quarta-feira, 2 de julho de 2014

Dora Kramer: Dupla face

- O Estado de S. Paulo

O PT passou maus bocados na composição das alianças para concorrer às eleições em São Paulo e no Rio de Janeiro. Seu algoz não foi o oponente, mas o aliado PMDB.

Foi um revés atrás do outro, com a digital da mão (nem sempre leve) do gato. O que pôde o PMDB tirou do parceiro nos dois Estados de maior visibilidade do País, onde residem quase 35 milhões de eleitores.

Não que isso vá influir direta e necessariamente no resultado, dado que partidos não orientam - principalmente nos grandes centros - o voto do eleitor.

O movimento, entretanto, é interessante de ser observado e analisado nas suas origens, que remontam ao ano de 2008, cujas consequências se expressam de maneira contundente agora.

No Rio, a chapa liderada pelo governador Luiz Fernando Pezão juntou seis partidos além do PMDB, deixando para o petista Lindberg Farias o PC do B e o PSB.

Tudo certo para a candidatura da presidente Dilma Rousseff se o proclamado apoio do candidato a ela correspondesse à prática do partido no Estado, cuja maior demonstração de descompromisso foi o ato de adesão de prefeitos ao candidato do PSDB, Aécio Neves, organizado pelo presidente do PMDB fluminense.

Prefeitos e vereadores não comparecem a manifestações desse tipo por geração espontânea. Antes perguntam à chefia política se é para ir; só vão mediante determinação ou autorização.

Não consta ter havido rompimento entre os organizadores do ato e a "chefia" - Pezão, Sérgio Cabral e companhia. Da mesma forma ainda não se sabe quando será marcado um encontro semelhante para que prefeitos e vereadores manifestem seu apoio a Dilma.

Em São Paulo, a candidatura de Paulo Skaf atraiu o PSD, o PDT e PROS e, no último minuto, o PP de Paulo Maluf. Há quem diga que o PMDB derrotando o PSDB estará de ótimo tamanho para o PT.

Digamos que, se ocorrer, estará no máximo de tamanho médio. Entre outros motivos porque o PMDB não dividirá o poder com os petistas. Assim como estes, ao juízo daqueles, não o dividiram de fato no governo federal.

A versão de que a candidatura de Skaf "substituirá" a de Alexandre Padilha caso ela realmente não decole só interessa a Dilma e aos tucanos. À presidente, para reduzir os danos políticos de possível desempenho pífio do petista; ao PSDB interessa para tentar "colar" em Skaf a rejeição ao PT.

Por isso mesmo o PMDB não acha a companhia conveniente. O candidato ao governo deixou isso bem claro quando deu um "alto lá" diante da declaração da presidente de que ele também era o candidato dela, junto com Padilha, em São Paulo.

Relatadas as consequências, vamos às causas dessa desforra que o PMDB dá ao PT de forma bastante explícita no Rio e em São Paulo. Faz tempo que os pemedebistas prometiam esperar os petistas "na esquina".

Desde a eleição municipal de 2008. Ali começaram as divergências sérias por causa do comportamento do PT e do governo em relação à chamada política de alianças. Compromissos desfeitos, acordos quebrados, o Planalto sempre favorecendo o seu partido.

A prática se repetiu em 2010 e 2012. Popularidade presidencial em alta, o PMDB foi engolindo o sapo. O passivo de insatisfações aumentou com o tratamento dado pela presidente ao partido no governo, tido como humilhante, e a janela de oportunidade, ou melhor, a "esquina", surgiu com a queda nas pesquisas. Daí o troco.

Cidadela. Aécio Neves deixa o Senado na primeira sessão depois da volta do recesso do Congresso. No discurso de despedida vai antecipar partes da proposta do programa de governo. Já o candidato a vice, o também senador Aloysio Nunes Ferreira, mais cedo ou mais tarde terá de se afastar porque a ideia do titular da chapa é que ele não arrede pé de São Paulo.

Enquanto Aécio corre o País, Aloysio viaja pelo Estado. De preferência em agenda "casada" com a do governador Geraldo Alckmin.

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