domingo, 11 de maio de 2014

João Bosco Rabello: Oposição competitiva

- O Estado de S. Paulo

Em fase preliminar de campanhas, pesquisas devem ser relativizadas e avaliadas com a cautela adequada que as submete à impossibilidade de prever o futuro. Funcionam nesse período como indispensável termômetro que confere erros e acertos dos candidatos.

Nesse contexto, a consulta mais recente, do instituto Datafolha, indica que a oposição entrou na agenda do eleitor, que começa a direcionar para seus candidatos a insatisfação registrada com o governo, consolidando a perspectiva de segundo turno.

No cenário em que a soma dos candidatos de oposição alcança o mesmo índice da presidente Dilma Rousseff, não surpreendeu a dianteira do senador Aécio Neves (PSDB-MG) em relação ao seu concorrente Eduardo Campos.

O salto de Aécio para 20% nas intenções de voto é, certamente, resultado da maior exposição que obteve pelo protagonismo na luta pela instalação da CPI da Petrobrás e pela veiculação da primeira de 400 inserções na televisão, que caminharam lado a lado, ampliando sua visibilidade.

Campos foi discreto nas manifestações a favor da CPI, quando não as questionou, apesar da sucessão de denúncias justificarem sua instalação. Aécio ocupou a cena tirando legítimo proveito dos erros do governo que trouxeram à tona o que estava nos bastidores da empresa símbolo nacional.

O programa de Aécio na televisão também foi considerado eficiente e serviu ao propósito de dar a partida na estratégia de torná-lo mais conhecido da população. Por ser uma fotografia desse momento as pesquisas não devem desconsiderar o espaço de crescimento de Campos, cuja tendência é ampliar seus índices tão logo se exponha mais ao eleitor, não só pela televisão, mas com uma narrativa crítica ao governo melhor definida.

Aécio também tem menos obstáculos junto a segmentos econômicos produtivos, como o agronegócio, e a empresários, de modo geral, do que Campos, cujo pensamento agrada a esses setores, mas esbarra no ceticismo de que possa executá-lo com desenvoltura em sociedade com a ex-senadora Marina Silva.

O efeito colateral perigoso para ambos é a reação do PSB ao crescimento de Aécio, que pode precipitar o distanciamento entre ambos, quando deixarão de ser concorrentes para se tornarem adversários.

Já a presidente Dilma Rousseff, se não registrou nova queda, parece limitada a comemorar esse fato. A demanda sobre o governo federal, que recai sobre a economia e melhores serviços públicos, não pode ter resposta rápida, o que retira à candidata a perspectiva de gerar fatos novos capazes de reverter o desejo por mudança manifestado pelo eleitor.

Pânico. A quebra de sigilo do ex-diretor da Petrobrás, Paulo Roberto Costa, do doleiro Alberto Youssef e de empresas próximas a ambos, pelo juiz Sérgio Moro, causou impacto em Brasília. O pânico é geral e ampliou de 47 para além da centena a lista especulativa de políticos com chances de frequentar o noticiário de escândalos.

Trem da Alegria. Há dois anos na geladeira, a emenda constitucional que efetiva sem concurso público, cerca de 5 mil responsáveis por cartórios, pode ser votada semana que vem. Com a oposição do governo, que a vê como um “trem da alegria”, a proposta dá titularidade sem concurso aos que assumiram os cartórios até 20 de novembro de 1994.

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