segunda-feira, 31 de março de 2014

José Roberto de Toledo: Quebrando o termômetro

O Estado de S. Paulo

Todo mundo que acha um governo ótimo ou bom declara voto no seu presidente; e todo mundo que vota no presidente aprova seu governo, certo? Errado, duplamente errado. No caso de Dilma Rousseff, 1 a cada 5 brasileiros que dão nota positiva à sua gestão não é seu eleitor; mas, para compensar, 1 a cada 4 eleitores seus vota nela mesmo achando seu governo só "regular".

Como resultado, a intenção de voto em Dilma acaba sendo ligeiramente maior do que a taxa de ótimo/bom do seu governo. É algo comum nas pesquisas que avaliam este governo e medem a intenção de voto num mesmo questionário. A última vez que isso aconteceu em uma pesquisa publicada do Ibope foi em novembro.

Naquela sondagem, a intenção de voto em Dilma foi de 43%, enquanto a taxa de bom e ótimo dada pelos mesmos eleitores ao seu governo foi de apenas 39%. Os 4 pontos porcentuais a mais na intenção de voto vieram dos 25% de eleitores da petista que avaliavam seu governo apenas como "regular". A diferença seria ainda maior se ela não perdesse 19% dos que aprovam seu governo para outros presidenciáveis ou para as opções "branco" e "nulo".

Saber que uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa teria poupado o PT de comparar jabuticabas com jacas em post no Facebook. Diligentes militantes petistas evocaram "as leis da matemática", mas tropeçaram na lógica ao tentar desqualificar pesquisa Ibope que mostrou queda da popularidade de Dilma.

Com o insinuante título "Algo estranho no ar", os autores compararam a intenção de voto da presidente na pesquisa Ibope divulgada pelo Estado há duas semanas (43%) com a avaliação do governo Dilma medida pela pesquisa Ibope/CNI divulgada na semana passada, na qual a taxa de ótimo/bom era de 36%. Para o PT, as taxas, mesmo medindo coisas diferentes, deveriam ser iguais.


Não são, e isso é bom para Dilma. Se fossem iguais, ela estaria pior na corrida eleitoral. O fato de 25% de seus eleitores qualificarem seu governo apenas como regular é um sinal de que a opção pela petista é fruto da falta de alternativa melhor aos olhos desses eleitores. Mas isso pode mudar ao longo da campanha, à medida que outros candidatos se tornarem mais conhecidos do grande público.

Se em vez de brigar com os números o partido os estudasse, o PT entenderia que sua candidatura presidencial, embora seja franca favorita nesta altura da campanha, tem vulnerabilidades.

Cruzamento especial da mais recente pesquisa presidencial feito pelo Ibope a pedido do Estadão Dados mostra que o potencial de voto exclusivo de Dilma é de 36% do eleitorado. São aqueles que dizem que votariam com certeza nela e apenas nela. É muito maior do que os de Aécio Neves (10%) e Eduardo Campos (4%). Mas essas taxas vão mudar ao longo dos próximos meses porque 35% do eleitorado diz que votaria com certeza em mais de um candidato.

Como Dilma tem o maior capital eleitoral, é ela que tem mais a perder: 1 em cada 4 eleitores que diz que votaria nela com certeza também diz que votaria em Aécio; e outro tanto diz que não conhece o tucano o suficiente para opinar. Em tese, metade do eleitorado potencial da petista tem alguma chance de vir a ser seduzido pelo rival do PSDB. Tudo depende de como a economia vai se comportar nos próximos meses e de quão hábil for a campanha tucana.

Com Eduardo Campos, as sobreposições são menores, mas, ainda assim, significativas: 17% do eleitorado francamente dilmista diz que votaria ou poderia votar nele, e outros 36% não o conhecem o bastante para dizer nem que sim nem que não.

As chances de reeleição de Dilma são inversamente proporcionais ao grau de concordância do comando de sua campanha com o teor do texto do partido do Facebook. Em qualquer eleição, o menor atalho para a derrota é negar a realidade e dizer que já ganhou. Atacar pesquisas que não mostram o que o PT deseja é o mesmo que culpar o termômetro pela febre. Quebrá-lo não resolve nada.

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