quarta-feira, 2 de abril de 2014

Dilma decreta intervenção militar em 15 favelas do Rio

Missão: garantia da “Lei e da Ordem” até o final da Copa

Forças Armadas podem entrar na Maré a partir de sábado

Antônio Werneck -O Globo

RIO - O Ministério da Defesa revelou nesta terça-feira que as Forças Armadas estão autorizadas a entrar no Complexo da Maré, a partir do primeiro minuto do próximo sábado. Desde domingo, a região passou a ser ocupada por homens das forças de segurança do estado, com apoio de blindados da Marinha. O número de militares que será empregado na Maré não foi revelado, mas não deve ser superior a dois mil homens. Na ocupação dos complexos da Penha e do Alemão, o Exército usou cerca de 1.800 militares.

Segundo o ministério explicou em nota, uma diretriz ministerial (a de número nove), foi assinada pelo ministro da Defesa, Celso Amorim, determinando o emprego das tropas em missão de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), conforme pedido feito pelo governador Sérgio Cabral. Segundo o documento, o aparato militar deve permanecer na Maré até depois da Copa do Mundo. A data prevista para a saída dos militares é 31 de julho. Durante o período de ocupação, as tropas ficarão sob o comando do general Roberto Escoto, comandante da Brigada de Infantaria Paraquedista, no Rio.

Prisões só em flagrante
Com aconteceu na ocupação do Complexo do Alemão, as Forças Armadas estão autorizadas a efetuar prisões em flagrante e fazer patrulhamento e revistas. Além da Brigada Paraquedista, os militares contarão com apoio de batalhões e brigadas de outras áreas. Os detalhes do planejamento estavam sendo definidos, na tarde de terça-feira, pelo Comando de Operações Terrestres (Coter), em Brasília. Tanto o Exército como o Ministério da Defesa não revelam os gastos com a operação de GLO na Maré. Em nota, o Ministério da Defesa informou que ainda não tem o custo da operação. Porém, garantiu que o secretário-geral do ministério, Ari Matos, buscará os recursos que forem necessários para a operação.

Por se tratar de ação conjunta, que contará também com a participação de militares da Marinha e da Aeronáutica, as articulações estarão a cargo do chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas (EMCFA), general José Carlos De Nardi, principal interlocutor do ministério nos preparativos para ação no Complexo da Maré.

Ação restrita a 15 favelas
De acordo com a diretriz, a GLO se dará em 15 comunidades: Praia de Ramos, Parque Roquete Pinto, Parque União, Parque Rubens Vaz, Nova Holanda, Parque Maré, Conjunto Nova Maré, Baixa do Sapateiro, Morro do Timbau, Bento Ribeiro Dantas, Vila dos Pinheiros, Conjunto Pinheiros, Conjunto Novo Pinheiros (Salsa & Merengue), Vila do João e Conjunto Esperança. A região da Maré era dominada por duas facções criminosas rivais do tráfico carioca, além de uma milícia. As negociações para o emprego das Forças Armadas no Complexo da Maré foram iniciadas no mês passado.

Pedido de ajuda à União foi feito por governador
As negociações para o emprego das Forças Armadas no Complexo da Maré foram iniciadas no mês passado, quando o governador Sérgio Cabral esteve com a presidente Dilma Rousseff, no Palácio do Planalto. Naquela ocasião, Cabral anunciou que Dilma lhe assegurara a participação militar na ocupação das 15 comunidades da Maré, onde moram cerca de 130 mil pessoas.
Informações da Polícia Federal do Rio, com base em mais de um ano de investigações para chegar à prisão do traficante Marcelo Santos das Dores, o Menor P, revelam que a quadrilha do bandido pode ter escondido armas com grande poder de fogo em pontos diferentes do Morro do Timbau e na Favela Salsa e Merengue. Antes de a região ser ocupada por forças de segurança dos governos federal e estadual, os policiais federais da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) identificaram ao menos duas metralhadoras automáticas calibre .30, capazes de derrubar aeronaves, e alguns lança-rojões.

Retirada da cracolândia
Nesta terça-feira, no segundo dia após a ocupação da região pelas forças de segurança, o comércio no Complexo da Maré abriu as portas num clima de tranquilidade. Moradores circulavam pelas ruas, a caminho do trabalho e da escola, sem receio. Além da Comlurb, a Rio Luz e as secretaria de Saúde e de Conservação seguem com ações nas comunidades.

Já o policiamento estava praticamente restrito aos acesso das favelas que compõem o complexo. Melhorou também para os motoristas que circulam pela Avenida Brasil: a cracolândia, que ocupava o canteiro central da via expressa, não está mais lá. Nesta terça-feira, um grupo pequeno ainda podia ser visto acampado debaixo do viaduto da Transcarioca em construção. Eles ocupavam a calçada da pista central, sentido Centro. Antes da remoção, usuários da droga costumavam atravessar a via, se arriscando entre os veículos.

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