domingo, 8 de junho de 2014

Aécio Neves: “O que for bom, vamos manter. O que for ruim, vamos acabar.”

Caio Barbosa e Eugênia Lopes – O Dia

RIO - Pré-candidato à presidência da República pelo PSDB, o senador Aécio Neves admite que é mais carioca do que mineiro, pois veio para o Rio aos 9 anos e estudou a vida toda na Cidade Maravilhosa, onde mora até hoje.

Ex-surfista, boêmio assumido e neto do ex-presidente Tancredo Neves, ele conta com apoio de boa parte do PMDB do Rio, que idealizou o movimento ‘Aezão’, atrelando sua candidatura à reeleição do governador Luiz Fernando Pezão. Em entrevista ao DIA , o tucano afirma ser contra a descriminalização das drogas no Brasil e diz que, se eleito, vai manter e aprimorar os programas do atual governo.

O DIA: Que avaliação o senhor faz do apoio expressivo que recebeu do PMDB fluminense no lançamento da chapa Aezão, apesar de o governador Pezão apoiar oficialmente a presidenta Dilma?
Aécio Neves: O que vamos apresentar para o Rio, na verdade, é um projeto de fortalecimento da economia local e a retomada de programas sociais. Vamos apresentar uma agenda para o Rio. Nem é questão de ter candidato ao governo. O que a gente conquistou foi a possibilidade da agenda chegar ao interior do estado. E isso me dá tranquilidade para construir um discurso com a cara do Rio. Já temos uma situação positiva em Minas Gerais, e a condição de conseguir uma boa posição em São Paulo. Faltava o Rio.

O PSDB aqui não tem a mesma força?
Apesar dos quadros qualificados, o partido não tem densidade eleitoral no Rio. Essa aliança me dá o que faltava. Se conseguirmos uma boa posição no Rio, nossa candidatura ficará muito competitiva.

Como estão as negociações com o DEM, que lançou a candidatura do Cesar Maia ao governo?
É uma questão não definida, se vai haver ou não uma candidatura. Há uma coligação proporcional acertada entre DEM, PSDB e PPS. Na majoritária, estou deixando para os deputados decidirem. Qualquer que seja a decisão, ela não pode prejudicar os companheiros que estão disputando a reeleição.

César Maia, então, ainda pode desistir?
Ele diz que vai ser candidato. E eu tenho que respeitar. O que deleguei ao PSDB é para discutir com ele sobre as possibilidades em torno da sua candidatura e um eventual apoio. Uma candidatura do Cesar não me traz dificuldade porque o essencial nós temos: o discurso e, agora, uma base sólida. Pretendo fazer uma campanha suprapartidária no Rio de Janeiro, com todo esse leque de apoios.

O Armínio Fraga será seu ministro da Fazenda?
Temos que ganhar a eleição primeiro. Estamos construindo uma agenda para o país e cada vez vai ficar mais claro que temos gente qualificada para retomar o crescimento, resgatar a credibilidade perdida do Brasil para resgatar investimento, gerar renda e emprego de melhor qualidade.

Henrique Meirelles pode ser seu vice?
Não porque o partido dele (PSD) tem reiterado o apoio à Dilma em nível nacional. O que estamos vendo é que vários partidos estão entregando seus tempos de TV para presidenta Dilma, mas estão fechando as alianças nos estados com a oposição. Ou seja, a presidenta levará o tempo de TV dos partidos, mas não o trabalho, o empenho desses partidos.

O senhor pode lançar uma chapa puro-sangue? José Serra poderá ser o vice?
Nunca conversei com ele sobre isso. Nem sei nem se ele se disporia. Tenho visto ele se movimentar em São Paulo, para Câmara ou Senado. O que posso dizer é que o Serra é um quadro extremamente qualificado até para presidente da República. Temos muitas alternativas. E isso é muito bom.

O senhor falou que o PT perdeu a esperança. O slogan deles era “a esperança venceu o medo”. Mas agora o medo virou o jogo no segundo tempo?
O PT curvou-se aos seus fracassos. O governo do PT fracassou na economia, na gestão do estado. O país é um cemitério de obras inacabadas e com sobrepreço. Na educação, em qualquer ranking internacional estamos em penúltimo lugar. Em vez de falarmos em competitividade e capacidade, ficamos falando de inflação e corrupção. Isso é um absurdo.

E as reformas? Não foram feitas nem no governo do PT, nem do PSDB.
Precisamos avançar na reforma política, na simplificação do sistema tributário, na reforma do estado. É um acinte um governo com 39 ministérios e 25 mil cargos comissionados. Isso é para atender à companheirada, não à população.

E qual é sua proposta?
Vamos reestatizar o estado brasileiro, resgatar o setor público e ter coragem para fazer as reformas que não foram feitas até aqui. Não quero que o Brasil seja indefinidamente o país do pleno emprego dos dois salários mínimos. Nós temos de resgatar a capacidade de investimento da nossa indústria, sobretudo de manufaturados. O que for bom nós vamos manter e aprimorar. O que for ruim, vamos acabar.

E a reforma agrária?
O governo Dilma assentou menos gente que o governo Geisel. Muito menos do que o governo Fernando Henrique. A reforma agrária não é uma questão ideológica, mas de necessidade. De manter no campo pessoas vocacionadas e garantir apoio técnico à produção. Um governo do PSDB vai avançar muito mais do que o governo do PT.

Qual sua posição sobre a legalização das drogas? O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso já se posicionou favoravelmente.
O Fernando Henrique está acima do bem e do mal. Ele tem essa posição, mas não concordo. Não gostaria que o Brasil fosse um laboratório para esta política de legalização, mas obviamente estamos observando as experiências do Uruguai, Portugal e alguns estados nos Estados Unidos, mas não é uma prioridade para o Brasil. O Brasil não ganharia nada com a descriminalização.

A Dilma deve pedir votos com o Lula a tiracolo. O senhor fará o mesmo com o Fernando Henrique Cardoso?
Fernando Henrique é um estadista e está participando do que é essencial: a formulação do nosso projeto de Brasil. Ele certamente participará de alguns atos de campanha, mas não é para estar no dia a dia. Não vou levá-lo como uma muleta porque não preciso de muletas. Vamos defender o legado do governo Fernando Henrique, a estabilidade da moeda, a lei de responsabilidade fiscal, o programa de distribuição de renda, da qual o governo Lula foi beneficiário e a privatização de alguns setores.

Mas o governo Dilma e o de Lula alegam que o PSDB deixou uma herança maldita.
Não teria havido governo do presidente Lula com os resultados que ele teve, se não tivesse havido o governo do presidente Fernando Henrique. Na verdade, o governo do Lula foi beneficiário da herança bendita do governo do presidente Fernando Henrique . Só que essa herança exauriu-se e agora, infelizmente, o governo da presidenta Dilma deixará uma herança maldita para seu sucessor em todos os aspectos, principalmente na questão ética, o pouco compromisso com a ética.

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