sexta-feira, 16 de maio de 2014

Um país em transe

• Dezenas de manifestações em todo o país, com a presença de categorias profissionais e de baderneiros, põem em xeque a segurança do torneio. Recife viveu a situação mais tensa devido à greve de PMs

Amanda Almeida e Felipe Castanheira – Correio Braziliense

BRASÍLIA e RECIFE— Considerada pelo governo federal como um dia de testes da segurança na Copa do Mundo e de termômetro para medir os ânimos dos manifestantes, a quinta-feira foi marcada por protestos de categorias trabalhistas em várias cidades do país e pela violência em ato contra o Mundial em São Paulo e no Rio de Janeiro. Os problemas mais graves, entretanto, ocorreram em Pernambuco. Depois de um dia de medo, que colocou em xeque a preparação de uma das 12 cidades sedes do evento, Recife encerrou a quinta-feira com a notícia do fim da greve de policiais militares e de bombeiros.

A situação em Pernambuco deve se repetir em outras unidades da Federação, o que já acende o sinal de alerta no governo. Entidades que representam policiais civis, federais, rodoviários federais e militares prometem uma paralisação, em todo o país, na próxima quarta-feira. De acordo com a Confederação Brasileira de Trabalhadores Policiais Civis, o objetivo é "cobrar do Executivo federal uma política nacional de segurança pública voltada para defender os cidadãos e melhorar as condições de trabalho da força policial". Outras cinco entidades participam da organização do movimento. Em Brasília, o plano é fazer uma passeata na Esplanada.

Arrastões
Em Pernambuco, foram dois dias de paralisação. Embora a Força Nacional de Segurança tenha sido acionada para tentar amenizar a greve dos PMs, ontem, moradores viveram um dia caótico. A tensão começou na madrugada, com pelo menos oito homicídios. Durante o dia, houve dezenas de arrastões. No centro da capital pernambucana, comerciantes preferiram manter lojas fechadas ou trabalhar com portas pela metade. Balanço parcial de ocorrências divulgado pelo Sindicato dos Empregados do Comércio do Litoral Norte à tarde apontava que cerca de 200 lojas haviam sido assaltadas na região metropolitana.

Parte dos servidores públicos e estudantes foi dispensada dos trabalhos e das aulas. No fim da tarde, as ruas da capital lembravam feriados e fins de semana, com trânsito livre e poucos pedestres. Moradores relataram também saques nas rodovias federais. Na BR-101, no trecho que passa por Recife, segundo a Polícia Rodoviária Federal, um sofá em chamas foi colocado na pista para obrigar os motoristas a reduzirem a velocidade, o que facilitou a ação dos criminosos. As ações ganharam destaque na imprensa internacional.

Antes da negociação que suspendeu a greve, o Ministério da Defesa, o Exército e o Comando Militar do Nordeste divulgaram nota sobre a Operação Pernambuco, como foi batizada a ação de reforço à segurança no estado. Segundo o texto, atendendo à solicitação do governo local, as forças nacionais realizariam, "pelo tempo que for necessário, patrulhamento ostensivo, controle de distúrbios, interdição de áreas e desocupação de instalações públicas".

A 27 dias do Mundial, greve e protestos de categorias trabalhistas se repetiram em outras capitais, na tentativa de aproveitar os holofotes do evento para pressionar o poder público por reajustes salariais. Em São Paulo, professores, metalúrgicos e metroviários foram às ruas em diferentes pontos da cidade. Em Belo Horizonte e no Rio de Janeiro , professores engrossaram as manifestações trabalhistas.

As reivindicações de categorias profissionais dividiu espaço com protestos contra a Copa do Mundo. Embora tenham registrado número menor de participantes do que em junho do ano passado, os atos voltaram a causar tumulto, na noite de ontem, em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte. Na capital paulista, a manifestação começou pacífica, mas terminou com a ação de black blocs. De acordo com a polícia, cerca de 50 pessoas participaram de depredações e pichações em lojas.

No Rio de Janeiro, também houve tumulto. O protesto começou pacífico, mas o clima ficou tenso quando ativistas mascarados cantaram músicas provocativas à Polícia Militar em frente à Prefeitura do Rio. Um grupo de baderneiros tentou derrubar placas de sinalização. A polícia usou spray de pimenta para conter o início de confusão.

Em Belo Horizonte, uma bomba foi disparada por manifestantes no centro da cidade, que entraram em conflito com a PM. Em Brasília, cerca de 200 pessoas se reuniram na Rodoviária, no fim da tarde. De lá, o grupo decidiu seguir até o Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha. Não houve confronto, mas, de manhã, um grupo de sem-teto protagonizou confusão ao tentar invadir a sede da Terracap.

Ruas agitadas
Confira abaixo parte das cidades onde houve manifestações e quais os principais grupos participantes
Belo Horizonte
Servidores municipais e ativistas contra a Copa
Brasília
Sem-teto e manifestantes contra a Copa
Curitiba
Contra a Copa
Fortaleza
Estudantes e garis
Porto Alegre
Centrais sindicais, estudantes, servidores municipais, funcionários de institutos e universidades públicas e funcionários da área da saúde
Recife
Policiais militares e bombeiros
Rio de Janeiro
Professores
São Paulo
Professores, metalúrgicos, sem-terra, metroviários
Salvador
Manifestantes contra a Copa
Vitória
Professores

Brasil vai passar "vergonha"
A violência não deve ser o único problema no Mundial. O presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), ministro Augusto Nardes, disse ontem que o Brasil passará "vergonha" na Copa do Mundo devido às obras inacabadas. Ele chegou a dizer que Cuiabá "parece uma praça de guerra" em virtude dos atrasos nas construções relacionadas ao Mundial. "Estamos vigilantes para que não passemos (nos Jogos Olímpicos de 2016) uma vergonha como infelizmente vamos passar na Copa do Mundo em algumas cidades que não estão preparadas para receber os cidadãos", disse o ministro ao participar do lançamento do portal Fiscaliza Rio 2016, que reunirá dados de tribunais de contas.

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