quarta-feira, 16 de abril de 2014

Para oposição, explicações de Graça Foster não trazem ‘nada de novo’

Aécio, que não compareceu à audiência, diz que governança da Petrobras está em xeque e presidente da estatal estimulou criação da CPI

Cristiane Jungblut, Júnia Gama e Washington Luiz – O Globo

BRASÍLIA - As exposições da presidente da Petrobras, Graça Foster, sobre a compra da refinaria de Pasadena, no Estados Unidos, ainda não foram suficientes para convencer os senadores da oposição a deixarem de lado a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a estatal. Governistas e oposição travaram embate durante a sessão. Apesar de não ter comparecido à audiência no Senado com a presença da presidente da Petrobras, Graça Foster, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) disse que a governança da estatal está em xeque. Para o tucano, Graça Foster tem idoneidade, mas deu autonomia excessiva aos diretores, que cometeram erros.

— A presidente da Petrobras é uma mulher respeitável. Não é ela que está em xeque, mas a governança da Petrobras. Há um fato. A governança da Petrobras está em xeque, assim como os fatos pontuais. Ela deixou claro que foi um mau negócio (a compra da refinaria em Pasadena). Acho que ela estimula (a instalação de uma CPI). Ninguém questiona a Graça Foster na sua competência, na sua idoneidade. Mas, na governança, é falha, com diretores que tomam decisões com autonomia — disse Aécio.

O tucano justificou sua ausência, alegando que quis ter "ter cuidado" e não misturar com questões eleitorais. Aécio será o candidato PSDB à Presidência da República.

Já o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse que Graça Foster convenceu os senadores. Mas, questionado se isso evitava uma CPI, o senador disse apenas que este era um debate político, uma questão adicional.

— Ela (Graça) convenceu a todos de que está procedendo uma rigorosa investigação interna, colaborando com a Polícia Federal. A investigação política é adicional, extraordinária, é uma decisão política.

Otimista, o presidente da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), senador Lindbergh Farias (PT-RJ), disse que o depoimento dispensa a criação de uma CPI.

— Baixa a temperatura. Foi a Batalha de Itararé — disse o petista.

Para o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), não há como comparar o convite para a presidente da Petrobras prestar esclarecimentos com as investigações de uma CPI:

— A CPI é para fazer as pessoas falarem mais. É outra instância. A exposição de hoje não descarta a continuidade das investigações.

Depois de mais de cinco horas de explicações, o senador Ruben Figueiró (PSDB-MS) afirmou que Graça não trouxe novidade nenhuma para esclarecer o caso:

— Infelizmente, aos olhos e ouvidos do povo brasileiro, sua senhoria (Graça Foster) não conseguiu.

De tudo ficou mais do mesmo: há algo de podre nos gabinetes da Petrobras. E insisto: a CPI exclusiva se impõe! Se o Governo continuar insistindo em criar cortinas de fumaça para não enfrentar de frente este assunto, todos, indistintamente, senadores, deputados, magistrados, governadores, prefeitos, seremos cobrados pelas futuras gerações por nos esquivarmos de um tema tão candente, cobrindo-nos de vergonha e de opróbrio. Não posso crer que esta Casa não veja o que está acontecendo.

Integrante de um grupo de senadores que se denomina independente, Pedro Simon (PMDB-RS) também argumentou que as explicações de Graça não descartam a criação de uma CPI:

— É um exemplo típico de que precisamos de uma CPI. Vamos chamar um representante do metrô de São Paulo, ouvi-lo, e descartar nossa investigação? Vamos ouvir um representante do Porto Suape e ficar por isso mesmo? É claro que não. O que deve ser feito é a nossa CPI — defendeu.

O líder do governo no Senado, José Pimentel (PT-CE), disse acreditar que a participação de Graça na audiência pública vai frustrar a tentativa da oposição de investigar a empresa:

— Aqueles que trabalham com a verdade já estão satisfeitos com o que a presidente Graça Foster respondeu. Ela foi bem clara e soube explicar a verdade sobre o regime de licitação da empresa. O Brasil sai satisfeito com essa audiência pública. Aqueles que tinham a intenção de lapidar a Petrobras ficaram frustrados — defendeu.

Governista versus oposição
Em um momento de embate entre governistas e oposição durante a audiência, o senador Inácio Arruda (PCdoB-CE) fez críticas à atuação da oposição na tentativa de implantar investigações no Congresso e foi interrompido pelo senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), que destacou que um ex-diretor da Petrobras está preso.

— O papel da oposição é esse mesmo. Eu fui oposição para brigar pela Petrobras. É diferente a oposição que se fazia. E o papel é esse, questionar, buscar fazer o barulho necessário, não pelas questões centrais — dizia Inácio, quando foi interrompido por Cunha Lima:

— Homem de Deus, tem um diretor preso! — rebateu o tucano.

— Mas tem muito diretor que devia estar preso, que não foi investigado coisa nenhuma. Imagina como foi vendida a Vale do Rio Doce na Bacia das Almas, era para prender era todos, aqui tem só um. Nunca se investigou nada — devolveu Inácio Arruda.

Logo depois, foi a vez da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) falar, uma das mais ferrenhas defensoras do governo. A ex-ministra também atacou a oposição, afirmando que a Petrobras não pode ser criticada e que a busca por respostas sobre os casos de irregularidades na estatal serviriam ao embate político.

— A Petrobras não pode ser vista apenas como ativo de mercado, não pode ser julgada, vilipendiada, criticada, atacada como está sendo nesse momento por um aspecto de conjuntura. Todos aqui queremos que os fatos sejam esclarecidos e que as responsabilidades sejam apuradas. Muitos da oposição, no afã de obter respostas e fazer embate político, não se dão conta da campanha que patrocinam para ferir a imagem da nossa grande empresa — disse Gleisi.

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