segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Partidos atualizam cursos de formação

Antigas cartilhas de PT e PSDB são substituídas por aulas a distância com linguagem jovem

Pedro Venceslau e Lilian Venturini

A perspectiva de uma campanha pautada pelas manifestações de junho e marcada por novos protestos está levando os partidos a remodelarem suas estratégias de formação política da militância. Tucanos e petistas estão substituindo as tradicionais cartilhas por cursos a distância, nos quais são usados vídeos em linguagem de videoclipe. Além disso, estão ampliando seu currículo "doutrinário" e promovendo quadros jovens a postos chaves de direção.

No caso do PSDB, o principal foco em 2014 do Instituto Teotônio Vilela, organismo responsável pela formação doutrinária da militância partidária, será a juventude. Além de ampliar sua estrutura, o número de cursos e a grade de eventos em São Paulo, epicentro dos protestos contra o aumento das passagens de ônibus e dos "rolezinhos", o ITV está produzindo uma série de vídeos que serão enviados aos diretórios regionais para que promovam cursos a distância.

O mesmo recurso será usado pelo PT, que aos poucos está substituindo suas cartilhas por filmes produzidos pela Escola Nacional de Formação, órgão vinculado à Fundação Perseu Abramo.

"A formação passou por uma atualização depois dos protestos de junho", conta Carlos Árabe, secretário nacional de formação do PT. Ele comandará em meados de fevereiro um encontro com os 27 secretários estaduais de formação para afinar o discurso e o currículo. Para rebater as previsíveis críticas ao mensalão, o tópico corrupção foi reforçado.

Os seminários e cursos darão ênfase à proposta de acabar com o financiamento privado de campanhas, mas também municiarão o discurso dos militantes com dados e informações que comprovariam supostos erros e excessos no julgamento da Ação Penal 470. Números e cifras sobre as realizações do PT nos últimos dez anos também estarão no currículo.

Os adversários do PSDB serão tratados como "neoliberais", mas ainda não há uma definição de como será o discurso em relação a Eduardo Campos, provável candidato do PSB e até recentemente aliado da presidente Dilma Rousseff. Já o conteúdo programático da cartilha do PSDB usará números para comprovar o oposto. "Mostraremos as mazelas e problemas do modo petista de governar, bem como está sendo feito o aparelhamento do Estado", diz Sérgio Silva, responsável pelo conteúdo e programação do ITV. "Vamos promover nos Estados cursos de capacitação em redes sociais", diz Olyntho Neto, presidente da Juventude do PSDB.

Copa. Eleito no ano passado para comandar a Juventude do PSDB, Neto fará parte da equipe que escreverá as propostas de juventude do programa de governo de Aécio Neves, provável candidato tucano à Presidência. No PSB, a cartilha programática para formar o discurso eleitoral vai pregar bandeiras do Movimento Passe Livre (MPL), grupo precursor das manifestações de junho. Críticas ao governo Dilma também estarão presentes.


"Faremos críticas à forma como os estádios foram construídos. O legado da Copa do Mundo não chegou à população", diz Bruno Da Mata, presidente da Juventude da sigla. Ele faz parte da direção executiva nacional do partido, assim como representantes do movimento LGBT, negros e de mulheres.

Pela Lei dos Partidos Políticos, pelo menos 20% do total recebido com o Fundo Partidário deve obrigatoriamente ser usado para educação política e com a manutenção de institutos de pesquisa e doutrinação. Na minirreforma eleitoral aprovada em dezembro do ano passado, entretanto, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu que os recursos não gastos pelas fundações poderão ser revertidos para "outras atividades partidárias". O texto não estabelece quais são nem sugere que tenham vínculo com atividades de formação.

As demais legendas dizem manter cursos e atividades regulares para seus militantes. De caráter mais ideológico e fiel à influência do pensamento socialista, o PSOL pretende estender suas atividades ao público comum. "Acreditamos que o partido deva ser também um espaço pedagógico", afirma a segunda secretária-geral do PSOL-SP, Carolina Peters.

Já o Solidariedade e o PROS, formalizados no ano passado, ainda estão em processo de organização das fundações e dos programas de formação. O PROS centrará sua atenção na redução dos impostos, principal bandeira do partido. O Solidariedade prevê cursos sobre política, como importância do voto e dos partidos, além de pautas ligadas a direitos trabalhistas e aposentados, tema da sigla.

"Não queremos discutir se a linha é de esquerda ou de direita. As pessoas querem coisa prática. Um partido de resultados", resume o presidente da legenda, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força.

Fonte: O Estado de S. Paulo

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