sábado, 21 de junho de 2014

Aliança no Rio entre PT e PSB é ‘suruba’ e ‘coligação orgiástica’, diz Sirkis

• Deputado fez pesadas críticas ao apoio dos socialistas a candidatura de Lindbergh Farias: ‘Não sou avesso a uma certa dose de pragmatismo, mas aí já é dose cavalar’, escreveu em seu blog

Leticia Fernandes – O Globo

RIO - Irritado com o anúncio da coligação entre os socialistas e o PT do Rio, o deputado federal Alfredo Sirkis (PSB-RJ) fez um desabafo em seu blog na manhã desta sexta-feira, na postagem intitulada “Nitidez é preciso”. Ele chamou a união dos dois partidos, que será anunciada nesta tarde, de “suruba” e “coligação orgiástica”. Sirkis afirmou que não apoia a aliança porque passou os últimos quatro anos criticando o governo da presidente Dilma Rousseff, e que o movimento vai estimular os votos brancos e nulos.

“Sou totalmente contrário a essa coligação. Nada contra o senador, pessoalmente. Mas perdoem-me o recurso ao chulo: isso não seria uma coligação, mas uma suruba! Não tenho condições de apoiá-la por uma razão muito simples e cristalina: sou crítico ao governo do PT. Passei os quatro anos de mandato criticando o governo Dilma, de forma respeitosa porém firme, e venho propugnando uma alternância nessas eleições. Não posso agora aparecer coligado ao PT utilizando do seu cociente eleitoral para me reeleger!”, escreveu Sirkis.

Na publicação, Sirkis questiona os reais objetivos da aliança entre PT e PSB no Rio, que, segundo ele, podem envolver um possível apoio dos socialistas a Dilma no segundo turno. Campos e o ex-presidente Lula têm adotado uma política de não-agressão, mas o acordo não poupa a presidente, alvo de pesadas críticas do socialista.

“Uma coligação ‘orgiástica’ conforme a proposta semeia confusão e suspeita. Por que haveria o PT de aceitar esse estranho “palanque duplo” entre situação a oposição? Uma coisa seria um palanque duplo oposicionista como o de Gabeira em 2010 com Marina e Serra. Mas um palanque duplo de situação com oposição? Quais os acordos por trás disso? Por que razão o PT consentiria? Existirá, por acaso, algo envolvendo segundo turno???”, questiona o deputado, filiado ao PSB.

Em conversa com O GLOBO, Sirkis voltou a criticar a aliança e alertar para o impacto que ela terá sobre os eleitores e sobre a ideia de uma terceira via, defendida por Campos e Marina Silva:

— Se de fato somos uma terceira via, temos que ser coerentes, e no estado mais estratégico, que é o Rio de Janeiro, estado com maior potencial de terceira via, não podemos nos conformar com a primeira via depois de ter embarcado numa canoa furada — disse, referindo-se à candidatura do deputado Miro Teixeira (PROS-RJ).

— Acho que é uma aliança do mais puro pragmatismo e oportunismo político numa época em que grande parte dos eleitores não aceita mais esse tipo de composição. Entendo as razões que os levam a fazer esse tipo de composição, estou apenas dizendo que eu estou fora — completou.

Segundo o deputado, a aliança entre o PSB do presidenciável Eduardo Campos e o PT de Lindbergh Farias, pré-candidato ao governo do Rio, traz uma “dose cavalar” de pragmatismo:

“Não preciso fazer grandes consultas para saber que muitos dentre meus eleitores não concordariam com esse tipo de comportamento político. Não sou avesso a uma certa dose de pragmatismo, mas aí já é demais, é dose cavalar”.

Sirkis continua defendendo que seu partido lance um nome próprio ao governo do Rio, para dar um palanque nítido a Campos e a ex-senadora Marina Silva no terceiro maior colégio eleitoral do país.

“Penso que o PSB deva lançar candidato ao governo do Rio de Janeiro e dar a Eduardo-Marina um palanque nítido, inequívoco. O nome, nessas alturas do campeonato, depois de três preciosos meses, perdidos, é secundário. Importante é a nitidez do palanque”, escreveu o deputado, classificando como bizarrice a aliança entre os dois partidos:

“Porque acredito na nitidez em política e na alternância democrática não concordo com essa bizarrice que certamente estimulará mais ainda a não participação, como já estamos vendo com a galera dos 16 aos 18 anos, sem interesse em participar das eleições. Vai ter voto nulo e branco adoidado se nos dobrarmos ao oportunismo e ao pântano político. Prefiro correr o risco de um cociente eleitoral muito difícil de alcançar ou, simplesmente, não participar desse processo, pois, convenhamos, há vida inteligente fora da política eleitoral/parlamentar. A pergunta é se dentro ela continuará existindo”.

Leia abaixo a íntegra da publicação feita pelo deputado Alfredo Sirkis:

Nitidez é preciso

“Não vou comentar mais o bizarro caso Miro Teixeira. Conforme se pode verificar aqui, há três meses cantei essa bola e, recentemente, reiterei essa advertência. Essa candidatura nunca foi para valer!

Agora temos um novo imbroglio com a articulação no PSB para apoiar a candidatura a governador de Lindbergh pelo PT. É o bizarro dois! Sei que isso facilitaria a eleição de deputados, inclusive a minha, se de fato o PT está oferecendo coligação para deputado federal. Em 2010, tive mais voto que três dos cinco eleitos pelo PT. Deveria respirar aliviado com essa facilidade aritmética.

No entanto, sou totalmente contrário a essa coligação. Nada contra o senador, pessoalmente. Mas perdoem-me o recurso ao chulo: isso não seria uma coligação mas uma suruba! Não tenho condições de apoiá-la por uma razão muito simples e cristalina: sou crítico ao governo do PT. Passei os quatro anos de mandato criticando o governo Dilma, de forma respeitosa porém firme, e venho propugnando uma alternância nessas eleições. Não posso agora aparecer coligado ao PT utilizando do seu cociente eleitoral para me reeleger!

Não preciso fazer grandes consultas para saber que muitos dentre meus eleitores não concordariam com esse tipo de comportamento político. Não sou avesso a uma certa dose de pragmatismo mas aí já é demais: é uma dose cavalar.

Penso que o PSB deva lançar candidato ao governo do Rio de Janeiro e dar a Eduardo-Marina um palanque nítido, inequívoco. O nome, nessas alturas do campeonato, depois de três preciosos meses perdidos, é secundário. Importante é a nitidez do palanque.

Uma proposta de coligação “orgiástica” dessas espalha confusão e suspeita. Por que haveria o PT de aceitar esse estranho “palanque duplo” entre situação a oposição? Uma coisa seria um palanque duplo, oposicionista, como, em 2010, o de Gabeira com Marina e Serra. Mas um palanque duplo de situação com oposição? Quais os acordos por trás disso? Por que razão o PT consentiria? Existirá, por acaso, algo envolvendo segundo turno???

Embora tenha bons amigos no PT e reconheça realizações positivas nos anos Lula, penso que o Brasil precisa muito de uma alternância democrática, em 2014. Essa experiência PT-grotões chegou ao seu limite e um novo governo Dilma seria muito ruim para o país.

Não participo desses frissons de ódio contra eles --nem o deles contra quem não concorda com eles-- muito em voga nas redes sociais, mas chegou a hora de apontar ao grupo do Planalto a porta da rua, serventia da casa. No futuro, no bojo de uma autocrítica e uma faxina interna, penso que poderão voltar a exercer um papel positivo dentro de um realinhamento histórico do quadro político brasileiro. É uma tese que defendo desde 2010. Nesse momento, porém, precisam ser derrotados --inclusive o Lula-- até para que, no futuro, o PT possa ser salvo dele próprio.

Porque acredito na nitidez em política e na alternância democrática não concordo com essa bizarrice que estimularia mais ainda a não participação, como já estamos vendo com a galera dos 16 aos 18 anos, sem interesse em participar das eleições. Vai ter voto nulo e branco adoidado se nos dobrarmos ao oportunismo, ao pântano político. Prefiro correr o risco de um cociente eleitoral muito difícil de alcançar ou, simplesmente, não participar desse processo, pois, conveniamos, há vida inteligente fora da política eleitoral/parlamentar. A pergunta é se dentro ela continuará existindo”.

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