segunda-feira, 3 de março de 2014

Para fugir de caciques, saída é formar siglas

Caue Fonseca

BRASÍLIA- Das principais casas legislativas à mais insignificante das legendas, passando agora até pelas penitenciárias, o sistema político brasileiro padece com o excesso de poder dos caciques partidários, como Roberto Jefferson e José Dirceu. Pois se é assim, proliferem-se as tribos.

Criar um partido novo tem sido a saída buscada por líderes com dificuldade de ascensão em legendas já estabelecidas. O curioso é que, formada a sigla, novamente o dono do cocar é mais importante do que as diretrizes partidárias. Em um sistema assim, as agremiações acabam sufocadas por seus donos e não desenvolvem democracia interna, que poderia torná-las mais vivas e próximas da socidade.

— Veja a Marina Silva (PSB). Mesmo com 20 milhões de votos, ela bateu de frente com um cacique, o tal (deputado federal) José Luiz Penna. Descobriu que o PV não é partido e nem é verde — exemplifica o cientista político da UNB, David Fleischer.

Brigada com o PV, Marina tentou voo solo, mas fracassou na montagem da Rede. Diferentemente dos recém criados PROS e Solidariedade. Mais uma vez pouco importa o que os novos partidos defendem, mas sim “pertencerem” respectivamente, aos irmãos Cid e Ciro Gomes, rompidos com o PSB, e Paulinho da Força, que deixou o PDT para criar uma sigla ligada à Força Sindical.

— As últimas decisões da Justiça colaboraram para isso: os partidos são donos dos mandatos, mas os parlamentares podem migrar para uma sigla recém criada. Com isso, as legendas se proliferaram – avalia o professor de Ciência Política da USP, Bruno Wilhelm Speck.

Speck cita ainda a influência do fundo partidário. A bolada anual de R$ 294,1 milhões (valor de 2013) repartida pelas 33 legendas vai diretamente para os diretórios nacionais, o que dificulta o surgimento de lideranças independentes das cúpulas. Fundar um partido próprio também é o caminho mais rápido para receber financiamento.

O acesso ao fundo vem sendo questionado pelas legendas antigas. Um dos caciques mais longevos do país, o deputado federal Roberto Freire (PPS-SP) trabalha em um projeto que permitiria o acesso das novas siglas à verba somente após a primeira eleição, conforme o desempenho nas urnas.

— Novos partidos são da democracia, mas é preciso que eles demonstrem representar anseios da sociedade — avalia Freire.

Nem nas menores siglas trata-se de um valor desprezível. Levy Fidelix, o candidato do aerotrem, recebeu R$ 1,36 milhão em nome do PRTB em 2013. José Maria Eymael, o democrata cristão, R$ 1,02 milhão à frente do PSDC. O que mostra que, no Brasil, para ser cacique, liderar índios é o menos importante.

Fonte: Zero Hora (RS)

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