terça-feira, 24 de junho de 2014

Comando da campanha à reeleição provoca fissuras entre petistas

César Felício e Vandson Lima – Valor Econômico

BRASÍLIA - A composição do comando das campanhas eleitorais da presidente Dilma Rousseff à reeleição e do ex-ministro Alexandre Padilha ao governo de São Paulo provoca fissuras dentro do PT. "É necessário abrir mais as direções das campanhas. Sem uma abertura maior, corremos o risco de errar", disse o deputado paulista Carlos Zarattini (SP), um dos poucos a falar abertamente sobre o tema.


A disputa interna ganhou velocidade depois das críticas feitas ao próprio partido pelo secretário-geral da Presidência, ministro Gilberto Carvalho, em um evento com militantes e em entrevista ao jornal "Folha de São Paulo" publicada ontem. As declarações produziram mal estar. Para petistas afinados com o ministro, ao explicitar por meio da imprensa o diagnóstico de que não apenas a "elite branca" tem restrições ao PT, Gilberto Carvalho estaria buscando espaço na articulação das campanhas.

Hoje o núcleo do comando da reeleição é formado por Falcão, o tesoureiro da campanha, o deputado estadual Edinho Silva (SP), o ex-presidente do PT Marco Aurélio Garcia, o ex-ministro da Comunicação Social Franklin Martins, o marqueteiro João Santana, o ex-presidente do PT Marco Aurélio Garcia, o ex-chefe de gabinete de Dilma Giles Azevedo e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Este núcleo deve crescer nos próximos dias com a entrada de outras alas do petismo, de maneira a isolar Carvalho, segundo um dirigente aliado de Falcão. No novo formato, devem ganhar lugar na condução não apenas as correntes minoritárias do PT, como o grupo "Mensagem" ou a "Articulação de Esquerda", mas também dirigentes dos partidos aliados da candidatura presidencial, além de coordenadores regionais, como o ex-ministro e empresário Walfrido Mares Guia, de Minas Gerais.

De acordo com este dirigente aliado a Falcão, Carvalho vocaliza também o grupo que chamou de "viúvas do 'Volta Lula'": o dos defensores de uma nova candidatura de Lula ainda este ano, em lugar de Dilma. Debilitado pela recusa de Lula em entrar no processo, este grupo estaria interessado em criar o clima para que o assunto voltasse a ser discutido, de acordo com esta visão. Com a exclusão de diversas alas petistas da condução da campanha, o grupo ganhou aliados mesmo entre os que defendem a candidatura de Dilma desde o início.

Dentro da direção petista, há quem defenda a volta de um modelo como o do "triunvirato" que comandou a eleição de Dilma em 2010. O "triunvirato" era formado pelo ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, que foi chefe da Casa Civil de Dilma nos primeiros seis meses do governo; o atual ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo; e o então presidente petista José Eduardo Dutra, antecessor de Falcão, que renunciou ao cargo por motivos de saúde em 2011.

Gilberto Carvalho vem de uma matriz política dentro do PT oposta a de Rui Falcão. O ministro tem sua trajetória política ligada às Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) da Igreja Católica. Entende que toda avaliação precisa ser construída a partir do que é colhido junto aos setores organizados. É historicamente o ministro de Dilma mais identificado com Lula. Disse em uma entrevista, no segundo dia do governo de Dilma, que o PT "tinha o Pelé no banco" em caso de dificuldades políticas de Dilma para se reeleger, em uma alusão ao ex-presidente.

Falcão é adepto da tese do partido forte e afeito à disputa interna, com as ações pensadas de dentro para fora. Deputado estadual em São Paulo em seu quarto mandato, chegou ao primeiro plano quando foi presidente do diretório municipal do PT paulistano em 1989, durante o governo de Luiza Erundina. Cinco anos depois, seria presidente do partido. Procurado pelo Valor , Falcão não foi localizado ontem para comentar o tema.

Nas palavras de um petista paulista próximo a Carvalho, o ministro estaria tentando, nas declarações públicas, mostrar que as críticas ao governo não são fruto apenas de um clima maniqueísta que contrapõe o PT contra "as elites".

O aumento da rejeição à presidente em São Paulo tornou mais carregado o clima dentro do petismo. "Existe um ambiente de unidade na militância, mas quando descemos ao eleitorado que tradicionalmente vota no PT, começamos a perceber um clima crescente de dúvida. Isso não se resolve apenas com leitura de pesquisas e discussões dentro de um pequeno grupo", comentou Zarattini.

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