segunda-feira, 9 de junho de 2014

Tática do medo pode ajudar candidatura de Aécio, diz marqueteiro

Entrevista. Paulo Vasconcellos

• Responsável pela campanha tucana, Paulo Vasconcellos afirma que programa teve objetivo de 'segurar o eleitor petista'

Pedro Venceslau e Elizabeth Lopes - O Estado de S. Paulo

Marqueteiro do senador e pré-candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves (MG), em todas as eleições majoritárias disputadas por ele desde 2002, o publicitário mineiro Paulo Vasconcellos minimiza a desvantagem de Aécio no horário eleitoral gratuito na comparação com a presidente Dilma Rousseff - o tucano deverá ter menos da metade do tempo da petista. "Ter muito tempo também é um problema porque precisa encher uma linguiça danada."

Segundo ele, Aécio é o pré-candidato que mais está se expondo, pois precisa ser ficar conhecido. Vasconcellos admite a possibilidade de o tucano lançar uma espécie de carta ao trabalhador para evitar o carimbo de candidato que vai tirar direitos trabalhistas. Para ele, a chamada campanha do medo, inserções do PT que falavam em "fantasmas do passado", tinha por objetivo "segurar o eleitor petista" e, nesse aspecto, foi "corretíssima". Mas diz que se trata de "caminho perigoso", que pode facilitar "a candidatura que está sendo criticada."

Como planeja estruturar a construção da imagem do Aécio na TV?
O problema do Aécio não é a construção da imagem, mas o desconhecimento. Nas (pesquisas) qualitativas que fizemos em março no Nordeste ele não era reconhecido nem por foto. Uma coisa é o sujeito que sai do governo (de Minas) com 92% de aprovação, que é reeleito com 77% e depois vai para o Senado, outra é a campanha nacional. Essa eleição será menos publicitária e festiva. O tom será reflexivo. Nenhum candidato será carregado nos braços do povo como o salvador a pátria. Vai ganhar quem tiver uma história de verdade para contar.

O senador vem combatendo na Justiça o que chama de quadrilhas virtuais contra ele. É possível mensurar se isso já causa algum tipo de dano à sua imagem?
Existe uma luta contra o tempo. Quanto mais rápido o Aécio for apresentado, menos teremos que dar atenção para este assunto. Se teve alguém que apanhou nos últimos meses foi o Aécio. Ele é o pré-candidato que mais está se expondo. A Dilma não participou de nenhuma sabatina, nem participará. O Eduardo (Campos, pré-candidato do PSB) chega com uma imagem um pouco conhecida de todo mundo.

As redes sociais terão um peso muito grande na campanha? Como vê isso?
Me sinto meio caipira nesse assunto. O que sinto é que uma coisa é você ter uma presença cada vez maior de pessoas nas redes sociais, outra é achar que as pessoas estão lá para falar de política. Não consigo imaginar esse tanto de gente na internet fazendo política. É exagero dizer que a internet vai decidir a eleição.

Seria o caso de lançar uma carta ao trabalhador brasileiro para evitar que Aécio seja carimbado pelo PT como candidato que vai tirar direitos trabalhistas?
Isso pode ser necessário e tomara que seja. Acho até que em algum momento será, mas hoje ainda não é. Isso significa que você está incomodando ainda mais. Essa crítica é incipiente.

Como será a estrutura hierárquica da comunicação na campanha do Aécio?
Existem subordinações naturais de conteúdo, mas não de lideranças. A palavra final é sempre do Aécio.

Ele é centralizador?
Ele participa e isso é bom. Às vezes opina mais, às vezes menos, deixando a gente meio abandonado.

Pelo atual quadro das alianças partidárias, tudo indica que Aécio terá um tempo de TV muito menor que o da presidente Dilma. O quanto isso pode ser fatal?
Sempre perguntam qual é o tempo ideal. Eu gosto de 8 (minutos em cada bloco de 25). É o meu número da sorte. Mas perto de 5 (minutos) não será um tempo ruim. Ter muito tempo também é um problema porque precisa encher uma linguiça danada.

Por quê?
Quando o Aécio foi candidato à reeleição (ao governo de Minas) eu tinha 11min30s para trabalhar com ele, que já começou com 48%. Foi até 77%. Isso é uma delícia, né? Já a situação da Dilma e do João (Santana, marqueteiro do PT) é mais delicada. Nenhuma das críticas feita a ela neste semestre foi tratada de forma organizada. Ter muito tempo é uma vantagem, mas existem armadilhas. (Por exemplo), uma superexposição daquilo que não está dando certo pode gerar rejeição. A propaganda potencializa defeitos e virtudes. A mais recente deles, que eu achei corretíssima, teve a preocupação de segurar o eleitor petista.

Você achou "corretíssima" a propaganda do "medo"? Ela foi criticada pelo PSDB.
Achei. A preocupação ali foi segurar uma hemorragia. Em janeiro, ela tinha mais de 40% de intenção de votos. Perto do programa ela estava batendo em 35%. Ela caiu sem ter acontecido nada de relevante.

Existe antídoto para o discurso do medo?
Se você começa a construir ou empilhar medo, isso facilita a candidatura que está sendo criticada. Que me perdoe o PSDB, mas eles fizeram isso lá atrás com a Regina Duarte. Não é um caminho exitoso. Isso começou a acontecer muito cedo. Esse é um caminho perigoso, porque você polariza com um sujeito que está atrás e demonstra medo. Quando você está atrás nas pesquisas o maior sonho é a polarização. Nesse sentido, a mudança de comportamento do Eduardo (Campos) não é necessariamente um erro.

Qual será o papel da Andrea Neves na campanha?
Ela é irmã dele e jornalista, o que é uma coincidência. Essa é a grande verdade. Andrea tem um olhar muito agudo sobre as coisas. Às vezes tem um cuidado exagerado com algumas coisas, mas isso é humano. Ela não consegue ser só jornalista, também é irmã.

Por que colocar FHC na propaganda?
A decisão não foi minha, mas do Aécio. Para o eleitor tucano isso foi um gesto relevante. Hoje há sobre ele uma outra leitura daquela que foi feita no passado. É uma referência nacional do que pode dar certo. A sacada do Aécio foi bem tratada por nós. E a sacada do Fernando Henrique naquela peça de fazer um discurso de "estou indo embora" foi melhor ainda. Ele não era aquele cara que estava entrando na campanha. Ele estava saindo.

Pretende convidar o ex-governador José Serra para a campanha da TV?
Isso vai depender do andar da carruagem. Mas a saúde, por exemplo, é uma área onde ele pode ter um papel importante.

Vocês pretendem tentar atrair parte do eleitorado lulista ou essa será uma campanha 100% de oposição?
O discurso do PSDB foi "PT-dependente" muito tempo. O Aécio não faz política assim, tem uma trajetória para frente. Quando fizemos as primeiras pesquisas, mostramos uma entrevista dele nos lugares onde menos se conhecia. Passaram a sensação de que ele tinha o carisma do Lula e o jeitão do FHC de resolver problemas. Isso veio para a capa do nosso planejamento. O segredo dessa eleição é que não basta ser o novo, é preciso ter feito algo novo. Essa será um pouco a pegada.

A vitória do Brasil na Copa seria ruim para o Aécio?
Isso é uma bobagem. Ele está torcendo para o Brasil ganhar. São dois mundos diferentes.

Quais temas devem ser explorados na campanha?
Aqueles que falam diretamente às pessoas. Hoje, a inflação é um tema que está aí. Má gestão também.

Pretende explorar as manifestações de junho?
Não. Tentar politizar aquilo seria um erro estratégico.

Existe um antídoto para o caso do mensalão mineiro?
Isso nunca esteve no nosso radar. Não é uma agenda nossa.

E o mensalão federal?
O que tinha que acontecer já aconteceu. Acho mais interessante olhar para a má gestão (da Dilma).

O Nordeste é o principal foco?
O problema dele lá é o desconhecimento. Só se resolve isso com mídia de massa, mas a capilaridade das alianças do Aécio, como Flávio Dino no Maranhão e Tasso Jereissati no Ceará, ajuda muito.

Lula receberá qual tratamento?
O Aécio gosta de jogar para valer. O Lula é uma grande liderança, mas não está no radar.

O Campos se descolou do Aécio se dizendo à esquerda dele...
A situação dele é delicada. Ele perdeu o 1.º semestre. A aposta de colocar Marina (Silva) como protagonista não trouxe o resultado imaginado. O Eduardo tinha 6%, 7%, passou para 11% e agora cai. A comunicação dele não deixou nada no colo das pessoas, a não ser a oferta da Marina como vice.

Acha que o eleitor ficou confuso?
Uma das dificuldades da presidenta é a liderança. Lula teve e FHC também, mas ela não está tendo. Isso o Eduardo perdeu quando se apresentou ao País. Ele trouxe uma fórmula mágica, não a imagem de um líder.

A transferência de votos de Marina para Campos o torna mais competitivo?
Não vai acontecer. As duas coisas não se misturam. Grande parte dos votos da Marina em 2010 foi de protesto. Esse voto não necessariamente será repetido agora.

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