quinta-feira, 26 de junho de 2014

Uma pasta por 62 segundo

• Para atender o PR, Dilma Rousseff confirma a troca de César Borges por Paulo Passos no Ministério dos Transportes. A substituição garante a legenda na coligação à reeleição da petista e rende mais um minuto no horário eleitoral

Grasielle Castro, Paulo de Tarso Lyra – Correio Braziliense

O medo de ver mais um partido migrar com o seu tempo de televisão para a campanha do principal adversário, o tucano Aécio Neves, levou a presidente Dilma Rousseff a promover uma minirreforma ministerial. A dança das cadeiras tirou o ministro dos Transportes, César Borges, para dar lugar ao presidente da Empresa de Planejamento e Logística (EPL), Paulo Sérgio Passos — que já passou pela pasta outras vezes. Borges, entretanto, continua no governo, na chefia da Secretaria dos Portos, com status de ministro. Antonio Henrique Pinheiro Silveira, que chefiava o órgão, deve assumir a secretaria executiva. O acordo inclui ainda a retirada do diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit), Jorge Fraxe. Com isso, o partido passa a ter o mesmo controle que tinha sob a pasta em 2011.

A manobra foi necessária para agradar ao PR e manter Borges no primeiro escalão. Donos de um minuto e dois segundos de televisão, os correligionários do agora ex-ministro reclamam desde o início do ano da gestão dele à frente da pasta. Dizem que o ex-senador fecha obras sem avisar e não libera emendas. Assim, condicionaram a presença no palanque de Dilma à substituição no ministério. A presidente, por outro lado, resistiu por considerar que o ministro se saiu bem na condução do processo de concessão das rodovias — uma das principais vitrines do governo.

A demissão de Borges foi acelerada na noite de terça, após uma reunião da coordenação de campanha com a petista. No encontro, foi discuta a audiência que representantes do PR tinham tido pela manhã com o ministro das Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, em que eles disseram mais uma vez que Borges não os representava. A ala rebelde do PR argumenta que o ministro fazia parte da cota pessoal da presidente e aceitou de volta o ex-ministro Paulo Passos, que tinha sido demitido do cargo pelo mesmo motivo: não atender as demandas do partido.

Autônomo
A bancada, entretanto, afirma que Passos pelo menos recebia os parlamentares e era quase "autônomo" na pasta. "Ele é um técnico e sempre foi muito solidário. Tenho certeza de que fará um bom trabalho", diz o deputado Inocêncio de Oliveira (PR-PE). Entre os deputados, a avaliação é de que a troca atende especialmente à bancada mineira do PR, exatamente a mais próxima de Aécio Neves. Borges foi informado da troca de pastas na manhã de ontem pela presidente, no Palácio do Alvorada. O ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e o substituto dele nos Transportes, Paulo Passos, também estavam presentes. Antônio Henrique chegou a ser convocado ao Alvorada, onde permaneceu por menos de dez minutos.

Na noite de ontem, o Planalto oficializou em nota a troca dos ministros. Apesar de a manobra ter sido articulada para agradar ao partido, o presidente da legenda, senador Alfredo Nascimento (AM) , evitou comentar o assunto. "O governo faz do jeito que quiser, não tenho nada a declarar", disparou Nascimento.

Alves pede respeito à Câmara
O presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), aproveitou o "recesso branco" para fazer um pronunciamento na rede de tevê aberta ontem, em cadeia nacional. Alves disse que o Legislativo é um poder aberto às pressões legítimas da sociedade e pediu respeito. "Aceitamos a crítica justa e equilibrada, mas repudiamos juízos generalistas e apressados, que atingem irresponsavelmente a imagem do Legislativo. Não queremos complacência. Queremos o respeito devido à Casa do povo brasileiro". Só para este ano, foram autorizados R$ 4,9 bilhões para o orçamento da Câmara.

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