terça-feira, 11 de março de 2014

Senado chileno deve iniciar reformas imediatamente, diz Isabel Allende

Escritora será a primeira mulher a comandar Casa

A foto vai correr o mundo, e me enche de orgulho e emoção’, diz sobre colocar a faixa de presidente em Michelle Bachelet

Guillermo Muñoz, do El Mercurio

SANTIAGO — Nesta terça, ela será a primeira mulher a presidir o Senado chileno e colocará a faixa presidencial em Michelle Bachelet. Além da parte política, Isabel Allende explica que seu novo cargo terá também um significado familiar.

— Existem mulheres que se sentem orgulhosas que pela primeira vez em 200 anos há uma presidenta do Senado. Por outro lado, para mim existe uma carga emocional muito forte: como vai pesar que meu pai foi três anos presidente do Senado antes de ser presidente da República. Certamente estará presente — diz Isabel. — É uma cerimônia muito simbólica e inédita, em que uma mulher põe a faixa presidencial na outra, cada uma com tremendas histórias, com duro sofrimento, e as duas socialistas. É uma foto que vai correr o mundo. E me enche de orgulho e emoção.

No Chile, há cinco presidentes que foram filhos de outros presidentes...

Não estou dizendo que vou ser presidente da República. Muito mais gente que você imagina me disse isso, mas estou muito contente com Michelle Bachelet e é preciso deixar assim. É muito bonito ser senadora e não há segundas intenções. É necessário dar passagem para outras gerações.

O que espera que seja sua marca como presidenta do Senado?

Todos os presidentes têm o mesmo anseio, que é conseguir que nosso desprestigiado Senado recupere o prestígio. Preocupa a todos. Além disso, isto está associado ao fato histórico de ser a primeira mulher, mas temos um programa desafiador que tem que começar de imediato. Minha principal tarefa será conduzir um Senado que deve responder a um programa que tem que começar praticamente no dia 11. Há um programa e três reformas estruturais. Precisamos acelerar o passo, e minha primeira responsabilidade é gerar esses espaços de reflexão pré-legislativos e legislativos, muito diálogo com a oposição e a Nova Maioria, e espero que nos acompanhem. Se não nos acompanharem, evidentemente o faremos usando nossa maioria conseguida democraticamente. O Senado é uma instituição política e vou me esforçar ao máximo para levar o programa adiante, respeitando a minoria, fazendo valer a maioria democraticamente, com diálogo.

Seu papel vai estar mais próximo do debate político ou do programa de governo?

Um não é incompatível com o outro. Eu sou muito respeitosa com o regulamento e a instituição do Senado. Demonstrei isso em 2003, quando fui presidenta da Câmara dos Deputados. Fazia 30 anos do golpe para muitos era como se comportaria a filha do presidente Allende. Tudo foi bem. Inclusive quando assumi não existia a norma de viajar com um da oposição e um nosso. Impus isso na Câmara. Sou respeitosa dos acordos e militante do partido, mas não sou uma funcionária que dependente de um governante, sou autônoma. Mas espero que as pessoas compreendam que meu papel é político. Tenho que articular acordos e que o programa transcorra da melhor maneira, com seriedade, mas com celeridade também.

Esta semana houve diferenças entre o Partido Democrata Cristão (DC) e o Partido Comunista sobre a Venezuela. No caso do Senado, as diferenças estão entre o DC e o Movimento Amplo Social (MAS), sobre o projeto que condenava a violência na Venezuela. Isso complica sua futura gestão?

Há uma diversidade, e essa é a riqueza da Nova Maioria. Agora, política externa é política de Estado, conduzida pela presidente. Alguém pode opinar e naturalmente há diferenças. Houve um único voto contrário em um projeto cuidadoso. O texto partiu de reconhecer que há um governo eleito democraticamente e que em nenhum caso as manifestações podiam ter a intenção de destituir um governo, mas também fazia ver a necessidade do direito à expressão.

Você assinou embaixo?

Estava em reuniões de protocolo, não estava presente neste momento. Na conversa prévia havia coisas que me pareciam excessivas. Defendo que o povo se manifeste pacificamente e que ninguém continue preso por convocar uma manifestação, mas também creio que os problemas devem ser resolvidos com diálogo pelos venezuelanos.

Teria assinado?

Com o projeto modificado, seria provável. Havia duas ou três coisas na linguagem que me pareciam demais.

Quais?

Que se dava como fato que havia milícias armadas responsáveis pela repressão. Mas estava de acordo com o espírito geral. Considero que a liberdade de expressão, opinião e mobilização deve ser total.

Alguns senadores do Partido Socialista (PS) manifestaram que se deve superar o eixo DC-PS. A senhora concorda?

Somos uma coalizão, temos um programa e somos um conjunto de partidos. Temos a responsabilidade de governar. Somos sete, e o substantivo é um programa pelo qual 62% votaram. Obviamente, um senador do MAS não é o mesmo que seis do DC, mas somos todos iguais

Fonte: O Globo

Nenhum comentário:

Postar um comentário