sábado, 24 de maio de 2014

Uma crise a jato: Muitas explicações até chegar às urnas

• Políticos alvejados por recentes operações da Polícia Federal terão de adaptar a estratégia eleitoral à tormenta das denúncias

- Correio Braziliense

Na mira das operações da Polícia Federal, políticos citados em casos de corrupção começam a fazer as contas do prejuízo eleitoral, antes mesmo do início da corrida às urnas. Nos últimos meses, pelo menos cinco viram seus nomes estampados nas manchetes em situações suspeitas com doleiros e empresários investigados em esquemas de lavagem de dinheiro. O envolvimento com essas figuras, além de colocar em risco o atual mandato, ameaça criar ainda mais embaraço devido ao ano ser de disputa eleitoral.

A Operação Lava-Jato, por exemplo, colocou uma interrogação no futuro político dos deputados Luiz Argôlo (SDD-BA) e Cândido Vaccarezza (PT-SP), e do senador Fernando Collor (PTB-AL). Situação pior, no entanto, é a do deputado federal André Vargas. O parlamentar, ex-PT e hoje sem partido, deu adeus à tentativa de reeleição, depois de ser flagrado em grampos com o doleiro Alberto Youssef. Já na Operação Ararath, o governador de Mato Grosso, Silval Barbosa (PMDB), deve sentir o peso dos relatórios na hora de fazer o sucessor.

No caso de Vargas, as denúncias de que teria ajudado Youssef, preso na Lava-Jato, a conseguir fechar contrato milionário com o Ministério da Saúde complicaram a vida do deputado. Pior, o parlamentar ainda foi flagrado de carona em um jatinho do doleiro. Ao se enrolar nas explicações, renunciou ao cargo de vice-presidente da Câmara dos Deputados e saiu do PT. Sem partido, enterrou todas as chances que teria de concorrer a um novo mandato na disputa deste ano. A denúncia ainda prejudicou a campanha do ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha. O pré-candidato ao governo de São Paulo participou das negociações do contrato em questão e teve de se explicar, dando munição aos adversários antes mesmo da largada eleitoral.

Para não ser bombardeado, como o ex-petista foi, Argôlo, agora, estuda se disputará um novo mandato. Ele é acusado de manter relações pessoais com o doleiro e suspeito de o ter ajudado a tramar contra a participação de empresas em licitações. Para o presidente do Solidariedade, Paulo Pereira da Silva (SDD-SP), uma candidatura como essa pode ser facilmente minada. "É difícil fazer campanha com denúncias de corrupção. Mesmo que não tenha prova, as pessoas vão mencionar o caso, e o impacto é muito grande", avaliou.

De acordo com Paulo Pereira da Silva, o futuro de Argôlo ainda está indefinido. "Ele está discutindo com a família. É preciso esperar a decisão", afirmou. Sem o temor de rescaldo da operação da PF, o deputado Cândido Vaccarezza confirma que será candidato. Segundo ele, ter sido citado nos relatórios por suposta ligação com o doleiro não o atrapalhará. "O juiz deixou claro que eu não tenho nada a ver com isso. Nunca fiz qualquer contato sobre Labogen (empresa de Youssef que fechou contrato com o Ministério da Saúde) e fui envolvido ou por maledicência ou por má-fé", justifica. Já o senador Fernando Collor, que teria recebido de Youssef R$ 50 mil por meio de depósitos bancários, verá a história ser contada pela oposição na disputa pela reeleição ao Senado. O senador não quis comentar, mas deve ter de se explicar aos parlamentares.

Sucessão em risco
Apesar de não ser candidato nas próximas eleições, o governador de Mato Grosso, Silval Barbosa (PMDB), também vê ameaçado o capital político. Um dos protagonistas da Operação Ararath, deflagrada esta semana, que prendeu o empresário Éder Moraes, acusado de operar um esquema de lavagem de dinheiro que financiou campanhas e pagou propinas, Silval vinha trabalhando para fazer o sucessor no estado. Para o presidente em exercício do partido, Valdir Raupp (PMDB-RO), o trabalho continua. "Não foi achado nada contra o Silval. Entraram na casa dele atrás de algum tipo de irregularidade, mas só encontraram uma arma não registrada. Estamos tranquilos", emendou.

Na análise do cientista político Lúcio Rennó, o impacto político em cada caso vai depender do quanto as histórias continuarem a render. "A chance de ser eleito com uma operação nas costas varia muito. Está ligada à cobertura da imprensa sobre o assunto e à visibilidade que ganha nas proximidades da eleição. Está mais relacionado com a exposição do que com a acusação que o político carrega", explica.

De acordo com ele, mesmo que não tenha um impacto imediato, como no caso do André Vargas, ser mencionado nos relatórios da PF enfraquece imediatamente o capital político. "A propaganda negativa é muito forte e respinga nos aliados. No caso em que o político não é candidato, ele passa a ser um cabo eleitoral duvidoso e as pessoas tendem a evitar esse tipo de aliança. Pelas eleições anteriores, vimos que esse tipo de envolvimento é capaz de minar campanhas", destaca. Ainda assim, Rennó ressalta que a disputa não está definida e que o debate eleitoral ainda será aquecido.

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