quinta-feira, 17 de julho de 2014

Apesar da inflação elevada, BC mantém juros em 11%

• Decisão de comitê monetário reflete aposta de que preços vão desacelerar diante de economia fraca

• Pela 2ª vez seguida, BC mantém juro em 11%

• Para especialistas, diante de um quadro que contrapõe baixo crescimento e inflação alta, é natural a opção pela manutenção

Victor Martins - O Estado de S. Paulo

Apesar da expectativa do Banco Central de mais inflação, a diretoria da instituição decidiu, por unanimidade, manter a taxa básica de juros (Selic) em 11% ao ano. A decisão ocorreu mesmo depois de ter elevado a projeção para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2014 de 6,1% para 6,4%, previsão que mudou entre o Relatório Trimestral de Inflação de março e de junho.


O resultado da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) era esperado pelo mercado. Segundo pesquisa da AE Projeções finalizada na última quinta-feira ,10, de 80 instituições consultadas, todas apostavam na manutenção da taxa.

O comunicado pós-reunião foi idêntico ao do encontro anterior. O texto, inclusive, manteve o termo "neste momento". "Avaliando a evolução do cenário macroeconômico e as perspectivas para a inflação, o Copom decidiu, por unanimidade, neste momento, manter a taxa Selic em 11,00% a.a., sem viés", disse o comunicado.

Para especialistas ouvidos antes do fim da reunião, diante de um quadro que contrapõe baixo crescimento e inflação elevada e acima do limite de tolerância no acumulado de 12 meses, definido em 6,5%, é natural a opção do BC pela manutenção da taxa. A proximidade das eleições de outubro também pode ter tido impacto na decisão.

Mauro Schneider, economista-chefe da CGD Securities, disse que a situação atual da economia não pode ser classificada como confortável. Na visão dele, o País sofre com duas forças opostas. "Tem uma inflação em nível alto e que vai continuar assim por um bom tempo. Por outro lado, tem uma economia que vem perdendo força trimestre a trimestre", observou.

"Tendo já encerrado o último ciclo de aperto e dado que temos pela frente uma eleição que é bastante importante para clarear o cenário. Acho natural a manutenção enquanto se aguarda a definição do resultado da eleição", ponderou Schneider. "Essa espera é natural", observou.
A comunicação da autoridade monetária, até então, também apontava para esse caminho, sobretudo quando frisou em documentos e discursos que os efeitos da política monetária se manifestam com defasagem sobre os preços.

Essa afirmação, na visão de especialistas, deixa clara a intenção do BC de esperar sinais mais nítidos de arrefecimento da inflação ou de melhora da atividade econômica antes de promover uma mudança na taxa de juros, seja para baixo ou para cima.

Newton Rosa, economista-chefe da Sul América Investimentos, avalia que o BC está limitado. "Não pode subir juros porque empurra a economia para uma recessão. Por outro lado, ele não pode cortar, porque a inflação está praticamente no teto da meta e, além do que, as expectativas estão desancoradas", argumentou.

No boletim Focus, pesquisa semanal na qual o BC reúne as projeções de 100 analistas, as expectativas são de que a Selic permaneça no nível atual até o fim do ano. Apenas em janeiro ocorreria um novo ajuste, uma alta de 0,25 ponto porcentual, correção que daria início a um novo ciclo de alta de juros que pode leva a Selic para 12% ao ano até o fim de 2015.

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