quarta-feira, 14 de maio de 2014

FHC a Campos: 'mudar de estratégia não é bom'

• Inflação já mexe no bolso da população

Elizabeth Lopes - Agência Estado

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso saiu em defesa nesta terça-feira, 13, do seu correligionário nessas eleições presidenciais, o senador mineiro Aécio Neves (PSDB), e disse que ele não precisa mudar sua estratégia de campanha porque o oponente do PSB, o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, prometeu que fará uma inflexão à esquerda justamente com o propósito de se diferenciar do concorrente tucano.

"Este negócio de mudar de estratégia não é bom, nem para o Eduardo (Campos)", alfinetou FHC, após participar de evento comemorativo de dez anos de seu instituto, na Capital, com a presença dos ex-presidentes Felipe González, da Espanha, Ricardo Lagos, do Chile, Julio Sanguinetti, do Uruguai, e Jorge Castañeda, ex-ministro das Relações Exteriores do México.

Ao falar da campanha eleitoral deste ano, o ex-presidente tucano disse que a população não vai votar em um candidato simplesmente porque ele diz que está mais à esquerda ou mais à direita. E frisou: "(A população) nem sabe muito bem conceitualizar isso." FHC destacou que um candidato precisa, na corrida presidencial deste ano, "é inspirar confiança" no eleitorado. E recomendou: "Eu não mudaria de estratégia neste começo (de campanha)".

FHC diz que inflação já mexe no bolso da população
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) disse nesta terça-feira, 13, que a população vive um clima de rancor no Brasil porque há um conjunto de fatores que torna a vida cotidiana mais difícil. Mesmo evitando responsabilizar um determinado governo, o ex-presidente tucano fez uma crítica à gestão da presidente Dilma Rousseff (PT), dizendo que "a inflação começa a mexer no bolso". Um dos motes da campanha presidencial tucana deste ano, capitaneada pelo senador mineiro Aécio Neves, é justamente mostrar que o governo FHC foi o responsável pelo controle da inflação e que este índice voltou a sair do controle na atual gestão petista.

Ao listar outros fatores que, no seu entender, estão tornando difícil a vida da população, FHC citou ainda a falta de soluções para a mobilidade urbana, com os problemas no trânsito. E disse que a insegurança e a falta de perspectivas também estão presentes e produzindo um fenômeno que, para ele, é desagradável e raro no Brasil: "A raiva".

FHC exemplificou este sentimento com alguns atos de violência que vêm sendo registrados em todo o País. "É inacreditável o que aconteceu no Rio de Janeiro, de queimarem 400 ônibus na semana passada, não estou dizendo que não tenham razão (para protestar), mas é difícil aceitar isso como um procedimento cotidiano." O tucano falou também sobre o linchamento de uma mulher no Guarujá (SP), questionando o que está levando algumas pessoas a querer fazer justiça com as próprias mãos. "São muitos sentimentos desencontrados que estão produzindo o que resumo numa palavra: mal-estar. É o que está acontecendo no Brasil de hoje, um mal-estar", destacou.

Indagado se as eleições presidenciais deste ano seriam um bom mote para mudar esse cenário, ele respondeu: "Eu creio que sim, eu acho que é o momento porque pode haver um debate, desde que seja sério, verdadeiro e discuta estratégias, alternativas, e não simplesmente atacar um ao outro, se este ou aquele roubou. Eu sei que alguns roubaram e têm que ir pra cadeia, mas isso não pode ser o centro da questão".

As afirmações de FHC foram feitas em rápida entrevista coletiva, após evento comemorativo de dez anos de seu instituto, na capital paulista, com os ex-presidentes Felipe González, da Espanha, Ricardo Lagos, do Chile, Julio Sanguinetti, do Uruguai, e Jorge Castañeda, ex-ministro das Relações Exteriores do México.

Venezuela
FHC afirmou também que está ocorrendo um ataque à democracia na América Latina, falando especificamente da Venezuela. "Na Venezuela, obviamente, está existindo um ataque à democracia." E ponderou que democracia não é só o voto. "(Democracia) é você não usar a máquina para fazer pressão e não ter abuso do poder econômico. São muitos fatores e precisa de melhor educação."

Ao falar sobre a Venezuela, FHC frisou que "é escandaloso que não haja uma reação maior ao que ocorre" naquele país. E disse que o desafio dos países da América Latina, inclusive na democracia, "é passar da quantidade para a qualidade, não é só ter voto, é ver o resultado deste voto, para que isso resulte em bons governos".

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