segunda-feira, 26 de maio de 2014

'Dilma criou desconforto com dirigentes ao delegar diálogo'

O Estado de S. Paulo

A falta de diálogo direto da presidente Dilma Rousseff com os líderes das centrais sindicais é o que explica o fato de as entidades estarem divididas em relação à próxima campanha, segundo o analista político Antônio Augusto de Queiroz, diretor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap). Na sua avaliação, os líderes sindicais têm influência limitada sobre o voto dos trabalhadores que representam.

Qual dos pré-candidatos tem se mostrado mais próximo da pauta sindical?
Nenhum candidato, isoladamente, terá força política para implementar uma agenda que implica custos para o empresariado e o próprio governo. Ao analisar o nível de comprometimento desses candidatos deve-se ter em conta os grupos políticos que os apoiam. No caso do PT, Lula conseguiu avançar em algumas matérias e Dilma em outras, do ponto de vista sindical. O grupo ao redor dos dois conseguiu empurrar medidas como a lei de valorização do salário mínimo, a correção da tabela de Imposto de Renda, a ampliação do aviso prévio, a PEC das empregadas domésticas e outras.

Se há manutenção do projeto de Lula, que foi apoiado por todas as centrais, por que agora elas estão divididas?
O governo Lula uniu todo o movimento sindical em torno dele e deu tratamento político de diálogo direto com os presidentes das centrais. Dilma, embora tenha feito mais medidas pró-sindicatos do que seu antecessor, com 13 medidas de 2011 até hoje, acabou delegando o diálogo para outros atores de seu governo. Ela não é do ramo, realmente. Isso criou nos dirigentes um desconforto, porque havia acesso direto antes. As centrais se dividiram, apoiando candidatos distintos. Na minha avaliação, isso é uma reação ao comportamento da Dilma de não receber diretamente.

Há transferência de voto do líder sindical aos trabalhadores por ele representados?
Essa transferência não é automática. De fato, o sindicato exerce muito mais influência sobre seus filiados do que sobre seus não filiados. O índice de sindicalização está em torno de 20% no Brasil. Então, sobre esses 20%, a transferência é direta mesmo. Já o não filiado não tem maiores simpatias pelo sindicato e muito menos pela liderança, embora se beneficie dos aumentos salariais conquistados. De qualquer maneira, como as causas defendidas pela liderança sindical coincidem com a dos trabalhadores, é razoável que alguma influência aconteça.

Como o senhor vê a situação da CUT, que tem sofrido críticas de outras centrais por participar ativamente do governo?
De fato, a CUT exerce influência muito grande no governo federal, desde 2003. Ela tem o poder de filtrar algumas propostas ruins para os trabalhadores, o que não é necessariamente perceptível, porque se dá internamente, na burocracia do governo. A situação da CUT é um tanto quanto delicada porque, ao mesmo tempo em que ela tem que dar satisfação aos trabalhadores, ela precisa preservar seu aliado, que é o governo.

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