, Dilma defendia o papel do Estado na condução de investimentos necessários ao País, Primeiro, reformulou todo o setor elétrico, na Pasta de Minas e Energia, Ao assumir a Casa Civil e o Conselho de Administração da Petrobrás, bateu forte na tecla de que as grandes empresas precisavam comprar no Brasil sua matéria-prima.

Nos bastidores, insistiu para que a petroleira estatal assumisse a operação e comprasse pelo menos um terço da riqueza do pré-sal O discurso atendia ao figurino: uma técnica de apelo nacionalista, contrária à entrega de patrimônio público nas mãos de empresas privadas, Como presidente, faz agora um recuo importante. Já abriu mão do investimento majoritariamente estatal na infraestmtura. Vai leiloar rodovias, ferrovias, portos e aeroportos, que até pouco tempo atrás estariam no guarda-chuva do PAC. Por outro lado, aceita a austeridade fiscal. A realidade se impôs.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Eduardo Campos: "É proibido a gente discutir?"

Embora tenha dito que não leu a declaração da presidente Dilma Rousseff (PT) rechaçando os críticos da economia brasileira, o governador e potencial candidato ao Palácio do Planalto Eduardo Campos (PSB) - um dos que fazem "alertas" ao governo federal - cobrou respeito à liberdade de fazer sugestões e opinar sobre assuntos da conjuntura nacional.Ele classificou as críticas como naturais e negou conotação política ou eleitoral nas suas análises, ao ser questionado se seus questionamentos à economia não levam dificuldade ao governo. Defendeu, ainda, que o debate não seja "interditado".

"Não pode falar? Não pode sugerir? Você acha que é proibido a gente discutir? É proibido dar opinião ou sugerir como é que pode ser feito? Ao mesmo tempo, vamos ajudando, botando obras para gerar emprego e animar a economia", disse Eduardo, demonstrando impaciência, em entrevista após evento para anunciar investimentos na saúde do Recife.

O socialista observou que também fez sugestões durante a crise financeira mundial de 2009 ao então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) - propôs, por exemplo, linhas de crédito para garantir investimentos públicos - e ressaltou que a própria equipe do governo federal e especialistas endossam suas avaliações sobre a economia.

Em meio a constantes guerras veladas pela paternidade de obras em Pernambuco - por parte dele e do governo federal -, o governador defendeu que a recuperação brasileira não vai ocorrer "na base da briga". "Nosso objetivo é ajudar o governo, não é atrapalhar", completou.

Esta semana, o socialista afirmou que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) é "exemplo a ser seguido", ressaltando que, na campanha de 2002, o tucano convidou os candidatos a presidente da República para debater a conjuntura brasileira da época.

Eduardo retoma hoje sua agenda nacional. Oficialmente, no entanto, o compromisso será de caráter administrativo. Ele foi convidado a palestrar, às 11h, sobre seu modelo de gestão no evento Conexão Empresarial, que será realizado na cidade de Araxá, Minas Gerais. O governador aproveitará a ida à terra natal do senador Aécio Neves (PSDB) para conversar com lideranças locais e integrantes do PSB.

No segundo maior colégio eleitoral do País, ele encontra dificuldades para montar um palanque socialista que possa abrigá-lo numa eventual corrida à Presidência em 2014. O principal representante do PSB no Estado é prefeito Márcio Lacerda que, conforme é dito nos bastidores, é mais "aecista" do que "socialista".

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

FHC sugere 'autocrítica' à petista após citar Camões

Guilherme Walteimherg

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) afirmou ontem que a presidente Dilma Rousseff deveria fazer uma "autocrítica" após comparar a oposição ao Velho do Restelo, personagem pessimista de Luís de Caimões que aparece em Os Lusíadas. "Acho que (os velhos do Restelo) são os que olham para trás. Ela devia fazer uma autocrítica", disse o tucano, em evento no instituto que leva seu nome.

Dilma fez a comparação com o personagem anteontem, ao contra-atacar críticas que consideram o governo "leniente" com a inflação. Ontem, FHC fez coro às declarações do senador Aécio Neves (PSDB-MG) à política econômica atual.

"Tem que fazer (críticas) mesmo. Quem sofre é a população", afirmou FHC. Para o ex-presidente, embora tenha atingido o teto da meta de 6,5% no mês passado, a inflação não está fora de controle e poderia ser administrada com "relativa facilidade".

"Tem que ser uma combinação da política monetária, com a taxa de juros, com uma política fiscal. Tem que ser uma combinação das duas", afirmou Fernando Henrique, Para isso, segundo o tucano, bastaria vontade política. "Esse governo não parece ter essa decisão. Talvez seja obrigado pelas circunstâncias."

Embora tenha reconhecido que "houve muita coisa em que o Brasil avançou" nos dez anos de governo petista, FHC afirmou que, nesse período, "a cultura política, o clientelismo, a corrupção pioraram".

Ao ser questionado sobre a queda da avaliação da presidente Dilma Rousseff, FHC disse ser bem possível que a eleição de 2014 tenha duas votações. "É provável que sim, desde que haja três ou quatro candidatos. Aí a probabilidade é grande."

Fonte: O Estado de S. Paulo

Campos diz não querer atrapalhar governo federal

Daniel Carvalho

SÃO PAULO - Um dos críticos da política econômica do governo Dilma Rousseff na base aliada, o governador Eduardo Campos (PSB-PE) disse ontem não querer atrapalhar a administração de sua possível adversária na disputa presidencial do próximo ano.

"Nosso objetivo é ajudar o governo. Não é atrapalhar", afirmou.

Campos disse não se considerar um crítico da gestão Dilma e que as observações que faz também são feitas por "muita gente" da equipe econômica do governo federal.

"Estou torcendo para [a economia] dar certo. Quero contribuir. Todo mundo está discutindo", afirmou o governador.

Anteontem, Campos sugeriu que Dilma faça como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que, em 2002, chamou os pré-candidatos à Presidência da República para discutir os rumos do país.

"É importante que a gente aprenda com esses bons momentos da história", disse Campos.

Em 2002, no último ano de sua gestão, FHC reuniu os principais pré-candidatos para informá-los sobre um acordo assinado pelo governo com o FMI (Fundo Monetário Internacional).

Fonte: Folha de S. Paulo

Ex-ministro de Lula diz que Gleisi está 'alinhada' com fazendeiros

Para Vannuchi, da Comissão de Direitos Humanos da OEA, governo está dividido na questão indígena

Em fala a emissora ligada à CUT, petista coloca em dúvida compromisso de Dilma com 'os mais pobres'

SÃO PAULO - O ex-ministro da Secretaria de Direitos Humanos no governo Lula, Paulo Vannuchi, disse ontem que a equipe da presidente Dilma Rousseff está dividida na questão indígena e que a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, está "visivelmente" alinhada com os fazendeiros.

Recém-eleito para compor a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA (Organização dos Estados Americanos), Vannuchi afirmou ainda que Gleisi deu declarações "praticamente exigindo a demissão da presidente da Funai, Marta Azevedo, [...] um problema porque se costuma manter respeito às diferentes áreas de atribuição [dentro do governo]".

A Funai é vinculada ao Ministério da Justiça, cujo titular é o ministro José Eduardo Cardozo. No último dia 7, Azevedo pediu demissão alegando problemas de saúde. Sua saída ocorreu uma semana após a morte do terena Oziel Gabriel em Sidrolândia (MS).

As declarações de Vannuchi em meio às discussões no governo acerca de novo modelo de demarcação de terras indígenas foram veiculadas pela "Rádio Brasil Atual", emissora ligada à CUT (Central Única dos Trabalhadores).

"Visivelmente, a ministra-chefe da Casa Civil [Gleisi Hoffmann], com seu poder de coordenação interministerial, tem se alinhado sistematicamente com o ponto de vista dos fazendeiros", disse ele.

"Ela (Gleisi) é do Paraná, região onde essa agricultura, a agroindústria, é muito desenvolvida, os fazendeiros são muito fortes. Ela é provável candidata a governadora do Paraná no ano que vem."

Divisão

Na opinião de Vannuchi, o ministro Gilberto Carvalho (Secretaria Geral) e a ministra Maria do Rosário (Direitos Humanos) estão "espremidos".

Carvalho, segundo Vannuchi, por "seu vínculo histórico com os movimento sociais". Rosário, disse, porque é "a quem cabe defender exatamente os direitos de todos os segmentos vulneráveis".

Dilma, segundo Vannuchi, "está se vendo na necessidade de arbitrar" a disputa interna. No final de sua intervenção na qual é apresentado como analista político da emissora, ele afirmou que "a divisão [dentro do governo] deixa a população indígena sem saber se o governo Dilma segue realmente seu compromisso histórico de alinhamento com os mais pobres".

Depois de falar sobre a importância da produção agrícola para o país, ele finalizou dizendo que ela "não pode ser feita sobre cadáveres da população indígena".

Gleisi afirmou ontem, por meio de sua assessoria, que sua posição não é pessoal, mas "de governo".

Segundo ela, "há uma orientação expressa da presidente Dilma de tornar os critérios de demarcação de terras mais claros e disciplinados, para que haja mais segurança jurídica nessas e em futuras disputas de terra.

Fonte: Folha de S. Paulo

Para Planalto, Aécio consolidou-se como opositor

Por Fernando Exman

BRASÍLIA - As pesquisas de intenção de votos divulgadas nos últimos dias deram uma certeza às autoridades do Palácio do Planalto: o senador Aécio Neves (PSDB-MG) destacou-se entre os pré-candidatos da oposição para as eleições de 2014. O crescimento do tucano, ponderam os integrantes do governo, ocorreu justamente depois da participação do parlamentar nos programas de rádio e televisão do PSDB. Agora, os estrategistas do governo irão monitorar o desempenho de Aécio nas próximas semanas para verificar se esse movimento se consolidará, mesmo sem novas aparições do senador em rede nacional.

Para justificar essa leitura política, os auxiliares da presidente Dilma Rousseff lembram que o mesmo não ocorreu com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, depois das propagandas de rádio e TV do PSB. Na mais recente pesquisa do Datafolha, por exemplo, Dilma caiu de 58% para 51% das intenções de voto no cenário que considerou a presidente, Aécio, a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva e o governador pernambucano. Aécio cresceu de 10% para 14%. Já Marina e Eduardo Campos permaneceram com 16% e 6%, respectivamente. As sondagens também registraram uma redução da avaliação positiva do governo.

No programa de TV do PSDB, Aécio criticou a aceleração da inflação e falou sobre a sua gestão no governo de Minas Gerais. Não à toa, nos últimos dias Dilma, integrantes do Executivo e até o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva reforçaram o discurso de que a inflação será mantida sob controle e demonstraram otimismo em relação à economia.

Nesta semana, Dilma voltou a se reunir com auxiliares mais próximos e seu marqueteiro, João Santana, para discutir se seria oportuna a realização de um pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV para a divulgação do programa que subsidiará a compra de eletrodomésticos para os beneficiários do Minha Casa, Minha Vida. Segundo autoridades do governo, ainda não houve uma conclusão a respeito do assunto.

A medida foi anunciada na quarta-feira. O chamado "Minha Casa Melhor" garantirá aos beneficiários do Minha Casa, Minha Vida a aquisição de eletrodomésticos a taxas de juros abaixo da expectativa de inflação. A linha de crédito contará com R$ 18,7 bilhões.

Neste ano, Dilma já realizou pronunciamentos em cadeia nacional no Dia do Trabalho e no Dia da Mulher. Na primeira ocasião, a presidente assegurou que o governo continuará a ampliar o emprego, o salário e o poder de compra do trabalhador. Ela também reafirmou o compromisso de sua administração com a destinação dos recursos obtidos na exploração do petróleo da camada pré-sal para a educação. No Dia da Mulher, Dilma anunciou a redução dos impostos que incidem sobre os produtos da cesta básica, uma nova política de defesa dos direitos dos consumidores e a criação de centros de atendimento às mulheres e de prevenção à violência doméstica.

Em 2012, Dilma convocou a cadeia nacional de rádio e televisão cinco vezes. Os pronunciamentos foram feitos nos dias da mulher, do trabalho, das mães, no Sete de Setembro e no fim do ano.

Fonte: Valor Econômico

Dilma oferece cargo para evitar deserção na base

Ex-prefeita de Fortaleza, sondada por Eduardo Campos, recebe convite para integrar assessoria da Secretaria de Mulheres

Vera Rosa, Daiene Cardoso

BRASÍLIA - Preocupada com a montagem dos palanques estaduais para sua reeleição, a presidente Dilma Rousseff entrou na articulação para impedir deserções de aliados, à custa de cargos no governo. Ao receber na quarta-feira a ex-prefeita de Fortaleza Luizianne Lins (PT), que ameaça migrar para o PSB do governador Eduardo Campos (Pernambuco), Dilma lhe ofereceu uma cadeira na assessoria especial da Secretaria de Políticas para Mulheres.

A presidente fez o convite ao pedir a Luizianne que fique no PT e ajude sua campanha. Além disso, jogou água na fervura pe-tista e afagou a ex-prefeita ao dizer que confia no acordo entre ela e o deputado José Guimarães (CE), líder do PT na Câmara, em nome do projeto nacional.

Luizianne não aceitou o emprego no governo, alegando que não pode se ausentar de Fortaleza, onde é professora universitária. Dilma incumbiu então o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, de procurar algo mais "adequado" para a petista. "Para mim foi muito importante o apoio da presidente. Saí da conversa fortalecida", disse Luizianne, que está em rota de colisão com Guimarães.

Apesar das iniciativas de Dilma, a ex-prefeita ainda avalia a oferta de Eduardo Campos, possível candidato do PSB à Presidência. "Não vou esnobar quem olhou para mim num momento de isolamento", avisou. Em confronto com o governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), Campos propôs a Luizianne a candidatura ao Senado ou até ao governo cearense pela sigla que preside.

Com problemas na Bahia e em Pernambuco, onde PT, PMDB e PSB não se entendem, Dilma tenta construir um palanque único e forte no Nordeste. Ela avalia que a missão é viável no Ceará, desde que "segure" a insatisfação de Luizianne. No cenário dos sonhos palacianos, o PT e o PSB abririam mão da cabeça de chapa para apoiar a candidatura do líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira, ao governo do Ceará.

"Eu sou o fia^tar da aliança com o PMDB e o PSB no Estado", resumiu o deputado Guimarães, que tem maioria no PT do Ceará e quer disputar o Senado. Desafeto de Luizianne, ele também foi recebido por Dilma nos últimos dias.

No Rio. Na tentativa de neutralizar as investidas de Eduardo Campos, a presidente conversou recentemente, também, com o senador Lindbergh Farias (PT-RJ). Pré-candidato ao governo do Rio, Lindbergh é pressionado pelo PMDB a desistir para apoiar a campanha de Luiz Fernando Pezão (PMDB), atual vice. O governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), chegou até a condicionar o apoio a Dilma à desistência do petista. Ciente do impasse, Campos assediou Lindbergh, mas Dilma pediu ao senador que se mantenha no PT, prometendo resolver a situação. "O jacaré está aqui esperando, de boca aberta", brincou Campos.

"As relações mais tensas que temos com o PT são no Rio, na Bahia e no Ceará", admitiu o senador Valdir Raupp (RO), presidente do PMDB.

Em busca de adesões para o projeto 2014, a ofensiva do governo incluiu também o PTB do ex-deputado Roberto Jeffer-son, delator do mensalão. Na esperança de impedir a aliança com Campos ou mesmo com o senador Aécio Neves (MG),provável candidato do PSDB ao Planalto, Dilma pôs o presidente do PTB, Benito Gama, no Banco do Brasil. "Mesmo com toda essa ação, o PSB está qualificando sua presença no debate político", disse o governador de Pernambuco.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Partido de Marina consegue as assinaturas necessárias

Por Cristiane Agostine

SÃO PAULO - A ex-senadora Marina Silva e seus aliados fazem hoje um grande ato em São Paulo para comemorar a conquista de mais de 523,3 mil assinaturas em apoio à criação do partido Rede Sustentabilidade. O evento deve dar ânimo ao grupo de Marina para coletar, no mínimo, outras 200 mil assinaturas até julho, e garantir o número necessário de apoiadores à nova legenda. A um passo de formalizar o Rede, Marina intensificou as conversas com parlamentares para atrai-los ao futuro partido e começou a discutir futuras alianças para 2014, quando deve disputar a Presidência da República.

Segundo balanço divulgado ontem pelo grupo, o Rede coletou 523.345 assinaturas, que ainda não foram validadas. O número de apoiadores pode ser menor, já que muitas assinaturas devem ser descartadas pela Justiça Eleitoral por problemas como duplicidade ou falta de veracidade. Por isso, a meta do grupo é coletar entre 200 mil e 300 mil assinaturas a mais até o próximo mês. Para criar um partido, é preciso o apoio de pelo menos 491.949 pessoas. Esse número equivale a 0,5% dos votos válidos na última eleição para a Câmara dos Deputados. As assinaturas precisam, ainda, estar distribuídas em pelo menos nove Estados.

Segundo Pedro Ivo Batista, coordenador de organização do Rede, o grupo se empenhará a partir de agora na validação das assinaturas. As listas com os nomes dos apoiadores precisam ser checadas pelos cartórios eleitorais e depois registradas no Tribunal Superior Eleitoral. "Potencialmente já superamos a exigência legal, mas os dados ainda precisam ser processados", afirmou.

A busca de apoiadores do Rede se concentrou em grandes eventos, como as comemorações do 1º de maio e a Virada Cultural, em São Paulo; em universidades e colégios; em igrejas evangélicas e em praças públicas, feiras e locais perto do metrô.

Apesar da grande distribuição de listas em favor da criação do partido em igrejas evangélicas, o retorno de apoiadores foi pequeno, de cerca de 10 mil em São Paulo, segundo Geraldo Malta, responsável pelo contato com os religiosos. "Esse número pode chegar a 30 mil, 40 mil, porque muitos religiosos enviaram a lista diretamente à sede de Rede. Dessa forma, não conseguimos checar se foram coletadas nas igrejas", disse Malta, que trabalha como assessor do deputado federal Walter Feldman (PSDB), um dos articuladores do Rede. "O importante agora é conseguirmos mais assinaturas. Digo aos irmãos [evangélicos]: Rumo às 750 mil assinaturas!", disse.

Com o partido encaminhado, ficará mais fácil para Marina intensificar a discussão sobre sua candidatura presidencial em 2014. A ex-senadora tenta atrair parlamentares para fortalecer o partido e inicia a negociação de alianças.

Fonte: Valor Econômico

Supremo forma maioria para derrubar liminar de Mendes

Por Juliano Basile

BRASÍLIA - O Supremo Tribunal Federal (STF) praticamente atingiu maioria de votos para derrubar a liminar que barrou a tramitação no Congresso do projeto de lei que limita a atuação dos novos partidos. Por outro lado, também houve posição majoritária na Corte para indicar aos parlamentares que, se o projeto for aprovado pelo Congresso, ele será, em seguida, derrubado pelo próprio tribunal.

A primeira maioria foi atingida a partir dos votos dos ministros Teori Zavascki, Rosa Weber, Luiz Fux, Ricardo Lewandowski e Marco Aurélio Mello. Eles votaram para cassar a liminar que foi concedida pelo ministro Gilmar Mendes, em 24 de abril, suspendendo a tramitação do projeto de lei que foi aprovado pela Câmara dos Deputados e que rumava para o Senado para votação em regime de urgência. O texto retira tempo da propaganda na TV e no rádio dos novos partidos, além de limitar as verbas que eles receberiam do Fundo Partidário. Ele começou a tramitar na iminência da criação de duas legendas de oposição ao governo: a Rede, da ex-senadora Marina Silva, e a Mobilização Democrática, união do PMN com o PPS.

Além desses cinco ministros, o presidente da Corte, Joaquim Barbosa, também criticou a suspensão de projetos de lei pelo STF e, com isso, deve dar o sexto voto, formalizando a maioria necessária para cassar a liminar de Mendes, concedida a partir de mandado de segurança impetrado pelo senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF).

"É bizarra a intervenção de uma Corte no sentido de proibir o Legislativo de deliberar", disse Barbosa. Para ele, o tribunal deveria aguardar que o caso tramitasse pelo Senado e que a eventual lei fosse sancionada pela Presidência da República para, depois, analisá-la. "Dentro do Poder Legislativo existem controles. Para que existe a Câmara alta do Congresso Nacional?", questionou Barbosa, referindo-se ao Senado. "É para controlar os equívocos e abusos da Câmara baixa! Mas não cabe ao Judiciário exercer esse controle."

Formalmente, Barbosa só vai votar na próxima quarta-feira, quando o julgamento será retomado. Além dele, falta o voto dos ministros Celso de Mello e de Cármen Lúcia Antunes Rocha.

Apesar da formação dessa iminente maioria para cassar a liminar de Mendes, também houve posição majoritária no STF para sinalizar que o projeto que restringe os novos partidos será derrubado pelo tribunal, caso seja aprovado no Senado. Mendes e o ministro José Antonio Dias Toffoli foram diretos nesse ponto. O primeiro qualificou a proposta como "afrontosa", capaz de violar "a Constituição de Deus a Ulysses Guimarães". O segundo disse que teria dificuldades de aplicar a lei nas eleições de 2014, quando será presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), já que ela trata partidos iguais de maneira diferente, dando menos tempo de propaganda às novas legendas.

Segundo Toffoli, não foi o Supremo que invadiu o espaço do Congresso ao suspender a tramitação do projeto de lei, mas sim, o contrário. Isso porque, em junho de 2012, o STF foi a favor da criação do PSD e, agora, o Congresso está impondo restrições à Rede e ao MD. "Essa interpretação que o Parlamento está dando está interditada de acordo com a decisão do STF", ressaltou Toffoli.

"O simples anúncio do projeto de lei já inviabilizava a iniciativa da criação das entidades partidárias", completou Mendes. "O projeto de lei tinha um efeito prévio. Isso não acontece toda a hora. Esse projeto poderia se chamar anti-Marina Silva", acusou.

Celso de Mello enfatizou que, se aprovada, a lei seria uma "anomalia". Outros ministros também deram indicações de que devem votar contra a lei, caso ela seja aprovada, como Fux, Rosa e Lewandowski. No entanto, eles disseram que cabe ao Legislativo analisar a questão, primeiro, aprovando-a ou não. "O controle prévio de projeto de lei não é praxe dessa Suprema Corte", justificou Fux.

A ex-senadora Marina Silva confirmou que vai recorrer ao STF, caso o Congresso aprove a lei. "Vários ministros se manifestaram que, no mérito, há sim inconstitucionalidade", enfatizou.

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), considerou "um grande momento para o Legislativo" a provável cassação da liminar de Mendes. "O importante é que essa decisão define parâmetros e determina que não pode haver controle preventivo do processo legislativo", avaliou. Antes mesmo do término do julgamento, Calheiros divulgou nota comemorando a iminente decisão. Ele afirmou que "prevaleceu a harmonia e a independência entre os poderes" e que o Senado retomará a votação "no melhor momento".

"A decisão do STF dando prosseguimento ao projeto de lei em tramitação no Senado atende as expectativas do Parlamento e também da sociedade, que anseia pelo fortalecimento dos partidos", disse Calheiros.

(Colaborou Raquel Ulhôa)

Fonte: Valor Econômico

Congresso vai poder retomar votação de projeto que inibe criação de partidos

Choque entre Poderes. Supremo já soma 5 votos pela derrubada de liminar que suspendia tramitação de proposta sob argumento de que a Corte só pode agir após aprovação de lei; Gilmar Mendes, que assinou medida, diz que matéria desrespeita decisão do próprio STF

Mariângela Gallucci

BRASÍLIA - A maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) presentes na sessão de ontem votaram a favor de liberar o debate no Congresso do projeto de lei que dificulta a criação de partidos políticos no País» A sessão foi interrompida com o placar de 5 a 2 pela cassação da liminar que suspendia a discussão, e o presidente da Corte, Joaquim Barbosa, indicou que acompanhará a maioria ao chamar a intervenção do STF de "bizarra" A ex-senadora Marina Silva já promete recorrer, caso a lei seja aprovada.

A decisão favorece a presidente Dilma Rousseff. Desde a semana passada, o plenário do STF analisa uma liminar concedida em abril pelo ministro Gilmar Mendes que suspendeu o andamento da proposta. Cinco dos 9 ministros que participam do julgamento já votaram pela derrubada da liminar.

Ao deixar o plenário do Supremo, ontem à noite, Marina disse que, se a proposta virar lei, será questionada no Supremo. "Novamente, vai ser levantada a questão da inconstitucionalidade, e o mais importante é que o próprio Ministério Publico já defende essa tese da inconstitucionalidade e vários ministros se manifestaram que no mérito há sim uma inconstitucionalidade", afirmou a ex-senadora. "Isso coloca ao Senado na obrigação, como Casa revisora, de, se votar, não persistir na inconstitucionalidade."

Contrapontos. No plenário do STF, prevaleceu o entendimento de que o Judiciário não pode fazer um controle prévio da constitucionalidade de projetos em discussão no Legislativo, Segundo a maioria, o Supremo só pode analisar leis já aprovadas e sancionadas, e não textos que ainda estão em debate.

"É bizarra a intervenção de uma Corte judiciária no sentido de impedir o Legislativo de deliberar" afirmou Barbosa. Imediatamente, Gilmar Mendes reagiu: "Não é bizarra".

O presidente do STF respondeu que não existem precedentes em que o Supremo tenha impedido o Legislativo de deliberar sobre propostas. "A questão central é que estamos num regime presidencialista com separação de Poderes", disse Barbosa.

Mendes insistiu na tese de que o projeto desrespeita uma decisão tomada pelo próprio Supremo em 2012, que garantiu às novas legendas acesso ao tempo de propaganda no rádio e na televisão.

"É a coisa julgada da decisão do Supremo que está de fato sendo vilipendiada nesse projeto", disse Mendes. "Temos aqui a ex-senadora Marina Silva. Este projeto deveria chamar anti-Marina Silva. É disso que estamos a falar. Por isso eu disse que me sentia fraudado. Vamos chamar as coisas pelo nome. Estamos fazendo uma lei casuística e estamos chancelando isso."

De autoria do deputado Edinho Araújo (PMDB-SP), o projeto estabelece que os parlamentares que trocarem de partido no meio do mandato não poderão transferir para a nova sigla os recursos do fundo partidário nem o tempo de propaganda no rádio e na televisão,

A ministra Rosa Weber disse que deve ser dada a chance para que o Legislativo e o Executivo exerçam o controle prévio da constitucionalidade, analisando, debatendo e votando o projeto. "O controle preventivo de projeto de lei efetivamente não é praxe da Suprema Corte", afirmou Luiz Fux.

Linha semelhante seguiu o ministro Ricardo Lewandowski, ao proferir seu voto: "Somente após a sua regular tramitação e eventual transformação em direito posto é que esta Suprema Corte estará autorizada a examinar a sua compatibilidade com a Constituição Federal".

"Grotesca". O ministro Teori Zavascki afirmou que, quanto mais evidente e "grotesca" for a in constitucionalidade de um projeto de lei, menos se deve duvidar do exercício responsável do Legislativo.

"Dentro do Legislativo existem esses controles. Para que existe a câmara alta do Congresso? Para controlar os excessos e abusos eventualmente cometidos pela câmara baixa", comentou Barbosa, durante o julgamento. "Não cabe ao Judiciário avançar, se antecipar e exercer esse controle. O projeto mal começou a ser debatido."

Fonte: O Estado de S. Paulo

Novos partidos: STF deve derrubar liminar

Cinco dos dez ministros do STF votaram ontem pela derrubada da liminar, do ministro Gilmar Mendes, que suspendeu a tramitação no Congresso de projeto de lei que limita a criação de novos partidos. Três ainda não votaram, mas entre eles está Joaquim Barbosa, que já se manifestou contrário à decisão de Gilmar.

Oposição comemora e já se mobiliza para nova batalha

Renan afirma que decisão valorizou independência entre os poderes

BRASÍLIA - Os partidos de oposição no Senado se mobilizam para uma nova batalha contra os grande partidos governistas na retomada da votação do projeto de lei que inibe a criação de novos partidos. Ontem, antes mesmo da conclusão do julgamento no Supremo, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), divulgou nota comemorando. Disse que prevaleceu a harmonia e independência dos Poderes, e classificou a retomada da votação como um marco para reafirmar a autonomia do Legislativo. O dia da nova tentativa de votação ainda depende da conclusão do julgamento do STF, mas os líderes da oposição antecipavam o discurso: a presidente Dilma Rousseff pagará por um desgaste desnecessário, porque a inconstitucionalidade do projeto certamente será reconhecida posteriormente pelo Supremo.

- Essa decisão define parâmetros para o processo legislativo e, definitivamente, esclareceu que não pode haver controle prévio de constitucionalidade. É um grande momento para o Congresso. O resultado não caracteriza nem vencedor nem vencido, quem ganha é a democracia - comemorou Renan.

- O bom senso recomenda que o presidente Renan proceda pelo arquivamento da matéria, porque ela divide muito o Parlamento. Mas se for aprovada, ingressaremos com uma Adin no STF - anunciou o líder do PSB, senador Rodrigo Rollemberg(DF), autor da ação que motivou a liminar que suspendeu a votação no Senado.

PT e PMDB lideram o movimento pela aprovação do projeto, com apoio de partidos aliados e mais o DEM. Pequenos partidos e o PSDB são contra. Para o líder do PT, senador Wellington Dias (PI), não houve surpresa:

- A tradição do Supremo é não apreciar mérito nem constitucionalidade de projetos.

O líder do PSDB, senador Aloysio Nunes Ferreira (SP), estocou Dilma:

- O constrangimento era evidente por causa do caráter casuístico do projeto. Mas não sei se a presidente Dilma fica constrangida com essa truculência não! Para quem já disse que quem está em campanha faz o diabo, ela não deve se incomodar com isso.

O presidente do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), defende o projeto:

- Quem errou ao liberar o tempo de TV e recursos do fundo partidário para o PSD foi a Justiça. Esses novos partidos não elegeram um só deputado - disse Raupp.

Fonte: O Globo

Protestos tomam conta do Centro do Rio e de SP

O quarto protesto em apenas uma semana contra o aumento das tarifas do transporte público, em São Paulo, impressionou pelas cenas de violência. De um lado, manifestantes furando bloqueios, pichando muros, fazendo barricadas, ateando fogo ao patrimônio público, apedrejando agentes de segurança. De outro, a tropa de choque da Polícia Militar reprimindo com armas não letais — cassetetes, sprays, gás lacrimogêneo e bombas de efeito moral. Até as 23h30 de ontem, 149 pessoas foram detidas, acusadas de dano, incêndio, desacato e até formação de quadrilha. A passeata reuniu, segundo a PM, 5 mil manifestantes, que saíram no fim da tarde de ontem do Theatro Municipal, no centro, com o objetivo de ocupar a Avenida Paulista, coração financeiro e principal ligação entre o sul e o norte da cidade.

Organizada pelo Movimento Passe Livre, a manifestação pede que o preço da passagem dos ônibus municipais, metrôs e trens metropolitanos se mantenha em R$ 3. No início do mês, o valor foi reajustado para R$ 3,20. O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, reafirmou, ontem, que não fará qualquer alteração nas tarifas. Ele disse que o reajuste (6,7%) ficou abaixo da inflação. O governador do estado, Geraldo Alckmin, sinalizou com a mesma postura em relação a uma eventual redução dos preços das passagens: “Não há possibilidade”. Ambos têm se recusado a negociar com os manifestantes devido aos excessos. “Considero legítima toda e qualquer forma de manifestação e expressão. O que a cidade repudia é a violência”, criticou Haddad.

Por volta das 16h, os manifestantes começaram a se concentrar em frente ao Theatro Municipal, na região central de São Paulo. Antes mesmo de a passeata começar, pelo menos 10 pessoas já haviam sido detidas. Policiais abordavam os grupos que se preparavam para engrossar o protesto, revistado mochilas e bolsas. A estratégia da polícia era impedir que os manifestantes chegassem à Avenida Paulista — palco dos tumultos da última terça-feira. Os poucos conseguiram furar o bloqueio foram reprimidos pela PM. Os principais confrontos entre os agentes de segurança e os manifestantes ocorreram nas ruas que davam acesso à Paulista, principalmente na Augusta e na Consolação. Pelo menos 50 pessoas, incluindo policiais, foram atendidas em um posto de emergência médica montado em um centro cultural. Muitas ficaram feridas, entre elas jornalistas. Repórteres chegaram a ser atingidos por balas de borracha.

No início da noite, o major Lídio Costa Junior, do Policiamento de Trânsito da PM, admitiu que a situação havia saído do controle, ao afirmar que não poderia mais se responsabilizar pelo que aconteceria. Do lado dos manifestantes, as queixas eram de truculência policial e provocação. Eles reclamavam de bombas de gás lacrimogêneo que teriam sido lançadas pela polícia dentro do campus Consolação da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP). Alguns motoristas que ficaram parados nas ruas tomadas pelo protesto trancaram os carros e saíram a pé pelo meio da confusão.

Anistia critica

O ministro José Eduardo Cardozo afirmou que o governo federal está à disposição de São Paulo para o que for necessário. Ele condenou os protestos, classificando como “lamentável” a prática de atos de violência e vandalismo por parte dos manifestantes. Por outro lado, a Anistia Internacional manifestou, em nota, preocupação com o aumento da violência na repressão aos protestos no Rio de Janeiro e em São Paulo. “Também é preocupante o discurso das autoridades sinalizando uma radicalização da repressão e a prisão de jornalistas e manifestantes”, ressaltou o comunicado. A entidade destacou também ser “contra a depredação do patrimônio púbico e atos violentos de ambos os lados”. Por volta das 21h30, o tráfego na Avenida Paulista, que havia sido interrompido, foi liberado pela PM.

Fonte: Correio Braziliense

Manifestações são destaque na imprensa internacional

Para "El País", protestos são alarme num país em que o povo não vai às ruas

Os confrontos entre polícia e manifestantes que protestam contra o aumento das passagens do transporte público chamaram a atenção da imprensa internacional. O jornal espanhol "El País" relata que um Brasil pouco acostumado a ir às ruas protestar se levantou nas principais cidades do país. Afirma ainda que ônibus foram queimados e, em São Paulo, o prefeito Fernando Haddad e o governador Geraldo Alckmin têm sido duros com os manifestantes e com os atos de vandalismo.

"As manifestações estão criando um alarme especial. Nem mesmo diante dos grandes escândalos de corrupção política, o povo nunca saiu às ruas", afirma o texto do jornal, divulgado anteontem. "Os preços dos transportes públicos no Brasil são muito altos em relação ao salário mínimo dos trabalhadores", explica o "El País" a seus leitores.

O jornal expõe ainda que as manifestações chegaram em um momento de crise na economia, com inflação alta, bolsa caindo e o dólar alcançando R$ 2,20. E ressalta a preocupação da presidente Dilma Rousseff com as manifestações.

A situação da economia brasileira foi externada em outros veículos, para contextualizar as manifestações contra os reajustes. O jornal inglês "Financial Times" disse que os protestos são um sinal de preocupação do Brasil com os preços. O "The Wall Street Journal" afirmou que a mais recente série de protestos no Brasil se tornou violenta e lembra que cresce a tensão com o desemprego no país.

Ao relatar o protesto de terça-feira em São Paulo, o jornal argentino "Clarín" informou ontem que os protestos em São Paulo tiveram seu momento mais violento, com 20 detidos, ônibus queimados, bombas de efeito moral, lixo e vidros estilhaçados pelas ruas. O jornal destaca ainda que o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, ordenou uma investigação sobre as manifestações.

Fonte: O Globo

Socióloga estranha rejeição ao diálogo

Ângela Paiva, da PUC-Rio, diz que é difícil entender razões da revolta

O barulho das ruas em São Paulo e Rio de Janeiro provoca mal-estar na academia. Em meio às pedradas e bombas de gás lacrimogêneo dos protestos, os especialistas tentam entender o que está acontecendo. A socióloga Ângela Paiva, professora da PUC-Rio que pesquisa os movimentos sociais, reconhece que o aumento das passagens de ônibus é razão suficiente para a indignação de quem sofre para pagá-las. Mas lamenta e estranha que os líderes tenham recusado o diálogo, preferindo apostar no confronto.

Ângela não está segura de que o valor das tarifas seja a única razão para os tumultos. Ela reconhece que as cenas de protesto fazem lembrar uma famosa cena de "Tempos Modernos", filme de Carlitos. O protagonista, desempregado, vê cair do caminhão uma bandeira vermelha. Carlitos a pega e tenta devolvê-la, acenando para o motorista. Um grupo de trabalhadores, quando o descobre agitando a bandeira, passa a caminhar atrás, fazendo-o liderar involuntariamente um protesto.

- Às vezes, parece coisa de rebelde sem causa. Ele se esgota em si mesmo. Normalmente, um ato de protesto busca o diálogo. Quem protesta quer conversar com que pode resolver as coisas. O prefeito concordou em conversar, mas eles não quiseram. Está difícil de entender. Afinal, não estamos vivendo numa ditadura - disse.

As cenas de rua mostradas pela TV, disse a professora, lembraram as pessoas atrás de Carlitos ou de Forrest Gump, o contador de histórias interpretado por Tom Hanks. Para ela, o Brasil vinha sofrendo de uma espécie de defasagem de protesto, já que vai às ruas desde a Velha República apenas por situações pontuais:

- Depois da Era Collor, houve uma espécie de refluxo, embora não faltem motivos para se protestar. A crise do ensino público é um deles. Os estudantes têm potencial para ir às ruas. O que me preocupa agora é o grau de violência com que isso está sendo feito.

Ângela Paiva não sabe a quem dirigir a crítica pela recusa ao diálogo. A parcela da sociedade mais penalizada com o aumento das passagem, suspeita, não é a mesma que está convocando os manifestantes para se rebelar. A socióloga acredita em outro tipo de articulação, que passa pelas redes sociais e parte de pessoas "com mais escolaridade". Para ela, o problema é a postura. Considera uma lástima que as pessoas protestem não para se entender, mas para continuar atirando pedras.

Fonte: O Globo

As passeatas e os políticos

Deputado federal, Miro Teixeira (PDT), vê nas manifestações contra o aumento das passagens um sintoma da falta de representatividade política. “Os manifestantes substituem as oposições, que deixaram de existir”, diz. Ressalta que as câmaras municipais são quase todas pró-governo. Para ele, as ocupações das ruas devem servir de alerta para “os políticos acomodados” e para as cúpulas partidárias. “Não há mais esquerda ou direita, o Brasil virou o pais do consenso,” afirma.

Fonte: O Dia (RJ) / Informe do dia

A velha no castelo

Dilma Rousseff acha que tudo de ruim que está acontecendo no país é fruto da imaginação alheia ou, pior ainda, de torcida contrária. É possível que a vida palaciana e o ar de Brasília estejam lhe afetando seriamente a percepção da realidade. Um diagnóstico realista e honesto seria o primeiro passo para superar os obstáculos que dificultam o dia a dia do brasileiro comum, que, ao contrário da presidente, não vive isolado em castelo.

Dilma Rousseff acha que tudo de ruim que está acontecendo no país é fruto da imaginação alheia ou, pior ainda, de torcida contrária. É possível que a vida palaciana e o ar de Brasília estejam lhe afetando seriamente a percepção da realidade. Viver encastelada dá nisso.

A presidente aproveitou solenidade destinada a anunciar um programa que incentiva o consumo num momento em que as lojas já não dão conta de suprir as encomendas – e, com isso, incha ainda mais o balão da inflação – para criticar os críticos de seu governo. Comparou-os ao Velho do Restelo, personagem de Camões em "Os Lusíadas”.

Segundo ela, seriam eles incorrigíveis pessimistas que enxergam o que ninguém mais vê: um país próspero, estável, equilibrado e sem qualquer entrave ao desenvolvimento e ao aumento de bem-estar de sua população. Provavelmente, gente que não deve estar assistindo a propaganda do governo nos rádios e nas TVs...

Estes velhos de literatura também devem ser, quem sabe, gente que não consegue comprar tomate na feira porque seu preço mais que dobrou nos últimos meses. Gente que teve que tirar o filho da escola porque a mensalidade subiu quase 50% nos últimos quatro anos. Gente que vê sua poupança para a aposentadoria minguar à medida que a desconfiança dos investidores em relação à solidez do país cresce e derruba os rendimentos.

Aparentemente sem antes ter besuntado a face com óleo de peroba, Dilma afirmou: "A situação real em que o Brasil vive é de inflação sob controle, contas públicas sob controle”. Em que castelo a nossa presidente vive? Deve ser o mesmo habitado por Guido Mantega, aquele que fica perguntando "onde está a crise?” por aí...

Dilma disse também que "não há a menor hipótese” que o governo dela "não tenha uma política de controle e combate à inflação”. Pode até ser que a presidente tenha alguma iniciativa para segurar os preços, mas o problema é que ela simplesmente não funciona. Basta perguntar para o nosso Banco Central por que ele está tendo que arrochar os juros brasileiros na contramão de todo o resto do mundo.

A verdade é que não há rumo nem lógica alguma nas ações da gestão de Dilma. No mesmo momento em que seu ministro da Fazenda diagnostica – enfim! – que o problema do país é investimento de menos e consumo demais, a presidente decide conceder subsídio para compra de eletrodomésticos e mobília.

Na mesma hora em que investidores e agências de classificação apontam temor com o crescente descontrole das contas públicas, a chefe da nação determina que o Tesouro emita mais títulos e aumente ainda mais sua dívida para que mutuários possam jogar fora o seu fogão, um item presente em 98,5% dos lares brasileiros, e comprem um sofá novo.

Só neste ano, o Tesouro já foi autorizado a emitir mais R$ 45 bilhões em dívida nova em operações sempre escamoteadas pelo governo petista de forma a não aparecerem nos indicadores de endividamento público. No entanto, a dívida bruta brasileira caminha para superar neste ano 60% do PIB, ultrapassando a marca dos demais Brics e os limites de prudência.

A presidente e seus auxiliares parecem dar de ombros a tudo isso. A linha de crédito anunciada ontem pelo governo custará R$ 18,7 bilhões, mas nenhuma autoridade federal sabe exatamente de onde o dinheiro virá. "A explicação do governo sobre o custo do novo programa só aumentou as dúvidas”, resumiu o Valor Econômico.

Uma parte dos recursos será composta por R$ 8 bilhões em novos créditos concedidos à Caixa Econômica Federal, que, há apenas dois meses, recebera injeção de outros R$ 13 bilhões. Sabe-se agora que o banco também ficará dispensado de recolher dividendos à União pelos próximos anos, conforme medida provisória publicada ontem à noite.

Com manobras desta natureza, a Caixa já se tornou sócia de frigorífico, fabricante de autopeças, de bens de capital, processador de minério, entre outras empresas privadas, como mostrou ontem O Estado de S.Paulo. Como um dos principais motores da publicidade oficial, o banco também já é o terceiro maior anunciante do país. Até onde esta balbúrdia vai?

Como estes montantes não são suficientes para cobrir o valor e as condições camaradas previstas na nova linha de financiamento, uma boa dica é: que tal olhar para o dinheiro dos trabalhadores depositado no FGTS? É de lá que o governo está tirando recursos utilizados para tocar o Minha Casa Minha Vida, sem que, porém, o Tesouro honre sua parte e ressarça o fundo. Estima-se que a gatunagem já ultrapasse R$ 4,8 bilhões, e continua subindo.

Ninguém é contra ações que visem melhorar as condições de vida da população brasileira, em especial a mais pobre. Mas não dá para concordar com iniciativas de governo que busquem, em primeiro lugar, recuperar a popularidade presidencial. Não se admite que, sob o manto das boas intenções, Dilma faça o diabo apenas de olho na sua reeleição.

Antes de qualquer coisa, a presidente da República deveria reconhecer o momento de dificuldade, que não é exclusivo do Brasil e alastra-se pelo mundo. Um diagnóstico realista e honesto seria o primeiro passo para superar os obstáculos que dificultam o dia a dia do brasileiro comum, que, ao contrário da presidente, não vive isolado em castelo.
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Fonte: Instituto Teotônio Vilela, 13/6/2013.

Discurso de Roberto Freire nos noventa e cinco anos de Armênio Guedes

Como a maior das varias homenagens que estão ocorrendo a Armênio Guedes por seus 95 anos de idade o deputado Roberto Freire pronunciou o discurso que aqui publicamos.

Ao apresentar o militante pecebista com um dos principais precursores da esquerda democrática, Roberto Freire realçou , chamou a atenção para uma trajetória ligada ao tema do valor da política em tempos difíceis.

Senhor Presidente.
Senhoras e Senhores Deputados.

De uns tempos para cá, o advogado e jornalista Armênio Guedes vem tendo evidência pública, a começar pela bela entrevista por ele concedida à repórter Natália Viana para o suplemento dominical “Ilustrissima”, do jornal Folha de S. Paulo (edição de 19 de dezembro de 2010). Evidência pública – destaco eu –, porquanto Armênio é um daqueles homens imprescindíveis, como dizia o poeta alemão Bertolt Brecht, um daqueles intelectuais brasileiros que trabalharam e publicaram longamente na imprensa partidária – refiro-me em especial à imprensa do PCB, do velho Partidão –, ajudando a consolidar a longa tradição de esquerda referenciada pelas questões da democracia. Não foi outro o sentido da participação dessa mente privilegiada em iniciativas notáveis, como as revistas Estudos sociais e Novos rumos, antes de 1964, da revista Presença, e o próprio jornal Voz da Unidade, já nos anos 1980.

Armênio sempre se viu como militante a serviço de uma causa maior, o socialismo e a democracia em nosso país. Ultimamente, mereceu dois livros: o primeiro, emblematicamente chamado de O marxismo politico de Armênio Guedes (Fundação Astrojildo Pereira, 2012), mostra seu pensamento político e nos permite ler seus textos escritos a partir do final dos anos 1950. De fato, ele é figura essencial na atualização do pensamento político do PCB, desde a “Declaração de Março de 1958” até os anos da transição democrática entre nós, iniciada sem governo de transição, como ele próprio nos ensinou, ao valorizar a forma peculiar da transição para a democracia que se intensificou a partir da anistia de 1979.

No próximo dia 17, segunda-feira que vem, será lançado em São Paulo, pela Editora Barcarolla, o não menos expressivo livro escrito pelo jornalista Sandro Vaia, chamado Armênio Guedes – sereno guerreiro da liberdade. Este lançamento está diretamente vinculado aos festejos dos seus 95 anos de existência, a maior parte dos quais traçou a trajetória de um militante comunista que sempre soube se renovar, especialmente no tempo do exílio e na conjuntura de crise crescente do regime soviético, superando com seu marxismo gramsciano as antigas limitações doutrinárias de que tantos não puderam ou quiseram escapar.

Neste sentido, e estas duas importantes obras estão aí para confirmar, ele pode ser considerado um dos pais fundadores da moderna esquerda democrática brasileira, ainda em construção, por oposição à constante tentação autoritária que parece assolar a parte mais estreita e sectária de grupos organizados e de pessoas que desejam um país efetivamente democrático e de oportunidades iguais para todos.

Armênio Guedes nasceu no interior da Bahia, no município de Mucugê, na Chapada Diamantina, no dia 30 de maio de 1918. Ele é originário de uma família de 11 filhos (quatro homens e sete mulheres), dois dos quais quadros qualificados do PCB, como a advogada Júlia Guedes, companheira de Rui Facó, e que morreu de câncer, em Moscou, nos anos 1950, e o dentista Célio Guedes, um dos “desaparecidos” políticos da sanha repressora policial-militar do início dos anos 1970, todos procriações do casal Júlio Augusto de Castro Guedes e de Adorzinda Dulfina dos Santos Guedes, a “Sinhá”. Seu pai foi garimpeiro de diamante e depois lapidador, ganhando dinheiro suficiente para educar todos os filhos, inclusive na Universidade. A família Guedes foi criada nesse ambiente de trabalho árduo, onde o patriarca se movia pela determinação de dar educação formal aos filhos. Não queria acumular riqueza, ter propriedades, todo o dinheiro foi usado para educar os filhos. Ele achava que cada um deles educado, teria como se mover por si só e enfrentar a vida de cabeça erguida.

Armênio, desde jovem, apesar de um gosto especial por História, passou também a se dedicar à Matemática porque queria fazer Engenharia. Mas quando terminou o ginásio já estava inteiramente envolvido em política, ganho que fora para a luta pelas liberdades e por justiça social. Então, voltou-se para os estudos de Direito em cuja Faculdade estava concentrado o maior grupo de comunistas de Salvador e, portanto, da Bahia. Após o movimento revolucionário de 1935, a chamada Intentona Comunista, com as perseguições e a repressão que se seguiram, Armênio – como tantos outros militantes e intelectuais ligados ao PCB – teve que deixar a Boa Terra e foi morar no Rio de Janeiro, então capital da República, onde se integrou à atividade partidária, sobretudo à vinculada aos jornais e revistas, mantidas pelo seu partido.

O certo é que ele está assim, nas últimas sete décadas, no centro da história do Partido Comunista que nasceu em 1922 – ano significativo da modernidade em nosso país. De acordo com outra figura histórica do PCB e ex-deputado desta Casa, Marco Antônio Tavares Coelho, e que teve seu mandato cassado por um dos primeiros atos institucionais dos ditadores de plantão de 1964, Armênio teria sido o quadro intelectual de maior influência no partido, contribuindo decisivamente – com sua argúcia política e serenidade pessoal – para definir os rumos da resistência pacífica ao regime autoritário que vigiu até 1985, evitando a tentação da luta armada e sinalizando com a perspectiva da convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte. E, mesmo quando vigorava o “marxismo-leninismo” como doutrina oficial dos PCs, se o PCB teve uma atuação de grande responsabilidade – como atestado, entre outros, pelo sociólogo isebiano Hélio Jaguaribe –, isso se deveu à ação de grandes talentos políticos, tais como, para dar alguns exemplos, Marco Antônio Coelho, Giocondo Dias,Salomão Malina, Luiz Inácio Maranhão Filho e, naturalmente, Armênio Guedes.

Após o golpe de 1964 e, mais particularmente, nos anos de chumbo, ele – para quem o conheceu, e muitos estão hoje no Congresso Nacional – foi o ponto de referência seguro, por sua firme defesa da estratégia de resistência ativa, mas pacífica, ao regime autoritário, sobretudo nos piores momentos deste regime. Armênio esteve sempre muito atento em caracterizar as diferentes conjunturas e em caracterizar a evolução reacionária da ditadura de 1964 após o AI-5. Chegou a se referir a um “processo de fascistização”, quando o Estado brasileiro passou a acirrar seus traços de Estado policial, lançando mão de intimidações cruéis, torturas e desaparecimentos na sua política repressiva. No entanto, para ele, o enrijecimento do regime não iria seguir sem obstáculos e resistências. Era possível paralisar e derrotar a ditadura por meio da política de frente democrática – dizia ele em pleno 1970, no começo do Governo Médici. Uma visão, portanto, efetivamente serena e racional, que, forjada no calor da hora, muito iria ajudar na superação do impasse político que então sufocava o país.

Por tudo isso, a ação e a influência de Armênio, embora desenvolvidas num partido específico, vão além das fronteiras deste mesmo partido. Ele teve e tem presença nacional em outros partidos de orientação democrática, como o MDB e o PMDB históricos, e em vários afluentes da grande corrente do socialismo e da social-democracia brasileira.

Os noventa e cinco anos de Armênio, o lançamento do livro de Sandro Vaia e os múltiplos encontros a que estes eventos darão ensejo atestam a vitalidade, ainda hoje, de um campo político que o PPS/MD quer manter vivo e permanentemente aprofundar, por sua importância passada e projeção futura para a política e a cultura no nosso país. Um campo formado, entre muitos outros, por Astrojildo Pereira (ele mesmo um dos mestres de Armênio), Graciliano Ramos, Jorge Amado, Mário Lago, Caio Prado Jr., Alberto Passos Guimarães, Nelson Werneck Sodré, Oduvaldo Viana Filho, Ferreira Gullar e Luiz Werneck Vianna.

Neste universo, de larga ressonância na vida pública do Brasil, Armênio Guedes é uma estrela de primeira grandeza. Chegar a este universo com as credenciais de lealdade democrática, solidariedade com os subalternos e visão dos mais altos fins da República, como a liberdade para todos e a igualdade entre todos, é uma conquista para poucos. Ou, voltando a Brecht, só para aqueles que são verdadeiramente imprescindíveis.

Como o atual presidente de honra da Fundação Astrojildo Pereira, instituída, há mais de dez anos, pelo Partido Popular Socialista – dono de um pensamento dialético e inovador – continua a ser uma das maiores referências da esquerda democrática do nosso país, não poderíamos deixar de render nossa mais sincera e fraterna homenagem, nos seus 95 anos de uma difícil mas emocionante existência.

Nossos parabéns a Armênio Guedes, um indormido combatente da democracia e do pensamento livre entre nós, exemplo efetivo de um contemporâneo do futuro!

Brasília, 11 de junho de 2013

Deputado Roberto Freire

Visões camonianas - Merval Pereira

Ao se referir ao Velho do Restelo no discurso que fez na quarta-feira no Palácio do Planalto, para criticar os pessimistas, a presidente Dilma Rousseff estava assumindo uma visão apologética da obra de Camões "Os Lusíadas", que identifica o personagem do Canto IV com uma visão do passado, um conservador que não entendia o seu tempo.

Na despedida dos marinheiros na Praia do Restelo, um velho "de aspecto venerando"criticava a aventura de buscar o caminho marítimo para as Índias, chamando atenção para os perigos que rondavam as empreitadas. "O Velho do Restelo não pode, não deve, e eu asseguro, não terá a última palavra no Brasil", disse a presidente Dilma.

Mais modernamente, outras visões sobre o Velho do Restelo têm predominado, ligando sua visão crítica ao entendimento de que as novas conquistas na verdade eram movidas mais pela cobiça, e trariam mais prejuízos a Portugal e seu povo do que glórias e benefícios. "Ó glória de mandar/Ó vã cobiça/ A que novos desastres determinas/De levar este reino e estas gentes?".

O historiador e escritor Alberto da Costa e Silva, membro da Academia Brasileira de Letras, lembra a visão crítica de Antonio Sérgio, considerado o maior intelectual português do século XX, que via o Velho do Restelo não como uma representação do passado, mas do futuro.

Outra acadêmica, Cleonice Berardinelli, considerada a maior especialista em literatura portuguesa, diz que por "caminhos junguianos" chegou à conclusão de que o inconsciente coletivo da época, que refletia "os medos, as mulheres que ficavam sozinhas, as famílias abandonadas, as lavouras abandonadas porque os homens iam em busca daquele caminho marítimo para as Índias", está retratado muito bem em "Os Lusíadas".

Para ela, o Velho do Restelo "é uma figura extraordinária, moderna dentro da criação da epopeia". Camões, na sua avaliação, "tem uma virtude que o faz ficar nas alturas da criação da épica", ao conceber uma personagem como o Velho do Restelo, "um homem apaixonado pela pátria que quer celebrar, até que se dá conta de que ela está metida no gosto da cobiça e na rudeza de uma austera, apagada e vil tristeza".

Cleonice Berardinelli cita "um grande da literatura portuguesa e um grande pensador de nosso tempo", o professor e filósofo Eduardo Lourenço, que avalia que Camões, em "Os Lusíadas", "começa com uma épica e termina com um réquiem". Cleonice diz que "era isso que o Velho do Restelo estava lá para lembrar, era uma espécie de consciência coletiva".

Já o embaixador Alberto da Costa e Silva recorre ao pensador português já falecido Antonio Sérgio, que ressalta que "Camões canta o valor dos portugueses, sobretudo na grande empresa dos descobrimentos e conquistas. Mas por outro lado, dos trechos camonianos mais sentidos é a parte dos "Lusíadas" em que o Velho do Restelo, com tanta eloquência, se ergue a condenar o próprio feito que sua epopeia celebrava".

O intelectual português lembra que a simpatia de Camões pelo Velho do Restelo "é evidente", pois colocou "a crítica da empresa na boca do mais avisado, do mais filosófico, do mais venerável dos seus heróis".

Alberto da Costa e Silva lembra que o Velho do Restelo vai dizendo várias coisas que realmente sucederam em Portugal: o esvaziamento demográfico do país devido à ida das pessoas para o Oriente em busca da riqueza fácil; o sacrifício de gerações que acabaram por enriquecer os holandeses e os ingleses; a decadência da agricultura e da manufatura portuguesas.

Como se vê, a oposição pode bem representar uma visão crítica do modelo instalado pelo governo Dilma no país, sem ser pessimista e muito menos antipatriótica, como tanto Dilma quanto Lula gostam de dizer, confundindo críticas ao governo com críticas ao país.

Fonte: O Globo