quarta-feira, 14 de maio de 2014

FH: há possibilidade de o PSDB ter ‘chapa puro-sangue’

• Ex-presidente comenta, no entanto, que presidente e vice de partidos diferentes pode ser melhor para agregar votos

• Há crescentes rumores de que José Serra possa ser vice do candidato opositor Aécio Neves

Tatiana Farah – O Globo

SÃO PAULO - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse nesta terça-feira que há possibilidade de o PSDB disputar as eleições presidenciais com uma chapa "puro-sangue", com os candidatos a presidente e vice da própria legenda, mas se mostrou reticente em apoiar a iniciativa.

Os tucanos cogitam indicar o nome do ex-governador José Serra como vice-presidente na candidatura do senador Aécio Neves à Presidência.

- Possibilidade há, agora acho que não há uma decisão ainda e não sei se vai haver. Possibilidade há porque não é difícil de entender que o que os candidatos querem é, primeiro, um vice que seja solidário, que não atrapalhe. Segundo, que não tire voto e, terceiro, que, se puder, que agregue votos.

Para agregar votos, às vezes é melhor ter outros partidos.

O ex-presidente, que participou de um encontro entre ex-presidentes e líderes latino-americanos em São Paulo, disse que ainda não conversou com Serra:

- Eu não falei com ele e não sei nem se ele quer. Serra é um bom quadro, sem dúvida.

Questionado se Aécio deveria mudar sua estratégia, a exemplo de Eduardo Campos (PSD), Fernando Henrique disse que não aconselharia a fazer mudanças:

- Acho que esse negócio de ficar mudando de estratégia não é bom nem para o Eduardo. O importante é inspirar confiança. Eu não mudaria de estratégia no começo, não.

Rancor
Durante um seminário realizado em São Paulo para marcar os dez anos do Instituto Fernando Henrique Cardoso (IFHC), o ex-presidente Fernando Henrique disse há no país um sentimento de rancor e que os ônibus queimados e linchamentos mostram isso. Ao lado dos ex-presidentes Felipe González (Espanha), Ricardo Lagos (Chile) e Julio Maria Sanguinetti (Uruguai) e do ex-chanceler mexicano Jorge Castañeda, o brasileiro disse também que o país “encolheu” em sua política externa e econômica.

- Pela primeira vez eu sinto no Brasil, uma espécie de rancor. Isso não é consciente. Se queimam ônibus nas cidades brasileiras todas as noites - disse Fernando Henrique.

Em entrevista coletiva, o ex-presidente continuou:

- A vida cotidiana está difícil, a inflação começa a mexer no bolso, a mobilidade é difícil, insegurança está presente, há falta de perspectiva. Esse conjunto está produzindo um fenômeno que para mim é desagradável e raro. É raiva. É inacreditável o que aconteceu no Rio, de queimar 400 ônibus. Mesmo a violência de matar aquela senhora que teria sequestrado a criança, mas não tinha.

Aí um dos sequestradores disse que pensou que fosse ela (a sequestradora). E se fosse? Pode matar? São muitos sentimentos desencontrados que estão produzindo o que eu resumo em uma palavra: mal-estar.

Para o ex-presidente, a responsabilidade pelo clima de rancor não é responsabilidade só do governo.

- E não é só um governo, tem o federal, o estadual, o municipal. É o conjunto da obra, digamos - disse ele.

Fernando Henrique disse que deveria se aproveitar as eleições para promover um debate profundo sobre os problemas do país:

- Desde que o debate seja verdadeiro, sério. Discutir estratégias, alternativas. e não simplesmente atacar um ao outro. “Esse roubou, aquele roubou”. Eu sei que alguns roubaram e têm que ir para a cadeia, mas isso não pode ser o centro da discussão.

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