quarta-feira, 23 de abril de 2014

Uma crise a jato - Ofensiva lançada mesmo sem CPI

Oposição na Câmara vota hoje cinco requerimentos para convocar ex-presidente da Petrobras e quer ouvir ex-diretor preso pela PF

João Valadares – Correio Braziliense

Enquanto a ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Rosa Weber estuda se aprova ou não uma CPI exclusiva para apurar denúncias de corrupção na Petrobras, os oposicionistas se anteciparam e lançaram ofensiva na Câmara para ouvir o ex-presidente da estatal José Sergio Gabrielli. Cinco requerimentos em quatro comissões diferentes pedindo o comparecimento do petista vão ser votados hoje. Ontem, em mais uma ação para minar a manobra governista que visa esvaziar a CPI, membros da comissão externa da Casa criada para investigar suspeita de pagamento de propina a funcionários da Petrobras pela empresa holandesa SBM Offshore decidiram encaminhar à Justiça Federal pedido para ouvir o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, que está preso em Curitiba.

A mesma comissão aprovou ontem requerimento para que o Tribunal de Contas da União (TCU) fiscalize os contratos de fretamento considerados suspeitos entre a empresa Astramarítima e a Petrobras. No documento, foi aprovado o convite ao presidente da companhia, Renato Cabral, para que ele preste esclarecimentos na Câmara. Há seis contratos, todos assinados no ano passado, no valor de R$ 490 milhões.

Paulo Roberto Costa era responsável pela Diretoria de Abastecimento e Refino da Petrobras. Ele está preso desde março na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba e deve ser transferido para o presídio federal de Catanduvas, no Paraná. A Operação Lava-Jato apontou que ele e o doleiro Alberto Youssef, também preso em Curitiba, atuavam juntos. Os dois e mais 43 pessoas foram indiciados por lavagem de dinheiro, evasão de divisas, formação de quadrilha e falsidade ideológica. Segundo a PF, a organização integrada pela dupla é suspeita de movimentar R$ 10 bilhões.

Os requerimentos para convocação de Gabrielli foram protocolados nas Comissões de Fiscalização Financeira e Controle; Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio; Relações Exteriores e Defesa Nacional e também na de Segurança Pública. Foram protocolados pelos deputados Mendonça Filho (DEM-PE), Fernando Francischini (PR), líder do Solidariedade, Vanderlei Macris (PSDB-SP) e Duarte Nogueira (PSDB-SP).

"Responsabilidade"
Gabrielli declarou, em entrevista publicada no domingo pelo jornal O Estado de S.Paulo, que a presidente Dilma Rousseff não deveria "fugir da responsabilidade dela", no polêmico episódio em que a Petrobras comprou a refinaria texana de Pasadena, nos Estados Unidos, em 2006. Na época, Dilma presidia o conselho administrativo da estatal. Gabrielli, que defendeu publicamente a aquisição como sendo um "bom negócio", assumiu a responsabilidade pelo resumo executivo que baseou a operação. A presidente Dilma afirmou, em março, que duas cláusulas não constavam no relatório e que, se soubesse do teor delas, não teria aprovado o empreendimento.

"Eu sou responsável. Eu era o presidente da empresa. Não posso fugir da minha responsabilidade, do mesmo jeito que a presidente Dilma não pode fugir da responsabilidade dela, que era presidente do conselho. Nós somos responsáveis pelas nossas decisões, mas é legítimo que ela tenha dúvidas", declarou Gabrielli.

O deputado Fernando Francischini reforça a necessidade de ouvir o ex-presidente da Petrobras: "Precisamos saber em qual parte do negócio Dilma precisa assumir a responsabilidade. Por isso, é muito importante a vinda do Gabrielli aqui", afirmou. O deputado Macris que saber de Gabrielli sobre a proposta da companhia belga Astra Oil de recomprar a parte da Petrobras quando as duas empresas entraram em litígio. A estatal recusou a oferta na época.

"Julgamos fundamental ouvir o que tem a dizer o senhor. Gabrielli, que dirigiu a empresa por anos e teve participação na aquisição de Pasadena, entre outros negócios. Trata-se de oportunidade para que eventuais mal-entendidos sejam esclarecidos, abrindo caminho para que a população brasileira entenda melhor o que se passa nos corredores e nos escritórios de empresa tão importante para o país", afirma Mendonça Filho no requerimento protocolado ontem.

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