quinta-feira, 22 de maio de 2014

A encenação de uma CPI chapa branca

• Oposição promete boicotar a sessão de hoje e critica a decisão que libertou o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa

Paulo de Tarso Lyra – Correio Braziliense

A oposição vai manter a estratégia do boicote à CPI da Petrobras e não comparecerá hoje ao depoimento do ex-diretor da área internacional da estatal Nestor Cerveró. "Nós queremos constranger o governo e mostrar que essa CPI é chapa-branca e não quer investigar nada", disse o líder do DEM no Senado, Agripino Maia (RN). Sem a presença dos oposicionistas, o relator da CPI, senador José Pimentel (PT-CE), vai colocar em votação o requerimento para convocar o ex-diretor de Refino e Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa.

Agripino garante que, mesmo se Paulo Roberto Costa for convocado à CPI do Senado, nem assim a oposição estará presente. "Se ele for lá, terá que vir à comissão mista. Na melhor das hipóteses, estaremos pautando a CPI governista, pois eles terão de ser mais duros com os depoentes", disse o senador do DEM, que afirmou não entender por que Paulo Roberto Costa está solto. "Essa é uma resposta que deve ser dada ao Brasil, não apenas à oposição", cobrou.

Confirmado como um dos integrantes da CPI Mista da Petrobras, o deputado Ônix Lorenzoni (DEM-RS) afirmou que o ministro do STF Teori Zavascki tomou uma atitude questionável ao permitir a liberdade de alguém como Paulo Roberto Costa, suspeito de envolvimento em crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. "O ministro simplesmente libera, única e exclusivamente, um dos baluartes do esquema de corrupção protagonizado pelo PT e seus comparsas", criticou Ônix.

Projeções
O governo acredita que, dentro das investigações envolvendo a Petrobras, apenas quatro pessoas têm peso para alterar o rumo dos eventos: a atual presidente da estatal, Maria das Graças Foster; o antecessor, Sérgio Gabrielli; e os ex-diretores Nestor Cerveró e Paulo Roberto Costa. Para aliados de Dilma, os três primeiros já falaram no Congresso tudo o que pensam sobre as operações realizadas pela empresa. E Paulo Roberto tende a não dizer nada, caso seja convocado, para evitar se incriminar mais ainda nas investigações da Operação Lava-Jato.

Existe, contudo, um receio de que o ex-diretor resolva expor as atividades como lobista logo após a exoneração da estatal, em março de 2012. Essa seria a única maneira, entendem aliados do Planalto, de Costa constranger o governo. A avaliação é de que a margem de manobra do ex-diretor quando ainda integrava o comando da estatal era limitado, pois as decisões precisavam ser colegiadas. Depois que deixou a Petrobras, contudo, ele poderia ter tentado agir diretamente com alguns antigos subordinados, o que traria problemas à imagem da empresa.

Relatório da Polícia Federal encaminhado ontem ao juiz Sérgio Moro, da Justiça Federal do Paraná, entretanto, afirma que há suspeitas da existência de uma "organização criminosa no seio da empresa Petrobras" que patrocinaria desvio de recursos públicos para o exterior e o consequente "retorno de numerário via empresas offshore".

Ainda de acordo com a PF, esse esquema, do qual Costa fazia parte desde o tempo em que ajudou nas negociações da compra da refinaria de Pasadena, no Texas, serviria de base para "pagamento de propinas e abastecimento financeiro de grupos criminosos envolvidos no ramo petroleiro".

Doleiro
Se Costa está solto, a Justiça Federal do Paraná decretou um novo pedido de prisão contra o doleiro Alberto Youssef, desta vez, pelo envolvimento no caso Banestado, um esquema semelhante ao atual de remessa de recursos ilegais para o exterior por intermédio das contas CC5.

Youssef responde as acusações de gestão fraudulenta de instituição financeira, evasão de divisas e corrupção ativa. Na época, ele teve as punições suspensas por ter negociado um esquema de delação premiada. Mas a Justiça entendeu que a reincidência do doleiro na prática criminosa faz com que ele perca o direito ao benefício adquirido.

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