sábado, 15 de junho de 2013

OPINIÃO DO DIA – Roberto Freire: governo saturado

Ao contrário do que os áulicos do governo petista vinham apregoando nos últimos meses, a reeleição da presidente Dilma Rousseff não está assegurada por antecipação. Os números divulgados pela mais recente pesquisa do Datafolha mostram uma queda vertiginosa na avaliação positiva da administração federal e grande preocupação dos brasileiros com a escalada da inflação e a crise econômica.

O modelo petista está saturado, e quem diz isso não são as oposições ou os institutos de pesquisa. É a população, que vive diariamente uma realidade econômica cada vez mais difícil.

Roberto Freire é deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS/MD. In “A queda de Dilma e um ciclo que se esgota no Brasil”, Brasil Econômico, 13/6/2013.

Manchetes de alguns dos principais jornais

O GLOBO
Tensão urbana: Após semana de batalha, Haddad pede negociação
Linchamento midiático: Lei controla imprensa no Equador
Enquanto isso...: Copa das Confederações já pega fogo...

FOLHA DE S. PAULO
Alckmin defende PM e diz que protesto
tem viés político
Polícia Militar só reagiu a ataque, afirma comandante
Avaliação do transporte de São Paulo é a pior da história
Justiça libera Petrobras para fazer comércio internacional
Moderado lidera eleição no Irã com ampla vantagem

O ESTADO DE S. PAULO
Alckmin ataca "vandalismo" e Haddad marca reunião
Contra a Copa
Dilma diz haver 'terrorismo' no noticiário econômico
Petrobrás vende 50% de empresa na África ao BTG

ESTADO DE MINAS
Engenheiros indiciados por queda de edifício
Licitações: Edital encarece pedágios nas BRs 262 e 050

O TEMPO (MG)
Alckmin e Haddad descartam redução de tarifas do transporte público em São Paulo
Eduardo Campos critica governo Dilma durante evento em Araxá
STJ autoriza Petrobras a não pagar dívida de R$ 7,3 bi

CORREIO BRAZILIENSE
Sou Brasília, sou Brasil
Protestos devem continuar em várias cidades

GAZETA DO POVO (PR)
Ministros condenam violência da PM; manifestações se espalham
UFPR muda o porcentual para cotistas
ANTT, agência estratégica, está sem presidente
Premiê turco aceita suspender obra polêmica

ZERO HORA (RS)
Protestos: O risco do aumento da violência nas ruas
Acordo deve liberar a extração de areia

JORNAL DO COMERCIO (PE)
Para ganhar confiança
Prefeito de São Paulo tenta negociar a paz

Tensão urbana: Após semana de batalha, Haddad pede negociação

Chamado ao Movimento Passe Livre ocorre depois de confronto no quarto dia de protesto, que teve 232 pessoas detidas e deixou mais de uma centena de feridos. Fotógrafo atingido por bala de borracha, em ação policial, pode ficar cego.

Chamado ao diálogo

Após violência policial, Haddad chama movimento; Alckmin defende ação da PM

Silvia Amorim, Thiago Herdy

SÃO PAULO - Depois de quatro protestos em uma semana marcados por confrontos, violência policial e vandalismo de manifestantes na capital paulista, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), decidiu chamar para uma reunião na próxima terça-feira lideranças do movimento que luta contra o reajuste das tarifas do transporte coletivo e, assim, tentar impedir a repetição das cenas de violência nas principais ruas da cidade. Houve mais de uma centena de feridos, e 232 pessoas, detidas pela polícia.

O encontro deve ocorrer um dia depois do próximo protesto, marcado para o dia 17. Ontem, enquanto o governador Geraldo Alckmin defendia a ação da tropa de choque, Haddad e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, fizeram questão de criticar publicamente a ação da PM, comandada pelo governo do estado.

Apesar do chamado aos manifestantes, Haddad não dá sinais de que reduzirá a tarifa do transporte. O grupo diz que só aceita cessar os atos em caso de suspensão do aumento de R$ 3 para R$ 3,20, mesmo que temporária.

- As pessoas que estão na rua defendem a redução da tarifa. Vamos participar como movimento que discute a cidade, mas o prefeito deixou claro que não está nos recebendo para negociar. As manifestações param só quando a tarifa baixar - disse Nina Cappello, do MPL.

O convite da prefeitura de São Paulo é para que o Movimento Passe Livre participe de reunião do Conselho da Cidade, órgão criado este ano e formado por representantes de movimentos sociais e outros representantes da sociedade. O grupo poderá expor reivindicações. Mas a prefeitura também mostrará as limitações para derrubar a tarifa.

Pela manhã, antes do anúncio do convite, Haddad voltou a criticar os protestos e disse que a prefeitura não pode "se submeter ao jogo de tudo ou nada".

- Não existe "ou é do jeito que eles querem ou não tem conversa" - disse.

O governador Geraldo Alckmin voltou às mesmas justificativas.

- O reajuste da tarifa seria feito em janeiro, como todo ano é feito. E nós seguramos seis meses, com forte subsídio. O reajuste foi menor que a inflação.

Um dia depois do confronto mais violento nas ruas de São Paulo, Alckmin se reuniu pela manhã com a cúpula da segurança pública do estado. Ao final do encontro, defendeu a atuação da Polícia Militar e voltou a apontar conotações políticas para os protestos. Ele reafirmou que abusos da polícia serão investigados.

- É dever da polícia proteger a população, garantir o direito de ir e vir, do comércio abrir e preservar o patrimônio publico e privado. Só ontem (anteontem) tivemos 48 ônibus destruídos ou pichados. Precisamos garantir ao trabalhador, trabalhadora e à família a tranquilidade para que ela possa trabalhar, circular. Esse é o dever da polícia.

O secretário de Segurança Pública, Fernando Grella, disse que a "polícia fez a coisa certa".

Pela primeira vez desde os atos, Haddad insinuou críticas à polícia, comandada pelo estado.

- Eu penso que tem havido excessos. Na terça-feira, infelizmente tivemos 80 ônibus depredados e policiais que foram agredidos. Ontem (anteontem) não ficou bem para a polícia.

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, criticou a atuação da PM. Ele disse que entende que houve excesso e espera que haja investigação e punição rigorosa, se forem confirmados abusos.

- Pelo que vi houve excesso de violência da Polícia Militar de São Paulo. À primeira vista, me pareceu que houve uma violência sem justificativa. A violência é inaceitável, parta ela de qualquer lado que for - disse o ministro, que voltou a oferecer ajuda federal.

Na quinta-feira, o conflito entre polícia e manifestantes começou quando lideranças do MPL e o tenente-coronel Ben-Hur Junqueira Neto, comandante da área, negociavam a continuidade da manifestação. Segundo o policial, havia disposição de permitir aos jovens que continuassem o ato pela avenida Consolação, mas o conflito se iniciou antes.

Ao todo, 232 pessoas foram levadas para delegacias. O número é recorde na comparação com as manifestações anteriores. Quatro manifestantes foram presos sob a acusação de formação de quadrilha, incitação ao crime e dano qualificado. Eles foram levados ao Presídio de Tremembé. Dos 13 manifestantes presos na última terça-feira, todos foram soltos ontem. O primeiro a ser liberado foi o jornalista do Portal Aprendiz Pedro Ribeiro Nogueira.

Fonte: O Globo

Fim de manifestação em Niterói tem tumulto

Manifestantes tentaram bloquear via. Batalhão de Choque usou bombas de borracha e gás

Francisco Edson Alves e Raphael Bittencourt

RIO - No fim da manifestação contra o aumento da tarifa dos ônibus em Niterói, um pequeno grupo de estudantes, a exemplo do que aconteceu na Avenida Presidente Vargas nesta quinta-feira no Rio, ainda insistiu em fechar a Avenida Rio Branco, que fica em frente ao Terminal Rodoviário João Goulart. PMs do Batalhão de Choque avançaram e dispararam bombas de borracha e gás. Helicópteros também sobrevoaram a área.

Um homem ainda não identificado que estava mais exaltado foi retirado da manifestação pelos policiais, mas não foi detido. Ainda não há informações sobre feridos. Neste momento, a via está sendo liberada gradativamente. O comércio nos arredores fechou as portas por conta do incidente.

Em nota, a Prefeitura de Niterói informou que designou uma comissão especial para dialogar com os protestantes na sede do órgão. No entanto, homens do Choque bloquearam a passagem dos ativistas no local. A Prefeitura informou ainda que "considera democrático manifestações pacíficas que defendam causas sociais e estará permanentemente aberta ao diálogo na busca de soluções para os problemas municipais".

"Manifestantes estão dando o recado deles", diz comandante da PM

Dentro do possível, a manifestação está pacífica e os manifestantes estão dando o recado deles", disse o comandante do 12º BPM (Niterói), André Belloni, sobre o protesto em Niterói por conta do aumento das passagens de ônibus.

Ele também afirmou que trânsito ficou complicado por conta da passeata, que começou no final da tarde desta sexta-feira, na Praça Araribóia, em frente à estação das Barcas S.A.

De acordo com a PM, aproximadamente três mil pessoas marcharam no protesto.Por volta das 19h15, um grupo de 30 pessoas invadiu a varanda da Câmara Municipal, também na Avenida Amaral Peixoto. Uma bomba explodiu em frente ao local e causou um princípio de tumulto.
Manifestantes acusaram um PM do Batalhão de Choque, que ficou prostado em frente à Prefeitura. "O homem jogou a bomba e saiu gritando que era capitão", disse Rodrigo Azevedo, publicitário.

Mistura de política e romance dá charme especial ao movimento

Num movimento em que a maioria dos manifestante é jovem, são comuns as histórias de casais que militam juntos. É o caso de Pedro Coutinho, 15 anos, e Ana Carolina Sousa Lima, 18, estudantes de colégios estaduais. Eles se conheceram em uma outra passeata Niterói. “É bom participarmos juntos da política”, disse Pedro.

Os estudantes Moretson Costa Mattos Filho, 19 anos, e Bianca Ramos da Costa, 20, que se conheceram na Passeata da Paz, no ano passado, em Niterói, fizeram nesta sexta seu segundo protesto juntos. Bianca empunhava um cartaz com as frase ‘Saímos do facebook’. “Já estava na hora de irmos para as ruas”, explicou Bianca.

O casal Marina Azeredo, estudante de Geografia, e Antonio Silva, professor da disciplina, foi com a filha de 4 anos. Marina alegou que era importante levar a menina para incentivar a cidadania nela. Já o professor acredita que os protestos se repetirão: “Este modelo de transporte chegou ao esgotamento.”

Tarifa aumentou sábado

Sábado passado, a tarifa dos ônibus foi unificada no município. As de R$ 3,05 baixaram para R$ 2,95 e as que eram R$ 2,75 subiram para R$ 2,95.

A alegação da prefeitura é de que a redução da passagem de R$ 3,05 diz respeito aos ônibus com ar condicionado, enquanto o aumento de 2,95 é para veículos que não têm ar.

Algumas ruas estão fechadas e da janela dos prédios, pessoas estão jogando papéis picados em apoio à manifestação. Não houve registro de nenhuma agressão, nem ataque aos ônibus da cidade.

'Discurso da prefeitura não convence', diz manifestante

"O discurso de unificação da prefeitura não nos convence, pois 85% da frota de ônibus de Niterói não tem ar-condicionado", justificou Rodrigo Teixeira, 29 anos, professor integrante do movimento Niterói Contra o Aumento.

Segundo Rodrigo, a orientação é para que a manifestação seja pacífica, sem atos de vandalismo como ocorreram nesta quinta-feira no fim do protesto no Rio.

De acordo com o comandante do 12º BPM, cerca de 100 PMs foram mobilizados para acompanhar a manifestação, que depois do ato na Praça Arariboía, seguiu em caminhada até a prefeitura.

No Rio e São Paulo, vários jornalistas ficam feridos

No Rio, o cinegrafista Ulisses Fontes, que presta serviço ao SBT, foi atingido na perna por bala de borracha quinta-feira, mas passa bem. Ele segurava a câmera e usava colete identificando-o como repórter.

Em São Paulo, pelo menos 15 jornalistas foram feridos. O caso mais grave é do fotógrafo Sérgio Silva, da Futura Press, atingido no olho por bala de borracha. A Federação Nacional dos Jornalistas publicou nota de repúdio.

“São inadmissíveis as agressões e prisões de jornalistas no exercício de suas funções”, disse a nota que cobra punição aos responsáveis.

Nesta sexta-feira, novo protesto em São Paulo interditou parte da Av. Paulista. Cerca de 200 pessoas protestavam contra gastos públicos para a Copa de 2014.

Jovem quer ir às próximas manifestações com capacete

O estudante Philippe Brissant de Andrade Lima, 19 anos, foi atingido por bala de borracha e criticou a ação policial na manifestação da polícia no Centro do Rio. Ele contou que estava sentado quando ouviu tiros e viu pessoas correndo.

“Ao levantar fui atingido. Fiquei tonto, e tudo ficou escuro”, disse ele, que pretende participar de outras manifestações de capacete.

Nesta sexta-feira, funcionários limpavam e consertavam o que foi depredado no protesto. A fachada da Alerj, que foi pichada, ficou limpa cedo.

A Alerj emitiu uma nota repudiando ‘o vandalismo, em particular aqueles que atentam contra o patrimônio histórico e público’. O prédio do Banco Central teve sua portaria principal fechada para reparos nos vidros quebrados.

Colaborou Mozer Lopes, Tamyres Matos e Joyce Caetano

Fonte: O Dia (RJ)

Em 1956, confusão em ato da UNE contra reajuste

Entidade criticava aumento de bondes; ato lembrará hoje encontro de 1968

BRASÍLIA - Protestos contra aumentos nas passagens do transporte coletivo não são novidade no movimento estudantil. Em 1956, a União Nacional dos Estudantes (UNE) promoveu uma campanha contra o reajuste da tarifa dos bondes, no Rio de Janeiro. O movimento cresceu e ganhou o apoio de sindicatos de trabalhadores. Ao reprimir os protestos, a polícia invadiu o prédio da UNE na época, na Praia do Flamengo, no Rio.

O tumulto virou assunto político discutido na época na Câmara dos Deputados e no Palácio do Catete, sede do governo federal. O presidente Juscelino Kubitschek chegou a convidar os dirigentes da UNE para uma conversa em seu gabinete. Na conversa, pediu para o então presidente da entidade, Carlos de Oliveira, se sentar em sua cadeira presidencial. E aproveitou para pedir ajuda aos estudantes para evitar novos confrontos.

Hoje, um ato em São Paulo irá reunir ex-estudantes presos no histórico 30º Congresso da UNE de Ibiúna, no interior de São Paulo, em outubro de 1968. Pelo menos 20 dos 720 estudantes que foram presos naquele congresso já confirmaram presença. A iniciativa desse reencontro é da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça e da União Estadual dos Estudantes (UEE) de São Paulo. Confirmaram presença os petistas José Dirceu e José Genoino, condenados pelo Supremo Tribunal Federal no processo do mensalão.

Haverá sessão da Comissão de Anistia que concederá a condição de anistiado político a dois daqueles estudantes: Etelvino José Henrique Bechara, que foi levado para o presídio Tiradentes e monitorado até 1984; e Gonzalo Castro Barreda, também detido e perseguido durante anos.

Fonte: O Globo

Ruralistas protestam em seis estados

Houve manifestações em 5 Estados contra a ocupação de terras por índios; senadora pediu reintegração de posse imediata de fazendas invadidas em MS

Lucia Morel, Elder Ogliari, Rene Moreira e Élissan Paula Rodrigues

A defesa do direito à propriedade e à segurança jurídica do produtor rara! foi o tom da manifestação que reuniu ontem cerca de 5 mil pessoas (estimativa não oficial) - entre proprietários de fazendas e representantes de entidades agropecuárias - em Nova. Alvorada do Sul (MS)« Em outros Estados - Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul e Roraima -agricultores também protestaram. contra demarcações de terras indígenas.

No ato em Mato Grosso do Sul, Estado em que um índio terena foi morto numa reintegração de posse no município de Sidrolândia, no dia 30 a presidente da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), senadora Kátia Abreu (PSD-TO), afirmou que os produtores que são tirados de suas terras são "injustiçados". "Se os índios foram injustiçados, hoje os injustiçados somos nós", afirmou. Ela defendeu a reintegração de posse imediata das fazendas invadidas por indígenas no Estado - hoje são 66 - uma vez que os produtores que estão impedidos de entrar nas áreas possuem os títulos de posse das propriedades. "Que se cumpra a lei e nos deixem produzir em paz".

"Não vamos sossegar enquanto houver uma propriedade invadida", disse o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), Eduardo Riedel.

Na quarta-feira, a Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara aprovou a convocação do ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, para falar sobre a questão da demarcação de terras indígenas no País. O ministro deverá comparecer à comissão em 30 dias,

Quilombolas - No Rio Grande do Sul, agricultores bloquearam seis trechos de rodovias no litoral e 110 noroeste do Estado para pedir a suspensão da demarcação de terras para índios e quilombolas. índios caingangues e guaranis da região querem a devolução de áreas ocupadas por frentes de colonização ao longo do século passado. Os agricultores, por sua vez, sustentam as terras foram adquiridas de boa-fé e que possuem títulos emitidos pelo Estado.

Produtores rurais de Minas também fecharam uma rodovia em protesto contra as demarcações feitas pela Funai. A manifestação, pacífica, reuniu cerca de 200 pessoas e teve como alvo a cessão de terras para os índios da etnia kaxixó. A intenção, segundo os produtores, é sensibilizar os governos federal e estadual para a insegurança jurídica na região.

"Asfixia" - Em Paracaima (RR), a manifestação foi comandada pelo produtor rural e deputado federal Paulo César Quartiero (DEM). Quartiero explicou que o protesto também é direcionado à Polícia Federal que, segundo ele, tem ajudado a "provocar o esvaziamento da região". "Eles alegam que o município é área indígena, e estão confundindo o combate aos ilícitos com a asfixia econômica do Estado", disse o deputado.

Em Roraima, a BR-174, principal via de acesso ao Estado, ficou fechada em dois trechos por causa dos protestos dos produtores rurais contrários às demarcações de terras indígenas. A manifestação bloqueou o acesso na : fronteira com a Venezuela, na cidade de Pacaraima, e na saída para Manaus (AM), em Boa Vista.

O grupo reivindicava, além da suspensão imediata de todos os processos de demarcação no Brasil, a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215/2000, que transfere ao Congresso a competência de homologar novas áreas.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Eduardo Campos aproveita evento para se promover de olho em 2014

Campos sugeriu que o país precisa de uma outra opção, embora, segundo ele, as de PSDB e PT tenham dado certo, cada uma em seu momento histórico específico

Lucas Pavanelli

ARAXÁ- MG) - O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), evita, desde o fim do ano passado, falar sobre sua pré-candidatura à Presidência. E em sua primeira viagem a Minas desde que se tornou presidenciável, não foi diferente. Mesmo assim, essa "indefinição" não o impede de construir seu discurso de "terceira via" para o ano que vem.

Embora tenha dito que antes de falar sobre o processo eleitoral do ano que vem seja preciso "ganhar 2013, que não está nada fácil" e que "vamos discutir 2014 somente em 2014", Campos abre caminho para uma alternativa que não seja nem a oposição do senador Aécio Neves (PSDB), nem a continuidade do governo Dilma Rousseff (PT). Para isso, o pernambucano alterna críticas e afagos ao governo federal e, consequentemente, se aproxima e afasta do senador. Campos sugeriu que o país precisa de uma outra opção, embora, segundo ele, as de PSDB e PT tenham dado certo, cada uma em seu momento histórico específico.

"Nós vivemos três ciclos nos últimos anos: da redemocratização, da estabilidade da moeda e da redução das desigualdades sociais. Tudo isso em sequência foi muito importante para o Brasil. Mas, o que se vê, quando o mundo atravessa a maior crise econômica de sua história, é que estão se procurando caminho para inaugurar em busca de mudanças. Ou seja, há necessidade de novas reformas, de novas pactuações em torno do futuro do país e isso exige um novo pacto social e isso vai exigir um novo pacto político", avaliou Campos. Ainda segundo ele, o "velho pacto político não produzirá as mudanças e alterações que nós precisamos fazer para que o Brasil possa viver anos de expansão econômica como pode viver no passado", sugerindo uma novidade que possa estar por vir.

Campos fez críticas sobre a política tributária e sugeriu um novo pacto federativo, mas disse que continua sendo "otimista com o futuro do Brasil". Em outro momento, disse que a política de consumo do governo federal "não resolve o problema, mas também não atrapalha".

O governador de Pernambuco deve receber o senador Aécio Neves na próxima semana em Pernambuco. O tucano vai começar a percorrer o Nordeste brasileiro a partir da semana que vem, quando comparece à festa junina de Caruaru.

Fonte: O Tempo (MG)

Eduardo prevê batalha no STF sobre partidos

Governador acredita que depois de votada no Senado, proposta que inibe a criação de novas siglas voltará ao Supremo

ARAXÁ (MG) - O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), afirmou ontem que o debate na Justiça sobre o projeto que inibe a criação de novos partidos não se encerrará com uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) pela derrubada da liminar que impede sua tramitação no Congresso. Apontado como um dos nomes para a disputa pela Presidência da República em 2014 contra a presidente Dilma Rousseff (PT) e defensor de criação da sigla de Marina Silva, o Rede, Campos disse que, aprovada a proposta que retira direitos de novas legendas, haverá novo questionamento no STF.

"Decisão da Suprema Corte temos que ter, na democracia, o entendimento que cabe acatar. Mas, ao mesmo tempo, interpretar que, ao longo dos votos, muitos (ministros) deixaram claro que uma coisa é interromper um processo de votação que estava em curso no Senado e outra coisa é o mérito da matéria", disse Campos.

"Ao cabo da votação continua o debate sobre a constituicionalidade, a meu ver. Então, esse assunto deverá voltar ao STF tão logo o Congresso Nacional conclua a votação no Senado", concluiu. Campos falou sobre o assunto ao chegar, junto do governador Antonio Anastasia (PSDB-MG), a um evento com empresários em Araxá, no interior de Minas.

Na quinta-feira, a maioria dos ministros do Supremo votou contra a liminar de Gilmar Mendes que suspendeu a tramitação do projeto de lei que inibe a criação de novas legendas. O pedido de liminar foi feito pelo senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), correligionário de Campos.

Assim como o governador pernambucano, o senador Aécio Neves (MG), nome do PSDB para a disputa presidencial, apoia a criação do Rede Sustentabilidade de Marina Silva. Para integrantes da oposição, quanto mais partidos participarem da disputa contra Dilma, maior a chance de um segundo turno.

Críticas

Eduardo Campos voltou a criticar a sustentação do crescimento econômico no consumo. "Não podemos imaginar que o Brasil vai crescer só pelo consumo. Precisamos entender que a demanda foi importante, mas nós temos que aumentar a oferta de produtos e de infraestrutura", disse. A presidente Dilma Rousseff havia dito que "os pessimistas de plantão tentam minar as esperanças dos brasileiros". Questionado, Campos disse que sempre foi "muito otimista" com o futuro do Brasil.

O pernambucano vai se encontrar com Aécio Neves na próxima semana. "Todas as vezes que o senador vai a Pernambuco ele nos visita", disse.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

'Não dá para brincar com a estabilidade', diz Campos

Gestão econômica de Dilma é, mais uma vez, alvo de críticas do governador

Em visita a Minas, pré-candidato do PSB elogia tucanos e prega fim do 'maniqueísmo' na política brasileira

Daniela Lima

ARAXÁ (MG) - Anunciado em evento com empresários de Minas Gerais como "um dos principais candidatos à Presidência da República" em 2014, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), trocou elogios públicos com tucanos ontem, enalteceu o legado de Fernando Henrique Cardoso e criticou o "maniqueísmo" na política atual.

No discurso, Campos citou as últimas gestões em Minas Gerais como exemplo de inovação. O senador Aécio Neves, nome do PSDB para a disputa presidencial, comandou o Palácio da Liberdade por oito anos, de 2003 a 2010.

Apesar de liderar um partido aliado ao governo Dilma Rousseff, Campos ensaia se lançar como adversário da petista em 2014.

E dias depois de a presidente usar uma citação literária para atacar os pessimistas --comparados por ela ao velho do Restelo, personagem de Camões que em "Os Lusíadas" lançava mau agouro à expansão marítima portuguesa--, Campos também recorreu aos clássicos.

Ou a uma paródia deles. "Neste ano de 2013 não devíamos estar discutindo tanto eleição. Devíamos estar discutindo mais o Brasil. Quem leu Quincas Borba [de Machado de Assis] deve se lembrar da última frase: aos vencedores pode restar a batata quente [a frase exata, que não é a última do livro, é "aos vencedores, as batatas"]."

Maniqueísmo

Ao voltar a criticar a condução da política econômica, Campos disse que "não dá para brincar com a estabilidade". "A estabilidade é valor que todos temos que defender. Sabemos quem estava governando quando se enfrentou todo o processo para estabilizar a economia", disse, numa referência à gestão do tucano FHC (1995-2002).

"Temos que alargar nossos horizontes e não se faz isso de maneira maniqueísta", na linha "esse fez tudo e aquele não fez nada", afirmou.

Aliados de Aécio Neves acompanharam o pronunciamento. O governador mineiro, Antonio Anastasia (PSDB), também falou. Disse que o pernambucano merecia um "apoio tsunâmico" para qualquer cargo que vá disputar.

Na próxima semana, Campos e Aécio se reunirão em Recife. Segundo o governador pernambucano, o encontro é natural, já que os dois são amigos de longa data.

"Mesmo em campos políticos diferentes" atualmente, "sabemos que não somos os donos da verdade e conseguimos discutir assuntos de relevo para o Brasil", disse.

Projeto

Campos também comentou a indicação do Supremo Tribunal Federal de que irá liberar a tramitação do projeto que inibe a criação de partidos e beneficia a candidatura de Dilma Rousseff.

O governador é contra a medida, já que os adversários da petista defendem um maior número de candidatos na disputa em 2014.

Segundo ele, o projeto, mesmo que seja aprovado pelo Congresso, acabará sendo questionado no Supremo.

Fonte: Folha de S. Paulo

PMDB jarbista é só ataques a Dilma

Reunido em Carpina, grupo ligado ao senador não poupa a presidente Dilma Rousseff de críticas sobre a volta da inflação. E faz elogios a Eduardo Campos

Gabriela López

O PMDB jarbista protagonizou, ontem, mais um capítulo da dissidência com o comando nacional, durante o 2º Encontro Regional, realizado em Carpina, na Zona da Mata Norte de Pernambuco. O que seria um evento com lideranças partidárias para discutir o tema Pacto Federativo e Desigualdades Regionais tornou-se um palanque da cúpula ligada ao senador Jarbas Vasconcelos recheado de ataques ao governo federal e com defesa enfática do apoio à possível candidatura do governador Eduardo Campos (PSB) ao Palácio do Planalto. Com Michel Temer na vice-presidência do Brasil, a direção nacional defende a manutenção da aliança com Dilma Rousseff (PT).

O mote das críticas foi a volta da inflação. "O PT não fez nenhuma reforma, porque é populista. E o que o populismo gosta de fazer é o discurso fácil, para ter aplauso fácil. Mas, agora, a crise está chegando e cobrando a conta do que não foi feito", disparou o deputado federal e secretário-geral da sigla no Estado, Raul Henry.

Segundo o parlamentar, o Brasil mais do que triplicou sua receita nos últimos dez anos - nos quais o PT esteve no comando do governo federal -, contabilizando R$ 400 bilhões a mais de arrecadação e, em vez de se investir em infraestrutura, se aplicou "no ralo do custeio".

"É a hora de mudar esta realidade para darmos melhor condição de vida para a nossa população. É por isso que nós estamos estimulando a candidatura a presidente do governador Eduardo Campos", completou.

No seu discurso no evento - que reuniu lideranças de 14 cidades -, Jarbas Vasconcelos acusou o governo de "mentir" ao dizer que não há inflação e que as despesas estão controladas. Ele ainda avaliou que a oscilação de preços é resultado de gastos elevados de custeio somados ao baixo investimento. "Hoje a presidente Dilma Rousseff só pensa na reeleição", declarou.

Em entrevista ao JC, o presidente estadual da sigla, Dorany Sampaio, negou conotação eleitoral, mas endossou as críticas. Disse que o objetivo foi mostrar a realidade do Nordeste, que, para ele, continua discriminado. Ele avaliou como "atraso" os dez anos de administração do PT. Na análise dele, "nada andou".

O tema do encontro, pacto federativo, foi o mote adotado por Eduardo Campos, após o primeiro turno das eleições de 2012, para iniciar sua campanha velada a presidente.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Campos é recebido em reduto tucano

Governador vai a Araxá (MG) e enfatiza amizade com Aécio

Maria Lima

BRASÍLIA - Longe dos eventos políticos há algumas semanas, para não dificultar a vida dos governadores do PSB com o governo Dilma, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, voltou a se movimentar fora do Nordeste. Ele só deve definir sua pré-candidatura à Presidência em 2014, mas, coincidindo com o mau momento da presidente, agendou um encontro político com o também pré-candidato Aécio Neves (PSDB), dia 24. Ontem, foi a um encontro com cerca de 300 representantes da nata do empresariado mineiro em Araxá, reduto do tucano.

No evento, negou estar torcendo contra o governo, foi aplaudido ao tocar nos pontos mais sensíveis da economia - cipoal de tributos, falta de investimentos e baixa produtividade - e alfinetou a presidente ao falar do encontro com Aécio. Ainda fez um alerta:

- Em 2013, devemos falar menos de eleição e pensar mais no futuro do Brasil. Do contrário, corremos o risco de parodiar o que disse Machado de Assis no final do Quincas Borba: ao vencedor restará só a batata quente.

Na ausência de Aécio, Campos foi recepcionado pelo governador de Minas, Antonio Anastasia. Os tucanos acham fundamental a candidatura de Campos para levar a disputa com Dilma para o segundo turno. No discurso, Anastasia disse que Campos é um dos maiores gestores do país e "uma liderança política que se prepara para um embate de longo prazo sobre o futuro do Brasil". Em entrevista, Campos deu recados:

-Vocês sabem que essa amizade (com Aécio) está preservada, mas o campo político que ele está inserido é de oposição, enquanto eu estou na base de sustentação do governo. Isso nunca impediu que conversássemos sobre o Brasil e somássemos forças em horas importantes (na eleição em Minas). Entendemos que não somos donos da verdade.

Foram ao ato os ministros Antônio Andrade (Agricultura) e Fernando Pimentel (Desenvolvimento), o prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda, os deputados Marcus Pestana (PSDB-MG) e Beto Albuquerque (PSB-RS), economistas e empresários.

- O Eduardo foi recebido com festa e rapapés. É muito importante para o processo que seja candidato em 2014. Ele fez discurso de candidato - contou Pestana.

Fonte: O Globo

Enquanto isso... Dilma diz haver 'terrorismo' no noticiário econômico

Em discurso na Rocinha, no Rio, a presidente Dilma Rousseff afirmou ontem que há "estardalhaço e terrorismo informativo" sobre a situação econômica do País. Em referência à inflação, disse que "ela está sob controle" e "jamais" deixará que volte. "Peço a vocês que não deem ouvidos a esses que jogam sempre no "quanto pior, melhor". Críticas, todo mundo tem de ter a humildade de aceitar. Mas terrorismo, não", afirmou.

Na Rocinha, Dilma reitera controle da inflação e ataca "terrorismo informativo"

Felipe Werneck

RIO - Em discurso no Complexo Esportivo da Rocinha para o anúncio de obras era três favelas do Rio, a presidente Dilma Rousseff afirmou ontem que há "estardalhaço e terrorismo informativo" sobre a situação econômica do País. No mesmo evento, atacou indiretamente a oposição ao dizer que "não se fazia obra para as comunidades mais pobres" no Brasil até 2003, início do governo Lula.

Foi o terceiro dia consecutivo em que Dilma volta suas declarações para críticos da política econômica. Na quinta-feira, em Curitiba, tratou-os como "vendedores do caos", Um dia antes, em Brasília, havia comparado a oposição ao Velho do Restelo, personagem de Luís de Camões na obra Os Lusíadas considerado um pessimista.

Ontem, Dilma preferiu passar ao largo dos protestos contra o custo do transporte público em várias capitais do País e voltar seu discurso ao noticiário sobre a retomada inflacionária. "Nós jamais deixaremos que a inflação volte. Hoje ela está sob controle, ontem ela estava e continuará sob controle", discursou. E fez um pedido: "Peço a vocês que não deem ouvidos a esses que jogam sempre d o quanto pior, melhor. Críticas, todo mundo tem de ter a humildade de aceitar. Mas terrorismo, não".

A presidente afirmou que, em meio à crise econômica que "talvez seja a mais grave desde 1929" o Brasil apresenta hoje "a menor taxa de desemprego do mundo".

"Vocês têm visto na imprensa muita gente falando que o Brasil passa por um momento de dificuldades. Interessa a eles criar essa ideia", discursou Dilma para uma plateia de políticos e, principalmente, moradores da Rocinha. "Não só o Brasil não está numa situação difícil como é um país extremamente sólido. Temos uma das menores relações entre dívida líquida e PIB. Não gastamos mais do que possuímos. Somos sérios em relação à política fiscal."

Incompleto. A Rocinha vai receber a maior parte - R$ 1,6 bilhão - dos R$ 2,6 bilhões anunciados ontem. O lançamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) 2 ocorreu sem que tenham sido concluídas as obras do PAC 1 na Rocinha e em outras comunidades de Niterói e São Gonçalo. No PAC 2, estão previstas obras de saneamento, habitação, reordenamento urbano e construção de creche e um teleférico com seis estações na Rocinha, além de investimentos nas comunidades de Lins de Vasconcelos e do Jacarezinho, na zona norte. O prazo é de 3 anos.

Durante o evento, seguranças da presidência recolheram cartazes de um líder comunitário que protestava diante do palco, Presidente de uma das associações de moradores do Andaraí, André Santana declarou: "Cadê o PAC do Andaraí? Agente quer que eles cumpram a promessa que o Lula fez".

Quando o governador Sérgio Cabral Filho (PMDB) discursava, Santana voltou a protestar, e Cabral respondeu: "O do Andaraí vai chegar, calma".

"Conto do vigário" - Dilma afirmou que o Brasil foi governado "de costas para as comunidades, não só do Rio, mas de todo o País, até 2003". "Eu sei que o Brasil a quem eu devo minha eleição mora aqui. Até então, o País tinha um mercado pequenininho, só para as classes mais ricas", disse. "Nós temos um lado, que é claro: o lado do povo. Fazemos obras para todo o Brasil, mas temos de olhar para os segmentos mais pobres, que nunca tiveram acesso a nada."

Dilma afirmou ter investido R$ 5,9 bilhões em favelas no seu período de governo. E chamou de "conto do vigário" a especulação sobre redução de gastos sociais. "Podem esperar sentados. Não iremos diminuir investimentos que beneficiem o povo, porque essa é a nossa prioridade." A presidente ainda ganhou de um morador um quadro com seu rosto pintado e a favela ao fundo.

Fonte: O Estado de S. Paulo

“Fogo amigo”: Ministros de Dilma rebatem críticas de ex-auxiliar de Lula

Ataque de Vanucchi a Gleisi pela condução dos conflitos indígenas é visto como "inoportuno" e "irresponsável"

Tânia Monteiro

BRASÍLIA - Os ministros da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, e dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, divulgaram nota ontem como forma de desagravo à colega de Esplanada Gleisi Hoffmann (Casa Civil). Ela foi alvo de críticas do ex-ministro do governo Lula Paulo Vanucchi, para quem Gleisi estaria "visivelmente alinhada" com os fazendeiros na condução dos conflitos com indígenas. A titular da Casa Civil, através de sua assessoria, considerou a declaração do ex-ministro "irresponsável".

Vanucchi fez as críticas a Gleisi em entrevista à Rádio Brasil Atual, vinculada à Central Única dos Trabalhadores (CUT). O ex-ministro de Lula - recém-eleito para a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA), com apoio do Palácio do Planalto - também afirmou que Carvalho e Maria do Rosário estariam "espremidos" dentro do governo, pois não conseguiriam emplacar a pauta dos movimentos sociais diante da suposta postura pró-fazendeiros de Gleisi.

Tanto Carvalho quanto Maria do Rosário afirmaram que há uma "política unitária" no governo em relação à questão indígena, "resultado da convergência de diferentes pontos de vista, sob a direção da presidenta Dilma Rousseff". Para eles, as críticas de Vanucchi são "inoportunas e desprovidas de fundamento na realidade dos fatos",

Gleisi, segundo sua assessoria, afirmou que os ex-ministro "não tinha informação sobre os fatos" ao criticá-la e que, se essa postura for mantida, o novo integrante da comissão da OEA "prejudicará o Brasil".

A polêmica começou após Gleisi defender que outros órgãos do governo, além da Fundação Nacional do índio (Funai), participem do processo de demarcação de terras indígenas. As mudanças nas regras devem ser aprovadas neste mês.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Adin a favor dos novos partidos

Assim que o Congresso aprovar o projeto que dificulta a criação de legendas, lideranças vão questionar o mérito da proposta no STF

Diego Abreu

Antes mesmo de o Supremo Tribunal Federal (STF) ratificar a iminente derrubada da liminar que proíbe o Senado de votar o projeto de lei que inibe a criação de partidos, lideranças políticas — como a ex-senadora Marina Silva e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB) — já adiantam que o tema voltará para a Suprema Corte. O julgamento do mandado de segurança no qual o senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) pede que a tramitação da proposta seja interrompida de maneira definitiva tem o desfecho desenhado, com maioria formada no STF pela possibilidade de apreciação do projeto pelo Congresso. A análise deve terminar na próxima quarta-feira, quando o Legislativo poderá retomar o debate da proposição.

No entanto, há uma movimentação nos bastidores para que a matéria volte a ser questionada no STF, desta vez por meio de uma ação direta de inconstitucionalidade (Adin). No julgamento em andamento, o Supremo analisa apenas se a própria Corte poderia ou não fazer um controle prévio da constitucionalidade do projeto. Somente depois de aprovado, o texto que veta deputados de levarem tempo de tevê e a fatia do Fundo Partidário para uma nova legenda é que o Poder Judiciário apreciará se a medida é ou não constitucional.

Em Araxá (MG), onde participou ontem de um encontro com empresários, Eduardo Campos alertou que o polêmico projeto de lei, de autoria do deputado Edinho Araújo (PMDB-SP), voltará a ser analisado pela Justiça. "Decisão da Suprema Corte temos que ter, na democracia, o entendimento que cabe acatar. Mas, ao longo dos votos, muitos (integrantes do STF) deixaram claro que uma coisa é interromper um processo de votação que estava em curso no Senado e outra coisa é o mérito da matéria", ponderou.

Estratégia

Campos tem viajado pelo país para articular uma possível candidatura ao cargo de presidente da República nas eleições do ano que vem. Nessa caminhada, ele apoia, estrategicamente, a pretensão de Marina Silva de criar o partido Rede Sustentabilidade. Uma eventual aprovação do projeto de lei praticamente inviabilizaria a legenda idealizada por Marina, que também pretende disputar as eleições presidenciais.

O político pernambucano — que também preside o PSB — enxerga com bons olhos a candidatura de Marina, uma vez que, quanto mais candidatos fortes, como ele, Marina e o senador Aécio Neves (PSDB-MG), maiores as chances de afastar uma reeleição da presidente Dilma Rousseff no primeiro turno. "Ao cabo da votação, continua o debate sobre a constituicionalidade, a meu ver. Então, esse assunto deverá voltar ao Supremo tão logo o Congresso conclua a votação no Senado", destacou o governador.

Marina Silva, que acompanhou a sessão no Supremo, lembrou que "vários ministros manifestaram que há uma inconstitucionalidade no projeto". "Do ponto de vista do mérito, o projeto é inconstitucional", disse.

Durante o julgamento, o ministro Teori Zavascki foi o primeiro a votar pela derrubada da liminar, mas fez o alerta de que o Supremo não pode desprezar o "senso" do Legislativo durante a fase de votação da matéria. Ele observou, porém, que, se "por absurdo" o Congresso aprovar um projeto de "grotesca" inconstitucionalidade, o Judiciário poderá derrubar a lei.

Copa das Confederações

O Supremo Tribunal Federal antecipou das 14h para as 9h de quarta-feira a sessão plenária na qual os ministros darão continuidade ao julgamento do mandado de segurança que pede a suspensão do projeto que dificulta a criação de partidos. A mudança no horário foi feita para que a análise não coincida com a partida da Seleção Brasileira, que entrará em campo às 16h, para enfrentar o México, em Fortaleza, pela Copa das Confederações. A tendência é que o julgamento seja encerrado na própria quarta, após os votos de Cármen Lúcia, Celso de Mello e Joaquim Barbosa.

Fonte: Correio Braziliense

Campos contra a corrente - Merval Pereira

"Quem não quiser pressão, que saia disso", comenta, rindo, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, mantendo a intenção de se candidatar à Presidência da República em 2014. Na sua avaliação, "eles (o governo) deram uma pressão, fizeram um cerco, achando que era para resolver logo, e não estão conseguindo resolver. Estamos atravessando (as turbulências), convivendo com essa situação, articulando internamente, andando para ver como é que vai ser a composição nos estados".

Campos anuncia que está construindo um entendimento para decidir sobre a candidatura no início de 2014, até por causa dos companheiros que, "por circunstâncias locais", não poderiam se decidir agora, "apostando que o tempo vai me ajudar a acumular forças". Ele confia em que "as contradições regionais e a situação da economia" possam favorecê-lo e, por isso, adiou o anúncio da decisão, que seria em setembro deste ano.

"Uma decisão agora, com a rede rasgada dentro do partido, seria expor o partido a um racha. Por mais que a gente ganhe, não pode rasgar ao meio", argumenta. O prazo de setembro, um ano antes da eleição presidencial de 2014, serve, porém, para testar "quem está num projeto partidário e quem está num projeto pessoal. Quem está num projeto regional e pessoal pode esperar setembro para tomar seu destino. Aí, fazemos certa depuração".

Ele se refere ao prazo mínimo para filiação a outro partido a fim de se candidatar nas eleições do ano que vem. "Setembro é uma data que começa a complicar quem está fazendo o jogo do PT. O cara vai ver que, se o partido tomar um rumo, e ele, outro, a situação vai ficar difícil para ele. Quem ficar depois de setembro vai ter o compromisso com o projeto do partido."

O governador pernambucano acha que foi por essa questão de tempo que o governo deu "essa pressão toda", movido não só por interesse próprio, "como também por gente que está aqui dentro do PSB". O grande fato que Campos comemora é que está fazendo um ano que o PSB decidiu enfrentar o PT lançando um candidato à prefeitura de Recife (Geraldo Julio, que venceu no primeiro turno) e em outros estados do país.

"Nestes 12 meses, quem foi que ganhou?", pergunta, para responder: "Nós (PSB) aumentamos de tamanho, passamos a estar no tabuleiro nacional, nosso pessoal passou a ser prestigiado, e o que é que eles ganharam nestes 12 meses? Tirando São Paulo, não ganharam a eleição municipal, estão metidos em uma situação muito mais complicada do que 12 meses atrás, com muito mais evidência de que há contradições na aliança, sobretudo nos quadros regionais."

Campos diz que, "onde eles atentaram contra nós, a gente foi lá e montou um palanque melhor, que está na frente nas pesquisas". Ele se refere à estratégia traçada pelo vice-presidente Michel Temer, que levou para o PMDB o empresário José Batista Júnior, do Grupo JBS, que era o candidato do PSB ao governo. O PSB reorganizou seu palanque em Goiás com a filiação de outro empresário, Vanderlan Cardoso, e ainda conquistou o apoio do líder do Democratas na Câmara, Ronaldo Caiado.

Agora, analisa, "é ter paciência, e fôlego, para atravessar até a data fatal de filiação". Campos avalia que as pesquisas devem estar deixando mais nervoso para se decidir quem achava que a reeleição era fácil. "Conseguimos passar essa pressão toda, e agora eles estão na dúvida. Como é que devem nos tratar? Porque, se der mais tiro, vitima, se der menos tiro, eu fico vivo".

Ele admite que está lutando "contra forças muito grandes", mas avisa que, apesar das pressões sobre os governadores, "a maioria deles conversa bem comigo. Eu entendo a situação, não tem estresse deles comigo. Mas eles começam a ver também que, o que dizem que vão fazer, não fazem, quando o PT vê no âmbito local o sujeito em uma posição de submissão, começa a ficar arrogante, achando que manda no pedaço, é a prática deles".

Campos diz que, "quando você precisa dar um cerco por cima desse jeito para ganhar a eleição, não é um bom sinal, passa a sensação de fragilidade, e também de truculência". Ele garante que não tinha qualquer expectativa de que as pesquisas de opinião mudem de forma substancial tão cedo. "E não seria nem bom. Imagina se eu estivesse um pouco acima, o que não estariam fazendo? Com 6%, eles estão desse jeito, imagina se tivesse mais."

Fonte: O Globo

Os pobres felizes – Fernando Rodrigues

Milhares de pobres felizes inundarão a TV em comerciais estatais nos próximos dias falando como é maravilhoso comprar um forno de micro-ondas ou um sofá financiado por Dilma Rousseff. A presidente despejará bilhões de reais nessa nova modalidade de felicidade instantânea --futura nem tanto.

Os comerciais de TV do governo (por meio da Caixa) são o único ambiente do mundo no qual os pobres estão sempre 100% felizes. Faz parte. Propaganda é para melhorar o astral de quem assiste. Afinal, quem olha pela janela em grandes centros urbanos não tem visto tanta alegria assim nos últimos dias.

As manifestações do Movimento Passe Livre em São Paulo e em outras capitais podem ser analisadas de várias formas. Muito já foi dito (e ainda será) sobre o despreparo da polícia. Ou a respeito do vandalismo incivilizado de parte dos ativistas.

Só que o mais relevante talvez seja a mensagem difusa vinda das ruas. Apesar do alto grau de aprovação das administrações federal e estadual (de São Paulo), há uma insatisfação latente em grandes metrópoles. Está claro que o tal Movimento Passe Livre não controla tudo.

Para cada pessoa protestando na rua há outras milhares que preferem ficar em casa, embora não menos insatisfeitas. Uma análise chapa-branca poderia argumentar que os protestos atuais são inconsequentes. O Brasil crescerá neste ano mais do que em 2012. Há pleno emprego. Tudo isso é verdade. Ainda assim, cidadãos podem considerar isso insuficiente para sorrir como nas propagandas.

Quem vive em grandes cidades sabe muito bem. São Paulo e Rio têm cotidianos inviáveis. Trânsito insuportável, transporte público péssimo, poluição, saúde pública ruim. Há, é claro, o programa Meu Micro-Ondas, Minha Vida. Mas, às vezes, só um eletrodoméstico é pouco para manter os cidadãos comportados dentro de casa e assistindo a pobres felizes nos comerciais de TV.

Fonte: Folha de S. Paulo

Dona Dilma por mares nunca dantes navegados - Rolf Kuntz

A presidente Dilma Rousseff converteu o Velho do Restelo, uma das grandes figuras camonianas, um homem de "saber só de experiências feito", em um petista enrustido. Na descrição dilmiana, "esse velho ficava sentado na praia azarando" e repetindo, diante de toda experiencia nova, uma frase agourenta "Não vai dar certo". Era uma figura do contra, como os opositores da Constituição de 1988, do Proer (depois apontado ao mundo como exemplo pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva), do Plano Real, do pagamento da dívida pública e, naturalmente, da Lei de Responsabilidade Fiscal Não se sabe se a presidente leu Os Lusíadas ou se apenas ouviu a história, resumida toscamente, quando passou pela praia do Restelo, em sua recente viagem a Portugal. Se leu, entendeu mal, reduzindo o enredo e uma grande figura às dimensões de uma visão chinfrim, injusta em relação ao poeta e àquela personagem.

Camões descreve o velho com respeito e atribui-lhe um discurso bem articulado e com argumentos ponderáveis. A multidão está na praia para assistir ao início de mais uma expedição a um mundo quase desconhecido. Acena ganha movimento e vida com o destaque de algumas personagens, a mãe chorosa, a esposa desconsolada ("nosso amor, nosso vão contentamento, quereis que com as velas leve o vento") e, finalmente, a figura de aparência veneranda, "postos em nós os olhos, meneando/ três vezes a cabeça,descontente, a voz pausada um pouco alevantando". Não era um tolo nem um letrado, mas um homem com saber de experiências feito".

A peroração do velho ocupa as dez estrofes finais - 80 versos, portanto - do quarto canto do poema. Em nenhum momento ele dá como certo um fim trágico para os navegantes, embora aponte os perigos e lamente "o desprezo da vida". E outro o assunto da maior parte, a mais importante, de sua fala. Ele pergunta, em resumo, se vale a pena o esforço para conquistar mares e terras distantes e cheios de perigos em vez de proteger Portugal dos inimigos vizinhos e de explorar, mesmo com a guerra, as oportunidades mais próximas. "Não tens junto contigo Ismaelital com quem sempre terás guerras sobejas?" Depois, referindo-: se ao infiel: "Não tem cidades mil, terra infinita, se terras e riquezas mais desejas?" É um raciocínio estratégico. Não seria mais vantajoso proteger o reino da ameaça próxima e, se fosse o caso de ampliar os domínios portugueses, tentar a conquista das "cidades mil" e da "terra infinita" dos seguidores i do Alcorão? Essa alternativa atenderia também a quem desejasse a glória da guerra e da vitória contra um adversário de respeito: "Não heelle por armas esforçado, se queres por victórias ser louvado?".

Em sua versão do episódio, a presidente Dilma Rousseff menciona a fala do velho sobre a motivação da vã glória. Mas passa longe, mais uma vez, do significado da peroração. As primeiras palavras têm um tom moralista. "Ó glória de mandarlmo ou de mania de ser do contra. Sem forçar a interpretação, pode-se descrever o discurso do velho como um exercício no campo das decisões estratégicas e da alocação de recursos. Com um saber derivado só da experiência, ele demonstra, no entanto, uma capacidade respeitável de refletir sobre os interesses do reino e sobre a necessidade de cálculo e de prudência. De nenhum modo Camões despreza esse tipo de sabedoria. No primeiro verso do canto quinto, a figura da praia ainda é lembrada como um "Velho honrado".

Não há resposta direta ao discurso de advertência. A resposta indireta é o poema todo, como celebração da audácia e da glória dos navegadores, sintetizada na proeza de Vasco da Gama, e da grandeza de Portugal. Talvez os defensores da grande aventura marítima tivessem razão naquele momento. No longo prazo, no entanto, a história parece ter realçado a sabedoria do velho.

No mínimo, teria sido prudente conciliar a ousadia dos descobrimentos e da conquista dos mares com a modernização e o fortalecimento econômico do próprio reino. A Inglaterra, núcleo da revolução industrial no século 18, continuou sendo a grande potência europeia depois de perder as 13 colônias americanas.

Portugal perdeu o brilho muito antes da independência de suas últimas colônias na África. De certa forma, a história econômica portuguesa recomeçou com o ingresso na União Europeia e com o empuxo dos investimentos financiados pelo bloco.

No Brasil, a prudência do Velho do Restelo teria recomendado a combinação, há muito tempo, de rigor fiscal, metas de inflação mais baixas, modernização institucional e maior atenção à produtividade. Até a crise, o governo petista preferiu ver o País subir com a maré da prosperidade global. Depois, limitou-se a remendos e continuou dedicado a objetivos eleitorais. Mas política séria daria trabalho. Como escreveu outro poeta, o italiano Cesare Pavese, lavorare stanca.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Na crise, ministro - Cristovam Buarque

O ministro Guido Mantega saiu de reunião com a presidente Dilma Rousseff perguntando: "Que crise?" A resposta é simples: Na pergunta, ministro!

É crítica a situação de uma economia em que, diante de indicações óbvias de crise, seu ministro da Fazenda pergunta: "Que crise?" Porque, além da própria realidade, a crise se agrava por não ser vista por quem dela deve cuidar.

A crise está em uma economia cujo crescimento não reage a medidas fiscais pontuais que já custam R$ 50 bilhões anuais de sacrifício fiscal sob a forma de isenções; em uma inflação que supera a meta de 4,5% e atinge 6,5%, que é o patamar máximo de tolerância. A crise é visível nos preços em supermercados, nas lojas e nas fábricas, especialmente na indústria de transformação. É preciso reconhecer que, graças a medidas do ministro, a crise ainda não chega a desempregar. Mas a economia não deve ser vista apenas por pontos específicos e do presente. Deve ser vista como um organismo vivo e de longa vida, que não pode ser tratado por problemas individuais e somente no imediato. A continuar, a crise certamente chegará ao nível de emprego.

A crise é visível no saldo comercial, que caiu de US$ 20 bilhões para US$ 7,7 bilhões no ano; na baixa taxa de poupança de 14,1% do PIB; na queda da produção industrial que chegou a -1,1% no ano que terminou em abril de 2013. Também é visível no endividamento bruto do país, que subiu de 53,3% do PIB, em 2010, para 59,2%, em abril de 2013; como também no endividamento das famílias, que atingiu, segundo o Banco Central, 44% da renda em março deste ano. Está no déficit em conta-corrente, que atingiu 3% do PIB, bem como no superávit primário, estimado para cair em 2013, para próximo de 1% do PIB, o que eleva a dívida pública e derruba a confiança. A crise está na queda do Real em relação ao dólar, resistindo às intervenções do Banco Central financiadas por aumentos da dívida ou por redução das reservas.

As causas da crise estão no descontrole dos gastos públicos, no uso pouco responsável de incentivos ao consumo por exonerações fiscais, sacrificando as contas públicas e desincentivando a poupança; em uma política industrial antiga que visa à competitividade como questão de redução de custos e não como resultado da inovação; na forma errática como os "pacotes" geram incertezas ao substituir a política estrutural; no aparente uso do Banco Central e de estatais como Petrobras, Eletrobras e BNDES como parte do processo político, inclusive eleitoral. E ainda no uso de contabilidade apresentando resultados que não inspiram confiança.

Está na perda de credibilidade dos responsáveis pela economia, que evitam ver a crise, criam uma euforia e ampliam a crise ao negar que ela existe. Isto se agravará nos próximos meses se ocorrerem, como tudo indica, melhoras conjunturais que esconderão a dramaticidade do longo prazo.

A crise é de falta de estratégia para enfrentar os problemas estruturais, em todo o sistema, e de falta de percepção das tendências de longo prazo da economia.

Cristovam Buarque, senador (PDT-DF)

Fonte: O Globo

Armênio Guedes: Respeitosa discórdia - Ricardo Lessa

Ninguém mais improvável para ocupar um posto de guarda-costas de Luiz Carlos Prestes, então líder máximo do Partido Comunista Brasileiro (PCB), do que um magricela de escassos 52 quilos distribuídos em 1,75 metro de altura - e reflexos tão rápidos quanto os celebrizados pelo lendário baiano Dorival Caymmi. O trabuco Taurus 38 que lhe deram quase não parava dentro das calças. Mas foi para esse cargo, que acumulava com o de assistente, que o PCB, em 1945, indicou o baiano de Mucugê Armênio Guedes. Na época, estava com 27 anos, 10 de militância. Prestes acabara de ser libertado de 9 anos de prisão, beneficiado por uma anistia de Getúlio Vargas.

Nascia ali uma respeitosa discórdia, que permearia por décadas toda uma geração de intelectuais, como diz o poeta Ferreira Gullar em seu prefácio do livro "Sereno Guerreiro da Liberdade", de Sandro Vaia, que a editora Barcarolla lança na segunda-feira, a partir das 18h30, na Livraria da Vila da alameda Lorena, em São Paulo.

A biografia de Armênio, hoje com 95 anos, vale "como retrato de um cidadão brasileiro do século XX que concebe a ação política como um meio de chegar à sociedade justa, fraterna, igualitária", escreve Gullar.

A personalidade de Armênio, "mais flexível, de fala mansa e trato delicado", na descrição do poeta, iria se confrontar com a de quem deveria guardar as costas: o rígido militar gaúcho Prestes, que já entrara para o partido como dirigente, pelas mãos dos então poderosos soviéticos.

Entre 1945 e 1983, Armênio viveu como assalariado do Partido Comunista - do "ouro de Moscou", como ele lembra, brincando - e se especializou em espalhar jornais e revistas pelo Brasil: "Seiva", "Revista Continental", "Tribuna Popular", "Estudos Sociais", "Novos Rumos", "Voz Operária", entre tantos títulos, até a "Voz da Unidade" nos anos 1980. Na direção do PCB, foi suplente, entre 1943 e 1954, do Comitê Central (CC), de onde foi afastado por "atitudes antissoviéticas". Voltou para o CC em 1967, para organizar o partido no exílio, com sua primeira mulher, Zuleika Alambert.

O pano de fundo para essa biografia escrita pelo ex-diretor de Redação de "O Estado de S. Paulo" é o desenrolar do confronto dessas personalidades tão diferentes. Mas o embate era também de valores. O principal deles, do qual Armênio não abria mão, segundo Gullar, seu companheiro e amigo, "era a noção de liberdade, mais compatível com o regime democrático". Isso poria Armênio em conflito permanente com Prestes.

O embate ficaria mais agudo nos anos 1970. Naquela época o mundo era dividido, grosseira e rigidamente, em dois blocos: o capitalista e o comunista. Os comunistas costumavam associar o conceito de democracia ao qualificativo burguesa, como se democracia fosse um modo de dominação inerente ao capitalismo. Depois da queda do Muro de Berlim, em 1989, a divisão do mundo se esfumaçou, junto ao bloco comunista. E o ideal da democracia se espalhou pelo mundo. Sem adjetivos, como esperança universal.

Antes, porém, que a primeira pedra rolasse da muralha alemã, intelectuais europeus haviam começado a desmontar a barreira ideológica entre democracia e comunismo. Na vanguarda, os italianos de Enrico Berlinguer (líder do PCI) arriaram a bandeira "rossa" e hastearam a da esquerda democrática. Outros partidos europeus seguiriam o mesmo caminho.

Os ventos dessa mudança foram captados na Europa e trazidos para o Brasil pelo militante Júlio ou André ou tantos outros nomes que Armênio Guedes adotou durante 48 anos de militância, condensados por Sandro Vaia.

No livro, ele mostra de que forma Júlio - como Cecília Comegno, sua mulher, o chama até hoje - funcionou como uma antena no exílio parisiense, onde editava a "Voz Operária", órgão oficial do PCB. Captava, ampliava e retransmitia as convulsões vividas pela esquerda europeia para atentos ouvidos de intelectuais brasileiros que passavam por lá ou estavam aqui, no outro lado do Atlântico.

Em 1979, uma entrevista de Armênio ao "Jornal do Brasil" (reproduzida no livro) serviu como senha para quem pretendia aposentar a velha cartilha partidária leninista e adotar a democracia como princípio, meio e fim.

Nessa entrevista, Armênio faz uma afirmação que serve como autocrítica da história do PCB: "Houve um certo tempo em que nós identificávamos liberdades democráticas com o poder da burguesia. Mas a verdade é que, pouco a pouco, a vida foi-nos mostrando que a democracia é algo importante, permanente, para o avanço da sociedade". Era a pedra que faltava para fazer ruir a muralha ideológica. Mas ela se alojaria diretamente no sapato de Prestes, defensor, até a morte, do sistema liderado pela finada União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Ele se deu ao trabalho de escrever uma "Carta aos Brasileiros", em março de 1980, criticando aqueles que queriam se integrar, sem pretensões de dirigir, na luta pela ampliação da democracia no Brasil.

A relação com os soviéticos sempre opôs os dois dirigentes. Embora admirador da língua russa, que ainda arranha, Armênio jamais gostou da rigidez de hábitos adotados na extinta URSS, onde passou longas temporadas. Achava chatíssimas as excursões culturais programadas; recusava a visita a museus e a subserviência recomendada pelos dirigentes brasileiros. Permitiu-se até a gaiatice temerária de roubar uma taça da "dacha" de Stálin, que guarda como suvenir.

O conflito mais grave, porém, estourou entre os camaradas durante a Copa do Mundo de 1954. Os pró-soviéticos achavam que tinham de apoiar os times comunistas, enquanto Armênio defendia o Brasil. "Futebol está acima ou abaixo da luta de classes... de maneira que torço pelo Brasil", justificou.

Quando o assunto era o Botafogo, o clima ficava ainda mais belicoso. Era o time do coração dele e de seu irmão Célio, o Celito, como era carinhosamente apelidado, o mais novo entre 11 irmãos, a quem lhe coube tutorar, de acordo com a tradição da família Guedes.

O caçula era ligado em esportes, cultuava a beleza física e aprendeu com o pai a lapidar diamantes, ofício que exerceu para ajudar a família depois da morte do patriarca. Celito também serviu a Prestes como motorista e guarda-costas. A morte, em 1972, desse irmão tão próximo, causou uma das maiores dores da vida de Armênio. Estava no Chile, quando soube da notícia, contou a Vaia: "... me mostraram um telegrama de Prestes. Ele me avisava que o motorista de uma missão - não falava o nome de Célio - tinha sido liquidado. Foi um choque tão violento que eu cheguei a ter um começo de pneumonia. Fiquei de cama quase um mês. Nesse período eu balancei... tive vontade de me afastar de tudo".

Na versão oficial, Célio teria pulado do 7º andar do Cenimar. A da família é a de que ele foi morto sob tortura, no I Distrito Naval, em 15 de agosto de 1972. A lembrança da morte do irmão fica ainda mais dolorida para Armênio, porque ela poderia ter sido evitada. A direção do partido já sabia que Célio corria sério risco de ser pego pelos agentes da repressão, mas nem por isso teria cancelado a missão, conta o livro.

A frieza do telegrama de Prestes para seu companheiro fala muito das diferenças entre os dois. O livro dedica um capítulo especialmente a elas. Hoje o quase centenário Armênio comenta com tranquilidade e elegância: "As personalidades que mais admirei no partido foram João Saldanha e Oscar Niemeyer". Sobre Prestes diz apenas: "Foi um grande lutador, mas péssimo político".

Avesso a grandiloquências, Armênio talvez não se sinta confortável no papel de opositor histórico ao muitas vezes biografado "Cavaleiro da Esperança". Mas certamente não vai se preocupar muito com isso. Atualmente prefere se dedicar à escolha entre ouvir Billie Holiday ou Prokofiev. Sem dispensar um bom papo de padaria.

Ricardo Lessa, autor de "Brasil e Estados Unidos, o Que Fez a Diferença", é jornalista e assessor de imprensa da Amcham Brasil

Fonte: Valor Econômico

Uma crise de representação - Cacá Diegues

A resposta à crise da democracia representativa não pode ser o autoritatismo que elimina a liberdade de escolha

Lá pela metade do século 20, por volta dos anos 1960, surgiram por aí diferentes movimentos contra o estado do mundo, com claros discursos pela construção de uma nova sociedade humana. Os beatniks, a primavera de Praga, os guerrilheiros latino-americanos, os panteras negras, o Solidariedade polonês, os hippies, os jovens americanos que se recusavam a ir para o Vietnam, os estudantes parisienses de maio de 1968, foram agentes explícitos de ideais programáticos e ideológicos que mobilizavam multidões.

Hoje não é mais bem assim. Talvez porque o mundo tenha perdido a esperança em mudanças radicais. Talvez porque a revolução tenha perdido prestígio para a mobilidade social. Talvez por não nos sentirmos mais representados por nenhuma força política.

Depois do movimento Occupy Wall Street, da chamada Primavera Árabe, dos combates na Siria, dos confrontos contra o governo na Turquia e na Grécia, das manifestações populares nas ruas de uma Europa em crise, os jovens do Movimento Passe Livre trazem agora para Rio de Janeiro e São Paulo esse novo estilo de contestação, típico do século 21 - uma contestação pontual, sem propriamente projeto de nação ou de sociedade.

Em outubro de 2011, visitei o acampamento do Occupy Wall Street, em Nova York, e escrevi aqui, nesse mesmo canto de página, que “todo mundo sabe porque foi parar no Zuccotti Park (local do acampamento dos manifestantes), mas parece que quase ninguém tem uma ideia precisa de para que serve o movimento, o que deve acontecer em seguida (...) é como se um malestar estrutural estivesse substituindo os programas ideológicos (...) as ideias parecem sufocadas pelo malestar que tomou o lugar da luta política”.

Depois de ver na televisão um rebelde sírio arrancar o coração de um soldado governista, como é possível acreditar que sua revolta seja alimentada pela construção de uma sociedade mais justa? Quem pode nos garantir que a Líbia, depois da destituição e morte de seu ditador, esteja mesmo construindo um regime de liberdade? Depois da crise, para onde irão as manifestações pontuais de rua em Paris, Madrid ou Atenas?

Questionado sobre o que queriam seus ativistas, um desses movimentos americanos de contestação postou resposta esclarecedora em sua página no facebook: “O processo é a mensagem”. Ou seja, o ato de agir é a única razão da ação.

Todos esses movimentos se explicam pela ausência de representação de seus membros no campo da política. Como cada vez mais nos sentimos menos representados pelos que estão no poder (mesmo que eleitos por nós), só nos resta ir às ruas para ao menos mostrar que existimos. Nossas reivindicações podem ir desde o fim de um ditador até a luta contra o aumento de 20 centavos na passagem de ônibus, tanto faz. Ainda no acampamento do Occupy Wall Street, no Zuccotti Park, vi uma senhora ativista fazer discurso de protesto contra a maneira pela qual era tratada por seu marido.

Ninguém mais se sente representado politicamente, assim como nossos supostos representantes não se importam mais em representar ninguém. Há um enorme abismo entre nós e o poder que devia agir em nosso nome, um desinteresse em nos representar. O processo eleitoral não tem nada a ver com a representação que devia ocorrer depois dele. Os eleitos só pensam em continuar eleitos e em proteger a instituição a que pertencem, para que ela exista para sempre, com eles dentro. Os acordos partidários, as manobras de sobrevivência, os interesses pessoais e, às vezes, as vantagens pecuniárias, são fatores hegemônicos na atividade do “representante”. Outro dia, o ex-presidente Lula disse que “às vezes, tenho a impressão de que partido é um negócio”.

Hoje o termo “democracia representativa” diz mais respeito a um regime que, eleito pelo povo, interpreta um determinado papel. Ela é “representativa” no sentido teatral da expressão, no sentido da representação dramática. Não há nenhuma justificativa programática ou ideológica para seus gestos. Apenas ação. Como podemos nos identificar com eles? Então vamos às ruas para nos representar a nós mesmos, nem sempre sabemos bem para que.

A resposta à crise da democracia representativa não pode ser o autoritatismo que elimina a liberdade de escolha e é contra a natureza humana. Nem a ilusão da democracia direta, mãe do populismo e da ditadura. Como tudo que é humano, a democracia não é um regime perfeito, mas pode ser aperfeiçoada sempre. (Em “Sabrina”, filme de Billy Wilder, o pai da heroína, motorista particular de família abastada, diz que a democracia é muito estranha: embora o contrário seja comum, quando um pobre casa com um rico, nunca se ouve dizer do pobre que ele foi “muito democrático”).

Enquanto não encontrarmos coisa melhor, não podemos abrir mão da democracia. É sagrada e insubstituível a beleza do voto que deve garantir o poder da maioria e os direitos das minorias que, daí a quatro anos, terão outra oportunidade de se tornarem maioria. E isso com liberdade permanente para todos irem às ruas ou não.

Cacá Diegues é cineasta

Fonte: O Globo

O filho do século – Murilo Mendes

Nunca mais andarei de bicicleta
Nem conversarei no portão
Com meninas de cabelos cacheados
Adeus valsa "Danúbio Azul"
Adeus tardes preguiçosas
Adeus cheiros do mundo sambas
Adeus puro amor
Atirei ao fogo a medalhinha da Virgem
Não tenho forças para gritar um grande grito
Cairei no chão do século vinte
Aguardem-me lá fora
As multidões famintas justiceiras
Sujeitos com gases venenosos
É a hora das barricadas
É a hora da fuzilamento, da raiva maior
Os vivos pedem vingança
Os mortos minerais vegetais pedem vingança
É a hora do protesto geral
É a hora dos vôos destruidores
É a hora das barricadas, dos fuzilamentos
Fomes desejos ânsias sonhos perdidos,
Misérias de todos os países uni-vos
Fogem a galope os anjos-aviões
Carregando o cálice da esperança
Tempo espaço firmes porque me abandonastes.