quinta-feira, 20 de junho de 2013

OPINIÃO DO DIA – Luiz Werneck Vianna: busca de reconhecimento

De um lado, o afastamento imenso da população, em especial dos jovens, da política e dos partidos políticos. Esse é o primeiro ponto, muito evidente. O porquê do movimento, aparentemente por um motivo quase banal – o aumento irrisório do preço das passagens –, ter desencadeado esta proporção só pode ser entendido como um sentimento que vem se acumulando de exclusão e insatisfação. Ao lado disso, se nas ruas não há vestígios de organização, as redes sociais estão absurdamente dominadas por um diálogo interminável a respeito da situação da geração atual, que tomou forma a partir de um episódio que podia ser entendido como algo de menor expressão. O fato também de terem sido rechaçados por uma repressão muito forte, após seus primeiros movimentos, incendiou a imaginação. Enfim, essa geração se pôs no mundo e está aí a sua marca.

Luiz Werneck Vianna, sociólogo e professor- pesquisador da PUC-Rio. In entrevista, 19/6/2013.

Manchetes de alguns dos principais jornais

O GLOBO
O Brasil nas ruas: Protestos derrubam aumentos em São Paulo e Rio de Janeiro
Em Niterói, Ponte e barcas são fechadas
Enquanto isso, na economia
Neymar dá show e classifica a seleção

FOLHA DE S. PAULO
PROTESTOS DE RUA DERRUBAM TARIFAS
Movimento Passe Livre agora quer transporte gratuito
Pierre, 20, aluno de arquitetura, atacou prefeitura

O ESTADO DE S. PAULO
Haddad e Alckmin cedem, tarifa volta a R$ 3 e MPL mantém ato
Inflação derruba aprovação de Dilma
Dólar vai a R$ 2,20 e Bolsa cai após sinalização do Fed

VALOR ECONÔMICO
Dinheiro do algodão fica em renda fixa
SP e Rio revogam aumento de tarifas
Eletrobras vai disputar Três Irmãos
Reservas de cobre e ouro serão leiloadas

BRASIL ECONÔMICO
Mantega mostra contas e prefeitos baixam passagens
Efeito Fed na bolsa e no dólar
Previ deixa de vender

ESTADO DE MINAS
Eles não nos respeitam, eles, sim!
O preço da vitória

O TEMPO (MG)
Estudantes fecham a avenida Amazonas na manhã desta quinta-feira
Aprovação de Dilma Rousseff despenca 8 pontos percentuais
Comissão aprova isenção do IR para o 13º salário

CORREIO BRAZILIENSE
A voz que não se cala
Fortaleza
Brasília

GAZETA DO POVO (PR)
Após a pressão das ruas, São Paulo e Rio também baixam tarifas
Aprovado, Ato Médico vai à sanção de Dilma
Governo do estado promete divulgar salários

ZERO HORA (RS)
Transporte público: Cai preço da tarifa em SP e RJ
Disparou : Anúncio nos EUA leva dólar a R$ 2,22

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Um país em protesto: Nas ruas e em paz
Regulamentação das domésticas deve demorar

O Brasil nas ruas: Protestos derrubam aumentos em São Paulo e Rio de Janeiro

Paes, Cabral, Haddad e Alckmin cancelam reajuste de ônibus, metrô, trens e barcas. BH deve fazer o mesmo.

Prefeitos afirmam que, para compensar, terão de reduzir investimentos em transportes públicos e fazer alterações nos orçamentos. Apesar do recuo dos governantes, líderes do Movimento Passe Livre dizem que manifestações de hoje estão mantidas, e devem acontecer em 80 municípios.

Após 13 dias de protestos que começaram em São Paulo e se espalharam por todo o país, os prefeitos Eduardo Paes (PMDB) e Fernando Haddad (PT), além dos governadores Sérgio Cabral (PMDB) e Geraldo Alckmin (PSDB), recuaram cancelando reajustes das tarifas de ônibus, metrô, trens e, no caso do Rio, barcas. Em Belo Horizonte, a prefeitura enviou para a Câmara projeto para reduzir tarifas. No Rio, a passagem de ônibus cai hoje de R$ 2,95 para R$ 2,75. As demais reduções entram em vigor amanhã. Tanto Paes quanto Haddad disseram, no entanto, que a decisão forçará as prefeituras a rever investimentos em outras áreas, sem dizer ainda quais seriam afetadas. Apesar do recuo, as lideranças do Movimento Passe Livre disseram que os atos de hoje, que devem chegar a 80 cidades do país, estão mantidos. Para evitar o vandalismo, a PM do Rio decidiu reforçar a segurança no Centro, e manifestantes fizeram apelos pelas redes sociais para tentar conter grupos radicais.

O efeito das manifestações

Governantes de Rio e SP recuam e revogam aumento nas tarifas do transporte coletivo

Thiago Herdy, Luiz Ernesto Magalhães, Fabio Vasconcellos e Ezequiel Fagundes

RIO, SÃO PAULO e BELO HORIZONTE - Apenas 13 dias depois da realização do primeiro ato na Avenida Paulista contra o aumento das tarifas do transporte coletivo, convocado pelo Movimento Passe Livre (MPL), o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), o governador Sérgio Cabral (PMDB), o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), e o governador paulista, Geraldo Alckmin (PSDB), anunciaram ontem a completa revogação dos reajustes, tanto de ônibus urbanos como de metrô, trens metropolitanos e, no caso do Rio, das barcas.

Em Belo Horizonte, pressionado pelo quarto dia de protestos, o prefeito Marcio Lacerda (PSB) informou que vai enviar projeto à Câmara Municipal que visa à redução da tarifa do transporte. Em Niterói, o prefeito Rodrigo Neves (PT) também anunciou a redução do preço das passagens.

Apesar do recuo das autoridades das duas maiores cidades do país, líderes do Movimento Passe Livre disseram que está mantida a grande manifestação organizada para hoje, que pode chegar a 80 cidades em todo o país. Eles disseram que agora partirão para outras reivindicações.

- Se baixaram de R$ 3,20 para R$ 3,00, então dá pra baixar pra zero - disse Caio Martins, um dos líderes do Movimento Passe Livre.

Tanto Haddad quanto Paes disseram que, para reduzir as tarifas, terão de reduzir investimentos em transportes públicos e fazer alterações nos orçamentos. No Rio, o anúncio foi feito na sede da prefeitura e teria a presença do governador Sérgio Cabral, que cancelou em cima da hora. No caso dos ônibus, as tarifas baixam de R$ 2,95 para R$ 2,75 a partir de hoje, por tempo indeterminado. No caso de metrô, trens e barcas, as reduções entrarão em vigor a partir de amanhã.

Paes antecipou que a decisão forçará a prefeitura a rever investimentos em outras áreas para subsidiar a passagem. Os gastos iniciais podem atingir R$ 200 milhões no primeiro ano, chegando a R$ 500 milhões. O aumento dos ônibus estava em vigor desde o último dia 1º.

No Rio, os cortes poderão incluir até investimentos na melhoria da qualidade dos coletivos. Com a tarifa a R$ 2,95, a prefeitura unificou os preços dos ônibus equipados ou não com ar-condicionado. A unificação permanece com as tarifas a R$ 2,75, mas não está descartado o adiamento do plano de equipar os cerca de oito mil veículos da frota com ar-condicionado até 2016.

- Cabe destacar que a diferença terá que ser arcada pelo poder público. Os reajustes não são concedidos ao bel-prazer do poder público. Existem regras definidas e contrato. Os governos demonstraram a capacidade de ouvir a voz das ruas, mas esse debate não termina aqui. Onde iremos cortar? - disse Paes.

O prefeito acrescentou que a discussão sobre a desoneração tarifária também tem que ser feita em âmbito federal, para reduzir os impactos no orçamento das prefeituras. Ele lembrou que a Comissão de Assuntos Econômicos do Senado estuda outras medidas para desonerar a tarifa:

- Assim como São Paulo, nós não aumentamos as tarifas no dia 1º de janeiro. E esperamos até junho para aumentar as tarifas já com a desoneração do PIS/Confins.

Rio pode seguir exemplo de SP

Paes não esclareceu como seria feita essa compensação para as empresas, alegando que a questão será estudada a partir de agora. Ao contrário de São Paulo, a prefeitura do Rio não concede subsídios diretos para as empresas. Os benefícios são indiretos: as empresas pagam apenas 0,01% de ISS. O repasse poderia exigir, por exemplo, a aprovação de uma lei na Câmara dos Vereadores do Rio para a criação de um fundo, como ocorre na capital paulista.

O secretário-chefe da Casa Civil, Pedro Paulo Carvalho Teixeira, disse que, antes de começar a conceder os subsídios, a prefeitura pretende estudar formas de estimular o ganho de produtividade das empresas que operam as linhas de ônibus do Rio. Para este ano, está prevista a implantação de mais três faixas de BRS. A Secretaria municipal de Transportes não esclareceu se esse cronograma será antecipado.

O governador Sérgio Cabral não deu entrevistas. A assessoria do Palácio Guanabara limitou-se a informar que "as tarifas voltaram ao que era antes. E alguns sacrifícios terão que ser feitos". No caso do Metrô, a tarifa cairá de R$ 3,50 para R$3,20, valor praticado até abril. As passagens das barcas, hoje em R$ 4,80 (no caso da travessia Rio-Niterói), voltam para R$ 4,50. No caso dos trens, a tarifa cairá de R$ 3,10 para R$ 2,90.

Em São Paulo, o governador Geraldo Alckmin e o prefeito Fernando Haddad anunciaram em um ato conjunto no fim da tarde de ontem a anulação do aumento da passagem de ônibus, metrô e trem, que a partir de segunda-feira passará de R$ 3,20 para R$ 3.

- Queremos tranquilidade para que a cidade funcione, para que os temas legitimamente levantados durante as manifestações possam ser debatidos com tranquilidade - disse Alckmin, que deverá realocar R$ 210 milhões do orçamento para subsidiar a revogação do aumento.

- Vamos ter que cortar investimentos, porque as empresas não têm como arcar com essa diferença - disse o governador.

O secretário de Planejamento estadual, Júlio Semeghini, descartou tirar dinheiro da Saúde e da Educação, por causa do percentual básico obrigatório de investimento. Ele acha que o recurso poderá ser buscado em obras que estão atrasadas e com dinheiro já previsto.

O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, disse ter tomado a decisão depois de ouvir o conselho da cidade e afirmou ter tomado a decisão a fim de permitir que o diálogo se restabelecesse na cidade de São Paulo.

- Precisamos abrir a discussão sobre as consequências dessa decisão que foi tomada, para hoje e para o futuro.

No Rio, o professor de História Gabriel Siqueira, de 24 anos, que integra o Movimento Passe Livre, disse que a manifestação de hoje será uma comemoração da conquista e, ao mesmo tempo, servirá para levantar outras bandeiras.

Os líderes do movimento contra o aumento das passagens de ônibus no Rio estão preocupados com a segurança do protesto de hoje. A marcha deve sair da Candelária, às 17h, e ir até a prefeitura.

- Embora o nosso protesto seja pacífico, estamos preocupados com a segurança das pessoas. Vamos fazer o possível para manter o grupo coeso dentro do trajeto que foi votado em reunião - disse Siqueira.

Fonte: O Globo

Mais de um milhão deve ir às ruas hoje em 80 cidades

Protestos acontecem em 17 capitais; convocação é feita nas redes sociais

Juliana Castro, Fábio Vasconcelos e Thiago Herdy

RIO, PORTO ALEGRE e SÃO PAULO - Mesmo depois que São Paulo e Rio suspenderam os reajustes nas tarifas do transporte coletivo, mais de um milhão de pessoas se comprometeram, por meio das redes sociais, a comparecer aos protestos convocados para hoje em pelo menos 80 cidades do país, 17 delas capitais. Além das cidades grandes, as manifestações devem paralisar, ainda, municípios de médio porte. Em um esforço para frear atos de vandalismo - inclusive os saques - os próprios organizadores reforçam, na rede, o caráter pacífico das passeatas.

A reivindicação pelo cancelamento do reajuste das passagens de ônibus já está adaptada à realidade peculiar a cada cidade. As demandas variam entre exigência por mais segurança até construção de barragens. Enquetes checavam os principais pedidos. As pesquisas eram feitas também para sugerir roupas e palavras de ordem. Além do Rio, em Salvador os protestos vão ocorrer em meio aos jogos da Copa das Confederações.

Manifestações simultâneas

No Rio, 231 mil pessoas haviam confirmado presença pelo Facebook, até a noite de ontem. Em São Paulo, os confirmados chegavam a 153 mil. São os dois maiores atos, com base na movimentação virtual. Em seguida, aparecem Recife (97 mil) e Campinas (66 mil). Ao todo, 12 milhões de convites haviam sido distribuídos pelo Facebook - muitos recebem mais de um convite ou não são da cidade onde haverá o ato.

A maior parte das manifestações acontecerá simultaneamente e no horário de saída das pessoas do trabalho. No Rio, o protesto "Um milhão na rua", com início às 17h, vai caminhar da Candelária até a prefeitura. Na capital paulista, a concentração será também às 17h, na Praça do Ciclista, na Avenida Paulista.

"Mesmo com a diminuição da passagem, o ato está confirmado. É muito mais que 20 centavos que queremos. Eduardo Paes afirmou que a redução será paga com recursos públicos (saúde, educação...). Queremos que seja paga do lucro dos empresários", diz texto na página do Facebook que convoca para o protesto no Rio.

No Rio, é grande a preocupação para separar da manifestação pessoas que tenham como objetivo usar a concentração para promover quebra-quebra ou saques. Para tentar manter os manifestantes dentro do trajeto - na segunda-feira, um grupo se deslocou para atacar a Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) -, eles vão levar para as ruas carros de som para manter a multidão concentrada e faixas com mensagens sobre as reivindicações que serão usadas para delimitar a área do percurso.

- Embora o nosso protesto seja pacífico, estamos preocupados com a segurança das pessoas. Vamos fazer o possível para manter o grupo coeso dentro do trajeto que foi votado em reunião e firmes nos nossos objetivos - disse Gabriel Siqueira, de 23 anos, professor de história que faz parte do Movimento do Passe Livre.

Rio: PM reforça segurança

A PM do Rio decidiu reforçar a segurança no percurso da manifestação marcada para hoje no Centro e imediações do Maracanã. O esquema montado pela PM, no entanto, não foi divulgado. Por uma coincidência, vários órgãos públicos e escolas deverão estar fechados na hora dos protestos. É que na semana passada, a prefeitura e o governo do estado decretaram ponto facultativo a partir das 14h. A medida foi anunciada entre quarta e sexta-feira passada e tem como objetivo reduzir o impacto no trânsito na região por conta do jogo pela Copa das Confederações, no Maracanã.

A decisão chegou a causar confusão entre alguns servidores, que ontem chegaram a informar que o fechamento dos órgãos teria relação com as manifestações. A Alerj terá ponto facultativo.

Brigada distribuirá panfletos

Em São Paulo, a manifestação ocorrerá na Avenida Paulista, para comemorar a revogação do aumento das tarifas.

- Além de uma festa, será um ato de solidariedade para com as cidades que ainda não conseguiram a redução de tarifa. O anúncio é importante porque ela deixa claro que o preço da tarifa é uma escolha política. Se eles (governador e prefeito) podem aumentar para R$ 3,20 e baixar para R$ 3, podem também baixar para R$ 2 ou para zero - disse Caio Martins, de 19 anos, estudante de História da USP.

A orientação do comando da PM à polícia é a mesma das última duas manifestações: permitir a passagem pela cidade e reprimir apenas atos de vandalismo.

Em Porto Alegre, a Brigada Militar decidiu distribuir na passeata de hoje, no centro de Porto Alegre, 10 mil panfletos direcionados aos manifestantes com justificativas para a presença da corporação no protesto e pedindo ajuda para identificar e coibir eventuais atos de vandalismo. A estratégia foi definida para tentar recuperar a confiança dos ativistas, abalada depois dos episódios de violência da última segunda-feira.

Fonte: O Globo

Sem ajuda federal, Haddad recua e sofre derrota política

Daniela Lima, André Monteiro

SÃO PAULO - Menos de seis horas após declarar que revogar o aumento da tarifa de ônibus poderia ser uma "decisão de caráter populista", o prefeito Fernando Haddad (PT) se viu obrigado a recuar.

Desgastado nas ruas e encurralado pelo próprio partido, anunciou ao lado do governador Geraldo Alckmin (PSDB) que o preço da passagem voltaria aos antigos R$ 3 no início da noite de ontem.

Foi sua primeira grande derrota política no comando da cidade. Segundo dirigentes do PT, Haddad sai do episódio desgastado com o eleitorado, com a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula, fiador de sua eleição.

No PSDB, o recuo de Alckmin também desagradou. Tucanos dizem que, ao diminuir a tarifa, ele passa a imagem de que faltou planejamento ou vontade política para segurar o reajuste anteriormente.

Às 11h30, na primeira entrevista do dia, Haddad disse que revogar o aumento afetaria investimentos da prefeitura e só traria benefícios de curto prazo. "A coisa mais fácil do mundo é agradar no curto prazo, tomar uma decisão de caráter populista sem explicar para a sociedade as implicações."

Às 18h, quando posou ao lado de Alckmin para decretar o fim do aumento visivelmente contrariado, mudou o discurso. "É um gesto de aproximação, de manutenção do espírito de democracia, de convívio pacífico."

Entre a primeira e a última fala, a crise política que engolira prefeito e governador desde o início dos protestos chegara ao ápice para o petista.

Desde a semana passada, Haddad é pressionado por dirigentes do PT a revogar o aumento. A pressão se agravou na tarde de terça, quando se encontrou com Dilma e Lula.

Segundo petistas, a reunião foi tensa. Lula e Dilma teriam dito a Haddad que, diante do desgaste político imposto a ele --e ao partido--, o melhor seria recuar. O prefeito então teria argumentado que, se arcasse com o prejuízo da revogação, sua capacidade de investimento iria despencar.

Em resposta, a presidente deixou implícito que já havia feito o que podia para ajudar.

Ontem, o embate com o PT e o Planalto se agravou. Pela manhã, Haddad voltou a dizer que a única possibilidade de reduzir tarifa sem cortar investimento seria com o projeto de desoneração do diesel para o transporte público.

A resposta veio poucas horas depois. À tarde, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, chamou a imprensa para dizer que o governo federal não tinha mais "condições de fazer novas reduções".

Sem apoio de dirigentes do PT, e com as rusgas com a presidente expostas, Haddad foi obrigado a recuar. Telefonou para Alckmin por volta das 16h e seguiu para o Palácio dos Bandeirantes. Às 18h, os dois anunciaram a revogação do aumento para passagens de ônibus, trens e metrô.

A estratégia também foi criticada por petistas. Para eles, Haddad tentou dividir o desgaste com o tucano, mas acabou passando uma imagem de submissão a Alckmin.

Tucanos

Entre os tucanos, também houve críticas a Alckmin. Uma ala do PSDB diz que ele passa a imagem de que ficou "refém" dos protestos e, ao recuar, abre precedente perigoso a um ano das eleições.

Para esse grupo, a partir de agora, sempre que for obrigado a tomar uma medida impopular, Alckmin será "chantageado" por protestos.

Há ainda críticas à justificativa de que o dinheiro para cobrir a redução da tarifa sairá do caixa de investimentos.

Alckmin teria dado munição a quem engrossou os protestos exigindo melhorias no sistema de transporte. "Mudança estrutural se faz com investimento. Ele cai em contradição", diz um dirigente.

A atuação do governador na área da segurança também sai desgastada. Nas ruas, a PM foi criticada num primeiro momento pela truculência e, depois, acusada de ser omissa ao demorar para conter a onda de saques.

Fonte: Folha de S. Paulo

Inflação derruba aprovação de Dilma

Ainda sem efeitos dos protestos de rua, pesquisa CNI/Ibope apontou que a avaliação de ótimo ou bom do governo Dilma caiu de 63% para 55%. A inflação foi apontada como causa.

Inflação afeta popularidade de Dilma, que cai 8 pontos em pesquisa CNI/Ibope

A deterioração da popularidade da presidente Dilma Rousseff detectada pela pesquisa da Confederação Brasileira da Indústria (CNI)/Ibope revelou que o script adotado pela oposição de bater na tecla da inflação surtiu efeito e deixou o governo derrotado na "batalha do tomate", segundo expressão usada pelos próprios petistas numa referência à fruta vilã da alta dos preços, cujo aumento no acumulado do ano foi de 51,6% segundo o IBGE.

A pesquisa foi realizada entre os dias 8 e 11 e não detectou o grau de aderência na imagem dos políticos, incluindo a da presidente, das manifestações e protestos dos últimos dias.

De acordo com o levantamento divulgado ontem, a proporção dos que consideram o governo ótimo ou bom caiu de 63% para 55% em relação à última pesquisa, de março. Já os que consideram, o governo ruim ou péssimo cresceu de 7% para 13% - o que, segundo a CNI, é o maior porcentual desde o início do governo Dilma. Outros 32% consideram o governo regular.

Os dados da CNI/Ibope indicaram a tendência de queda na aprovação do governo, já apurada em pesquisa do instituto Datafolha, divulgada no dia 8. Naquela sondagem, a popularidade da presidente passou de 65% para 57%. O Datafolha apurou que a queda na popularidade tinha origem na decepção com a situação econômica do País.

A mesma percepção se repetiu agora. Entre as causas da queda da popularidade do governo Dilma apontadas pela CNI/Ibope está a percepção do brasileiro de que as armas de combate ao aumento de preço têm se mostrado ineficientes.

Segundo a sondagem, 57% desaprovaram a forma como o governo combate a inflação (eram 47% em março).Nesse período, foram intensas as críticas da oposição aos métodos do governo para combater a carestia. O presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), provável candidato à Presidência, afirmou que Dilma "é leniente" com a inflação. Os programas dos partidos de oposição na TV fizeram forte carga na ineficácia do combate à alta dos preços.

Sem o clamor das ruas. Foram entrevistadas 2002 pessoas em 143 municípios, período anterior ao auge cias manifestações de rua que tomaram conta das capitais nos últimos dias, originadas por um protesto contra o aumento das tarifas de ônibus. Para o diretor executivo de Pesquisa e Competitividade da CNI, Renato da Fonseca, por ter sido realiza da num período anterior ao ápice das manifestações, os "dados não contaminaram as razões da queda do governo".

Três áreas obtiveram aprovação por mais da metade da população: combate à fome e à pobreza, meio ambiente e combate ao desemprego. E seis áreas foram desaprovadas: segurança pública, saúde, impostos, combate à inflação, juros e educação.

A área de segurança pública obteve a maior desaprovação, 67%. Mas não houve mudanças significativas em relação ao levantamento feito em março. A saúde também está entre os setores com a pior avaliação. E aumentou de 18% para 25% o porcentual dos que consideram o governo de Dilma pior do que o de seu antecessor e padrinho Luiz Inácio Lula da Silva.

Auxiliares da presidente tentaram minimizar a queda de popularidade, dizendo que os números ainda são muito bons. Afirmaram não acreditar que as manifestações de rua possam reduzir mais a aprovação da presidente. Sustentam, por fim, que não se pode dizer que há uma tendência de queda na popularidade de Dilma.

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse que a pesquisa retrata uma situação episódica. "Não gosto de comentar pesquisa, até porque pesquisa são retratos do momento, que se alteram. Não vejo nenhuma relação de causa e efeito entre um governo que é muito bem avaliado e as manifestações", afirmou ele.

Petistas, no entanto, admitem que a inflação foi o motivo central da queda da popularidade. "Perdemos a batalha de comunicação sobre a inflação e para o tomate", disse o presidente em exercício da Câmara, André Vargas (PT-PR). "Não há dúvidas de que a inflação está persistente e as notícias nos meios de comunicação foram muito desfavoráveis", avalia o ex-presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP).

Fonte: O Estado de S. Paulo

A voz que não se cala

O anúncio da redução nas tarifas de transporte público em nada mudou o ânimo dos manifestantes. 0 dia deve ser das multidões.

Enquanto a inimaginável dupla Geraldo Alckmin e Fernando Haddad comunicava a São Paulo a diminuição no preço das passagens, os protestos se estendiam pelo país. Desde a histórica segunda-feira, 82 cidades do interior já saíram às ruas. Grandes atos foram marcados para hoje.

São Paulo e Rio reduzem tarifas

O Palácio do Planalto entrou no circuito para tentar destampar a panela de pressão que fez as ruas de todo o país ferverem nos últimos dias e negociou com os governantes de São Paulo e do Rio de Janeiro a redução das tarifas no transporte coletivo. Os prefeitos do Rio, Eduardo Paes (PMDB), e de São Paulo, Fernando Haddad (PT), além do governador paulista, Geraldo Alckmin (PSDB), anunciaram ontem a revogação no aumento das passagens de ônibus, metrô e trens definido no início do mês. Os governantes prometeram que vão rever os orçamentos, e os cortes para cobrir a perda de receita serão feitos nos investimentos. Em São Paulo, as tarifas foram reduzidas de R$ 3,20 para R$ 3. No Rio, de R$ 2,95 para R$ 2,75.

A intervenção do Planalto também serve para pôr um fim nas contradições nos dados e no discurso de Haddad e da ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann. Na terça, Gleisi disse que as medidas de desoneração do governo federal permitiriam uma redução de R$ 0,23 nas tarifas. Haddad rebateu os cálculos, pois a redução nos tributos já havia surtido efeito ao impedir que as passagens subissem para R$ 3,47 em vez dos R$ 3,20 anunciados anteriormente. Na matemática do prefeito, a redução na tarifa de ônibus representará uma perda de arrecadação de R$ 600 milhões por ano.

O prejuízo financeiro não é o único na conta de Haddad, que se viu obrigado a engolir as próprias declarações. Pela manhã, o prefeito tinha dito que reduzir as passagens seria uma medida "populista". "A coisa mais fácil do mundo é agradar a curto prazo e tomar uma decisão de caráter populista." Mais tarde, ele se viu forçado a mudar de ideia. "Foi um gesto de aproximação, de abertura e manutenção do espírito de democracia e convívio pacífico", justificou. "Estaremos em diálogo permanente com a população de São Paulo, nas subprefeituras, para que o orçamento da cidade seja repensado à luz dessa nova realidade", completou, adiantando que terá de reabrir as planilhas de gastos em investimentos e discutir com a sociedade quais serão as prioridades daqui em diante.

Empresas

O governador Geraldo Alckmin admitiu que a administração estadual precisará apertar o cinto. "Nós teremos que cortar investimentos, porque as empresas que suportam (essa diferença de valor) não têm como arcar. O tesouro paulista — orçamento do Estado — vai arcar com esses custos, fazendo um ajuste na área dos investimentos", disse o tucano. Ainda assim, Alckmin entende que a redução é importante para priorizar um transporte coletivo de alta capacidade. Após o anúncio, integrantes do Movimento Passe Livre se reuniram em um bar em São Paulo para comemorar, mas prometeram manter as manifestações marcadas para hoje.

No Rio, o prefeito, Eduardo Paes, fez malabarismo para lembrar que o reajuste no preço do diesel utilizado no transporte público decorreu do aumento no custo de vida nos últimos anos. Mesmo assim, a exemplo dos governantes de São Paulo, retomou os valores cobrados anteriormente. Os administradores das duas cidades já tinham adiado os reajustes de janeiro para junho, a pedido do Palácio do Planalto, para evitar um acréscimo inflacionário.

O governante peemedebista estimou em R$ 200 milhões por ano o impacto da revogação do reajuste das tarifas de ônibus do Rio. Segundo Paes, se a situação se prolongar por mais tempo, esse valor poderá aumentar para R$ 500 milhões.

Efeito cascata

Além de Rio de Janeiro e São Paulo, 11 cidades já concederam redução ou cancelaram o aumento das tarifas do transporte público. A mudança no valor das passagens ocorreu em: Natal, Cuiabá, Recife, João Pessoa, Porto Alegre, Vitória, Montes Claros (MG), Foz do Iguaçu (PR), Blumenau (SC), Pelotas (RS) e Campinas (SP).

Fortaleza

O cartaz era um desafio à Fifa, que proíbe manifestações. Mas a ousadia contra o protocolo não parou aí. A torcida cantou toda a primeira parte do Hino Nacional mesmo sem música nos alto-falantes. Fora do Castelão, 25 mil pessoas criticaram os gastos com a Copa e houve confronto com a PM.

Fortaleza assustada

Manifestantes aproveitaram a visibilidade internacional do jogo entre Brasil e México pela Copa das Confederações, realizado ontem à tarde, no Estádio do Castelão, em Fortaleza, para promover um protesto contra os elevados gastos na construção das arenas do Mundial de 2014 no país. Hoje, grandes atos estão programados para as principais cidades brasileiras. Na capital cearense, a Polícia Militar utilizou bombas de efeito moral, spray de pimenta e balas de borracha. Oito policiais, dois repórteres e dezenas de integrantes do movimento ficaram feridos. Um carro da Autarquia Municipal de Trânsito, Serviços Públicos e de Cidadania (AMC) foi incendiado. O confronto durou mais de quatro horas.

A Polícia Rodoviária Federal informou que 25 mil pessoas participaram da manifestação. Organizadores do movimento calcularam 50 mil. Alguns torcedores, com ingresso nas mãos, desistiram de entrar no estádio. A estratégia de transformar os jogos da competição em palco de protesto já havia sido utilizada em jogos no Maracanã, no Rio de Janeiro; Mineirão, em Minas Gerais; e Mané Garrincha, em Brasília.

O ato teve início ao meio-dia, quando uma barreira policial foi montada para evitar que os integrantes do movimento se aproximassem da Arena Castelão. Muitos torcedores, incluindo idosos e crianças, que estavam entrando no local para assistir à partida, sofreram com os efeitos do spray de pimenta utilizado pelos policiais. Uma torcedora chegou a desmaiar ao inalar o gás jogado pela polícia. Ela foi encaminhada a um hospital público e liberada em seguida. Várias crianças correram assustadas e se perderam dos pais.

Parte do grupo que protestava do lado de fora gritava "Não à violência", além de vários xingamentos contra o governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), e a presidente da República, Dilma Rousseff (PT). As duas principais vias que dão acesso ao Castelão foram interditadas. Um grande congestionamento se formou em vários bairros de Fortaleza. Apenas duas avenidas davam acesso ao estádio.

Às 15h30, os ânimos se arrefeceram. Após o início da partida, às 16h, um pequeno grupo de manifestantes ainda resistia. Pedras e objetos foram atirados contra os policiais após o Batalhão de Choque arremessar bombas de efeito moral. Quando o grupo estava bastante reduzido, a PM avançou com a cavalaria e conseguiu acabar com o protesto. Às 17h, ocorreu um novo confronto, em menores proporções. Novamente, balas de borracha foram utilizadas. O cenário visto após o fim do protesto era de guerra. Várias barricadas em chamas e muita munição espalha pelo chão. Durante o confronto, manifestantes utilizaram materiais de construção, que estavam espalhados nas proximidades do Castelão. Caminhões do Corpo de Bombeiros estiveram no local para apagar os focos de incêndio.

O jornalista Pedro Rocha, que fazia cobertura para o Comitê Popular da Copa, levou uma bala de borracha no olho. Um repórter do Portal UOL também acabou agredido. "Havia uma barreira policial, para conter o protesto. De longe, mostrei minha credencial. Um dos guardas acenou em sinal de "pode vir". Bem rente ao muro, passei. Fui surpreendido com uma "borrachada" nas nádegas. "O que eu fiz, amigo?, questionei ao policial que me agrediu. "Passou, levou", respondeu ele. Com dor, saí andando", relatou o jornalista Luiz Paulo Montes.

O governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), lamentou o episódio. "Eu lamento profundamente o que aconteceu. A polícia, desde o começo, em nenhum momento tentou impedir a manifestação. Mas havia pessoas com ingressos comprados que tinham o direito de ir ao jogo. A PM tinha o dever de deixar que isso acontecesse. São pessoas agredidas também. Tomaram pedradas. Mas, de novo, lamento o que aconteceu", ressaltou.

De acordo com informações da Polícia Civil do Ceará, três pessoas foram presas sob justificativa de ter incitado agressão a policiais. Em razão do protesto, a Polícia Militar teve que aumentar a área de isolamento em um quilômetro. A Fifa determina um setor com raio de dois quilômetros.

Arquibancada

Dentro do Castelão, vários torcedores driblaram as regras impostas pela Fifa, que não permite manifestação política dentro dos estádios. Diversos cartazes de protestos podiam ser vistos na arquibancada. "Queremos escolas e hospitais no padrão Fifa", lia-se em um deles. Alguns torcedores levaram mensagens em inglês. A polícia recolheu alguns cartazes. No momento da execução do Hino Nacional, um pequeno grupo de pessoas virou de costas. A grande maioria do estádio continuou cantando mesmo após o sistema de som da arena ter sido desligado. Os jogadores se emocionaram. Novas manifestações estão sendo marcadas em Fortaleza para hoje e amanhã.

Brasília

Liderados pelo Movimento Passe Livre, cerca de 2 mil brasilienses marcharam da Rodoviária para a Asa Sul. Na estação 102 Sul do metrô, um grupo pulou as catracas, no único incidente. Mais de 50 mil pessoas confirmaram, pelas redes sociais, presença na manifestação convocada para hoje na Esplanada.

Da internet para a Esplanada, de novo

Os manifestantes devem se reunir no início da tarde no Complexo Cultural da República e sair antes das 17h pelo Eixo Monumental até chegar à Praça dos Três Poderes. Renato e Catarina não esperavam que a ideia deles — materializada em evento na noite da última segunda-feira, quando houve a ocupação do teto do Congresso Nacional — ganhasse tanta projeção. "Não queríamos que esse momento de mobilização se perdesse. Achávamos que a nossa manifestação teria mil pessoas. Não imaginava nunca que daria tanta repercussão", conta Catarina.

Depois da fama instantânea, eles foram procurados por pessoas ligadas a partidos políticos, mas aceitaram só a colaboração do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade de Brasília (UnB). "Não assumimos qualquer liderança, mesmo porque não é o objetivo. Colaboramos com apoio logístico e também ajudamos a conversar com o governo para garantir uma manifestação pacífica", acrescentou Nicolas Powidayko, coordenador-geral do DCE. Ontem, eles tiveram uma reunião com a Secretaria de Segurança Pública para definir detalhes de policiamento.

Além do DCE, o Acorda, Brasília! recebeu o apoio de representantes e participantes da Marcha do Vinagre, responsável por levar 10 mil às ruas na segunda-feira. Os grupos têm reivindicações e origem semelhantes, como no caso da aprovação da PEC 37. "Amanhã (hoje), vamos apoiar o Acorda. No sábado, quando faremos outra marcha, será a vez de eles nos apoiarem. Queremos levar 50, 100 mil às ruas para os governantes verem que estamos unidos", complementa Wellington Fontenelle, integrante da Marcha do Vinagre.

A ideia é que não apenas estudantes, mas gente com perfis sociais e econômicos mais variados se junte ao grupo. Inclusive quem nunca participou de movimentos sociais. Alunos do Centro de Ensino Médio 6 de Ceilândia Sul, Jonathan Lopes Oliveira e Davi Francisco Andrade, de 18 e 17 anos, irão à Esplanada. Eles contam que o colégio estará em peso na manifestação. "Principalmente nas periferias, as pessoas não se envolviam muito na luta por um país melhor. Agora, nós acordamos. Quero brigar por direitos, ter ensino de qualidade para poder competir no vestibular de igual para igual com o aluno da escola particular", disse Davi. "Comparam o nosso movimento com os caras-pintadas, mas é diferente. Nós lutamos de cara limpa", afirmou Jonathan.

A estudante de direito Samantha de Araújo Medeiros, 20 anos, escolheu sair de casa com um vestido com a estampa da Bandeira do Brasil. Era uma forma de torcer pela Seleção e uma maneira de demonstrar apoio à onda de protestos em várias cidades do país. "Moro no Gama, e o transporte público é péssimo. Ninguém nunca se interessou em resolver esse problema. É hora de colocar tudo o que estava engasgado para fora. As pessoas têm de ir para as ruas, mas sem quebrar nada para não perder a razão."

Os irmãos Leonardo e Rafael Santos, de 14 e 15 anos, moradores da Granja do Torto, apesar de nunca terem escolhido um representante político nas urnas, entendem a importância do ato de hoje. Ontem, às 16h, na hora do jogo do Brasil, eles andavam de skate pelo Conic. Mesmo fãs de futebol de Neymar, eles preferiram não assistir à partida. Era uma forma de protesto. "Os políticos dizem se importar com a educação, mas a escola liberou a gente mais cedo por causa de um jogo de futebol. Ou seja, a Seleção é mais importante do que um dia de aula", queixou-se Leonardo.

Por que eu vou à manifestação

"Eu vou por um país melhor. Quero protestar contra os péssimos serviços prestados. No meu caso, o que me afeta mais é o transporte. Para chegar ao trabalho, tenho que pegar dois ônibus e, dependendo do horário, até três. É inadmissível gastar R$ 12 por dia só para conseguir chegar ao serviço. A juventude tem que aproveitar este momento do despertar da cidadania para exigir mudanças reais."

Paulo Sanchez, 22 anos, funcionário terceirizado do Ministério da Saúde e morador do Park Way

"É a primeira vez que me envolvo em um movimento social e me sinto orgulhosa por participar de um momento histórico do Brasil. Com certeza, será um marco e trará frutos para o nosso povo. A minha principal bandeira será contra a votação da PEC 37. Não podemos admitir que um projeto tão absurdo passe como se fosse algo normal."

Cristiane Diniz, 30 anos, estatística e moradora da Asa Sul

"Eu já precisei de atendimento em hospital público e não consegui ser atendida. Não posso aplaudir um evento esportivo, no qual bilhões foram gastos enquanto milhares de pessoas morrem todos os anos por falta de atendimento. Participo de manifestações em Brasília desde os 16 anos, mas sou completamente apartidária."

Fonte: Correio Braziliense

Popularidade em queda livre

As demandas da população que tem ocupado as ruas do país para protestar e o temor com a repercussão do movimento nas eleições de 2014 acenderam a luz vermelha no Planalto. Para agravar as preocupações palacianas, as recentes pesquisas de opinião, feitas antes mesmo da onda de protestos, mostram que a popularidade de Dilma Rousseff está caindo. Levantamento do CNI-Ibope divulgado na manhã de ontem mostrou queda de oito pontos percentuais no índice de aprovação do governo, que passou de 63% para 55%. A confiança depositada na presidente e a aprovação do jeito de ela governar também caíram oito pontos.

Ontem, as reuniões começaram pela manhã. Dilma chegou às 9h25 ao Palácio do Planalto. A primeira reunião foi com o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Duas horas depois, ela convocou os assessores mais próximos para tratar do aumento da insatisfação em relação ao governo. A presidente não almoçou e só deixou a sede do Executivo às 19h20.

Na última terça-feira, Dilma fez o primeiro pronunciamento oficial sobre os protestos e, em seguida, voou para São Paulo, onde se reuniu com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva; o prefeito paulistano, Fernando Haddad (PT); o ministro da Educação, Aloizio Mercadante; o presidente nacional do PT, Rui Falcão; e o publicitário João Santana. O fato de o encontro ter reunido caciques petistas e o principal marqueteiro do partido demonstra a preocupação de Dilma com o projeto de reeleição.

O tamanho do prejuízo, entretanto, ainda não pode ser calculado. A pesquisa CNI-Ibope foi feita entre 8 e 11 de junho, antes, portanto, da explosão de protestos no Brasil, ocorridos após o dia 13, quando a polícia reagiu de forma violenta ao ato promovido em São Paulo contra o aumento na tarifa do transporte público. O sistema de ônibus e trens urbanos, aliás, não é o único ponto crítico da gestão Dilma. Mais da metade dos entrevistados reprovaram as políticas de segurança pública, de saúde, de educação, os impostos e a taxa de juros. "Saúde, educação e segurança pública são as três áreas mais desaprovadas. O que a gente vê nos protestos são questões, também, sobre esses temas. Eles geram insatisfação, mas, até o momento, não vinham afetando a popularidade da presidente. Talvez até porque são divididos entre os governos federal, estadual e municipal", afirmou Renato da Fonseca, gerente executivo de Pesquisa da CNI.

Inflação

O especialista destaca que a redução dos índices é significativa e reflete um descontentamento, principalmente, com a inflação. "A aprovação em relação à política de combate à inflação teve uma queda de 10 pontos percentuais, a mais forte entre as nove áreas que pesquisamos", afirmou.

A queda na aprovação do governo na pesquisa de junho em relação à de março foi acompanhada pelo aumento do percentual dos que acreditam que a administração é ruim ou péssima. O índice subiu de 7% para 13%, o mais alto desde o início da atual gestão. No início do mês, pesquisa Datafolha também apontou queda na popularidade da presidente em oito pontos (naquele estudo, o índice caiu de 65% para 57%). No levantamento da CNI, a redução foi de 21% entre aqueles que têm renda familiar superior a 10 salários mínimos e de 5% entre os que ganham até R$ 678.

Vem aí a "Política de Participação Social"

O governo deve lançar, até o fim do ano, uma Política Nacional de Participação Social. Segundo o secretário Nacional de Articulação Social, Paulo Maldos, a ideia está sendo analisada desde o ano passado, mas a reta final das discussões coincidiu com os protestos ao redor do país. Será criado um sistema que conectará as instâncias de diálogo com os governos federal, estaduais e municipais, tais como conferências e conselhos, e ainda agregará contribuições dos cidadãos que não façam parte dessas instâncias. (JB)

Fonte: Correio Braziliense

A busca por reconhecimento e participação política: o combustível das manifestações. Entrevista especial com Luiz Werneck Vianna

“É evidente que temos que passar por reformas políticas importantes no sentido de que o sistema político se abra à participação”, defende o sociólogo e professor da PUC-Rio

“O que acontece nessas manifestações é uma recusa”. A afirmação é do professor e pesquisador Luiz Werneck Vianna (foto abaixo) ao comentar sobre a onda de protestos que se disseminou pelas principais capitais brasileiras na última segunda-feira, dia 17-06. “Ao longo desses anos, essa geração cresceu vendo e se confrontando com uma situação em que os partidos e a classe política em geral se desmoralizavam a cada dia (...). Tudo isso foi distanciando a população, especialmente os jovens, da vida institucional. Eu insisto: o problema todo é auscultar de forma correta os sinais que estão vindo e agir da forma mais tempestiva possível, pois há o risco de não haver mais tempo”.

Para ele, as manifestações expressam "um sentimento de exclusão da arena pública" e "a busca por reconhecimento social". "As pessoas querem ser reconhecidas, querem que sua dignidade e identidade sejam respeitadas, legitimadas. O tema do reconhecimento, por um lado, e o da participação política, por outro, são o combustível dessa movimentação", avalia.

Na entrevista concedida por telefone para a IHU On-Line, Werneck Vianna afirma torcer para que o processo desses dias “sirva como uma sinalização poderosa para que mudanças importantes na política brasileira comecem a ser encaminhadas. É um sinal de alerta. Se nada for feito a tempo, se é que ainda há tempo, esse movimento pode ter um desfecho muito ruim. É preciso evitar (...) que 2013 tenha o mesmo desfecho que 1968, isto é, uma juventude desencantada com a política, radicalizada e que procure formas inadequadas de resolução de problemas”.

Luiz Werneck Vianna é professor-pesquisador na PUC-Rio. Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo, é autor de, entre outros, A revolução passiva: iberismo e americanismo no Brasil (Rio de Janeiro: Revan, 1997); A judicialização da política e das relações sociais no Brasil (Rio de Janeiro: Revan, 1999); e Democracia e os três poderes no Brasil (Belo Horizonte: UFMG, 2002). Sobre seu pensamento, leia a obra Uma sociologia indignada. Diálogos com Luiz Werneck Vianna, organizada por Rubem Barboza Filho e Fernando Perlatto (Juiz de Fora: Ed. UFJF, 2012).

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Como podemos compreender as manifestações sem lideranças que ocorreram ontem e na última semana em várias capitais brasileiras? O que elas significam?

Werneck Vianna – De um lado, o afastamento imenso da população, em especial dos jovens, da política e dos partidos políticos. Esse é o primeiro ponto, muito evidente. O porquê do movimento, aparentemente por um motivo quase banal – o aumento irrisório do preço das passagens –, ter desencadeado esta proporção só pode ser entendido como um sentimento que vem se acumulando de exclusão e insatisfação. Ao lado disso, se nas ruas não há vestígios de organização, as redes sociais estão absurdamente dominadas por um diálogo interminável a respeito da situação da geração atual, que tomou forma a partir de um episódio que podia ser entendido como algo de menor expressão. O fato também de terem sido rechaçados por uma repressão muito forte, após seus primeiros movimentos, incendiou a imaginação. Enfim, essa geração se pôs no mundo e está aí a sua marca.

Por outro lado, é preciso considerar que esse país tem passado por mudanças muito significativas na sua composição social, na sua demografia, na sua estrutura de classes. Há uma nova classe média, não a classe dita “C”, relacionada a esses programas governamentais, como o Bolsa Família. É uma classe média dos novos serviços, das novas ocupações, que é muito diferente das classes médias tradicionais, tal como havíamos conhecido. Trata-se de uma classe média de um novo tipo. E ela está sem perspectiva quanto ao seu projeto de vida. Além do mais, os setores baixos dessa classe média estão cultivando um ressentimento muito grande. Este ressentimento se manifestou na raiva com que essas manifestações se deram.

IHU On-Line – Na Espanha, as manifestações dos indignados do movimento 15M demonstraram um desconforto econômico, político e social. As mesmas razões motivam as manifestações no Brasil, ou elas são de outra ordem?

Werneck Vianna – Acho que não são as mesmas razões. O tema aqui é mais político e cultural. É um sentimento de exclusão da arena pública. A falta de participação dessa geração na política é algo que chama a atenção. Por outro lado, a busca por reconhecimento social desses grupos emergentes das classes médias é muito forte e o tema do reconhecimento é muito associado ao tema do ressentimento. As pessoas querem ser reconhecidas, querem que sua dignidade e identidade sejam respeitadas, legitimadas. O tema do reconhecimento, por um lado, e o da participação política, por outro, foram o combustível dessa movimentação. Não creio que isso esteja vinculado diretamente a causas econômicas. Até porque, como se observa, do ponto de vista da economia, há no país – e as pesquisas indicam isso – um sentimento de satisfação, de que a vida tem melhorado e pode melhorar ainda mais. A França da Revolução Francesa – anotou Tocqueville no seu trabalho clássico O Antigo Regime e a Revolução – estava em um momento de expansão econômica. Diz ele, nessa obra, “nunca o campesinato teve tanto acesso à propriedade como naquele momento”. Havia um sentimento de melhoria do ponto de vista econômico. No entanto, veio a revolução. O que ele dizia é que quem ficasse procurando as causas a partir desse ângulo jamais entenderia a Revolução Francesa. Ela deveria ser entendida pela sua especificidade política naquele momento. Com isso, ele quis dizer que o absolutismo francês havia desfeito todas as organizações intermediárias vigentes na França tradicional e a massa do povo ficou isolada, fragmentada, antepondo-se diretamente ao Estado.

Devemos procurar as origens desse movimento que ainda não terminou e não se sabe para onde vai. Fora as redes sociais, não há nada que esteja organizando a sociedade, especialmente essa multidão de jovens, que vem acorrendo à vida social. Não há clubes, não há partidos. Estes (os partidos) vivem inteiramente orientados para sua reprodução política, eleitoral, não têm trabalho de consolidação, de nucleação. A própria Igreja Católica, que antes cumpria um papel muito importante nessa organização, hoje tem um papel muito pequeno. A sociedade está inteiramente isolada da esfera pública. São dois mundos que não se tocam. Por toda a parte viam-se faixas com os seguintes dizeres: “nós não acreditamos na representação que aí está”. Foi um movimento dirigido também contra essa política. Temos que procurar as origens desse processo, que mal começou, nessa forma de relação entre Estado e sociedade, entre política e sociedade. Está evidente que temos que passar por reformas políticas importantes no sentido de que o sistema político se abra à participação. Esses partidos que estão aí foram chamados pelo ministro Joaquim Barbosa de “partidos de mentirinha”. Embora ele seja muito midiático, nesse ponto não há como discordar dele.

Um movimento desses, multitudinário, que vai às ruas, sem lideranças conhecidas, é um perigo. Tudo pode acontecer. Abre-se campo para a selvageria. Com quem negociar? Tomara que o processo desses dias – de ontem (17-06-2013) em particular – sirva como uma sinalização poderosa para que mudanças importantes na política brasileira comecem a ser encaminhadas. É um sinal de alerta. Se nada for feito a tempo, se é que ainda há tempo, esse movimento pode ter um desfecho muito ruim. É preciso evitar – e escrevi isso em um artigo que saiu hoje (18-06) no Estadão – que 2013 tenha o mesmo desfecho que 1968, isto é, uma juventude desencantada com a política, radicalizada e que procure formas inadequadas de resolução de problemas.

IHU On-Line – E quais seriam as formas adequadas?

Werneck Vianna – Participação política e organização social.

IHU On-Line – Ainda há um cenário propício para isso?

Werneck Vianna – Se não houver, as coisas irão mal. O sinal que soou é muito forte para não ser ouvido e bem interpretado. A política de presidencialismo de coalizão, da forma como a praticamos, demonstrou seu esgotamento, levou à desmoralização da política com o “toma lá, dá cá” e a compra de votos.

IHU On-Line – O que significa uma manifestação cujo grito de guerra seja “povo unido não precisa de partido”? Trata-se da falência da política representativa? Como pensar uma política sem partidos?

Werneck Vianna – O que acontece nessas manifestações é uma recusa. Ao longo desses anos, essa geração cresceu vendo e se confrontando com uma situação em que os partidos e a classe política em geral se desmoralizavam a cada dia. Basta ver o noticiário dos jornais: corrupção disso, negociata daquilo. Tudo isso foi distanciando a população, especialmente os jovens, da vida institucional. Eu insisto: o problema todo é auscultar de forma correta os sinais que estão vindo e agir da forma mais tempestiva possível, pois há o risco de não haver mais tempo. O que temos a comemorar nesta terça-feira é um fato importantíssimo: de que esse movimento ainda não carrega um morto. Se tivesse havido conflitos mais severos, com mortos, não se sabe como o país teria acordado hoje. Agora é preciso fazer um balanço do que vem acontecendo e apresentar alternativas e soluções. Nisso, a imprensa tem um papel muito importante de localizar entre eles lideranças, fazer com que elas falem, identificá-las. Porque evidentemente as lideranças podem estar subterrâneas. Afinal, deve haver pessoas que estejam exercendo uma liderança silenciosa sobre esse processo todo. 2013 pode ser o começo de uma cena nova, significando a entrada dessa geração na política institucional brasileira. Ou, contrariamente, com um mau desfecho, uma má solução, isso pode acabar como em 1968, radicalizando a juventude e afastando-a da vida política.

IHU On-Line – Que modelo de política se pode vislumbrar a partir dessa característica mais participativa da população, sem lideranças específicas?

Werneck Vianna – Isso se forma no calor da hora. Pode levar tempo, é preciso ter calma, inteligência, para poder enfrentar uma situação dessas. Não ter pressa. Essa crise vai se alongar. Grande parte desses jovens que estão nas ruas é estudante. Eu vi na universidade em que eu trabalho eles se organizando para a passeata. Acredito que hoje eles estarão comentando o que se passou ontem. Nesse processo de diálogo, de comunicação entre eles mesmos, e da comunicação entre eles e nós, intelectuais, políticos e imprensa, a coisa vai se sedimentando, criando uma nova cultura. O fato é que estamos em um deserto cultural, político, num Saara monumental em que tudo o que era vivo foi levado para dentro do Estado, através desta cooptação política desenfreada que esse governo – que é Estado – desencadeou. E esses movimentos sociais cooptados (como ficou claro) não têm a menor condução dos processos reais. O que eles fizeram ontem? Foram capazes de dar diretivas? Não. Esses movimentos perderam a aura, a autenticidade, a legitimidade, perderam bases.

IHU On-Line – Gilberto Carvalho disse que o governo está preocupado com os protestos e quer garantir diálogo com os movimentos para entender "anseios importantes" que têm levado as pessoas a se manifestar. O governo foi pego desprevenido?

Werneck Vianna – O governo e todos nós vamos ter que entender. O que eu posso dizer é que o acontecimento foi de tal proporção que os seus próprios participantes, hoje, devem estar na condução, nas escolas, nas universidades, discutindo o que houve ontem e o que fazer. O que está claro é que a grande massa desse movimento reprimiu a violência de alguns grupos. Ali se misturou tudo. Os setores mais ressentidos tiveram a oportunidade de manifestar sua fúria, num protesto pela sua exclusão, pelo fato de não serem reconhecidos, e no protesto pelas políticas públicas que não funcionam, como tantas faixas falavam: “não queremos Copa, queremos saúde e educação”.

Essa questão da Copa demonstrou ser realmente um desastre, com gastos suntuosos para a organização de um espetáculo de tipo europeu, que não tem nada a ver com a tradição do futebol brasileiro. As pessoas se sentiram excluídas também nos estádios. De modo que a chave não é econômica. Ela é fundamentalmente política e cultural.

IHU On-Line – O atual cenário de manifestações pode determinar as eleições e a sucessão presidencial ou não?

Werneck Vianna – Certamente terá influência. Ainda não há como saber qual será. Agora, a candidatura da Marina Silva certamente será bafejada por esse tipo de movimento, porque isso tem muito a ver com a cultura que ela representa. Basta ver o próprio nome do partido: Rede. Isso não quer dizer que ela vá ganhar as eleições. O futuro a Deus pertence e ele está para ser criado por nós agora. O fato é que essa forma de administração da questão social assimétrica, de cima para baixo, através de políticas de cooptação, levou a esse descalabro, a essa distância entre o Estado e a sociedade e a essa destituição do papel dos movimentos sociais tradicionais. Basta ver a situação da UNE, que assistiu a tudo isso de camarote, olhando de binóculo esses acontecimentos.

Fonte: IHU On-Line,

Variados e principais efeitos da federalização dos protestos – Jarbas de Holanda

O gatilho das tarifas de transporte desdobrou-se, rapidamente e em escala surpreendente, em manifestações nacionais que misturam demandas ligadas às carências também de outros serviços (de saúde, de educação) a denúncias contra corrupção no uso de recursos estatais e no “desvio” deles (exemplificado nos altos gastos com os estádios para as duas Copas da Fifa). Demandas e denúncias potencializadas nas redes sociais pelo clima negativo decorrente do agravamento dos problemas da economia, bem como por aguda rejeição do sistema político-partidário e das distorções do seu funcionamento. E pelo que a Folha de S. Paulo, em editorial de ontem, identificou como “fortes sinais de que se rompe a bolha do otimismo que levou Dilma Rousseff ao Planalto”.

A rejeição aos partidos e aos políticos em geral, dominante entre os jovens da classe média, reflete a baixa credibilidade deles (sejam governistas ou de oposição), abrindo espaço para a recusa do papel institucional do Legislativo e para uma implícita defesa da chamada “democracia direta”. Feita comumente em protestos urbanos que irrompem de repente em vários países (como os da Primavera Árabe pró-democracia). Mas que é instrumentalizada com sucesso por projetos populistas autoritários como os do chavismo ou a ele associados. O peso ganho pelas palavras de ordem contra a “classe política” favoreceu atos violentos contra a Assembleia Legislativa do estado do Rio e a quase invasão do Congresso Nacional, praticados por grupos radicais ao final de manifestações amplas e pacíficas.

A temática da corrupção passou a ter relevância nos cartazes e slogans dos protestos com o ataque à PEC 37, que, se aprovada, restringirá os poderes do Ministério Público nas investigações de irregularidades que envolvem políticos e governantes, impedindo-o de instaurar inquéritos. Trata-se de projeto do deputado do PT, Lourival Mendes (reforçado na Câmara por englobar interesses de parlamentares de outros partidos afetados pela atuação de promotores), constituindo uma das reações dos petistas ao processo do mensalão e à denúncia do Procurador Geral da República, Roberto Gurgel. A defesa da continuidade do papel do Ministério Público na apuração de tais irregularidades ou escândalos é uma importante e corretíssima bandeira assumida pela onda de manifestações sociais.

O caráter pacífico das enormes manifestações de anteontem começou a ser contraposto por atos violentos e de vandalismo praticados já na própria segunda-feira no Rio, em Brasília e outras cidades. E que assumiram grandes e graves dimensões nas realizadas ontem em São Paulo. Com o cerco à sede da prefeitura e a depredação de seus portões e janelas, seguidos de incêndio a veículo da rede Record e de saques a numerosos estabelecimentos comerciais. Só interrompidos, por intervenção da tropa de choque da Polícia Militar, que hoje volta a ser acionada para conter violências e bloqueios de ruas e rodovias, por grupos radicais de manifestantes em várias áreas da capital e da Região Metropolitana. Nesse novo quadro, o papel da Polícia Militar volta a ser cobrado pela sociedade e tem condições políticas de ser posto em prática.

 E a federalização dos protestos – estendidos anteontem a 12 estados e já chegando a crescente número de municípios – além do desgaste para os prefeitos e governadores diretamente responsáveis pelo reajuste de tarifas (como Fernando Haddad e Geraldo Alckmin, em São Paulo, Eduardo Paes e Sérgio Cabral, no estado do Rio), ademais disso passou a atingir fortemente a presidente Dilma Rousseff. Como chefe de governo ao qual são atribuídos os “desvios” de vultosos recursos para os gastos com as Copas da Fifa e a responsabilidade maior pelos crescentes problemas da economia. E como candidata à reeleição, sufocada por esses problemas, pelo caráter fisiológico da aliança em que busca apoiar-se e pelo risco de retomada de pressões petistas por sua substituição por Lula. Cenário que só não é mais grave eleitoralmente para ela porque a baixa credibilidade debitada nos protestos aos partidos e lideranças políticas é extensiva aos de oposição. Tendo por isso implicações negativas também para o presidenciável do PSDB Aécio Neves. Quanto à presidente, sua situação, agora, foi avaliada assim pelo jornalista Clóvis Rossi, em artigo na Folha de anteontem: “O que já está evidente é que a vaia, ouvida no sábado no estádio Mané Garrincha saiu às ruas. Não adianta o petismo e a mídia chapa-branca tentarem dizer que a vaia partiu da elite... Nas ruas do Rio anteontem, havia uma vaia clara, na forma de uma faixa: “Fora Dilma / Fora Cabral”.

Jarbas de Holanda, jornalista

Um país em protesto: Nas ruas e em paz

Movimento aberto em São Paulo e que se espalhou pelo País pelas redes sociais tem ato hoje no Recife. Hora de entender o valor da luta e da serenidade para atingir objetivos.

Um grito para a história

Recifenses se reúnem hoje no Centro para exigir melhores serviços públicos e e apelam para que tudo saia na paz

Recife, 20 de junho de 2013. No futuro, esta data pode figurar nos livros de história. Hoje, a partir das 16h, a cidade reforça o grito iniciado duas semanas atrás em São Paulo. O ato começou pedindo redução nas tarifas de ônibus na capital paulista, mas virou um manifesto nacional contra a corrupção e por melhorias nos mais diversos setores, de saúde a educação, de transporte público a democracia. A página do evento recifense no Facebook, epicentro das discussões, já conta com quase 100 mil internautas confirmados. A organização espera pelo menos 25 mil pessoas na concentração, na Praça do Derby, área central do Recife. É lá que estarão as caras, os cartazes e as cores de uma manifestação que, por consenso, deve bradar em paz e pela paz.O percurso só será definido de última hora pelas lideranças do movimento, mas os destinos mais prováveis são Marco Zero, pela Avenida Conde da Boa Vista, ou Centro de Convenções, sede provisória do governo do Estado, pela Avenida Agamenon Magalhães. Grupos se articulam para ir juntos ao Derby, saindo dos quatro cantos da cidade e de outros municípios do Grande Recife. Pelas redes sociais, ao menos 4 mil pessoas prometem se encontrar às 14h no cruzamento entre a Avenida Rui Barbosa e a Rua Amélia, nas Graças, Zona Norte.

Membro do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) e integrante da Frente de Luta pelo Transporte Público, o estudante Pedro Josephi diz que a manifestação principal será a saída do Derby, mas que haverá ativistas posicionados estrategicamente em alguns Terminais Integrados (TIs) do Recife. "Não podemos revelar todos os direcionamentos, mas faremos outras ações, como barricadas nos TIs. São várias frentes de atuação", afirma.

Reunião na noite de anteontem liderada pelo procurador-geral de Justiça, Aguinaldo Fenelon, e que contou com a participação de líderes do movimento e representantes do poder público, discutiu a importância de manter o pacifismo do protesto. Outro encontro realizado anteontem, no Tribunal de Justiça, definiu que haverá um plantão especial do Judiciário no Fórum do Recife, hoje, das 16h à meia-noite. A Defensoria Pública do Estado também vai realizar plantão: três vans em pontos fixos serão disponibilizadas para prestar assistência jurídica aos manifestantes.

Motoristas e cobradores de ônibus cruzarão os braços entre 16h e 19h em apoio à manifestação. O protesto ainda será engrossado por artistas, médicos e representantes do Ministério Público e da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Até a Associação Pernambucana dos Cabos e Soldados (ACS-PE) estará do lado do movimento e vai orientar PMs a atuar com tranquilidade.

Diante do temor de o protesto pacífico descambar para atos de vandalismo, como ocorreu noutros locais, empresas, comércio, escolas e universidades reduziram o expediente. A Secretaria de Defesa Social (SDS) alerta que pessoas podem se infiltrar na multidão para depredar o patrimônio público. Mas o movimento garante que o pacifismo é bandeira de que não abrem mão. Tanto que a concentração se dará diante do Comando-Geral da Polícia Militar.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Aécio, Campos e Marina firmam pacto contra o PT

Prováveis candidatos de oposição na disputa presidencial do ano que vem, os presidentes do PSDB, senador Aécio Neves (MG), do PSB, Eduardo Campos, e a ex-ministra Marina Silva uniram esforços contra um adversário comum, o PT. E vêm conversando sobre uma estratégia única de atuação desde que a Câmara votou e aprovou em regime de urgência, em abril, o projeto de lei que cria obstáculos ao acesso de novos partidos ao Fundo Partidário e ao tempo de propaganda política na TV.

De acordo com informações de auxiliares dos três, eles têm trocado telefonemas pelo menos uma vez por semana. Falam da necessidade de manter a união entre si, fixando-se principalmente no combate à proposta que cria a dificuldade para criar novos partidos. A ideia é atrasar a votação no Senado até outubro, quando a lei, mesmo aprovada, não valeria para 2014.

Nessa estratégia, eles conseguiram retardar a votação da proposta no Senado e ganharam quase um mês e meio de prazo. Ação do líder do PSB, senador Rodrigo Rollemberg (DF), levou o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), a suspender liminarmente no dia 24 de abril a votação da proposta pelos senadores. Na semana passada, o STF começou a votar o mérito da ação, suspendendo a sessão quando o placar estava em 5 a 4 pela autorização para que o Senado possa votar o projeto. Mas os ministros deixaram no ar a opinião de que no mérito o texto é inconstitucional.

Gilmar Mendes insistiu na inconstitucionalidade do projeto. Durante o lançamento do Broadcast Político, na terça-feira, no Congresso, ele disse não ter dúvidas de que a proposta que dificulta a criação de novos partidos vai ser derrubada quando for apreciado o mérito. "Ficou muito claro que o projeto é dirigido para atingir determinada situação. É casuístico", disse ele. A proposta, apresentada pelo deputado Edinho Araújo (PMDB-SP), foi apoiada pelo Palácio do Planalto. Seu efeito será sufocar o Rede Sustentabilidade, de Marina Silva.

"Pensaram que iam nos dividir. Mas nós nos unimos", disse ao Estado o senador Aécio Neves, que se encontrará na segunda-feira com Eduardo Campos, no Recife. A reunião entre os dois está sendo comemorada como um marco nas relações entre os prováveis candidatos, pois ocorrerá no Palácio das Princesas, sede do governo de Pernambuco. Portanto, será um encontro oficial. As assessorias de Aécio e Campos lembraram que há meses o ex-ministro José Dirceu tenta um encontro com o governador de Pernambuco. Sem êxito. A intenção de Dirceu é convencer Campos a não ser candidato em 2014.

A partir de julho, Aécio Neves pretende fazer duas viagens para São Paulo e duas para os Estados, a cada mês. "Em São Paulo, primeiro vou fazer uma reunião com a bancada estadual do PSDB. Depois, vou seguir um cronograma que está sendo planejado, para visitas às cidades", antecipou Aécio Neves.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Eles não nos representam, eles, sim!

Pressão em SP, RJ e BH deu certo. E agora?

As duas maiores capitais brasileiras voltaram atrás e anunciaram reduções nos preços das passagens do transporte público, motivo inicial da onda de protestos que se alastra pelo país. Em São Paulo, após duas semanas de manifestações, a prefeitura e o governo estadual baixaram de R$ 3,20 para R$ 3 as tarifas de metrô, trens e ônibus. No Rio, passagens de metrô, barca, ônibus e trens também serão reduzidas. Em BH, a prefeitura enviará à Câmara Municipal projeto para isentar o transporte coletivo do pagamento de ISS, para baixar as passagens. Resta saber se tudo isso será suficiente para encerrar a mobilização nas ruas.

A infiltração de vândalos e criminosos nos protestos em BH e outras cidades do país é repudiada pelos próprios participantes. Ontem à tarde, no Centro, manifestantes ordeiros vaiaram e chegaram a partir para a briga contra encapuzados que soltavam bombas. E aplaudiram a polícia quando quatro deles foram detidos. Na noite anterior, foram presos 12 acusados de depredações e saques. Segundo a PM, nenhum deles estuda outra batalha e nove tinham ficha criminal inclusive três menores. Eles e outros bandidos deixaram um rastro de quebradeira, roubo, incêndios e pichações, principalmente na Praça Sete e prefeitura. Até o início da noite de ontem, não foram registradas ocorrências de violência durante as manifestações.

Protesto sim, violência não

Maioria dos manifestantes se mobiliza para barrar ataques de vândalos e ajudar Polícia Militar a prendê-los durante protestos

Daniel Camargos e Tiago de Holanda

"Cara limpa, cara limpa", gritaram os manifestantes, ontem, depois que um grupo de vândalos, com os rostos cobertos por camisas, quebrou a vidraça de uma loja de produtos naturais na Avenida Cristóvão Colombo, na Savassi, e furtou potes de suplementos alimentares. O pedido para um protesto sem violência fechou mais um dia de manifestações em Belo Horizonte, marcado pela concentração e passeatas de pelo menos 10 mil pessoas que começaram no início da tarde e terminaram à noite na Praça Sete, se estendendo para o Viaduto Santa Tereza, a Praça da Assembleia e outras regiões.

A Polícia Militar informou que também está atenta à atuação de vândalos durante as manifestações. Na noite de anteontem, por exemplo, 12 pessoas foram presas em flagrante por depredação, sendo nove com ficha criminal. E ontem houve novas prisões de suspeitos de crimes.

Os atos de violência durante os protestos, principalmente de criminosos infiltrados, são uma preocupação crescente de quem está indo às ruas da capital pacificamente por causas diversas. Mesmo sem uma estratégia conjunta para lidar com o problema, a ideia geral é abordar na hora quem pretende ou começa a agredir ou depredar.

Foi o que aconteceu na noite de ontem. Às 20h40, os manifestantes chegaram à Praça da Savassi. Após uma bandeira do Brasil ser pendurada em um poste, a multidão cantava o Hino Nacional, quando vândalos subiram a Cristóvão Colombo, em direção à Avenida do Contorno. Eles colocaram fogo em sacos de lixo na calçada e quebraram a vidraça da loja. Rapidamente, a multidão reagiu gritando: "sem vandalismo".

Além dos apelos, um grupo correu para frente da loja e fez uma corrente humana de braços dados para impedir os saques. Nesse momento, manifestantes e vândalos entraram em confronto, mas, com a chegada de mais gente contrária às depredações, os criminosos fugiram. Quando a polícia chegou foi informada de que ali só havia manifestantes e que os baderneiros haviam corrido. Começou então o apelo da maioria para que outros manifestantes tirassem as camisas e máscaras dos rostos. Por volta de 21h, eles retornaram para a Praça Sete. Exausta pela caminhada, a maioria se sentou no chão e depois se dispersou aos poucos.

Na noite de terça-feira, manifestantes já haviam tentado sem sucesso impedir a ação dos encapuzados, que atacaram a sede da prefeitura, lojas, agências bancárias e ônibus e outros veículos,. prova de que a resistência ao vandalismo e á violência é crescente entre a maioria.

O que se viu ontem nas ruas e praças foi muita gente com os rostos pintados de verde e amarelo, bandeiras do Brasil, diversas reivindicações – do passe livre estudantil à destinação de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) para as áreas de educação e saúde e muitos cartazes condenando a violência.

"Vandalismo não me representa", lia-se no cartaz erguido pelo estudante Pedro Cordeiro, de 17. "O pessoal tem um raiva contida da corrupção mais, mas os vândalos não nos ajudam a conseguir as mudanças que queremos. Falta liderança para motivar as pessoas a evitarem esse tipo de coisa", analisa.

Repúdio crescente

A empresária Alice de Faria, de 24, foi para a manifestação acompanhada do marido, o também empresário Hernane Afonso, 26, e dos filhos Rodrigo e Erick, de 6 e 3. Os quatro foram a todas manifestações, desde segunda-feira. "Esses casos de violência são isolados e envolvem pouca gente. Costumam ocorrer mais tarde, quando a maioria já foi embora. O pessoal tenta conter, mas acaba recuando, com medo de se machucar", observa. "Isso acaba ofuscando a beleza do movimento, mas a gente que está na paz vai conseguir passar nossa mensagem", disse a moça.

Emocionados, ela e Hernane choraram quando Erick, sentado nos ombros do rapaz, ergueu um cartaz com a inscrição "Eu mereço um país melhor" e foi ovacionado pela multidão em volta. "Ficamos emocionados. As crianças também têm o direito de lutar", disse Hernane.

Fonte: Estado de Minas

Algumas explicações - Merval Pereira

Prosseguindo na tentativa de entender os últimos acontecimentos, trago hoje para os leitores a opinião de dois cientistas políticos. Octavio Amorim Neto, da Fundação Getulio Vargas do Rio, lembra que há uma regra da política que finalmente se cumpre no Brasil: quando a oposição é impotente no parlamento, acaba indo para as ruas.

A demora para que isso acontecesse tem duas explicações: o governo Dilma é o que tem a oposição mais fraca desde a redemocratização do país em 1985. E, sendo originalmente de esquerda, controla quase todos os grandes sindicatos e movimentos sociais.

Sob fortes governos de centro ou de direita, a oposição de esquerda tem todo o incentivo para se manifestar intensamente nas ruas, como o PT fez durante os dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso. Já a atual oposição no Brasil, constituída por PSDB (centro) e DEM (centro-direita), não tem capacidade organizacional nem capilaridade social para mobilizar as pessoas para tomarem as ruas.

Octavio Amorim Neto diz que não é à toa que as atuais passeatas no Brasil, além de terem demorado a acontecer, não têm liderança visível e têm propostas muito difusas. Essas seriam, segundo o cientista político, as "condições necessárias" para movimentos desse tipo.

Já as "condições suficientes" têm a ver, segundo ele, com a carestia que agora atormenta o país, os péssimos serviços públicos, a começar pelo transporte, apesar da altíssima carga tributária (36% do PIB, a maior do mundo em desenvolvimento) e a corrupção que grassa a política do país.

Para Amorim Neto, o aumento das tarifas dos transportes públicos, a violência da polícia de São Paulo contra os manifestantes na semana passada, e o início da Copa das Confederações "constituíram uma bela oportunidade para que as condições necessárias e suficientes se somassem e ensejassem o espetáculo que agora vemos".

Já Nelson Paes Leme vê os acontecimentos como o fechamento do ciclo da Nova República, cujo apogeu se deu, na sua visão, com a transição de Fernando Henrique para Lula, dando sequência à estabilidade monetária e às políticas de inclusão social possíveis, "mas absolutamente em descompasso com as gritantes desigualdades da sexta economia do mundo que, segundo estimativas do FMI, deverá se transformar na quarta até 2030".

Não houve, por outro lado, ressalta Paes Leme, o ingente e indispensável enxugamento da máquina do Estado. "Ao contrário, o que se viu foi seu agigantamento corporativo e seu fatiamento fisiológico partidário em feudos medievais para apoio parlamentar, sem falar na corrupção".

Isso se reflete, naturalmente, lembra ele, na péssima qualidade dos serviços públicos essenciais, como saúde, educação e segurança. Também na infraestrutura, não apenas com a precariedade dos transportes urbanos, mas dos nossos portos, aeroportos, ferrovias, rodovias, hidrovias etc.

"A reforma do Estado, a meu ver, é iminente e inexorável, com investimentos de peso nessas áreas, gerando farta, urgente e indispensável criação de empregos". Por outro lado, Nelson Paes Leme considera que o fato de não ter havido uma reforma política imediatamente após a reconquista da democracia representativa, cujo corolário foi a edição da nossa Constituição de 88, "resultou, junto com a crescente corrupção das autoridades públicas em nível alarmante, num distanciamento explosivo entre Estado e sociedade".

Aí estava o ovo da serpente, diz Paes Leme, pois todas as vezes em que o Estado se distancia da sociedade, historicamente, esta vai para as ruas com maior ou menor virulência. "A própria inorganicidade deste movimento é a prova maior da obstrução dos tradicionais canais de comunicação entre sociedade e Estado: os partidos políticos. Os manifestantes arrancam as bandeiras dos partidos das mãos dos (pouquíssimos) militantes que ousam se infiltrar nos imensos e espontâneos movimentos de rua convocados pela internet".

Nelson Paes Leme está convencido, porém, de que novas lideranças surgirão, "por dentro dessa movimentação dialética, para representar legitimamente a sociedade, reformar o Estado e a representação".

Fonte: O Globo