quarta-feira, 16 de abril de 2014

Luiz Carlos Azedo: O melhor negócio do mundo

Com prejuízo de US$ 530 milhões, a Petrobras desistiu de vender Pasadena: "Temos uma refinaria que opera com segurança e que, em janeiro, fevereiro e março, deu resultado positivo", explica a presidente da Petrobras

- Correio Braziliense

John Davison Rockefeller Nixon nasceu em 8 de julho de 1839, nos EUA, em uma família modesta e muito religiosa. Com 16 anos, começou a trabalhar como contabilista num grande armazém de retalho. Três anos mais tarde, pediu demissão e iniciou seu próprio negócio: passou a ser o principal concorrente de seu ex-patrão. Na Guerra Civil americana, vendeu roupa para o Exército da União; também negociava farinha, sal, sementes e carne de porco. Após a guerra, comprou uma refinaria de petróleo e começou a fabricar querosene para os lampiões das residências americanas. Em 1865, fundou a Standard Oil Company.

Chegou a controlar 90% das refinarias instaladas nos Estados Unidos, até a Suprema Corte americana acabar com o seu monopólio e ordenar a criação de mais de 30 companhias petrolíferas, origem das gigantes Exxon, Chevron, Atlantic, Mobil e Amoco. Jonh Rockefeller já era o homem mais rico do mundo, com uma fortuna pessoal de U$ 318 bilhões, e passou a se dedicar a projetos filantrópicos, com destaque para a construção da Universidade de Chicago, além de museus, bibliotecas e do instituto de pesquisas médicas que leva o nome dele. É de Rockefeller a frase de que “o melhor negócio do mundo é uma empresa de petróleo bem administrada; o segundo melhor é uma empresa de petróleo mal-administrada”.

Pasadena
A frase de Rockefeller serve como uma luva para ilustrar o longo depoimento de ontem da presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. Com todas as letras, ela disse que o Conselho de Administração da estatal aprovou a compra de Refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, sem saber de cláusulas importantes do contrato — a Put Option e a Marlin, que não constavam do resumo executivo apresentado pela diretoria Internacional da estatal na reunião que aprovou a compra de 50% da refinaria em 3 de fevereiro de 2006. “Hoje, olhando aqueles dados, não foi um bom negócio. Isso é inquestionável do ponto de vista contábil. Mesmo que margens voltem a valores mais altos, a Petrobras hoje tem outras prioridades”, disse Graça.

“Pagamos pela refinaria US$ 885 milhões, e a Astra pagou US$ 360 milhões. Fora isso, houve juros, honorários que pagamos por conta desse processo (arbitral e judicial), que caminhou até 2012”, disse Graça. O valor total investido foi US$ 1,25 bilhão. Hoje, a Petrobras avalia Pasadena como um “empreendimento de baixo retorno sobre o capital investido”. Com prejuízo de US$ 530 milhões, a Petrobras desistiu de vender a planta americana: “Temos uma refinaria que opera com segurança e que, em janeiro, fevereiro e março, deu resultado positivo”, explica a presidente da Petrobras.

Fogo cruzado
Ontem, Graça Foster ficou no meio do fogo cruzado entre senadores da oposição e governistas. Os primeiros cobravam mais explicações sobre Pasadena e outros negócios da Petrobras; os segundos, exumavam velhos discursos nacionalistas. A presidente da Petrobras defendeu a presidente Dilma Rousseff. Reiterou que a então presidente do conselho de administração da empresa não fora informada pela diretoria executiva sobre duas cláusulas que contribuíram para o aumento do valor pago pela estatal na aquisição de Pasadena. Pisava em ovos para não jogar o problema no colo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E poupou de críticas diretas o seu antecessor, Luís Sergio Gabrielli. Pura esquizofrenia. Os investimentos feitos em Pasadena não serão recuperados. Mesmo que a refinaria seja “desinvestida”, eufemismo adotado pela Petrobras para a venda de ativos comprados por Gabrielli que não são considerados bons negócios.

O ex-presidente da empresa tinha como homens de confiança os ex-diretores Nestor Cerveró, que ocultou as informações sobre as cláusulas prejudiciais à Petrobras, e Paulo Roberto Costa, preso pela Polícia Federal (PF) há duas semanas, na Operação Lava Jato, que revelou conexões do doleiro Alberto Youssef e a Petrobras. O governo tenta evitar a instalação de uma CPI exclusiva, a pretexto de investigar também o cartel do Metrô de São Paulo e as obras do Porto de Suape, em Pernambuco. Ontem, os senadores Aécio Neves (PSDB-MG), José Agripino (DEM-RN) e Aloysio Nunes (PSDB-SP) fizeram um apelo à ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), para que decida favoravelmente ao pedido de CPI exclusiva. A ministra só tomará a decisão depois do feriado prolongado da semana santa. Enquanto isso, o deputado André Vargas (PT-PR), envolvido no caso, resiste a pressões para renunciar ao mandato por medo de ter a própria prisão decretada. Cobra solidariedade do PT para evitar a cassação do mandato e aumenta a tensão nos bastidores do caso.

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