sábado, 22 de março de 2014

"Sei que vamos vencer as eleições", diz Eduardo Campos

Aline Moura - Diário de Pernambuco

De passagem por Petrolina, onde cumpriu agendas administrativas e se despediu da cidade como governador, Eduardo Campos (PSB) falou longamente sobre como se deu o rompimento entre o PSB e o governo Dilma Rousseff (PT). Durante coletiva, antes de visitar obras de ampliação do sistema de abastecimento de água desta cidade, no Sertão do São Francisco, ele afirmou nunca ter sido desleal com Dilma e contou detalhes de como, segundo ele, a petista não o escutava. Na entrevista, Eduardo disse estar confiante na vitória para a disputa presidencial por acreditar que a população quer mudanças. "Sei que vamos vencer as eleições". Veja os principais trechos.

Pesquisa do Ibope
A essa altura (em período semelhante), em 2010, os institutos de pesquisa apontavam José Serra com os mesmos números que tem Dilma (40%). Quem lesse a pergunta por dentro percebia que ele era um candidato que não ia lograr êxito, porque a pergunta fundamental não é o nome. A pergunta fundamental que estava respondida em 2010 e não era manchete de jornal era que, naquela data, 77% diziam que queriam a continudade do presidente Lula.

Serra tinha exatamente 40% porque foi candidato a governador, presidente da República, mas a pergunta que ninguém vai ler e ver é: quer continuar ou quer mudança?

Coincidentemente, nessa data e agora, 67% da população quer mudança. Essa é a pergunta, essa é a pegada. Isso é que vai dar na eleição, porque o Brasil quer mudança, quer ter esperança em dias melhores, quer otimismo, quer vencer o desânimo que está se abatendo no país, quer preservar as conquistas e ir além. É importante, sobretudo, para quem cobre a política, se aprofundar na análise da pesquisa. Eu estou completamente tranquilo. Eu sei onde vai dar essa nossa luta, eu sei o que a gente vai enfrentar até o dia da eleição, mas também sei que vamos vencer as eleições.

Política tributária do estado
Eu tenho a alegria de dizer que já fui secretário da Fazenda, participei como parlamentar de todas as comissões, fui o único governador de Pernambuco em sete anos e três meses que nunca aumentei impostos, só fiz diminuir, ao fazer mais de 30 projetos de lei reduzindo carga tributária. Nós vimos as entidades nacionais colocarem um Simpels Nacional que foi pior do que o Simples estadual e eu evoco, aqui, o testemunho de um deputado de Petrolina, Guilherme Coelho, ele nos ajudou no debate para construir o Simples de Pernambuco, que era melhor que o do Brasil. Quando veio o Simples nacional, deixou o empresariado em situação mais difícil do que se encontrava.

Nós temos um tratamento com as microempresas diferente de muitos estados do estado para melhor. Nós temos o teto de micro igual ao do nacional, temos alguns setores que tem benefícios em cima do Simples nacional e acabamos de implementar medidas, como os micro empreendedores… São 90 mil empresas que não pagam diferença de alíquota e a nossa disposição é ter o melhor sistema do Nordeste. Terça-feira tem reunião no CDL. O que eles trouxerem, vamos fazer melhor. Se você está numa guerra fiscal, você tem que fazer mais do que os outros. Pode trazer exemplo do estado que tenha uma política melhor do que a nossa para a gente fazer melhor do que o que a gente tem.

Relação com Dilma e Lula até o rompimento
Nós discutimos com o governo o tempo todo. Eu procurei ajudar o governo que ajudei a eleger, sempre acompanhamos Lula em todas as eleições, inclusive as que nem ninguém queria nem andar com ele. Muitos inclusive do próprio PT. Lula teve que encerrar a campanha de 1994 aqui,ele já perdendo a eleição para FHC e veio encerrar em PE porque tinha aliados do partido dele (de outros estados) que dizia “aqui não que atrapalha a eleição”.

Sempre estivemos ao lado desse conjunto, retiramos uma candidatura para fazer o apoio já em 2010 e olhe que 2006 eu disputei a eleição contra o PT em Pernambuco, que não me apoiou no 1º turno. Isso não impediu que, em 2010 retirássemos a candidatura (de Ciro Gomes do páreo).

No primeiro ano (do governo Dilma), imaginávamos que ela ia fazer a continuidade e melhorar aquilo que Lula estava fazendo, que ia ter uma mudança política, que o centro do governo não ia ser aquela aliança velha mofada, de costas para o povo. Mas fomos cada vez mais… as forças progressistas foram sendo colocadas de lado e o fisiologismo foi sendo o centro do governo.

Nós chamamos a atenção disso, em 2012, disputamos seis capitais com o PT, passada a eleição procurei a presidenta. Disse: ‘presidenta, temos divergências com a condução do governo, é preciso mais diálogo com o pacto na rua. O que a sociedade quer não é essa aliança que está aqui. Tem que arejar, renovar isso aqui’. Falei isso pessoalmente. Ai veio a eleição para presidente da Câmara e do Senado (onde o PMDB assumiu o comando das duas Casas).

O nosso partido se colocou contra essas duas eleições. Tivemos um candidato do PSB na Câmara e um candidato do PDT no Senado e começou um processo de distanciamento político do governo com a sociedade. Quando estourou junho, as pessoas viram o que a gente vinha falando e a gente vinha falando que dava para fazer mais, fazer um novo pacto social e político. Eu dialoguei muito naquele momento com a presidenta, tivemos uma postura serena de solidariedade, conversei com Lula… Quando as coisas voltaram à normalidade, muitas pessoas aliadas da presidenta ficaram cobrando: o PSB vai fazer o quê? E entregamos os cargos - todos - e fomos fazer o nosso caminho.

Em hora nenhuma faltamos o respeito com a presidenta. Agora nós temos uma constatação que o Brasil tem: ela foi eleita para melhorar o Brasil e o Brasil não tem melhorado. O Brasil parou de melhorar sobre o comando dela, está crescendo a metade da América Latina, a metade do tempo de Lula. A inflação está batendo na porta, as contas brasileiras estão desarrumando, o setor elétrico... Está ai R$ 61 bilhoes (é três bolsas famílias) que o estado brasileiro tem que arrumar para a conta do petróleo e da energia.

O jogo do medo
Se eu tivesse em busca de um projeto pessoal, os jornais estão cheios de convite para eu disputar a eleição em 18, não teria problema nenhum. O problema é que o Brasil não pode esperar, tem que ser debatido com P maiúsculo. Não pode ser esse negócio de rinha. Ou a gente pensa assim, ou a nossa geração, a geração dos nossos filhos vai pagar um preço caro porque, porque a gente vai desconstruir o que fizemos com grande esforço nos últimos 30 anos.

E exametente por saber que (este) é o caminho mais difícil (de disputar a presidência este ano), mas é o mais bonito que é discutir o Brasil do futuro. Cuidar do futuro hoje é fazer um debate sério. Não pode ser um “nós e eles”, como se tudo estivesse normal. Não pode ser o jogo do medo querendo vencer a esperança, porque a esperança vai vencer o medo de novo em 2014. Não adianta ficar ameaçando… ah, vão cortar a bolsa família, vão fazer não sei o que… Isso é uma conversa cansada, é uma conversa que fizeram em cima de Lula e Lula ganhou. A mesma conversa que fizeram em cima de mim, porque eu ganhei aqui.

A gente olha para Brasília… eu converso com o jovem todo dia, você percebe que estudante olha para Brasília, liga a TV, vê aquelas raposas cercando o Palácio do Planalto e ele não se enxerga. Os jovens foram para as rua, derrubaram um pedaço do muro que separa o mundo real dos brasileiros, que é o que eu vivo, daquele mundo de Brasília e o outro pedaço do muro vai ser derrubado nas urnas. 70% da pessoas querem mudança. Não adianta: vai ter mudança.

Petrobras perdeu metade do patrimônio
Eu acho que essa é uma discussão que me preocupa, como brasileiro, porque sei o que ela significa para o Brasil. Às vezes, não consigo nem entender, sinceramente, como uma empresa que atua no mundo inteiro, que tem 50 anos, em três anos ela vale a metade! É difícil.

A gente viu o discurso todo ser efeito sobre pré-sal, pré-sal, pré-sal… os prefeitos brigaram por esse dinheiro e foram a Brasilia e voltaram e disseram “vamos distribuir esse dinheiro do pré-sal”. Mas nem saiu dinheiro dos royalties, venderam o pedaço do pré-sal, disseram que ia para educação, mas foi para pagamento da dívida. A gente olha para a Petrobras três anos depois que a presidenta assumiu e ela vale metade do que valia. E vendeu várias operações na África, na América Latina.

Isso não me deixa feliz nenhum minuto. A gente vê é uma empresa que não pertence a um governo… Eu ouvia meu avô dizendo que jovens estudantes foram para as ruas fazer a campanha do “Petróleo é nosso”. Vi muitos brasileiros que admiro contar a história da Petrobras.

Então, eu ver a Petrobras perder a metade do seu patrimoniom ver a Petrobras questionada e quatro vezes mais endividada que em 2010. O que for possível fazer para ajudar a Petrobras, eu vou fazer como cidadão. Defender a Petrobras é defender o Brasil. A gente precisa protegê-la, porque dessa forma a gente protege o país, não posso negar minha profunda preocupação.

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