segunda-feira, 9 de junho de 2014

Ex-senadora tem prazo para sair, diz presidente do partido em SP

Cristiane Agostine - Valor Econômico

SÃO PAULO - Articulador da campanha presidencial do PSB em São Paulo, o presidente do diretório paulista do partido, deputado Márcio França, afirma que o grupo da ex-senadora Marina Silva, Rede Sustentabilidade, já tem prazo para deixar a legenda. Ao impor uma derrota aos "marineiros" com a aliança com o governador e candidato à reeleição Geraldo Alckmin (PSDB), o dirigente deixou clara a divisão da legenda e culpou o grupo da ex-senadora pela falta de acordo.

A decisão do PSB-SP colocou em xeque também o controle de Marina sobre as definições do partido. A pré-candidata a vice na chapa presidencial de Eduardo Campos (PSB) tem dito que não há como pregar a renovação no governo federal e apoiar o PSDB em São Paulo, que comanda há vinte anos o Estado. Marina, ao filiar-se ao PSB em 2013, pediu a Campos alternativa à aliança com o PSDB. Os "marineiros", contudo, foram vencidos por unanimidade na sexta-feira, em reunião do diretório estadual.

No encontro, França minimizou o tamanho do grupo de Marina em São Paulo: o PSB-SP tem 200 mil filiados, enquanto o Rede tem cerca de 100 pessoas, filiadas "na última hora", depois que a ex-senadora não conseguiu criar seu partido. A seguir, trechos da entrevista de França ao Valor PRO, serviço de notícia em tempo real do Valor:

Valor: A decisão do PSB-SP expôs a divisão do partido. Rede e PSB continuam como grupos distintos?
Márcio França: Quando eles [Rede] entraram no partido, fizemos todos os movimentos para fundir em uma coisa só. Eles preferiram trabalhar como se fossem um outro partido. Já que é nessa lógica, não há nada demais eles terem uma posição e a gente outra. São dois partidos.

Valor: A aliança com Alckmin reforçou a fragmentação?
França: Isso sempre houve. Eles não vão ficar com a gente para sempre. Eles têm um prazo, já deram um prazo. Assim que registrarem o partido deles, vão embora. E a gente vai continuar no PSB. A gente sofre a influência deles e é bom, mas não vamos mudar 100%. Senão, vamos nos filiar à Rede. Onde tiver intersecção, vamos juntos.

Valor: Marina pediu uma alternativa em São Paulo. A decisão indica que ela terá pouca influência?
França: Essa é uma questão semântica. Marina disse que o partido precisava de alternativa e oferecemos uma, que era meu nome. A Rede não aceitou. No Amazonas, a Rede queria uma candidatura e nós retiramos a nossa ideia lá e lançamos candidato. A Rede disse que era importante não ir com a senadora [Ana Amélia, do PP] no Rio Grande do Sul. Ficamos com o PMDB, como queriam. Em Brasília, queriam candidato e lançamos Rodrigo Rollemberg. A Rede queria candidato em Minas e fomos com eles. Cedemos em vários Estados e eles vão ceder em outros.

Valor: Qual foi a orientação de Campos nesse processo?
França: Durante muito tempo me orientou a tentar uma conciliação. Foi quando me convenci a ser candidato. Eles [marineiros] não me aceitaram e ficaram brigando comigo como se eu fosse um bicho papão. Se a Rede queria uma candidatura, poderia ter abraçado a que lançamos. Ao não abraçar, claramente deu um sinal de que era melhor procurarmos alternativa.

Valor: Como vai conciliar o palanque quando a disputa ficar mais acirrada entre Aécio e Campos?
França: Quem tem que se preocupar com isso é o Aécio. São Paulo é o principal Estado do PSDB e ele que deveria ficar preocupado com a possibilidade de Alckmin abrir palanque para os dois candidatos. Não podíamos deixar o PSDB sozinho em São Paulo, com 32 milhões de eleitores. Eles controlam 515 prefeituras das 645, entre prefeitos tucanos e aliados. Marina ajudará nas áreas densas, urbanas, mas no interior não tem chegada. Quem fará a interlocução no interior é o governador. É provável que Alckmin esteja no segundo turno, contra PT ou PMDB, que são de Dilma. Se Campos for para o segundo turno, quem faria o palanque dele no Estado sem essa aliança?

Valor: Marina diz que essa aliança é contraditória. Como explicará isso ao Rede?
França: É um equívoco. Em São Paulo, nossa relação com Alckmin se deu nos últimos três anos. Vínhamos no governo, ele nos ajudou em várias campanhas. A ingratidão é um ato forte e só teria condições de fazer um movimento contrário se tivesse grande oportunidade. Se Marina fosse candidata em São Paulo, estava resolvido. Fui prefeito de São Vicente e em 2010 declarei voto nela. Foi a cidade em que ela foi mais votada, entre as grandes, porque declarei meu voto. Tenho legitimidade para dizer que nem sempre ela está certa. Assim como digo a Eduardo que muitas vezes ele não está certo.

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