domingo, 13 de abril de 2014

São Paulo será peça-chave na campanha à Presidência

Campos e Aécio montam comitês no estado onde Dilma precisará de votos para neutralizar PE e MG

Mariana Timóteo – O Globo

SÃO PAULO — Os quase 32 milhões de eleitores, num estado que concentra 32,5% do PIB , já seriam suficientes para que qualquer candidato a presidente cobiçasse São Paulo. Mas, nesta eleição

— a primeira desde a redemocratização a não incluir na disputa um candidato que tenha São Paulo como base política —, o cenário está mais complexo, obrigando Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) a voltarem suas atenções como nunca para o estado.

Desde 2002, na primeira eleição de Lula, o PT não ganha em São Paulo no primeiro turno. Tentará fazê-lo agora. Aécio Neves também aposta suas fichas no estado. Nesta semana, sua campanha escolheu a capital paulista como palco de seu comitê central, frisando que Aécio passará a metade de seu tempo no estado. Eduardo Campos também terá seu QG nacional em São Paulo, abrindo mão de Brasília. Ele já alugou um apartamento no bairro de Moema (Zona Sul) e deve trazer a família. Campos vai morar na cidade a partir de terça-feira e despachar, a partir de quarta, em uma sala na sede do PSB na capital.

Os dois opositores lutam para serem mais conhecidos entre os paulistas e apostam num desgaste da imagem de Dilma para irem ao segundo turno. A presidente, segundo analistas, enfrenta outras adversidades: Aécio deve ganhar em Minas Gerais, o segundo maior colégio eleitoral, onde Dilma ganhou em 2010. E Campos, que deixou o governo de Pernambuco com aprovação de 58%, tem boas chances de ganhar no estado de mais de 6 milhões de eleitores, onde Dilma também venceu em 2010.

— São Paulo nunca foi tão importante numa eleição. Calculamos a chance de ir para o segundo turno de quem ganhar em São Paulo é de 100%, e a partir daí disputaremos a eleição real — disse o deputado federal Duarte Nogueira, presidente do PSDB-SP e principal articulador da campanha de Aécio no estado.

Além de haver uma grande chance de o vice do PSDB ser paulista, o partido aposta na aproximação entre seu candidato e nomes de peso no estado, como Geraldo Alckmin e Fernando Henrique Cardoso. A meta de Aécio, dizem seus articuladores, é obter pelo menos 30% dos votos do estado.

Desde setembro, ele fez 16 visitas públicas a São Paulo. Foi inclusive ao ABC paulista, reduto petista, ou “na toca do leão”, como definiu o deputado federal Marcus Pestana, presidente do PSDB mineiro, amigo e um dos principais articuladores da campanha tucana.

— O Nordeste está engarrafado, com Lula fazendo campanha para Dilma e com a popularidade do Campos. Mas, em São Paulo, o jogo está muito aberto. São Paulo é um local onde a sociedade civil é maior do que o Estado, onde se vota com maior autonomia — diz Pestana.

Já o PSB aposta tanto neste voto pragmático do paulista, “menos romântico que o voto carioca e menos ideológico que o voto nordestino”, disse o deputado federal Márcio França, presidente do PSB-SP, quanto numa rejeição histórica — “desde os tempos de Juscelino Kubitchek” — que o paulista teria em relação aos mineiros. Segundo a avaliação da campanha do PSB, Campos e Aécio devem chegar praticamente empatados a São Paulo, e é o estado que poderá decidir a ida de um ou de outro para o segundo turno.

— Parte do eleitorado paulista, que costuma ter um sentimento forte anti-PT, pode pensar assim: quem pode ganhar de Dilma num segundo turno? Aí vota no Campos, porque o Aécio no Nordeste não tem a menor chance — avalia um aliado, que prevê uma intensificação de Campos na disputa pelo voto do interior, enquanto Marina Silva, a vice, intensificaria a campanha nas grandes cidades, “já que ela é uma figura muito urbana”.

O PT ainda não anunciou uma estratégia específica de Dilma para São Paulo. Limitou-se a dizer que ela estará presente nos palanques do candidato a governador, Alexandre Padilha, nome escolhido por Lula para tentar explorar um desgaste com 20 anos de governo tucano no estado.

— E há, claro, o fator Lula, que sempre garante ao PT uns 30% de votos. Dilma deve focar em manter seu eleitorado tradicional: falar do Mais Médicos, do Minha Casa Minha Vida. Ela pode não chegar em primeiro lugar em São Paulo, mas, impulsionada por Lula, sempre terá uma votação expressiva por aqui — avalia o cientista político Carlos Mello, do Insper.
Segundo ele, o voto urbano em São Paulo, “que reage melhor às melhorias sociais do PT”, é bem diferente do voto do interior e, por isso, às vezes o jogo político fica embolado e imprevisível. Dos 32 milhões de eleitores, 17 milhões estão no interior, “o que garantiu nos últimos anos a vitória tucana”.

— É com este eleitor que será interessante observar a estratégia da campanha da oposição.
Segundo cálculos de um marqueteiro político haverá, em 2014, 45% de eleitores “prontos para serem convencidos”. Cerca de 30% optarão por Dilma, e 25% são “100% anti-PT".

— Até agora, só vejo Aécio e Campos disputando estes 25%, com um discurso voltado para a elite, o que, a meu ver, é uma estratégia errada. Eles têm que correr atrás dos 45%, criar um movimento de mudança como fez Barack Obama nos EUA, em 2008, e Tony Blair no Reino Unido, em 1997. Além de Lula em 2002, que só ganhou a eleição quando falou com um eleitor que não era o dele.

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