quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Ao celebrar 20 anos do Real, PSDB coloca resgate da era FHC no centro da campanha

Raquel Ulhôa

BRASÍLIA - Em sessão solene do Congresso para homenagear os 20 anos do Plano Real, realizada ontem, o PSDB reforçou o empenho pelo resgate do legado do governo Fernando Henrique Cardoso. Após ter sido banida das campanhas do partido nas últimas três eleições presidenciais, a herança de FHC é agora apresentada como um dos principais suportes da candidatura do senador Aécio Neves (MG) em 2014. Além do ex-presidente tucano, principal homenageado, também participaram dois integrantes da equipe de economistas que formulou o Plano Real, Edmar Bacha e Gustavo Franco.

Proposta por Aécio, presidente nacional do PSDB e pré-candidato do partido à Presidência da República, a homenagem ganhou ares de pré-lançamento de sua candidatura ao Palácio do Planalto. "Precisamos de um novo choque de esperança e confiança, como aquele que o Plano Real produziu há 20 anos", afirmou no discurso. "A verdade é que os 12 anos de governo do PT levaram o Brasil a estar hoje, mais uma vez, mergulhado em um ambiente de desesperança e descrença no futuro", disse Aécio. Ele afirmou que "sucumbe o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), humilha-se a Petrobras, debilitam-se as contas públicas, soterradas sob maquiagens e malabarismos e a desindustrialização faz o país retroceder e drena o dinamismo da economia do país", continuou.

O senador homenageou o então presidente Itamar Franco, que lançou o Plano Real, idealizado por equipe liderada por FHC, na ocasião ministro da Fazenda. E criticou os adversários do Plano Real, que classificou de "pescadores de águas turvas" que torciam para o plano não dar certo e o acusavam de "estelionato eleitoral".

Em seu pronunciamento, FHC relatou a concepção do plano e as dificuldades enfrentadas para seu lançamento. Fez contundentes críticas aos governos do PT, especialmente à atual condução da política econômica, e defendeu "renovação" e "sangue novo" no comando do país. "Está na hora! O Brasil está precisando de ar novo, de sangue novo".(...) "Quando as ruas reclamam, quando os empresários reclamam, quando os políticos reclamam, quando as donas de casa reclamam que algo está desengonçado, é hora de termos humildade. Aos que hoje mandam, em vez de se cerrarem nos seus escritórios e pensarem que tecnocraticamente resolvem as questões, digo que é hora de se abrirem, de abrir o coração e dizer a verdade", disse.

O ex-presidente reconheceu que muita coisa foi feita após o Plano Real e que houve avanços, como a expansão, pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva, das bolsas criadas em seu governo. Referiu-se ao Bolsa Família. Disse que o PT fez muita coisa para "recriar a confiança" dos mercados, que "ficaram possuídos por uma eventual eleição do PT".

"O Brasil vai avançando, e é bom que avance. Todavia, há momentos em que é preciso tomar novos rumos. Nós estamos chegando a um desses momentos", afirmou. Para FHC, a economia contemporânea é a economia do conhecimento e requer inovação. Disse que a taxa de crescimento da produtividade é quase nula no Brasil e que "chegou o momento de uma nova palavra, mais moça, mais forte, abrir horizontes novos para o Brasil".

FHC comparou o programa de concessões de rodovias e aeroportos às privatizações das telecomunicações, realizadas em sua gestão. "O que eu fiz com a telefonia? Não foi concessão? E a mesma coisa?", afirmou. Criticou o enfraquecimento das agências reguladoras e sua infiltração por "interesses de todos os tipos".

Após a cerimônia, na sessão ordinária do Senado, alguns senadores petistas rebateram as críticas dos tucanos. Gleisi Hoffmann acusou FHC de "tentativa de desmerecimento" de Lula, ao dizer que negaram apoio ao Plano Real. A senadora afirmou que não cabe a governo pedir apoio da oposição para seus planos. E afirmou que, nove anos depois, ao assumir o governo, Lula e o PT deram apoio prático ao plano, reafirmando os pressupostos da estabilidade.

Nenhum petista participou da sessão solene, que foi presidida pelo senador Renan Calheiros (PMDB-AL) e teve a presença do presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) e parlamentares de outros partidos. Na saída, FHC atribuiu a ausência a "arrependimento, por não terem apoiado desde o início". Para Aécio, os governistas não foram porque acham que o Brasil começou em 2003. "Não digo que seja ingratidão. Mas o PT sempre teve uma dificuldade enorme em reconhecer as vitórias dos outros. Não vieram pelo constrangimento de ter ficado contra o Real, contra a Lei de Responsabilidade fiscal e outros avanços que o Brasil alcançou graças do PSDB", disse.

Como presidente de honra do PSDB, o ex-presidente FHC viajou de São Paulo para Brasília em avião pago pelo partido. Estava acompanhado de equipe de segurança e assessores. Após a sessão, retornou para São Paulo.

Fonte: Valor Econômico

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