quinta-feira, 5 de junho de 2014

Oposição tenta enfraquecer união de Dilma com PMDB

• Aécio e Campos exploram divisões no partido e buscam apoio nos Estados

• No dia 10, a maior legenda da coalizão governista decide se permanece ou não na aliança com a petista

Natuza Nery, Marina Dias, Italo Nogueira e Felipe Bächtold – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA, SÃO PAULO, RIO, PORTO ALEGRE - Interessados em implodir a estratégica união do PMDB com Dilma Rousseff, os presidenciáveis oposicionistas Eduardo Campos (PSB) e Aécio Neves (PSDB) iniciaram nas últimas semanas uma silenciosa ofensiva para levar o partido a derrotar a aliança com a presidente da República.

Em 10 de junho, a maior legenda da coalizão governista vai decidir se aprova a permanência na chapa pela reeleição da petista e a continuidade de Michel Temer na vice.
Nos bastidores, adversários de Dilma passaram a estimular traições e aprofundar dissidências no território peemedebista. Mais do que conquistar aprovação às suas próprias candidaturas, Campos e Aécio querem minar um casamento político, vital à hegemonia de Dilma no tempo de TV da propaganda eleitoral.

Segundo a Folha apurou, Aécio atacou dois dos três Estados com maior peso na convenção, Rio e Minas, obtendo promessa de levar a maioria dos votos contra a aliança com Dilma no dia 10.

Campos investiu sobre o Ceará e buscou alimentar rachas em redutos onde a convivência entre PT e PMDB já é problemática, aproveitando-se dessa fragilidade.

Em boa parte das apostas sobre o resultado da votação, Dilma é apontada como vitoriosa, apesar dos altos riscos de traição --o voto é secreto e o PMDB é conhecido por seu alto grau de infidelidade.

Mesmo com a insatisfação geral no PMDB em relação ao tratamento dado pela presidente da República nos últimos anos, Michel Temer ainda é tratado como garantia de manutenção da aliança.

Presidente da sigla por muitos anos, sua influência caiu desde que assumiu a cadeira de vice no Planalto, mas não a ponto de uma derrota ser dada como certa. Por outro lado, ninguém é capaz de descartar com absoluta certeza a hipótese de um revés, nem mesmo no governo.

Revés
Eduardo Campos conversou longamente com o senador Eunício Oliveira (PMDB-CE), pré-candidato ao goverdo Ceará e incomodado com a falta de apoio de Dilma Rousseff à sua campanha. No Estado, a presidente está com os irmãos Gomes, Cid e Ciro, ambos oponentes de Eunício.

No diálogo, o presidenciável fez uma análise pessimista sobre a situação da economia e se declarou convicto de que irá para um eventual segundo turno. Para contar com os votos dos rebeldes cearenses no encontro do PMDB, pediu apenas o chamado "palanque aberto".

Ou seja: Eunício poderia receber para eventos eleitorais tanto Aécio quanto Campos. O movimento, porém, não foi combinado entre os dois oposicionistas, embora a operação para atrair dissidentes sirva a ambos.

'Velha política'
Em suas falas públicas, Campos tem se apresentado como um crítico da "velha política", citando nominalmente caciques do PMDB como expoentes do fisiologismo.

Ele chegou a prometer mandar o senador José Sarney (PMDB-AP) "para casa". Não há relatos de que Campos tenha procurado nenhum daqueles que tem criticado.

Nesta quarta (4), em Porto Alegre (RS), onde apoiará o peemedebista José Ivo Sartori na disputa para o governo, Campos elogiou o passado do PMDB ao justificar o acordo com o partido em palanques regionais. Disse que o apoio ao PSB de figuras como Jarbas Vasconcelos (PE) e Pedro Simon (RS) estimula os peemedebistas a "reencontrarem" a sua linha histórica.

"A unidade do PMDB daqui está animando o PMDB autêntico do Brasil afora. O PMDB do Rio Grande do Sul e o de Pernambuco sempre foram referência", disse.

Ele citou ainda Mato Grosso do Sul, onde vai se aliar ao peemedebista Nelson Trad.

Já Aécio Neves está se movimentando no Estado com maior números de votos da convenção, o Rio de Janeiro. A operação surtiu efeito. Nesta quinta-feira (5), o PMDB realiza encontro para defender a chapa "Aezão", uma combinação do nome do tucano com o do governador Luiz Fernando Pezão (PMDB).

Apesar de declararem apoio a Dilma, Pezão e o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) não tentaram evitar o encontro. A rebelião começou após o PT decidir lançar a candidatura do senador do partido Lindbergh Farias.

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